A CAVERNA DO DIABO (IV)

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Autoria do Prof. Rodolpho Caniato

Chegamos à entrada da “Caverna do Diabo”. Aí fizemos nosso desjejum com o farnel que havíamos levado. Agora era preciso preparar as fontes de iluminação e o “fio de Ariadne” que prenderíamos à entrada da gruta para garantir que encontraríamos a saída do “labirinto”. O nome de “Gruta da Tapagem” que o descobridor dera à caverna  fazia todo sentido, pois sua entrada era inteiramente camuflada por intensa vegetação. Feitos os preparativos fomos entrando e soltando  a linha que compráramos na véspera. Logo de início tivemos que entrar e caminhar pela água, pelo leito do pequeno rio que passa por grande parte da caverna. Poucos metros para dentro e a escuridão foi se tornando rapidamente mais intensa. Caminhávamos agora sempre dentro da água. Vez por outra tínhamos que transpor alguma pedra subindo de um lado para novamente entrar na água do outro lado.

 Depois de algumas dezenas de metros caverna adentro, experimentamos apagar as luzes para testar a escuridão. Foi uma sensação única e assustadora: a escuridão era total, absoluta. Cada um de nós agitava a mão diante dos próprios olhos sem conseguir vê-la: uma sensação inédita e que deixava a gente perder a noção de espaço e o equilíbrio. Com muito cuidado fomos avançando com nossas precárias lanternas. Passamos por espetaculares estalactites e estalagmites: verdadeiras e bizarras esculturas calcárias feitas pelo tempo e pela água.

A grande sala, o mais amplo espaço onde estivemos, deixou-nos estarrecidos pela amplidão e pelas fantásticas formas, algumas pendentes do teto, outras se erguendo a partir do solo. As figuras formadas eram um verdadeiro convite à imaginação. Embora estivéssemos deslumbrados com o espetáculo daquelas formas, tão extravagantes e belas, tínhamos que estar atentos à duração de nossas lanternas, sem as quais seria muito difícil sair daquele acidentado e escuro labirinto. De vagar, com muito cuidado fomos voltando, sempre dentro da água e refazendo as escaladas de cada obstáculo. Enfim voltamos a vislumbrar as luzes da boca da caverna. Finalmente, saindo da gruta voltamos a ver a luz do dia numa situação que lembrava a saída de Dante da gruta que o levara até o inferno: “E..então voltamos a ver a luz das estrelas”(no texto de Dante:“E.. quindi, uscimo a riveder le stelle”. Não era a luz das estrelas mas a luz do Sol que voltávamos a ver.

Sem que percebêssemos, muitas horas nós havíamos passado no interior da grande caverna. Já eram quase três da tarde quando voltamos a ver a luz do dia. Comemos algumas sobras de nosso farnel e tomamos o caminho de volta, a pé, até onde ficara nosso jipe. Manobrar o jipe para a volta na estreita picada foi outra operação que nos envolveu.  Agora refazíamos aquele mesmo caminho, mas com a luz do dia.  Isso nos deu outra visão da região e da pouca gente que habitava aqueles ermos vales. Nessa volta chamou nossa atenção um pobre casebre de pau a pique coberto de sapé em cujo terreiro, um caboclo, sentado num toco, contemplava a paisagem deserta a seu redor. Em toda nossa volta não vimos outro “vizinho”. Ele se mostrou impassível e aparentemente indiferente à nossa presença. Em que será que ele pensava?

Em Xiririca, ou melhor, em Eldorado Paulista, nós nos despedimos de nossos companheiros paulistanos e tomamos a estradinha de terra que nos levaria até Jacupiranga e daí de volta pela “rodovia da morte” até São Paulo. Durante toda a viagem tínhamos muito que comentar sobre tantas coisas novas que  agora povoavam nossas mentes. Agora teríamos nossas próprias histórias, lendas e “causos” para contar sobre a “Caverna do Diabo”.

Só muitos anos mais tarde, eu voltei a visitar, como “turista”, numa grande fila para entrar na “nova” “Caverna do Diabo”. Agora havia estrada, grande estacionamento, fila para entrar e passarelas seguras para todo o percurso, além da assistência dos bombeiros. Então pude ver com mais segurança e mais amplitude as bizarras  belezas daquele grande espaço esculpido pela Natureza e pelo Tempo. Também pude sentir quanto grande foi nossa imprudência de fazer tudo aquilo “no escuro”. Valeu muito pelo que pude VIVER e contar.

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