Arquivo da categoria: Apenas Arte

Textos sobre variados tipos de arte

Pereda – NATUREZA-MORTA COM NOZES

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor barroco espanhol Antonio Pereda y Salgado (1611-1678) estudou primeiramente com seu pai, um modesto pintor do mesmo nome. Ficou órfão aos 11 anos de idade. Em Madri foi aluno do celebrado Pedro de las Cuevas, vindo mais tarde a tornar-se um mestre independente, ganhando a atenção de um importante protetor romano – Giovanni Battista Crescenzi – também pintor de naturezas-mortas, que se encantou com a capacidade de Pereda na criação deste gênero de pintura, introduzindo-o no naturalismo e no gosto pela pintura veneziana. Tal proteção abriu-lhe as portas do palácio.

A composição intitulada Natureza-morta com Nozes é um dos trabalhos do artista. Trata-se de um pequeno quadro em que milagrosamente Pereda transforma uma humilde fruta seca numa obra-prima. É impossível não se quedar de encantamento diante desta pintura. Nela o artista emprega uma visão microscópica para mostrar os mínimos detalhes da casca rija do fruto e sua castanha.

Ficha técnica
Ano: 1634
Técnica: óleo sobre painel
Dimensões: 21 cm de diâmetro
Localização: coleção particular

Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições

Hamen – NATUREZA-MORTA COM DOCES

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor espanhol Juan van de Hamen (1596–1631) teve uma boa educação, juntamente com seus dois irmãos, pois era filho de um nobre flamengo. Ele escolheu a pintura como arte. Não tardou muito para que viesse a criar naturezas-mortas, tendo estudado tal gênero tanto no que diz respeito aos artistas espanhóis quanto aos flamengos. Logo cedo começou a produzir naturezas-mortas para a corte espanhola. Suas pinturas apresentavam suntuosos objetos, o que o tornava muito admirado pelas classes mais altas. Suas naturezas-mortas, com o passar dos tempos, iam se tornando cada vez mais complexas, pois além de mostrar os objetos em níveis diferentes, o artista brincava com contrastes e harmonias de formas, texturas e cores. Morreu muito cedo. Tornou-se conhecido sobretudo por seus retratos e naturezas-mortas.

A composição intitulada Natureza-morta com Doces é uma obra do artista. Ele apresenta sobre uma borda de madeira (ou seria pedra?) uma caixa de madeira montada com tachas, uma garrafa de vidro escuro, quatro nozes espalhadas, um delicado cálice veneziano com vinho e vários doces conhecidos por “turrones” (mistura de amêndoas, mel, avelãs e pinhões). A técnica usada pelo artista mostra requinte e delicadeza. É impossível não se encantar com os pontos luminosos, feitos com suaves toques brancos pela ponta do pincel, brilhando nos grãos de açúcar dos doces, assim como as delicadas pinceladas de cores misturadas que produzem uma convincente ilusão dos tons irizados na textura da madeira.

Ficha técnica
Ano: 1622
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 58 x 97 cm
Localização: Museu de Arte, Cleveland, EUA

Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições
http://www.clevelandart.org/art/1980.6

Pacheco – SÃO SEBASTIÃO ASSISTIDO…

Autoria de Lu Dias Carvalho

O espanhol Francisco Pacheco (1564–1644) foi um significativo pintor, dotado de um estilo claro que surgiu nas últimas décadas do século XVI na Espanha, embora não fosse o mais talentoso de seu grupo. Ele e seus três irmãos ficaram órfãos ainda crianças, sendo adotados por um tio – um cônego intelectual da catedral de Sevilha/Espanha – responsável por lhe transmitir o gosto pela literatura e pelo saber. Embora tenha sido aprendiz de um pintor obscuro, sua carreira artística viria a estender-se por quase sete décadas, representando o triunfo da perseverança sobre o talento. Escreveu o tratado “Arte de la Pintura”, dando ênfase à doutrina católica aplicada à pintura. Para ele, o objetivo primordial da pintura era o de “adorar e amar a Deus e a cultivar a piedade”. Chegou a pedir a opinião de estudiosos para descobrir se Cristo fora crucificado com três ou quatro pregos (foram quatro). Foi professor e sogro do talentoso Diego Velázquez.

