Arquivo da categoria: Estilos da Arte

A Arte possui vários estilos ou tendências, cada um com uma filosofia ou objetivo comum, seguido por um grupo de artistas durante um certo período de tempo. Eles são classificados separadamente pelos historiadores de arte para facilitar o entendimento.

Anita Malfatti – ESTUDANTE RUSSA

Autoria de Lu Dias Carvalho

A futura pioneira da arte moderna no Brasil, Anita Catarina Malfatti (1889-1964) que seria conhecida depois como Anita Malfatti, nasceu na cidade de São Paulo. Era a segunda filha do engenheiro civil italiano Samuel Malfatti e da estadunidense Elizabeth Krug, descendente de irlandeses e alemães, apelidada de Bety. Da capital paulista a família Malfatti mudou-se para Campinas, no interior do mesmo Estado. Em 1892, já naturalizado, o pai de Anita tornou-se deputado estadual, representante da colônia italiana.

A composição intitulada A Estudante é obra da artista. Encontra-se no acervo do MASP desde 1949, tendo sido doada pela própria pintora. É uma das poucas obras da artista em que ela bota sua assinatura na parte superior. É possível que o fundo da obra em razão do tipo das pinceladas e cores apresentadas tenha sido pintado depois.

A mulher está sentada numa cadeira de frente para o observador, com o corpo levemente voltado para a frente. Veste uma blusa muito colorida que contribui para dar luminosidade à tela. Sua saia roxa só é percebida até o joelho, pois a pintora não mostra os membros inferiores. As duas mãos estão cruzadas no colo, sendo que a direita fica oculta. A artista trazia uma atrofia congênita na mão direita, talvez, por isso, tenha ocultado a mão direita, ainda que sem perceber a relação consigo.

Ficha técnica
Ano: 1915 – 1916
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 76,5 x 61 cm
Localização: Museu de Arte, São Paulo, Brasil

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Gavin Hamilton – O RAPTO DE HELENA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição denominada O Rapto de Helena é uma obra do pintor inglês Gavin Hamilton, baseada no mito que discorre sobre a Guerra de Troia.

Páris, o pastor, foi convidado a ser juiz de um concurso de beleza entre as deusas Minerva (Atena), Juno (Hera) e Vênus (Afrodite), uma vez que Zeus (Júpiter) abriu mão de tal empreitada. Cada uma delas oferecia-lhe um presente melhor do que o outro, caso fosse a escolhida. O moço via-se em maus lençóis. Ele deveria dar o pomo de ouro à vencedora, que não foi outra senão a bela Vênus (Afrodite).

Vênus cumpriu a sua promessa, dando a Páris, como esposa, a  mais linda mulher, Helena de Tróia, que era casada com o rei Menlau. Com a ajuda da deusa, Páris fugiu com ela, dando origem à guerra entre gregos e troianos.

Na pintura, Páris está fugindo com Helena, enquanto seus companheiros protegem-nos. Embora seja dito que Helena foi raptada, alguns estudiosos dizem que ela se apaixonou por Páris, consentindo, portanto, em fugir com ele. E é isso que mostra o pintor da obra acima, ao apresentar Helena segurando na armadura de Páris e acenando para as pessoas que ficam em Troia. Ele, por sua vez, não evidencia nenhuma forma de violência, ao contrário, protege-a com seu escudo.

Ano: c. 1784
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 306 x 367 cm
Localização: Museu de Roma, Roma, Itália

Ficha técnica
Fontes de pesquisa
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM

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Géricault – A JANGADA DA MEDUSA

Autoria de Lu Dias Carvalho

(Clique na foto para vê-la mais próxima e maior)

A pintura atinge e atrai todos os olhos. (Le Journal de Paris).

