Autoria de Lu Dias Carvalho
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Antes de Roma transformar-se num grande império, a religião primitiva de seu povo exigia que as imagens em cera dos ancestrais fossem carregadas em procissões. Tal costume parecia vir da crença de que a representação da pessoa preservava sua alma. Em sua origem os romanos eram adeptos da cremação de seus mortos, mas a partir do século II a.C. os sepultamentos tornaram-se mais frequentes, surgindo então os sarcófagos (caixões de pedra ou terracota), depositados contra uma parede, de maneira que nem todos os seus lados recebiam ornamentação (lendas clássicas, cenas de caçada ou batalhas heroicas). A terceira gravura acima (da esquerda para a direita) diz respeito a um relevo em mármore de um sarcófago.
Ao transformar-se num grande império, os romanos passaram a cultuar o busto de seu imperador. Queimavam incenso diante desse para simbolizar lealdade e submissão, costume que ocasionou a perseguição aos cristãos, pois esses se recusavam terminantemente a participar de tal prática. Os romanos importantes permitiam que os artistas criassem seus retratos (bustos) mais realísticos. Ainda que esses os lisonjeassem de uma forma mais velada, davam-lhes um caráter natural, sem qualquer sombra de vulgaridade.
Os romanos eram um povo de caráter prático, não se apegando aos deuses fantasiosos, como faziam gregos e egípcios. Possuíam, porém, uma maneira peculiar de narrar os feitos de seus heróis, o que ajudou as religiões que travaram contato com o Império Romano, ao espelharem suas crenças. Contavam a história de suas campanhas militares e apregoavam suas vitórias numa espécie de crônica ilustrada, como mostra a Coluna de Trajano (ilustração à esquerda), o que contribuiu para alterar a tendência da arte, levando a expressão dramática a se sobrepor à harmonia e à beleza.
A civilização helenística foi a soma da união das diversas sociedades que compunham o império de Alexandre, o Grande, porém com a predominância das culturas grega, persa e egípcia. Contudo, ao dominar os povos do Império de Alexandre, os conquistadores romanos impuseram sua própria cultura. Somente não conseguiram fazê-lo no que diz respeito à cultura helenística, cuja arte encontrava-se bem acima da arte dos romanos durante os primeiros séculos depois de Cristo. Foi em razão dessa superioridade que a arte helenística e a romana se sobrepuseram às artes dos reinos orientais.
Os egípcios, embora continuassem a sepultar seus mortos usando a técnica da mumificação e seguindo a crença de que a figuração era fundamental para a sobrevivência da alma, não mais faziam uso da representação do rosto segundo seu estilo, mas, sim, de acordo com os critérios da arte grega. Os retratos dessa época chamam a atenção por seu intenso realismo (ilustração à esquerda). Não foram apenas os povos egípcios a adequarem os novos métodos artísticos aos costumes de sua religião, outros povos também o fizeram, a exemplo dos indianos que aprenderam o jeito romano de narrar uma história e louvar seus heróis. E foi assim que os artistas indianos contaram a história de Buda — um ser humano que recebeu a iluminação.
A arte da escultura já estava presente na Índia muito tempo antes de a influência helenística ali aparecer, ao ser conquistada por Alexandre Magno. As belas formas das artes grega e romana, ao homenagear seus deuses e heróis, influenciaram os artistas indianos, como mostra a cabeça de Buda acima, expressando grande paz. A religião judaica também se viu influenciada por gregos e romanos na representação de suas histórias sagradas, com a finalidade de instruir seus fiéis. Embora a Lei judaica proibisse a criação de imagens por medo de que seu povo passasse a cultuar deuses pagãos, algumas colônias judaicas, situadas nas cidades fronteiriças a leste, ornamentaram as paredes de suas sinagogas com histórias do Antigo Testamento.
Os artistas cristãos, ao representarem Cristo e seus apóstolos pela primeira vez, foram beber na sabedoria da tradição grega. A terceira ilustração acima é tida como uma das primeiras representações do Salvador, datando do século IV. Apresenta um Cristo jovem entronizado, ladeado pelos discípulos Pedro e Paulo. O mais interessante nesta obra é o fato de os pés de Jesus descansarem num dossel do firmamento que é sustentado pelo antigo deus que regia o céu, lembrando a arte helenística pagã.
Exercício:
- Como as religiões foram influenciadas pelo Império Romano?
- Por que a arte dos romanos não suplantou a dos gregos?
- Se você fosse o escultor da obra acima (3ª) por que teria acrescentado a ela um deus pagão?
