Autoria de Lu Dias Carvalho
O estilo Gótico nasceu na França, no século XIII, sendo identificado como a “Arte das Catedrais”. As mudanças políticas e econômicas que já se faziam sentir nos séculos anteriores também afetaram o campo artístico, produzindo uma grande revolução na arte, como era de se esperar. Contudo, o termo “gótico” só foi aparecer no século XVI, quando Giorgio Vasari, escritor, pintor e arquiteto italiano, relacionou tal período — num sinal de desprezo — com os godos — povo bárbaro que invadiu Roma por volta dos anos 400. Antes disso era chamado de “estilo ogival”, devido ao seu elemento característico — o arco ogival.
O estilo Gótico manifestou-se sobretudo no que tange à arquitetura, quando se descobriu que era possível fazer edificações com pedra e vidro, desde que os cálculos dos arquitetos estivessem corretos. Tratava-se de um estilo revolucionário de construção, mas, para isso, fez-se necessário que certas inovações técnicas ganhassem vida. Uma regra importante na construção das catedrais é que elas deviam se erguer acima de todas as outras edificações da cidade, o que remetia à noção de proximidade do homem com Deus. Portanto, não é de se surpreender que para isso houvesse o predomínio da dimensão vertical sobre a horizontal — uma das características mais marcantes deste estilo.
O estilo Gótico espalhou-se de Ïle-de-France por toda a Europa, apresentando variedades de formas, de acordo com as tradições de cada região europeia. Por isso, pode-se dizer que há um gótico francês, alemão, italiano, espanhol, etc.
O chamado Gótico Internacional surgiu na Europa no final do século XIV. Dentre as suas principais características podem ser destacadas: uma narrativa marcante, refinamento decorativo, detalhamento naturalístico preciso, realismo das superfícies e cores exuberantes. Seu caráter internacional deu-se em consequência da semelhança entre as tendências estilísticas e técnicas que surgiram em centros geograficamente distantes. Existe uma expressiva aura de meditação e propósito nas mais importantes obras desse estilo, ainda que seu contexto seja assinalado pelo excesso de detalhes e, muitas vezes, extravagância.
As catedrais góticas apareceram no norte da França durante a segunda metade do século XII. A arquitetura gótica afirmou-se nas regiões nórdicas da Europa, entre os séculos XII e XIII. A Catedral de Notre-Dame (Paris/França) teve sua construção iniciada em 1163 como uma obra de devoção à Maria. É uma das igrejas mais famosas do mundo e Patrimônio da UNESCO (ilustração à esquerda). O Duomo de Milão (imagem à direita) é, em dimensão, a maior igreja gótica existente.
O Prof. E.H. Gombrich em seu livro intitulado “A História da Arte” descreve maravilhado o interior das igrejas góticas: “No interior de uma catedral gótica somos levados a compreender a complexa interação de trações e pressões que mantêm a grandiosa abóbada em seu lugar. As paredes das novas igrejas eram formadas por vitrais polícromos que refulgiam como rubis e esmeraldas. Os pilares, nervuras e rendilhados despendiam cintilações douradas. […] Os fieis que se entregavam à contemplação de tanta beleza podiam sentir que estavam mais próximos de entender os mistérios de um reino afastado do alcance da matéria”.
A escultura relacionada com o período Gótico era feita em função da arquitetura das catedrais. As figuras eram alongadas para o alto, exageradamente caracterizadas pela verticalidade do estilo gótico. As feições eram caracterizadas de maneira que o devoto pudesse reconhecer com facilidade o personagem representado, uma vez que o objetivo era, através da ilustração, que os fiéis tivessem a compreensão dos ensinamentos religiosos. As esculturas adornavam o exterior das catedrais, enquanto no interior ficavam recolhidas em nichos.
A pintura por sua vez, não teve o papel fundamental desempenhado em outras épocas da história da arte, durante o período Gótico. Como nas catedrais góticas predominavam os espaços vazios, havendo ausência de paredes compactas, não interrompidas por aberturas, tornava-se impossível a decoração pictórica, o que contribuiu para que os ciclos narrativos pintados sobre as paredes (afrescos) acabassem desaparecendo. A Itália, contudo, fugiu à regra, uma vez que a verticalidade e a leveza de suas igrejas não chegaram ao mesmo nível de outras regiões europeias. Isso permitiu a sobrevivência da pintura com temas religiosos.
A pintura gótica foi precursora da pintura renascentista, tendo como característica o realismo. Como o declínio do Sacro Império Romano rompera com o seu papel unificador na cultura cristã ocidental, houve uma transformação dos temas religiosos na arte, dando-se um incentivo cada vez maior aos elementos de fantasia e de devoção pessoal. Personagens e cenas religiosas tornaram-se os principais temas do período Gótico, contudo alguns artistas acabaram por se distanciar de seus predecessores góticos ao adotar uma observação mais acurada da natureza e uma habilidade técnica exuberante em suas obras.
O “gótico flamengo”, cuja maturidade deu-se no século XV, diz respeito às obras produzidas na região de Flandres (hoje trata-se aproximadamente da Bélgica e de Luxemburgo). Ao rejeitar a elegância cortês e os ornamentos extravagantes do “gótico internacional”, os artistas flamengos acabaram criando um novo realismo em que as cenas excessivamente dramáticas deram lugar a retratos da vida doméstica, onde a espiritualidade e a realidade conviviam lado a lado. Esse período contou com grandes mestres da pintura, a exemplo de Jan van Eyck, Rogier van der Weyden, Hans Memling, Hugo van der Goes, etc.
Os grandes avanços conseguidos pela arte flamenga nos primeiros anos do século XV foram fundamentais para a Renascença, cuja origem encontra-se na Itália, vindo a espalhar-se por grande parte da Europa.
Curiosidade
O vitral, surgido no Oriente, foi um dos elementos chaves do estilo gótico. Os vitrais eram muito utilizados nas catedrais góticas, sobretudo pela sensação de espiritualidade que repassavam, quando a luz externa atravessa os vidros coloridos. Os cristãos da Idade Média pensavam que a luz vinha diretamente de Deus. Os temas religiosos neles representados, além de embelezar as catedrais, também instruíam os devotos, pois a maior parte deles era analfabeta.
Obs.: Reforce seus conhecimentos com artigos referentes a este estilo:
Teste – A ARTE GÓTICA
Giotto – A LAMENTAÇÃO DE CRISTO
Irmãos Limbourg – AS MUITO RICAS HORAS
Petrus Christus – O OURIVES
Pintor Anônimo – O DÍPTICO DE WILTON
Simone Martini – CRISTO CARREGANDO A CRUZ
Van der Goes – O TRÍPTICO PORTINARI
Van Eyke – OS ESPONSAIS DOS ARNOLFINI
Weyden – DEPOSIÇÃO DA CRUZ
Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
A história da arte/ E. H. Gombrich
https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-medieval/arte-gotica/
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