Nem a poesia nem a pintura conseguirão um dia transmitir o horror e a angústia dos homens na jangada. (Théodore Géricault)

Esta pintura de Géricault abriu novos caminhos, levando a arte ao controvertido domínio do protesto político. (Robert Cumming)

A composição A Jangada da Medusa, também conhecida como A Balsa da Medusa, é uma obra-prima do sensível pintor francês Théodore Géricault, um dos mais famosos artistas do estilo romântico em seu início, na França. Foi inspirada num fato real que diz respeito à fragata Medusa que, em 1816, soçobrou na costa da África Ocidental, quando se dirigia ao Senegal. Levava cerca de 400 passageiros a bordo, mas os botes salva-vidas só podiam resgatar 250. Assim, 150 pessoas foram jogadas numa jangada feita às pressas. Dessas, apenas 10 sobreviveram depois de 13 dias perdidas no mar. Vitimados pela fome e sede, dizimaram-se uns aos outros. O fato tornou-se um acontecimento escandaloso, cuja responsabilidade caiu sobre o comandante, um homem arrogante, protegido pelo regime Bourbon.

Géricault  fez inúmeros desenhos e esboços a fim de captar melhor aquilo que queria externar. Escolheu para pintar o momento em que os sobreviventes do naufrágio avistam ao longe o pequeno navio mercante Argus, responsável por salvá-los. Para criar sua obra de tom heroico, contatou dois sobreviventes (o médico Savigny e o cartógrafo Corréad) da tragédia, além de ler o livro escrito por ambos. Fez uma maquete de uma jangada em tamanho real  a fim melhor representá-la, dispondo figuras de cera sobre ela. Fez esboços de feridos, moribundos e cadáveres na tentativa de ser fiel à realidade. O artista chegou a visitar um hospital  para compreender melhor os detalhes anatômicos humanos, levando uma cabeça cortada e membros do corpo, colhidos num necrotério, para seu atelier. Também fez uso de modelos vivos. A obra tornou-se tão real que é possível ao observador imaginar-se entrando na jangada que ocupa o primeiro plano da tela. A parte dedicada ao mar ganhou pouco destaque.

A obra – pintada quando o artista tinha apenas 27 anos – apresenta um grupo desesperado de pessoas sobre uma jangada feita dos escombros (tábuas, cordas, partes do mastro, etc.) da fragata Medusa, à deriva no mar, em meio a ondas bravias, aguardando socorro. Muitos dos náufragos já se encontram mortos. Apesar da tristeza e do desespero reinante é possível captar o intenso alívio e a emoção do pequeno grupo, à direita, à vista de socorro, o que imbui a obra de grande dramaticidade. O grupo forma uma pirâmide menor. Vale lembrar que os sobreviventes já se encontravam quase mortos e enlouquecidos, mas, ainda assim, foram pintados como jovens fortes e musculosos.

Corpos sem vida espalham-se por toda a jangada. Um deles, em primeiro plano, tem a cabeça na água. À esquerda, um pai, com um pano vermelho nas costas, lamenta a morte do filho, segurando seu corpo nu sobre a perna esquerda, sem mostrar interesse algum pela possibilidade de resgate. Atrás dele, mais ao fundo, um homem segura a cabeça com as mãos, lamentado a própria sorte. O restante dos sobreviventes traz os olhos voltados para a embarcação, ainda minúscula, ao longe, num ato de desespero e esperança, pois eles poderiam não ser vistos. Um homem, sobre um caixote, tenta levantar o mais alto possível a bandeira, sendo seguro por outro. Abaixo, recostado a um barril, outro homem ergue um pano branco. Outro se volta para trás, para anunciar aos companheiros o que acabara de ver, apontando para o horizonte distante.