A composição religiosa intitulada São Sebastião Assistido por Santa Irene é uma obra do artista em que ele se renova ao combinar uma cena de interior com outra de exterior. A ilustração é um retrato em preto e branco da obra que foi destruída na Guerra Civil.

A cena acontece num quarto humilde, estando o santo sentado em sua cama, convalescendo de suas feridas. Ao lado dele, de pé, está Santa Irene que acaba de lhe entregar uma tigela com sopa medicinal e um ramo de ervas, ainda em suas mãos. O rosto do santo e a sua mão no peito indicam que ele está grato pela ajuda que recebe. Parte do corpo de uma terceira figura humana surge no lado direito da tela.

A vestimenta de São Sebastião, jogada com desleixo sobre uma cadeira à esquerda em primeiro plano, próxima aos pés de sua cama, dá um toque de realismo à cena. Uma janela aberta, à esquerda, enquadra a cena em que o santo estava sendo flechado por seus inimigos, numa tentativa de execução. Esta pequena cena foi copiada de uma gravura de Jan Muller que, por sua vez, baseou-se na pintura de Hans von Aschen.

Ficha técnica
Ano: 1616
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 292 x 216 cm
Localização: destruída durante a Guerra Civil

Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições
https://www.wikiart.org/en/francisco-pacheco

Sánchez Cótan – NATUREZA-MORTA COM…

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor espanhol Juan Sánchez Cótan (1560-1627) foi amigo e supostamente aluno de Blas de Prado – artista famoso por suas naturezas-mortas, cujo estilo maneirista era impregnado por toques de realismo. Iniciou sua vida artística como um modesto pintor, contudo, no campo das naturezas-mortas é tido como um dos melhores pintores, ainda que as tenha criado em pequeno número. Acredita-se que tenha usado as naturezas-mortas italianas, principalmente as dos milaneses, como ponto de partida. Também foi guiado pelos trabalhos de seu mestre Blas de Prado que serviu de grande influência neste campo para os seus contemporâneos de Toledo/Espanha. Cótan foi um pioneiro do realismo naquele país, servindo de influência para grandes nomes da pintura espanhola, como Francisco Zurbarán, Bartolomeio Carducci, Felipe Ramírez, etc. Suas obras podem ser dispostas na transição do Maneirismo para o Barroco.

Na cidade de Toledo existia um público muito aberto às inovações artísticas, o que permitiu o aparecimento das naturezas-mortas (bodegones) na pintura espanhola, gênero que começava a surgir em vários lugares da Europa, nos últimos anos do século XVII, como categoria artística autônoma.  Como era vista como uma arte menor, a natureza-morta foi inicialmente colecionada por uma minoria culta que admirava a grande habilidade técnica na criação artística, aliada às associações eruditas e religiosas transpostas para objetos tidos como mundanos.

A composição intitulada Natureza-morta com Marmelo, Couve, Melão e Pepino é uma obra do pintor barroco Juan Sánchez Cótan. Foi pintada num estilo austero, seguindo as regras do tenebrismo*. Trata-se de uma obra composta por vegetais que se destacam sobre um fundo escuro. O marmelo e a couve pendem de duas cordas finas em dois níveis diferentes (meio usado no século XVII para impedir que alimentos e vegetais apodrecessem), enquanto o melão e o pepino ficam no parapeito da janela numa única fila. As figuras são tão intensas que passam a assumir uma qualidade mística. A luz direta do sol contra as trevas inacessíveis (fundo) era também uma marca da antiga pintura de natureza-morta espanhola.

* O termo “tenebrismo” vem do italiano “tenebroso” (sombrio, misterioso, dramático). Trata-se de um estilo de pintura usando claro-escuro profundamente forte, com fortes contrastes de luz e escuridão. Tem por objetivo adicionar drama a uma imagem, usando um efeito de holofote.  Esta técnica era muito usada na pintura barroca. Não confundir com o “chiaroscuro” que é um termo com maior amplitude, abrangendo também o uso de contrastes de luz menos intensos com a finalidade de aumentar a tridimensionalidade.

