Arquivo da categoria: Flagrantes da Vida Real

Casos do cotidiano

TRAPAÇA DA LOUCURA

  Autoria de Alfredo Domingos  

louco

João Tibúrcio, falecido há pouco, coitado, era ruim dos miolos. De quando em vez surtava. Suas reações extremas iam de agitado destemperado a quieto total. Na maior parte do tempo, porém, saía do ar, ficava paradão, rígido, olhando pra nada.

Quando a loucura agitada chegava, a família endoidava também. Se a medicação não dava conta, o jeito era apelar para a ambulância do Hospital Psiquiátrico. A situação ficava fora de controle.

Em um dia desses de desequilíbrio, apelou-se para a remoção. No chegar dos profissionais, o que era doidice virou mansidão. O homem ficou, de hora para outra, petrificado.

O pitoresco, se não fosse trágico, foi que a pobre mãe, de tanto desespero, estava toda descabelada, descalça e de camisola, e ele na postura impassível, apenas observando, acabou passando despercebido.

Resultado: num descuido, ela foi posta na ambulância enquanto João Tibúrcio ajudou no fechamento da viatura. O louco era outro!

Vá entender…

Nota: Imagem copiada de http://pt.dreamstime.com

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POR QUE UNS SOFREM MAIS QUE OUTROS?

Autoria de Lu Dias Carvalho

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 Acompanhei minha amiga Maria Clara na sua assinatura de divórcio. Pensei que já tivesse superado a separação, mas me enganei. Afinal, foram 18 anos de um relacionamento aparentemente saudável e dois de absoluto tormento, após descobrir que seu não tão honorável marido tinha uma amante. E nada machuca mais do que se sentir enganada, embora todos saibam o quanto o ser humano pode ser volúvel e infiel. Eu a trouxe para casa como quem carrega uma pessoa que perdeu todo o interesse pela vida. Por que a separação dói tanto, mesmo quando se está profundamente infeliz na companhia de alguém?

 Coisas assim acontecem porque somos muito mais movidos pelos sentimentos do que pela razão. A separação de alguém, que um dia colocou-nos no topo de sua vida, soa como um tremendo fracasso pessoal. Sentimos que tudo não passou de um blefe, de um embuste. Mas até que ponto o outro é responsável por nossas atitudes, pela nossa maneira de sentir o mundo e modo de agir? Por que deixamos que outrem penetre em nosso âmago e bagunce a nossa vida, se a nossa felicidade depende unicamente de nós?

Não é fácil bloquear ou romper nossas relações, uma vez que o relacionamento é a essência do existir. Por isso, o ato de cortar contatos foge à natureza humana, tornando-se uma atitude hostil a qualquer um. Todo rompimento traz sangramento, assim como acontece com qualquer órgão de nosso corpo. É uma perda de energia, mesmo que, em longo prazo, ela possa nos fazer bem.

Não podemos negar que todos os seres humanos sofrem. Mas a verdade é que uns sofrem bem mais de que outros. A indagação a ser feita é por que uns sofrem mais e outros menos? É certo que certas predisposições biológicas tornam-nos mais ou menos suscetíveis ao sofrimento, de forma que cada pessoa reage diferentemente. E ninguém pode tornar nosso fardo mais leve, senão nós mesmos. Fazer isso é uma tarefa que nos cabe, individualmente.

Também não é possível negar que fazemos mal uns aos outros. Assim como não podemos negar que as consequências do mal recebido variam de conformidade com o receptor. Ele é o responsável por colocar sua dor ao sol e fazê-la secar, reduzindo-a a pó. Ou colocá-la na água com fermento, alimentando-a para que cresça, frutifique e o engula. A opção é pessoal. E, por isso, diminui a capacidade de o observador fortuito analisar o responsável maior por esse ou aquele ângulo.