À direita, um vagalhão em forma de pirâmide ameaça a jangada, contrapondo-se à vela. A natureza mostra sua força através da vela inflada pelo vento e pelos movimentos tempestuosos do mar. Ainda assim, raios de luz entrecortam as nuvens, como se trouxessem um vestígio de esperança. A presença de um machado com sangue na cena, em primeiro plano, é uma referência ao canibalismo relatado pelos sobreviventes. A presença de uma figura em silhueta, com o braço em perspectiva, eleva os olhos do observador da parte baixa da embarcação para o topo dramático formado pelo pequeno grupo que tenta chamar a atenção do Argus.

O artista  usou duas pirâmides para fazer sua obra. A primeira é formada pelas cordas que seguram a vela. A segunda é feita pelas figuras humanas, tendo na bandeira o ápice. Ela traz na sua base os doentes e agonizantes até chegar ao grupo que aguarda o resgate, ou seja, vai da agonia à esperança.  Uma melancólica e dramática paleta de cores, predominando os tons de carne, presentes nos corpos pálidos, postados nas mais diferentes posições. Através do claro-escuro do estilo Caravaggio, eles recebem um destaque pungente. Tons quentes contrastam com o azul escuro do oceano em fúria, debaixo de um céu de nuvens revoltas, mas bem mais claro. O tom escuro da pintura parece fortalecer a desdita tenebrosa das vítimas. Uma infinidade de influências de artistas anteriores é vista na obra.

Há no conjunto desta obra, considerada um clássico do Movimento Romântico, movida por uma brutal e intensa paixão, muitos movimentos complexos e gesticulação. Sua estrutura é piramidal e tem no mastro o seu ápice. Antes de criá-la, o artista fez cerca de cinquenta estudos. A inclusão de um negro segurando a bandeira vermelha e branca serviu de elemento polarizador, ao trazer para a discussão o movimento abolicionista, defendido pelo artista. Géricault criou esta pintura com o objetivo de repassar uma mensagem ao povo. Ainda sob o calor do terrível acontecimento, ela se tornou logo famosa, ganhando aplausos da crítica e do público. Foi mostrada no Salão de 1819, com o título “Cena de um Naufrágio”, sendo mal recebida. O júri não lhe concedeu nenhuma láurea. Em razão do boicote a seu trabalho, o artista foi a seguir para a Inglaterra, a convite, onde permaneceu dois anos. Só foi vendida após a morte prematura do artista, quando tinha 32 anos, ao amigo Dedreux-Dorcy.

A pintura, vista antes como um panfleto contra o governo, foi mudando aos poucos o seu enfoque diante do realismo e da comoção produzida, pois os fatos que se escondem por trás dela são ainda mais cruéis. A crítica política ficou em segundo plano, e o sofrimento humano, ou seja, a vida humana abandonada à própria sorte, passou a ocupar o primeiro lugar. Embora se trate de uma das primeiras pinturas do Movimento Romântico, com sua obra Géricault vislumbrou a chegada do Realismo, assim como o uso da mídia como uma ferramenta política.

Obs.: Esta pintura vem se degradando com o tempo, já tendo perdido muitas partes dos detalhes originais. O próprio pigmento (betume) utilizado pela artista tem contribuído para isso, sem possibilidade de restauração.

Ficha técnica
Ano: 1818
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 491 x 716 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
Arte em Detalhes/ Robert Cumming
http://www.louvre.fr/en/oeuvre-notices/raft-medusa
http://estoriasdahistoria12.blogspot.com.br/2013/08/a-jangada-da-medusa
http://www.artble.com/artists/theodore_gericault/paintings/the_raft_of_the_medusa

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Pintor Anônimo – O DÍPTICO DE WILTON

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição O Díptico de Wilton — também conhecida como Ricardo II Apresentado à Virgem e ao Menino pelos seus Santos Protetores — é uma obra pertencente ao estilo Gótico Internacional,  cujo pintor é desconhecido, sendo chamado de Mestre Díptico Wilton. Alguns críticos de arte dizem que se trata de uma obra francesa e outros dizem ser ela uma obra inglesa, tendo seu autor conhecimento da arte francesa praticada nas cortes francesas. Mesmo a sua data é baseada em hipóteses.

