Autoria de Lu Dias Carvalho
Conta uma fábula que certa raposa chegou à conclusão de que algumas aves estavam sempre em busca de corpos sem vida para bicá-los, à procura dos insetos que neles pousavam. Espertalhona como sempre, achou que deveria tirar proveito de tal ladinagem. Não precisou matutar muito para saber o que fazer para levar vantagem. Quando a matreira sentia-se faminta, deitava de barriga para cima, abria a boca e ali ficava inerte, como se morta estivesse, pronta para abocanhar as ingênuas avezinhas.
De tanto persistir em seu comportamento interesseiro, a raposa nem mesmo se deu conta de que, uma vez com a pança cheia, acabava dormindo em tal posição, o que a deixava indefesa diante de seus predadores. As facilidades exageradas sempre apresentam um perigo, pois a capacidade de reflexão escafede-se.
De uma feita, a comilança da espertalhona raposa foi à beira do rio Amazonas, onde acabou toscanejando, pois o hábito de observar tudo em volta não mais lhe incutia cuidado algum. O receio há muito fora embora em razão da facilidade com que atingia seus objetivos. A velhaca estava cada vez mais senhora de si e de sua impunidade em relação ao meio em que vivia. E foi assim que a finória acabou esmagada sob o abraço efusivo de uma gigantesca jiboia, fazendo valer o ditado de que a esperteza quando é grande demais come o dono.
Neste nosso Brasil do salve-se quem puder, a esperteza tem sido uma finória raposa (que me perdoe o inocente animal) a transitar por todos os nossos “podres poderes” federais, estaduais e municipais. É fato que tais Vulpe vulpes em sua grande maioria continuam encasteladas em confortáveis poltronas, contabilizando o valor do saque feito à nação, enquanto o povo servil, subestimado e desdenhado paga a conta do butim, sem ter usufruído das benesses da vergonhosa, obscena e infame pilhagem. À gentaça resta apenas esperar que a “esperteza” coma REALMENTE os velhacos, astutos e finórios ladravazes da nação, pois somente assim haverá um país em que a decência seja a principal bandeira. Por enquanto, a lama está mais para porcos (peço desculpas aos inteligentes animais) do que para sucuri.
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Lu
Lembrei-me do dito popular “Quem se mistura aos porcos farelo come!”. Infelizmente uma sociedade perdida e sem rumo, somente Deus por nós!
Sandra
Uma amiga foi vítima de um golpe ontem. É preciso olho vivo o tempo todo.
Beijos,
Lu
Lu,
A esperteza está em toda parte, principalmente nesse período de eleições.
Meu pai me contou que lá pelos lados do Rajado, povoado fincado na sul da Bahia, existiu um sujeito danado de esperto, mas que depois se deu mal. Aconteceu assim: os garimpeiros desse lugar notaram que seus víveres foram roubados por um suíno, pelas marcas de lama deixada na porta do casebre onde moravam. No outro dia colocaram os produtos em um jirau e de novo foram roubados. Desconfiados, no outro dia fingiram que iam trabalhar no garimpo mas ficaram escondidos em um moita. Depois de um tempo apareceu um sujeito que passou lama em todo corpo e de quatro pés entrou na cabana. Aí apareceu os quatro moradores pegaram o moço e o amarraram com corda.
– Vamos capar esse barrão – gritou um.
– Amole a faca que vou fazer o serviço – gritou outro.
O mais forte subiu na barriga do espertalhão, pegou nas suas guimbas. Em vez de pegar a faca já amolada, segurou um caco de telha passou com rapidez no saco do sujeito. Minha amiga o resultado foi estrondoso, pois do fiofó do malandro saíram materiais fecais em alta velocidade, quase derrubou a cabana dos garimpeiros. Um verdadeiro tiro de canhão que podia ser usada até na Guerra da Ucrânia.
Adevaldo
Nesse Rajado acontece de tudo! Vixe Maria! Eu pensei, antes de chegar ao final do causo, que o ladrão entraria no local montado num barrão. Imagino a dor que o cabra sentiu, a ponto de soltar canhão.
Abraços,
Lu
Lu
A esperteza quase nunca nem é usada para o bem. Vem o consolo que é a certeza de que os espertos, intocáveis Vulpes vulpes, de tão espertos acabam, como observado, traídos pela própria esperteza. Escondidos pelo véu escuro da não exposição clara, ou às claras, os tais, um dia, tropeçam nas próprias pernas e aí o tombo e a carinha linda e viçosa, por vezes de olhos esbugalhados, vira uma ranhura, que numa peça de arte pode ser linda; numa carinha malandra, um desastre!
Bom decifrar seu cuidadoso e malandramente bem colocado ponto de vista! Atentar para a raposa que ronda em surdina, mas depois, sabendo que nem precisa de tanto cuidado, delicia-se com as vítimas incautas, até que um dia, pimba, dana-se! Nem sempre a esperteza dá sorte! Mesmo contando com a vitória por ser esperta, não é, neste mundo de meu Deus, impune até onde deseja. Uma boa refeição faz bem, mas há que ser boa, saudável, servir para alimentar corpo e alma, visto um sem o outro só existirem na matéria inerte.
Nossas “raposas” são mesmo um bom parâmetro entre os nossos saqueadores e suas incontroláveis necessidades de ataque, noturno ou à luz brilhante do dia. Tanto faz, afinal, nem só na mata elas se fartam. Hoje, a fartura maior está em mãos, maletas, troca troca, escambos e afins de ilustres brasileiros que extorquem e se fartam à mão cheia. Deixemo-los seguir. Parece, que após o lerdo e atrapalhado não ver deu o ar do “pera aí”, começamos a enxergar e não gostamos. Parece que houve o início do desenrolar do novelo e não é para bordar o tapete da Penélope, pois essa, segundo a lenda, tecia de dia e desmanchava à noite. Tinha ela motivos até justos, mas foi descoberta e aí, danou-se!
O novelo aqui tem nomes, e no desenrolar do tal, podem soltar fiapos e fazer estrago até que se chegue ao ponto que se deseja, se é que consegui me explicar. Se não o consegui, talvez não haja a necessidade de fazê-lo, afinal, vislumbramos, mesmo que tardia e lentamente, um prenúncio de que poderemos, sim, ficar livres da raposada que corre solta e se farta lindamente! Mas só das raposas encasteladas em confortáveis poltronas. As que contam sorrindo o tilintar das moedas conseguidas às nossas custas e que deixamos, por incapacidade, tolerância ou no esbarrar da impunidade até hoje ainda vista.
Mas se tudo é finito, então, contemos com a derrocada das “nossas raposas”. Mesmo com belas pelagens, focinhos até interessantes, o dia delas chegará! Aí, bendito seja o dia, teremos o Brasil que merece o nosso respeito sendo respeitado por todos! E a raposada, não mais agindo em bandos, pois contrário é ao instinto do lindo animal. Boa observação, amiga! Dona raposa, que se fartava de aves, não contava com o poder da sucuri…
Miss Celi
Você tem a capacidade de enriquecer qualquer texto, para não dizer que os suplanta com esse humor que lhe é tão peculiar. Quanto às raposas bichos-homens, resta-nos a esperança acalentada de que o povo, representado na lenda pela sucuri, assuma sua força e escorrace-as. E, como bem dito por você, tudo na vida é finito, até mesmo o descalabro dos três “podres poderes” arrastando para os estaduais e municipais.
Beijo grande,
Lu