Ilustração: 1. Retrato de um Homem, c. 100 d.C. /2. Cabeça do Buda, séc. IV-V d.C /3. Cristo com S. Paulo e S. Pedro, c. 389 d.C. /4. Coluna de Trajano, c.114 d.C.
Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
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Lu
A religião da Roma Antiga foi formada combinando vários cultos e diversas influências. Crenças etruscas, gregas e orientais foram incorporadas aos costumes tradicionais para serem adaptadas às novas necessidades do povo. A religião de Roma, caracterizada pelo politeísmo, valorizando a mitologia, era semelhante à praticada na Grécia Antiga, sendo absorvida pelos romanos graças aos contatos culturais e conquistas. Os romanos também incorporaram elementos religiosos de outras religiões da península itálica. Os deuses romanos eram os mesmos da Grécia, porém com outros nomes. No legado de Alexandre Magno inclui a difusão cultural que suas conquistas geraram.
Marinalva
Mesmo que os povos vencedores acabem impondo sua cultura aos vencidos, esses também acabam por inserir a deles, pois não há como impedir essa interação. Por isso, os romanos, ainda que tenham se tornado os senhores do mundo à época, acabaram incorporando a cultura de vários povos, em especial da Grécia, uma vez que os gregos eram superiores a eles em vários campos do conhecimento. Os deuses romanos eram realmente os mesmos dos gregos, mudando apenas o nome: Vênus (Afrodite para os gregos), Júpiter (Zeus para os gregos), etc.
Abraços,
Lu
Lu, minha escritora linda!
Estou adorando o curso da História da Arte. Tenho aprendido muito. Ainda não fiz o teste do módulo 1. Semana passada foi pesada com muitos acontecimentos e uma série de pendências a resolver. Reservo um tempo sem interrupções, somente meu, para ler, reler, vê as fotos, enfim, mergulhar no passado e saborear todo o ensinamento e conhecimento que você nos proporciona. Quando chego nas perguntas do final do texto para mim é uma autoavaliação não gosto de errar.
Minha eterna gratidão por estes momentos que você me proporciona.
Um grande abraço
Pat
É sempre uma grande alegria saber que você me acompanha no blogue. Alegra-me muito a sua companhia em especial neste curso de História da Arte. Você é uma pessoa excepcional, sempre presente em meu coração. Obrigada pelo carinho.
Beijos,
Lu
Lu
O Império Romano foi muito poderoso num certo período da história. Dominou a Europa e expandiu-se pelo Oriente e África,transformando vários impérios em suas províncias, alterando vários aspectos dessas culturas.
Os romanos dominaram os gregos militarmente, mas culturalmente foram subjugados pela grandiosidade do avanço helenístico no campo das artes, filosofia, astronomia, matemática, medicina,etc. A arte romana uniu se à arte grega e impôs muitas mudanças em várias culturas, como as até então pertencentes ao império de Alexandre, o Grande.
O povo romano era muito objetivo em relação ao aspecto religioso, ao contrário de outros povos que eram muito supersticiosos e tinha os deuses como entes supremos, tornando-se reféns desses. Os artistas romanos eram incentivados a elaborar bustos dos imperadores de uma forma precisa e real, os quais eram adorados pelos súditos. O imperador era um dos deuses e podia tudo e todos estavam subjugados aos seus caprichos.
A arte romana não exerceu influência religiosa nos trabalhos artísticos, até porque eram mais livres em relação às crenças religiosas, o que possibilitou seus artistas de gozarem de mais liberdade. As artes, principalmente as esculturas, estavam direcionadas mais para expressar as conquistas e o poder do imperador.
Hernando
É incrível o tamanho do império que os romanos chegaram a conquistar. Até o velho e poderoso Egito, assim como a Índia, teve que se submeter ao comando dos imperadores romanos. E como a cultura do vencedor acaba por sobrepor à dos vencidos, vemos a presença de alguns aspectos que mudaram na arte religiosa desse ou daquele povo que foi subjugado. O fato de a Grécia ter sido vencida militarmente, mas ser vencedora em relação à sua cultura, serve para todos nós entendermos a valorização de um povo culto (estamos tão longe disso…) em qualquer que seja o seu tempo.
A Grécia com seus filósofos, mestres, oradores e artistas ainda hoje é um exemplo para o mundo civilizado. É por isso que:
“Os romanos dominaram os gregos militarmente, mas culturalmente foram subjugados pela grandiosidade do avanço helenístico no campo das artes, filosofia, astronomia, matemática, medicina,etc. A arte romana uniu se à arte grega e impôs muitas mudanças em várias culturas, como as até então pertencentes ao império de Alexandre, o Grande.”.
Abraços,
Lu