Autoria de José Antônio
Até pouco tempo atrás o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), também conhecido como Transtorno Bipolar do Humor (TBH), era chamado Psicose Maníaco Depressiva (PMD). Caracteriza-se pela variação extrema do humor entre uma fase maníaca ou hipomaníaca e uma fase de depressão.
Lendo os comentários neste site, vejo o quanto a relação dentro de um diagnóstico de TAB é sofrida. Sofre quem tem o diagnóstico, por não aceitar a condição que não escolheu, mas esse irá acompanhar sua história e será utilizado como motivos para isso e para aquilo nas relações, nas decisões, nas atitudes. Sofre quem está por perto, num relacionamento, ao ver essa autofagia que escolhe o silêncio, que distancia quem quer ajudar e que, por vezes, descarta o outro (ainda que inconscientemente).
Eu me relacionei com uma pessoa com TAB por alguns anos. Ouvi diagnósticos, ouvi cenários, ouvi resistências de usar medicamento e senti, por muitas vezes, o efeito dessas decisões. Em um momento eu estava inserido na realidade de sonhos e em outro afastado pelo silêncio ensurdecedor do afastamento que despreza, que anula, que deixa você baratinado e perdido entre tentar ajudar e respeitar as decisões daquele que se tranca.
Passei a fazer cálculos dos dias bons e dos dias ruins. Os meses e anos mostraram coisas sinistras. Meses de afastamento, meses de brigas, meses de indiferença. Alguns momentos de normalidade. Planos? Futuro? Sem chances! Tudo muda num estalo de dedos. A viagem discutida, a curtição desejada, o dia X ou Y, as datas vão sendo manchadas pelas crises, pela indiferença e pelo distanciamento. Em cada queda um vazio, em cada vazio a vontade de ver diferença, e quando essa proximidade ocorria, o medo do próximo dia, do próximo descarte, da forma intensa e descartável que a crise define quem está ao lado de um(a) bipolar é algo que você terá que conviver. O fim parece o natural. Quem está perto sofre também, e se não houver essa clareza, irá sofrer bem mais.
É preciso cuidar de si primeiro, para depois cuidar de quem precisa de ajuda. Não subestime que o risco é alto, que o sentimento é confrontado e que as desilusões sentimentais são inevitáveis nessa relação. Se tem algo que me marcou muito nessa relação, foi tomar conhecimento da falta de responsabilidade afetiva de quem é bipolar. Se isso é sano ou insano, nem os médicos e psicólogos convergem nas hipóteses. A certeza é que o sofrimento é inevitável. E sofrer amando, afastar-se gostando e ver o descarte flertando com você a cada dia é um desafio imenso.
Minha solidariedade aos que a vida rotulou como bipolares. Se desafiem, conversem, expliquem aos seus parceiros que irão se afastar, irão se calar, irão viver a fase necessária da patologia, mas tentem, nesses gatilhos, enxergar aqueles que estão com vocês, e entendam que eles sofrem com vocês, e se você não tiver esse tato, sofrerão ainda mais.
Minha solidariedade aos que estão perto de alguém bipolar. Ame, se importe, entenda, mas cuide de si primeiro, para ter estrutura e ajudar o outro. Se reinventem e incentivem o maior ponto de equilíbrio que for possível. A vida é um sopro, a intensidade de momentos felizes normalmente é muito mais breve que a recuperação das feridas abertas nos relacionamentos.
Luz e paz!
Ilustração: Amor e Dor, 1895, obra de Edvard Munch
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Lu
Obrigado pelas palavras. Minha contribuição é um pouco de experiência, de dor e de amor. Quando esses ingredientes se unem na nossa história, criam uma dimensão incompreensível por vezes.
Para aqueles que tentam entender um pouco do desafio do TAB numa relação, e também a fragilidade das relações em geral, para além dessa patologia, recomendo a leitura de Zygmunt Bauman, sobre as relações líquidas que vivemos.
Ao meu ver, um grande desafio hoje, é definir os normais e os anormais numa sociedade. Nós temos uma grande facilidade de descartar o que consideramos anormal. Mas não nos damos conta que hoje rotulamos, e amanhã podemos ser o rótulo dessa anormalidade, basta que alguém também nos defina, e isso ocorre o tempo todo.
Impossível não se auto posicionar como autor e como vitima em algum momento dessa caminhada.Para além de uma definição médica, há muito mais coisas envolvidas, há uma chancela que já fez muitos desistirem, e que por vezes é usada como um escudo de empoderamento para aqueles que já não têm forças para tentar conviver com esse cenário.
Luz e paz!
José Antônio
Carlos
Obrigado pelas palavras.
Att.
José Antônio
Moacyr
Obrigado pelas palavras.
Att.
José Antônio
Ricardo
O amor deve prevalecer, e torço para que todo esse esforço fortaleça a relação de vocês. Nem sempre é fácil, mas penso que o envolvimento familiar é uma grande sustentação para os momentos de escuridão.
Luz e paz!
José Antônio
Raul
Essa é uma característica que aparece em muitos relatos na internet. Não sei o motivo, mas comigo foi assim, infinitos términos, e considero que essa postura agride muito o parceiro, afinal, é um termina e volta que fragiliza a confiança, a convivência, etc.
Luz e paz!
José Antônio
José Antônio
Achei o seu comentário muito bom, pautado pela sensibilidade e o equilíbrio.
Que belo texto, José Antônio!!! Parabéns e obrigado!
Antônio,
quando você fala em descartes, ela terminava com você com frequência? Eu passei por essa experiência ao longo de oito anos. Já procurei em inúmeras obras relatos sobre esse comportamento e não encontrei, nem mesmo nas biografias escritas por bipolares. Se alguém puder me indicar eu agradeço.
José Antônio
Tudo que você relatou é muito importante, principalmente pra quem vive esse problema na família. Minha esposa é bipolar e só eu sei o que já passei, mas estou tentando levar a vida junto com ela. Você falou algo muito importante: temos que nos cuidar primeiro, para ter estrutura pra cuidar da outra pessoa. É isso que eu venho tentando fazer. Obrigado pelo relato e vai minha solidariedade a todos que lidam com este problema.
Abraços,
Ricardo
José Antônio
Fiquei muito sensibilizada com o seu depoimento que muitas vezes se assemelha a um poema de compreensão e solidariedade, recheado de muito amor. Você possui uma maneira muito especial de apresentar os fatos. Há muita doçura em suas palavras, ao mostrar que tanto o doente, como aquele (ou aqueles) que vive ao seu redor são vítimas. Não existe protagonista e nem antagonista. Todos são prisioneiros de uma doença ainda sem cura. É como aconselha:
“Minha solidariedade aos que estão perto de alguém bipolar. Ame, se importe, entenda, mas cuide de si primeiro, para ter estrutura e ajudar o outro. Se reinventem e incentivem o maior ponto de equilíbrio que for possível”.
Gostaria de fechar o meu comentário usando o seu alerta:
“A vida é um sopro, a intensidade de momentos felizes normalmente é muito mais breve que a recuperação das feridas abertas nos relacionamentos.”
Abraços,
Lu