Arquivo da categoria: Apenas Arte

Textos sobre variados tipos de arte

Bazille – REUNIÃO DE FAMÍLIA

Autoria de Lu Dias Carvalho

Ele é um dos mais talentosos entre nós (Camile Pissaro)

O pintor francês Jean Fréderic Bazille (1841 – 1870) não contou com o incentivo de sua rica família inicialmente, pois essa queria que ele estudasse medicina.  Contudo, Bazille acabou ganhando a anuência de seus pais que passaram a apoiar sua carreira artística. Infelizmente o jovem pintor teve uma vida muito curta, sendo morto na guerra Franco-Prussiana antes mesmo de completar 30 anos de idade. Embora não houvesse tido tempo de ser representado nas exposições expressionistas, foi  o responsável pela ideia de criar exposições independentes, sem ter que passar pelo processo rigoroso de um comitê extremamente conservador que rejeitava todas as obras que não rezassem na sua cartilha. Foi grande amigo de Monet e Renoir.

A composição intitulada Reunião de Família é uma obra muito importante na curta carreira do artista, sendo o maior de seus trabalhos. Este quadro foi criado inteiramente ao ar livre. No seu estúdio, o pintor apenas reviu alguns detalhes e acrescentou sua figura à sua criação. Foi surpreendentemente aceito no Salão de 1868, enquanto o quadro “Mulheres no Jardim” de Monet era recusado para desaponto de Bazille. O assunto da obra é a reunião das famílias Bazille  e des Hours – ligadas por laços de matrimônio – na propriedade rural em Méric, perto de Montpellier, durante o verão de 1867. A casa ficava num ponto ligeiramente mais alto, com vista para a aldeia.

O artista aproveitou a reunião de sua família – composta por onze pessoas – debaixo de um pé da castanheira que ficava no terraço, para retratá-la num dia ensolarado. À esquerda, sentados num banco, estão seus pais Gaston Bazille e Camille Victorine Bazille. Sentados à mesa estão sua tia – a irmã de sua mãe – Élisa des Hours-Farel e sua filha Juliette Thérèse. Ao lado do tronco da árvore, de braços dados, estão sua prima Thérèse Teulon-Valio – a filha casada de Gabriel e Élisa des Hours-Farel – e seu marido Emile. À direita da pintura, ao lado da parede do terraço, encontram-se seu irmão Marc Bazille com sua esposa Suzanne Tissié e sua irmã Suzanne. O artista também inseriu seu retrato no grupo. Ele se encontra espremido à esquerda, atrás de seu tio Gabriel des Hours-Farel.

Este quadro de Bazille lembra muito o de seu amigo Claude Monet, intitulado “Mulheres no Jardim”. Os vestidos brancos com bolinhas pretas usados na composição são bem parecidos com os da referida obra. A vestimenta branca estava em moda no século XIX, sendo visto como próprio da burguesia – à qual pertencia a família do artista. Contudo, para os pintores impressionistas o que importava era o efeito da luz e da sombra e como a cor branca refletia as cores do ambiente. Thérèse, prima do pintor, sentada à mesa, usa um vestido com matiz turquesa, ponto fundamental da composição.

O consagrado escritor francês Émile Zola, em sua crítica, enalteceu três pontos fundamentais desta obra: 1- grande sensibilidade ao retratar a luz natural presente no terraço; 2- o modo como o artista captou a pose dos presentes, caracterizando perfeitamente a personalidade de cada um; 3 – o esmero na caracterização do vestuário dos presentes, tido como uma contribuição à modernidade.

O fato de não haver interação entre as onze pessoas presentes na obra – todas com postura muito rígida – tem feito com que o quadro venha sendo comparado a uma fotografia de grupo, embora cada figura pareça ter o seu retrato pintado individualmente. Dentre as figuras presentes, somente o pai do artista – parece fitar algo à sua frente – e sua cunhada Suzanne Tissié – também perdida com o olhar à sua frente – não olham para o observador. Tal fato deixa patente o interesse do pintor em incorporar a narrativa à passagem do tempo em sua obra.

Nota:
Quando foi exibida no Salão de Paris esta composição apresentava cachorrinhos em primeiro plano. Dois anos depois o artista substituiu os animais por uma natureza-morta em que são vistos um feixe de flores, um chapéu de palha feminino e um guarda-chuva fechado.