Este díptico foi pintado para o rei Ricardo II da Inglaterra. Foi criado em dois painéis de madeira, unidos por duas dobradiças. No painel à direita, a Virgem Maria, de pé com seu Menino nos braços, está rodeada por onze anjos, sendo dois ajoelhados e o restante de pé. A cena se passa num campo florido, como mostram as flores aos pés da Virgem, retratadas com bastante fidelidade. Todas as figuras encontram-se vestidas de azul, excetuando o Menino Jesus que usa um pequeno manto amarelo. Ele abençoa o rei Ricardo II — ajoelhado na outra tela.

Os anjos usam coroas de flores, enquanto a Virgem e Jesus trazem halos dourados. Cada anjo traz na túnica — próximo ao ombro direito — o emblema inglês. Sete anjos com suas enormes asas levantadas separam a cena do fundo dourado da composição. Um dos anjos carrega uma bandeira com a cruz de São Jorge — símbolo do Reino Unido. Acima, na ponta da haste onde se encontra a bandeira, uma esfera de metal traz impressos um pequeno mapa da Inglaterra e um castelo. A cena é cheia de movimentos. O uso da perspectiva pelo artista pode ser visto na postura do anjo ajoelhado no lado esquerdo do painel. Mostra também que ele fez uso de estudos do natural ao usar muitas espécies de flores que ornam o paraíso.

No painel à esquerda o rei Ricardo II encontra-se ajoelhado, sendo apresentado à Virgem por seus santos padroeiros que se encontram de pé atrás dele. Os santos trazem seus respectivos atributos:  Eduardo, o Confessor, segura o anel ganho de um peregrino; São Edmundo Mártir segura a flecha que o matou; e São João Batista traz um cordeirinho — o Cordeiro de Deus. Eles se encontram num espaço aberto de chão rochoso, com plantas ao fundo, à direita. A cena é muito calma.

O díptico está unido por duas dobradiças, podendo ser fechado para conservar a pintura. Quando cerrado, apresenta nos reversos dos painéis, à direita, um veado branco com uma coroa de ouro rodeando seu pescoço — emblema de Ricardo II — e à esquerda o brasão de armas de Eduardo, o Confessor, cruzado com as armas da Inglaterra.

Esta rica e preciosa obra da época medieval compartilha do gosto por graciosas e delicadas linhas fluidas e belos e esmerados motivos.  É de extrema graciosidade o modo como a Virgem toca no pé de seu Menino, assim como os gestos dos anjos com suas mãos delgadas. Possui muitos detalhes feitos com folha de ouro.  As vestes e os ornamentos em azul — presentes na Virgem e nos anjos — foram feitos com pigmentos de lápis-lazúli, uma pedra semipreciosa muito cara à época. O vermelho da roupa de Ricardo II também foi feito com um pigmento muito valioso. A moldura é original.

Ficha técnica
Ano: c. 1395 -1399

Técnica: têmpera no painel
Dimensões: 45,7 x 29,2 cm (sem a moldura)
Localização: Galeria Nacional, Londres, Grã-Bretanha

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
https://es.wikipedia.org/wiki/Díptico_de_Wilton
http://www.arqfdr.rialverde.com/5-Edad_Media/Em_Ilustr15.htm
http://www.viajeporlondres.com/londres/museos/nationalgallery/pinturas

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Millet – AS RESPIGADORAS

Autoria de Lu Dias Carvalho

A respiga era permitida apenas com um certificado de indigência passado pelo presidente do município, sendo permitida apenas aos pobres na sua comunidade. (Honoré de Balzac)

O pintor realista francês Jean-François Millet (1814-1875) era filho de uma próspera família rural da Normandia. Através de uma bolsa de estudos foi estudar em Paris com Paul Delaroche, Jérome Langlois e Chevreville. Permanceu dois anos na Escola de Belas-Artes. No início de sua carreira o artista fez retratos e pinturas históricas e mitológicas, vindo a trabalhar posteriormente com o tema camponês, retratando a vida diária das pessoas que trabalhavam no campo. Os temas usados pelo artista em suas obras eram vistos como revolucionários e perigosos para os poderosos da época.

