Autoria de Lucas Alves Assunção
Sempre tive vontade de aprender a tocar violão. Quando eu era criança, meu irmão tinha um violão, esse que hoje em dia é meu. Ele é velho, está bem ruim, mas não o troco por nada, somos unha e carne, afinal foi nele que aprendi meu primeiro acorde e que toquei minha primeira nota.
Quando tinha uns 11/12 anos, eu estava fuçando nas coisas do meu irmão e encontrei um CD, mal sabia ler o nome, pois não sabia inglês. Era o “Technical Ecstasy” do Black Sabbath. Não fazia ideia do que era rock naquela época. Coloquei o CD num rádio velho que meu irmão tinha e foi simplesmente um “boom”, como se tivesse levado uma porrada na cabeça. Eu me senti de uma forma que jamais sentira antes, como se tivesse nascido junto com aquilo. Naquele momento decidi que aquilo era o que queria fazer para o resto de minha vida. Aquela guitarra, aquele som que eu não sabia como se chamava… Foi difícil explicar para minha mãe e para meu irmão, pois os mesmos achavam que era apenas uma “fase rebelde” de adolescente e que iria passar, porém, aquela música acordou algo em mim e eu estava decidido.
Um tempo depois, após muita insistência, minha mãe aceitou me colocar numa escola de violão. O professor era na verdade um músico “meia boca” que enganava os alunos e não ensinava quase nada, apenas a tocar certas músicas. Percebi isso logo no início, porém, ao invés de me desmotivar, motivou-me mais. E quanto mais o tempo passava, mais eu treinava, mesmo que fossem coisas estupidamente idiotas. Até que um dia, estava eu no meu quarto, quando do nada caiu uma revista no chão. Não me pergunte de onde surgiu essa revista, pois eu mesmo não tenho a mínima ideia, nem sequer lia essas coisas. Era uma revista sobre música que caiu aberta em certa página. Vi que se tratava de uma matéria sobre uma escola de música e tecnologia. Quando li aquilo, eu quis conhecer mais.
Tinha apenas 14 anos na época e tive que insistir muito até minha mãe aceitar me levar até aquela escola. Quando chegamos lá, tudo era diferente: guitarras de pessoas famosas na parede, loja de instrumentos logo na entrada, a escola era enorme e os alunos eram os típicos “filhinhos de papai”. Enfim, eu me apaixonei por ela. Fiz uma prova e percebi que não sabia nada, não consegui responder uma única pergunta. Só consegui fazer tocar “Stairway to Heaven”. Fiquei muito triste comigo mesmo na época, pois percebi que tudo que tinha feito nos dois anos anteriores havia sido em vão. Contudo, isso também não me desmotivou, naquele momento decidi que iria viver para estudar música, cada dia iria estudar mais, mesmo com minha ansiedade, que na época estava atacando a torto e a direito.
Minha mãe, percebendo meu entusiasmo, matriculou-me naquela escola de música imediatamente. Acho que foi o dia mais feliz de minha vida. Ela ainda achava que tudo era uma fase, porém, não queria me contrariar, eu acho. Lá estudei música, lá aprendi tudo que sei hoje, lá conheci muita gente, inclusive o Faíska, um guitarrista excelente. A guitarra por trás de “Evidências” de Chitãozinho e Chororó é dele.
Uma coisa que me deixou muito triste com a volta de meus ataques de pânico foi o fato de que era para eu estar me formando no próximo mês, mas tive que parar com as aulas e ainda tenho medo de ir até lá e acabar passando mal, pois a escola fica muito longe de minha casa. Eu comecei a ter os ataques antes da penúltima prova. Eu havia estudado tanto para ela. Lá nós temos aulas em turmas e eu fazia aula com outros dois alunos. Antes de cada prova temos um simulado e dentre os alunos de minha turma fui o único que não errou uma única questão, estava extremamente preparado. Se não fosse pela ansiedade, já estaria formado.