Ficha técnica
Ano: 1867
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 152 x 230 cm          
Localização: Museu d’Orsay, Paris, França

 Fontes de Pesquisa:
Impressionismo/ Editora Taschen
https://mydailyartdisplay.wordpress.com/2012/10/21/reunion-de-famille-family-reunion-by-frederic-bazille/
https://www.theartist.me/collection/oil-painting/family-reunion/

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Cassatt – MULHER SENTADA COM…

Autoria de Lu Dias Carvalho

A pintora estadunidense Mary Cassat (1844 – 1926) mudou-se para a França em busca de melhores oportunidades em sua arte, uma vez que em seu país as convenções burguesas eram desfavoráveis a seu trabalho. Em Paris ela continuou a sua aprendizagem artística e também passou a expor suas obras no Salão, sendo também a única mulher estadunidense a participar das exposições impressionistas. Isso se deveu, sobretudo, a Edgar Devas – seu amigo e mentor – responsável por inseri-la no grupo dos impressionistas. Seus temas prediletos eram sobre teatros e a Ópera de Paris, interessando-se principalmente pelas mulheres – ansiosas para se exibirem – que iam a tais lugares, servindo o teatro apenas como pano de fundo. Cassat também mostrou mulheres em casa, na lida com seus filhos, como na tela que ora vemos, mas jamais num café. Ela nunca acompanhou seus amigos impressionistas em tais lugares – tidos como próprios de homens e nada respeitáveis para mulheres burguesas.

A composição intitulada Mulher Sentada com Criança no Colo é uma obra da artista. A pintora, nesta tela, volta toda a sua atenção para a criança, enquanto a mãe – de costas para o observador – encontra-se sentada numa volumosa cadeira de braços, cujo encosto oval cobre quase inteiramente suas costas, de frente para o lavatório. Apenas o cabelo escuro enrolado num coque e seu vestido branco determinam-na. A criança rechonchuda e corada encontra-se inteiramente nua, com o braço esquerdo e a cabecinha descansando no ombro esquerdo da mãe. Ela se encontra de frente para o observador e parece ainda meio sonolenta. As duas grandes figuras estão inseridas num pequeno espaço, o que parece ser um interior burguês.

Em frente à mãe e à criança está uma mesa. Nela é visto um jarro dentro de um recipiente de louça, utensílios usados no banho, o que alude à limpeza e também à inocência do bebê. Muitas das obras da pintora nasceram de seus círculos pessoais familiares, ou seja, ela retrata cenas de sua própria classe social.

Ficha técnica
Ano: 1890
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 81 x 65,5 cm           
Localização: Museu de Arte, Filadélfia, EUA

 Fontes de Pesquisa:
Impressionismo/ Editora Taschen
https://www.museobilbao.com/in/obras-maestras/mary-cassatt

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Caillebotte – OS RASPADORES DE SOALHOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

O impressionista francês Gustave Caillebotte (1848 – 1894) iniciou sua carreira artística como autodidata, vindo depois a estudar na Escola de Belas Artes da cidade de Paris. Ele conheceu e tornou-se amigo de Edgar Degas e, através dele, entrou em contato com os impressionistas, deles recebendo grande influência. Era dono de uma visão extremamente moderna, sempre optando por temas que mostravam a vida parisiense. A sua presença trouxe grande influência ao grupo, pois ele – dono de excelente situação financeira – ajudava-os, comprando suas obras, legando, portanto, uma rica coleção do referido estilo ao Estado francês.

A composição intitulada Os Raspadores de Soalhos – obra-prima da pintura realista – é uma criação do artista que mostra seu interesse pela perspectiva e pela vida cotidiana. Ele apresenta três homens, nus da cintura para cima, raspando o verniz antigo do soalho de uma grande sala. Chamou a atenção de seus contemporâneos o fato de o artista apresentar um tema com trabalhadores urbanos, uma vez que ele pertencia à alta burguesia da época, sem vivência com esse tipo de gente. O quadro não foi aceito para exposição no Salão de Paris, sendo visto pelos responsáveis pela seleção como um “assunto vulgar”, uma inovação provocadora, contudo, fez parte da segunda exposição impressionista.

As três figuras masculinas recebem a luz que entra através da porta de grades de ferro em arabesco que leva à varanda. Seus torsos nus mostram-se luzidios, iluminados por esta luz que adentra pelo ambiente e incide sobre as faixas do verniz escuro que ainda está por ser retirado. Uma pequena parte da raspagem feita – como mostram as tábuas já aplainadas – destaca-se por apresentar uma cor sem brilho, embaciada. A luz também faz com que a sombra dos corpos dos homens trabalhando seja projetada no soalho. Aparas da madeira – parecidas com anéis de cabelo – são vistas espalhadas pelo piso.