A composição intitulada As Respigadoras — também conhecida como As Catadoras — é uma obra-prima do artista. Ele apresenta uma paisagem com três mulheres em primeiro plano, tudo numa escala enorme, o que contrariava o academicismo da época, uma vez que as cenas grandiosas deviam dizer respeito apenas às obras clássicas e históricas, o que acabou gerando grande polêmica em relação a esta obra que foi mostrada no Salão de Paris de 1857, dividindo a opinião dos críticos de acordo com os ideais políticos que detinham: os republicanos aplaudiram a obra em razão de sua representação digna e realista das classes trabalhadoras rurais, enquanto os conservadores acharam-na excessivamente progressista e, portanto, subversiva.

Millet apresenta três monumentais mulheres camponesas no centro da composição, num enorme campo de trigo na fase da respiga (termo que se refere ao ato de coletar as sobras do trigo depois que a colheita aconteceu). As camponesas são mostradas nas três fases da respiga: procurar as sobras, recolhê-las e as amarrar num feixe — o que fazem da esquerda para a direita. As respigadoras eram vistas como as mais pobres dos pobres.

Apesar da aparente pobreza as mulheres mostram-se imbuídas de um grande senso de dignidade. Cabe-lhes a tarefa de recolher as espigas que ficaram para trás no campo, após os homens terem feito a colheita. A aspereza do trabalho é vista nos seus traços duros e fortes. A cores de suas toucas (azul, vermelho e amarelo) ganham destaque no meio da paisagem dourada com seus matizes acentuados pela luz do sol poente. As toucas vermelha e azul juntamente com as mangas brancas trazem à lembrança a bandeira francesa, símbolo da luta política da época.

As mulheres encontram-se em primeiro plano, inclinadas em direção ao solo. Seus olhos estão voltados para o chão e seus rostos obscurecidos não têm nenhum contato com o observador, como se lhe dissessem que sabem da pouca importância que possuem dentro do contexto social. Levam avante um trabalho penoso, cuja execução cabia às camponesas. Ao se mostrarem reclinadas abaixo da linha do horizonte, tem-se a impressão de que o pintor queria representar a falta de perspectiva social dessa gente que morria da mesma maneira que nascia, sem vislumbrar nenhum tipo de progresso. Essas pessoas eram como a terra e dela faziam parte.

O pintor deixa à vista a grande distância que existe entre a riqueza e a pobreza, mostrando toda a carga de desamparo a que os pobres estavam submetidos. Em seu realismo, ele escancara a crueza e o descrédito da penúria e do trabalho manual executado pelas mulheres pobres que aqui representam a classe trabalhadora rural.

A cena acontece ao pôr do sol, com o crepúsculo banhando as pessoas e a paisagem. As mulheres pobres vestem roupas pesadas que lhes cobrem todo o corpo, para protegerem-se do vento, do frio e do sol. A figura do meio até amarrou mangas postiças à sua blusa branca para melhor se resguardar. Elas trazem panos (toucas) amarrados à cabeça e grandes sacos em volta da cintura, onde depositam as espigas, num contínuo movimento de abaixar-se e levantar-se. Calçam pesados chinelos, mas trazem as mãos a descoberto, apesar da aspereza do trabalho. Elas lembram as sibilas de Michelangelo.

Ao fundo são vistos inúmeros montes de trigo sendo empilhados, num vai e vem de camponeses. Uma carroça está sendo preparada. Um homem a cavalo, possivelmente o patrão ou seu mandante, é visto como uma figura embaçada ao longe, à direita, próximo a algumas casas. Ele é retratado como uma figura embaçada. Trata-se também de deixar à vista o distanciamento social.