A nossa cultura  ensina-nos, erroneamente, que o mal maior é aquele que recebemos e não o que fazemos ao outro. A nossa avaliação é, portanto, muito mais exterior que interior. Por isso, eu me pergunto se o nosso sofrimento, muitas vezes, não é uma forma inconsciente de punir aqueles que julgamos não ter o direito de nos fazer sofrer? Vemos isso, principalmente, nas relações entre casais ou entre familiares. Enquanto esquecem com facilidade o sofrimento a eles impingido por estranhos, sentem dificuldade em esquecer o que lhes é direcionado pelos que amam, quando o perdão deveria vir com mais facilidade. Que paradoxo!

A paixão ou a raiva desmedida tem a capacidade de nos toldar a razão e de nos cobrir com o manto da ignorância. Adquirimos a incapacidade de ver, ouvir e sentir, de modo a negarmos a realidade em que estamos inseridos. Uma união em desequilíbrio não é só prejudicial aos atores principais, como a todos que estão à volta. Se não é possível reformá-la, o melhor é desfazer-se dela. Quando um dos lados opta por deixar o relacionamento, seja lá qual for o motivo, o outro nada pode fazer, a não ser aceitar e continuar buscando a sua felicidade em outra seara. Talvez seja isso o que a minha querida amiga devesse ter feito, mesmo que tenha sacrificado anos de sua vida ao infiel, embora essa tenha sido uma opção dela.

Mesmo com a emoção à flor da pele, ao ver o sofrimento de minha amiga Maria Clara, sinto que não posso condenar Roberto. Não posso lhe imputar a obrigação de ter continuado num relacionamento que não mais lhe dava satisfação, quaisquer que sejam as suas causas pessoais. O fato de Maria Clara não aceitar a separação e sofrer em consequência dela, não o torna melhor ou pior daquilo que realmente é. Roberto não pode ser culpado por ela não ter superado o fim da relação. Podemos questionar a sua conduta na forma como se deu a separação, mas jamais pelo fato de ter se separado. Como observadora atenta e justa não posso simplificar ou intensificar a complexidade da relação do casal, sem compreender, primeiro, o contexto em que cada um se encontrava inserido.

Todo drama é, no fundo, fruto de um amor mal dirigido e do desejo desordenado por um bem que não mais se tem. Qualquer tipo de paixão extrema destrói e devora. É a anulação do sujeito em função do objeto de seu desejo. É o deixar-se engolir por inteiro por sentimentos e circunstâncias. É a incapacidade de elevar-se acima da própria dor. E, por mais que saibamos disso, sempre caímos na mesma armadilha. Por isso, ainda que inconscientemente, é possível deduzir que Maria Clara optou pela postura de vítima, a ponto de sofrer por um homem que já se encontra em outra, percorrendo novos caminhos. Ela não pode cobrar de Roberto a qualidade de sua existência interior, como se houvesse lhe entregado as chaves de sua vida. Está passando da hora de a minha amiga Maria Clara tomar as rédeas de seu destino e seguir avante.

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SURRUPIANDO NOSSO DINHEIRINHO

Autoria de Alfredo Domingos

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Cada um dos meus filhos tem seu cofrinho recheado. Estão lá engordando nas estantes, tais quais perus para o Natal. Somente moedas graúdas. Outro dia, todos reunidos na sala, o programa na TV era um intrigante capítulo de novela. As falcatruas da família televisiva estavam expostas. O bando seria, finalmente, desmascarado em razão de a trama chegar ao fim. Estávamos babando ansiosos pelo castigo da canalhice. As máscaras cairiam, revelando os malfeitores. De passagem, lembro-me de que gostamos da desgraça alheia. Mais do que ver a justiça feita, adoramos o desespero, a derrocada, de terceiros. Pobre raça vingativa!

Pois bem, retomando o fio da história, aconteceu o desfecho da novela. Os personagens foram recebendo seus castigos, os castelos foram ruindo, e as quedas efusivamente comemoradas lá em casa. Aí vieram as expressões por parte do meu pessoal:

– É isso mesmo, cana pra ele!

– Não tem pena, não, arrepia esse malandro!