Fiquei muito triste, porém, eu já me conformei, afinal, estou treinando e estudando em casa. Quando estiver melhor, irei voltar, fazer minhas provas, formar-me e deixar o destino me guiar para o próximo passo, porque até agora eu fui guiado pela música e sei que as notas musicais irão traçar meu destino. Lá também me inscrevi num curso da escola chamado “setup” que ensina sobre equipamentos musicais. Foi usando o que aprendi ali que escrevi sobre o “auto tune” e sobre as ondas musicais. Quero aprender tudo sobre música, quero saber exatamente como cada pedacinho do som que ouvimos acontece.
Nota: imagem copiada de Pinterest
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Olá, Lucas!
Por coincidência das notas do destino estou escutando Black Sabbath, rs. E, apesar de eu tocar pouco e ruim, também ando tomando a música como amiga e terapeuta. Sinto que assim como para mim e para muitos, ela é um combustível para você também, pois ela alimenta e impulsiona a alma a fazer coisas, a viver.
Sou uma pessoa ansiosa e tenho pressa de viver, não tenho paciência para esperar. Contudo, passei por um episódio ruim na vida, quando fiquei um mês internada, parecia que eu estava numa cápsula espacial desolada de tudo que tinha vida (inclusive não tinha música, só a melodia atordoante dos aparelhos hospitalares, mas por sorte e obtenção do universo, tinha um enfermeiro que colocava Pink Floyd para eu escutar). Sentia-me encurralada e limitada à rotina do hospital e ao diagnóstico que foi me dado. Como nem tudo é 100% – bom ou ruim – aprendi, e aprendo cotidianamente a ter calma. Vi que aquilo foi necessário para que eu pudesse entender que eu preciso esperar.
É bom estar no controle do corpo, dos dedos, da mente… e quando me vi suscetível à situação, sofria muito. O que quero dizer é que existem sofrimentos que não são de todo ruim, pois atrás de qualquer condição têm as experiências que vão te ajudar e te dar sabedoria. Só não desista dos seus sonhos e do seu talento conquistado com muito suor.
Luz e amor para você.
Laura
Seu comentário tocou meu coração, se me permite lhe perguntar, qual diagnóstico você teve? Por que ficou internada?
A música é a melhor maneira de fugirmos de algo que nos faz mal, em qualquer situação, como você disse, mesmo estando no hospital ela pode fazer tudo ficar um pouco melhor, pode fazer você esquecer por alguns segundos que está lá. Também tinha muita pressa de viver no passado, mas, conforme o tempo foi passando, eu fui aprendendo que às vezes as coisas acontecem quando tem que acontecer e não adianta ter pressa.
Eu sou músico. Vou lhe enviar uma música instrumental através da Lu. Já que você gosta de música e passou por toda essa situação ruim, quem sabe ouvindo-a você esquece completamente da melodia dos aparelhos do hospital, ficando em sua cabeça apenas a melodia da vida que é a mais bela, mais alta e pode romper qualquer silêncio.
Lucas
Também lamento muito que as crises de pânico tenham impedido nosso jovem gênio de concluir seus estudos musicais na escola que tanto ama, mas como você mesmo disse: “decidi que iria viver para estudar música, cada dia iria estudar mais […]. Aprender tudo sobre música, quero saber exatamente como cada pedacinho do som que ouvimos acontece”, tem uma vida inteira para alcançar o que deseja.
Assim como você, acredito que qualquer forma de arte não tem um término definido, pois o conhecimento que advém dela é infinito. A cada dia agrega-se mais um pouco. O artista nunca se encontra completo em qualquer que seja o estágio de sua vida. Eu vejo a arte como um piano de infinitas teclas, sendo cada uma delas um pequeno avançar em busca da sublimidade da obra, ainda que eternamente inacabada.
Grande abraço,
Lu
Lu
Na verdade meus estudos praticamente chegaram ao “fim”, pois adquiri todo o conhecimento teórico que a escola proporciona, porque na verdade existem 4 campos harmônicos que são usados internacionalmente, qualquer escala que saia fora deles é considerada “exótica” e é pouco usada. Tomei esse tempo que estou fora pra estudar essas escalas exóticas, principalmente uma escala chamada “pentatônica japonesa” que na verdade é bem simples, também aprendi escalas árabes, ciganas e indianas que possuem 12 notas e micro tons, impossíveis de tocar num instrumento comum.