Não agrada a Millet captar a beleza, mas a realidade. Sua pintura tinha por objetivo repassar uma visão realista da pobreza e da classe trabalhadora rural. É por isso que sua obra continua a emocionar o público em quaisquer que sejam os tempos. Na sua arte o ser humano é quase sempre a parte mais importante. E foi por isso que o sensível Vincent van Gogh tanto o admirou e copiou algumas de suas obras.

Esta pintura tornou-se famosa por representar de forma aprazível pessoas do povo, originárias de camadas sociais mais baixas da sociedade rural. E, como não podia deixar de ser, numa época em que a gente do povo não significava nada. A tela foi recebida com desdém pela sociedade francesa da época, pois, ainda que não soubesse, sentiu-se desconfortável diante da realidade. Millet não podia imaginar a fama que sua obra viria a ter no futuro, pois durante sua vida ela teve pouca notoriedade. O artista vendeu sua obra por 3.000 míseros francos, sendo vendida depois por 300 mil francos. Vários artistas mais jovens, como Pissarro, Renoir, Seurat e Van Gogh repetiram-na.

Ficha técnica
Ano: 1857
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 84 x 112 cm
Localização: Museu de Orsay, Paris, França

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Obras-primas da pintura ocidental/ Taschen
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
http://www.musee-orsay.fr/index.php?id=851&L=1&tx_commentaire_pi1

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Courbet – OS QUEBRADORES DE PEDRA

Autoria de Lu Dias Carvalho

           (Faça o curso gratuito de História da Arte, acessando: ÍNDICE – HISTÓRIA DA ARTE)

A composição Os Quebradores de Pedra é uma das obras mais polêmicas do pintor francês Gustave Courbet em que ele expõe o empobrecimento e a vida miserável dos camponeses de seu país à época, sem nenhuma esperança de melhoria de vida.

A composição apresenta duas figuras masculinas: uma bem mais jovem e outra mais velha, ambas subjugadas pelo interminável trabalho braçal — quebrar pedras para a construção de uma estrada. A presença do garoto e do homem mais velho deixa claro o ciclo infindável em que se começa a trabalhar ainda muito moço e se envelhece fazendo a mesma coisa nas classes pobres. Ambos vestem roupas velhas e rasgadas, atestando a pobreza em que vivem.

O garoto está de costas para o observador, segurando uma vasilha com pedras, enquanto o homem mais velho — possivelmente seu pai — está de perfil, ajoelhado numa perna, tendo a outra dobrada. Ele traz as duas mãos na marreta erguida para quebrar as pedras no monte espalhado à sua frente. O chapéu encobre grande parte do rosto, deixando apenas o queixo visível. Ao fundo vê-se um velho caldeirão e um recipiente, possivelmente com água. Uma picareta descansa à frente do garoto, enquanto ele carrega pedras, numa alusão de que assim será sua vida, até se tornar velho como o homem que acompanha no árduo trabalho.

O quadro Os Quebradores de Pedra trata-se de um manifesto nu e cruento sobre o trabalho braçal a que estavam submetidos os camponeses franceses à época, mas que poderia, ainda hoje, simbolizar a vida de muitos trabalhadores espalhados pelo mundo, inclusive em nosso país, onde os serviços pesados cabem sempre aos pobres.

Infelizmente esta pintura, conhecida em todo o mundo, e uma das mais procuradas deste site, foi perdida no bombardeio de 1945, durante a Segunda Guerra Mundial. Ainda bem que podemos apreciar a sua cópia.

Ficha técnica
Ano: 1849
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 159 x 259 cm
Estilo: realismo
Localização:  Dresden, Alemanha (antes de ser destruída)

Fontes de pesquisa
Courbet/ Abril Coleções
Courbet/ Coleção Folha
Courbet/ Taschen

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