As três figuras humanas ocupam o centro da tela. Os dois homens da esquerda fazem o mesmo gesto e interagem entre si, conforme mostram suas cabeças. O que se encontra à direita e um pouco mais atrás, tem parte do corpo cortada na lateral do quadro e traz os olhos voltados para o chão. Várias ferramentas de marcenaria estão espalhadas pelo ambiente. Uma garrafa aberta de vinho barato e um copo encontram-se à esquerda. As tábuas estão alinhadas em diagonal e as paredes possuem painéis retangulares. É interessante notar que o observador fica de pé sobre os três homens trabalhando no piso. É possível que o local seja o estúdio do próprio artista.

Caillebotte foi muito importante dentro do Impressionismo, pois, ao contrário de seus colegas que preferiam retratar paisagens e jardins, ele preferiu os trabalhadores urbanos – tão ignorados pela arte –, ainda que sua obra não tivesse nenhuma mensagem social ou moralizante. Os trabalhadores, através do olhar fotográfico de Caillebotte, passaram a fazer parte da arte, como aconteceu no passado com os humildes camponeses.

Ficha técnica
Ano: 1875
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 102 x 146,5 cm       
Localização: Museu d’Orsay, Paris, França

 Fontes de Pesquisa:
Impressionismo/ Editora Taschen
http://www.visual-arts-cork.com/paintings-analysis/floor-scrapers.htm
https://www.theartpostblog.com/en/gustave-caillebotte-the-floor-scrapers/

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Bracquemond – CHÁ DA TARDE

Autoria de Lu Dias Carvalho

A severidade de Monsieur Ingres me assustou. Eu lhe digo, porque ele duvidou da coragem e perseverança de uma mulher no campo da pintura. Ele queria impor limites. Ele iria atribuir-lhes apenas a pintura de flores, de frutas, de naturezas-mortas, retratos e cenas de gênero. (Marie Bracqmond)

A pintora impressionista francesa Marie Bracquemond (1841 – 1916) – ao lado de Mary Cassatt e Berthe Morisot – foi uma das poucas mulheres a alcançar sucesso dentro do estilo impressionista. Ainda assim, tornou-se desconhecida, pois abandonou a pintura muito cedo para cuidar da família e deixar espaço para seu marido – o artista gráfico Félix Bracquemond – que não a incentivava em seu trabalho artístico e implicava com a modernidade de sua pintura, sucesso e amizade com os impressionistas. Ela foi aluna dos artistas franceses Jean-August-Dominique Ingres e de Paul Gauguin.

A composição intitulada Chá da Tarde é uma obra da artista em que ela retrata sua irmã Louise, sentada à mesa, ao ar livre, de acordo com as características da pintura impressionista. A jovem mulher, com o rosto oval voltado para o observador, usa um vestido branco maravilhosamente representado. Na cabeça traz um chapéu que faz sombra em sua testa e nos olhos. Ela segura um livro aberto, mas dele afasta o olhar, olhando para baixo, como se estivesse a refletir sobre algo que leu ou sobre algo que a perturba.

A mesa de chá redonda, forrada com uma toalha branca, tem sobre si uma grande xícara num pires, dois cachos de uvas  numa travessa de prata e um bule. Uma densa vegetação serve de pano de fundo. Pontos de luz refletem na roupa e nos arbustos

Ficha técnica
Ano: 1880
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 81,5 x 61,5 cm        
Localização: Museu do Petit Palais, Paris, França

 Fontes de Pesquisa:
Impressionismo/ Editora Taschen
https://mydailyartdisplay.wordpress.com/2014/06/25/marie-bracquemond/

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Cassat – MULHER COM COLAR DE PÉROLAS…

Autoria de Lu Dias Carvalho

 A pintora estadunidense Mary Cassat (1844 – 1926) mudou-se para a França em busca de melhores oportunidades em sua arte, uma vez que em seu país as convenções burguesas eram desfavoráveis a seu trabalho. Em Paris ela continuou a sua aprendizagem artística e também passou a expor suas obras no Salon, sendo também a única mulher estadunidense a participar das exposições impressionistas. Isso deveu, sobretudo, a Edgar Devas – seu amigo e mentor – responsável por inseri-la no grupo dos impressionistas. Seus temas prediletos eram os teatros e a Ópera de Paris, interessando-se principalmente pelas mulheres – ansiosas para se exibirem – que iam a tais lugares, servindo o teatro apenas como pano de fundo.