Ficha técnica
Ano: c. 1600
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 69 x 85 cm
Localização: Museu de Arte de San Diego, Califórnia, EUA

Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições
https://en.m.wikipedia.org/wiki/Juan_Sánchez_Cotán

Carducho – MORTE DE SÃO FRANCISCO

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor italiano Barolomeo Carducci (1560–1619) era mais conhecido como Carducho. Estudou escultura e arquitetura com Bartolomeo Ammanati e pintura com Federico Zuccaro, com quem começou a trabalhar aos 18 anos de idade. Foi com seu mestre para a Espanha, onde foi nomeado pintor real por Filipe II, sendo muito importante na criação de um novo estilo de pintura religiosa na corte espanhola, ao usar seus conhecimentos de pintor e mercador de quadros.

A composição intitulada Morte de São Francisco é uma das maravilhosas obras do artista. Foi criada segundo os modelos de seus conterrâneos florentinos. Apresenta uma narrativa tocante e humanizada. A pintura praticamente simétrica apresenta figuras muito bem desenhadas, com traços físicos individualizados, cujos gestos e expressões exprimem um grande pesar interiorizado. Os franciscanos presentes no leito de morte de São Francisco mostram uma rude e ao mesmo tempo doce humanidade, dotando o quadro religioso de novo realismo – bem ao gosto espanhol.

O artista faz uso de uma forte iluminação que amplia e intensifica as figuras presentes na cena, além de incidir obliquamente sobre os objetos ali presentes, dando-lhes uma textura específica. Podem ser vistos na cena: o urinol de barro do santo, suas velhas sandálias, a tigela para tomar sopa, a caveira humana, o rosário e uma ampulheta com a areia – simbolizando o esvair-se da vida. Dois frades amparam seu corpo, enquanto um terceiro coloca em suas mãos um imenso lume. Outros frades apresentam-se ao fundo.

Ficha técnica
Ano: 1593
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 115 x 153 cm
Localização: Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, Portugal

Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições
https://www.wga.hu/html_m/c/carducho/bartolom/death_sf.html

Kempeneer – A PURIFICAÇÃO DA VIRGEM NO TEMPLO

Autoria de Lu Dias Carvalho

Completado o tempo da purificação da Mãe, segundo a Lei de Moisés, é preciso ir com o Menino a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor (Lc 2, 22).

 O pintor flamengo Pieter Kempeneer (1503-1586) que viveu no período do Renascimento, era conhecido na Espanha, onde trabalhou, como Pedro de Campaña. Foi possivelmente aluno de Jan van Hemessen na Antuérpia. O artista trabalhou em muitas encomendas modestas até ser considerado um excelente pintor. A criação da obra intitulada “A Descida da Cruz”, obra central de um retábulo encomendado para a capela fúnebre de certo magistrado, fez grande sucesso, alavancando seu prestígio. Alguns afirmam que ele viveu durante muitos anos na Itália, mas outros contestam, pois não existem registros que comprovem sua passagem por aquele país.

A composição intitulada A Purificação da Virgem no Templo é uma obra-prima do artista e uma das mais importantes pinturas renascentista criadas na Espanha. Trata-se da peça central do retábulo da Purificação – composto por dez painéis – que orna a capela fúnebre de Diego Caballero, na catedral de Sevilha, na Espanha. O artista tomou como influência uma gravura de Dürer.

A cena acontece na escadaria de um templo, entre colunas, iluminada por sete velas (os Sete Dons do Espírito Santo) ao fundo. Várias personificações das virtudes da Virgem Maria rodeiam a cena central. Dentre elas estão a Caridade, a Justiça, a Fortaleza, a Fé e a Esperança. A Caridade – com os dois seios de fora, sobre os quais encontram-se dois bebês – é vista ajudando um paralítico sentado no canto direito da tela, estendendo a mão para a criança que lhe oferece algo. Ao lado do homem encontra-se um cãozinho com o olhar voltado para o observador. Esta obra passou por um delicado processo de restauração.

Ficha técnica
Ano: 1555
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: x
Localização: Catedral de Sevilha, Sevilha, Espanha

Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições
https://www.museodelprado.es/en/learn/research/studies-and-restorations/resource