Autoria de Lu Dias Carvalho
Embora Botero não submeta suas imagens religiosas à prova de ironia ou ceticismo, suas pinturas e desenhos não são feitos com o mesmo senso de fé inquestionável daqueles de que se inspirou. A posição de Botero é sempre a de um artista do final do século XX revisitando temas religiosos, completamente ciente do abismo que existe em nosso tempo entre a fé cega na doutrina religiosa e as dúvidas inevitáveis impostas pelo mundo secular de hoje. (Edward Sullivan)
O artista figurativo e escultor colombiano Fernando Botero Angulo nasceu na Colômbia em 1932. É o segundo dos três filhos do vendedor Davi Botero e da costureira Flora Angulo. Aos quatro anos de idade perdeu o pai, vitimado por um ataque cardíaco, ficando aos cuidados da mãe e de um tio que teve um papel fundamental em sua vida, tendo o colocado numa escola para toureiros por um período de dois anos, embora ele preferisse a arte no papel. Enquanto crescia, o garoto sentia-se cada vez mais fascinado pelo Barroco, estilo que via nas igrejas coloniais e na vida de Medellín. Aos 16 anos o jovem viu suas primeiras ilustrações serem publicadas no suplemento dominical do jornal “El Colombiano”. Exibiu seu trabalho pela primeira vez, aos 16 anos de idade. Em Bogotá teve 25 de suas obras expostas pelo fotógrafo Leo Matiz em seu atelier. Antes de completar um ano em relação ao evento anterior, Leo Matiz fez nova exposição com obras do artista, obtendo grande sucesso.
A pintura icônica intitulada Nossa Senhora de Cajicá é uma obra do artista. O nome Cajicá refere-se a um pequeno município da província de Cundinamarca, próximo a Bogotá, local em que o artista é dono de uma fazenda com casa de campo. Assim como todas as suas figuras, a Virgem Maria também é mostrada como uma figura gorducha. Ela carrega nos braços o seu Menino, também obeso, a quem oferta uma maçã retirada da árvore atrás dela. Ele traz na mão esquerda uma bandeira colombiana, o que mostra o quanto o artista é ligado à identidade de seu país.
A Virgem Maria parece flutuar no meio da pintura, em frente a uma árvore, como se estivesse sentada em um nicho de altar, olhando com gravidade por cima dos olhos do observador. Ela traz o pé esquerdo sobre uma serpente negra que aparece na base da obra, quase que de uma ponta a outra da composição, o que também contribui para expressar o seu tamanho colossal. As pequeninas figuras de monges liliputianos de aparência engraçada, bispos, freiras e coroinhas que a cercam favorecem ainda mais a sua monumentalidade.
A composição é piramidal e apresenta cores vibrantes e luminosas. Mais acima, à direita, um braço com um lírio branco na mão, símbolo da pureza de Maria, sobressai em meio a nuvens escuras. Nesta pintura o artista, mais uma vez, recria com sabedoria a história da arte para dar uma nova vida aos gêneros clássicos.
Ficha técnica
Ano: 1972
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 234,4 cm x 181,8 cm
Localização: Museu de Antióquia, Medelín, Colômbia
Fontes de pesquisa
O livro das artes/ Martins Fontes
https://www.sothebys.com/en/auctions/ecatalogue/2010/latin-american-paintings-n08681/lot.24.html
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