A composição intitulada Mulher com Colar de Pérolas no Camarote é uma obra da pintora, vendido ao ser exposto na quarta exposição impressionista. Sua obra retrata uma jovem e bem vestida espectadora no teatro, usando um colar de pérolas rente ao pescoço, responsável por dar título ao quadro. Ela é posicionada em primeiro plano, ocupando grande parte da tela. Seu corpo está voltado para o espectador, mas sua cabeça encontra-se levemente direcionada para a sua esquerda. Na mão direita enluvada, descansando no colo, ela segura um leque fechado.

Atrás da mulher com colar de pérolas, sentada numa cadeira vermelha de braços, há um grande espelho, como mostram suas costas nele refletido. Em um dos camarotes refletidos no espelho há muitos espectadores. Ela os observa em vez de olhar para o palco. O lustre posicionado no canto superior esquerdo da tela ilumina a mulher em primeiro plano, como também é responsável, através de seu reflexo, por criar uma iluminação vinda de trás. Seus delicados ombros nus e sua luva branca destacam-se com a iluminação. 

A retratada tem sido muitas vezes citada como sendo Lydia – irmã da pintora. Os efeitos da iluminação mostra a influência que Edgar Degas teve sobre Cassat, principalmente no que diz respeito aos resultados de uma iluminação artificial em tons de carne. A pincelada descontraída e a construção espacial da pintura tornaram-na muito apreciada pelos críticos.

Ficha técnica
Ano: 1879
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 81,3 x 59,7 cm        
Localização: Museu de Arte, Filadélfia, EUA

 Fontes de Pesquisa:
Impressionismo/ Editora Taschen
https://www.philamuseum.org/collections/permanent/72182.html

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Longhi – O RINOCERONTE

Autoria de Lu Dias Carvalho

O artista italiano Pietro Longhi (1702 –1785) era filho de um ourives. Iniciou sua carreira como pintor de temas religiosos e pinturas históricas. Seu primeiro mestre foi Antonio Balestra, vindo a trabalhar mais tarde com Giuseppe Maria Crespi – sua fonte de inspiração em relação ao estudo da natureza e dos temas de gênero. Pintor de retratos e de cenas de gênero do Rococó veneziano, Longhi também se tornou conhecido por pequenas pinturas, imagens religiosas e pinturas históricas.

A composição intitulada O Rinoceronte é uma obra do artista que era dono de um fino humor. Um grupo de sete pessoas encontra-se numa exposição, de pé em bancos de madeira, numa formação quase triangular, com o objetivo de observar o animal que come tranquilamente sua ração. Trata-se de um rinoceronte fêmea de nome Clara. O animal aparenta estar deprimido por se encontrar longe de seu habitat, pois fora trazida para a Europa (em 1741) por um capitão holandês, tendo sido exibido em outras cidades europeias.

O público não se mostra surpreso, pois ninguém o observa. Todos trazem o olhar direcionado para algo diferente. Três dos presentes fazem uso de máscaras de Carnaval (a exposição aconteceu na época do Carnaval em Veneza). O responsável pela exibição traz na mão levantada o chifre do animal e um chicote. Ele é o único a mostrar relação com o rinoceronte em exposição e o público. A mulher elegante – usando um xale de renda escuro debruado a ouro – é Catherine Grimani. Ela olha diretamente para o observador. O mascarado à sua esquerda é seu marido John Grimani – o comissário da pintura. À direita deles está o criado, olhando diretamente para frente. Nem mesmo a garotinha ali presente importa-se com Clara.

O homem vestindo um manto vermelho e fazendo uso de um cachimbo de barro olha para baixo, perdido em seus próprios pensamentos. Acima dele, o artista pintou um aviso de pergaminho sobre a pintura, dizendo: “Verdadeiro Retrato de um Rinoceronte realizado em Veneza ano 1751: feito para mão por Pietro Longhi Comissões S de Giovanni Grimani Servi Patrick Veneto “.

Obs.: segundo notas históricas, o chifre não foi cortado, mas caiu em razão da fricção contínua com a gaiola.

Ficha técnica
Ano: c. 1751
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 62 x 50 cm 
Localização: Ca’ Rezzonico, Veneza, Itália

Fontes de Pesquisa:
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
Rococó/ Editora Taschen
https://mydailyartdisplay.wordpress.com/2011/07/26/the-rhinoceros-by-pietro-longhi/

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