A mocinha de hoje não se casa mais com o mocinho e são felizes para sempre. Não tem o jeito de “namoradinha do Brasil”. Ela vai presa. O pai atual fica louco. A mãe foge com o motorista. É tudo muito diferente e transgressor. Pois bem, foi mais ou menos dessa maneira que a coisa se passou na novela. Inclusive, a avó era a chefe da gangue, de bengala e tudo. Com o fim da trama, a minha filha caçula, de nariz arrebitado, com o rabo de cabelo balançando e as mãos na cintura, vociferou:

– Pai, você não está livre de também ser penalizado! Vai pro xilindró igualzinho aos bandidos da novela.

Claro, que fiquei aturdido. Não dizia palavra. Raciocinei se eu tinha a ver com a história da TV. Não encontrava relação. Do quê, afinal, estava sendo acusado com tanta veemência, precisava saber? A danada da garota, pra lá de espevitada, usando todos os erres e esses, esclareceu:

– Ora, eu sei muito bem que você, vira e mexe, subtrai escondido de nós as moedas para o seu ônibus. Já vi você surrupiando, do tipo pé lá pé cá, uns trocados do meu cofre, enquanto achava que eu dormia. Negue se for capaz!

Minha cara caiu! O pior que ela tinha razão, embora a causa fosse nobre. Mas nunca considerei que um mínimo empréstimo, para pegar uma condução, tivesse a conotação de roubo. O resto da família, em coro, argumentou que incorre em falta aquele que tira um biscoito indevidamente, assim como quem assalta um banco. Ambos cometem delito. Que pressão!

Bom, a lição foi bem estudada pela turma. Na realidade, para a minha satisfação, no meio do constrangimento, convenci-me de que devo ter alguma participação nesse correto posicionamento. Os pais orientam os filhos, não é?! Mas mesmo assim, apelei para a compaixão, diante da acusação impiedosa da qual fui vítima:

– Calma, vejo que vocês estão nervosos. Peço que relevem o pai aqui, afinal, foi um roubinho à toa, desprezível. Sejam piedosos, deem chance ao coitado que mendiga moedas para poder exercer a sua profissão, e ajudar, assim, a manter o status quo da família. Vou redimir-me: farei “generosas” contribuições, mensais que sejam, aos cofres de vocês, para obter a recuperação moral de que careço, pois fiquei arrrrraasado, confesso!

Ufa! Será que consegui me safar?

(*) Imagem copiada de diadebrilho.wordpress.com

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A OFICINA DE CONSERTAR GENTE

Autoria de Lu Dias Carvalhoboneco1

A vida lá fora segue como de costume. Coisa alguma parou a sua atividade. Tampouco a natureza fez uma pausa no seu trabalho diário. As ruas estão apinhadas de gente, nas idas e vindas diárias. O sol caminha exuberante por um céu azul com pouquíssimas nuvens brancas. As flores desabrocham nos quintais e jardins. As árvores baloiçam felizes ao sabor de uma brisa que vem e vai, de acordo com sua vontade. As pessoas confabulam, sorriem, compram, comem, embora algumas andem apressadamente, como se tivessem muito ainda a fazer. Outras caminham em passos lentos, parando aqui e acolá, sem nenhum compromisso com o tempo. Será que existe outra vida afora esta? Será que em algum lugar da cidade habita o sofrimento? Sim, pois a vida sempre mostra a sua duplicidade.

A mulher acompanha o marido no PA de uma Oficina de consertar gente. Muitas são as pessoas necessitando de restauração e poucas são as vagas. A primazia é daquelas que podem pagar pela reforma, sem depender de plano algum, embora os donos da Oficina de Gente sempre neguem isso, falando que todos são iguais. Mas todos sabem que não é bem assim, pois os donos de tais oficinas e seus operários não querem mais receber dos chamados Planos de Conserto. Dizem que eles pagam uma miséria e que não justificam o tempo com os reparos feitos, no que concordo plenamente com eles, pois, o trabalho dos mestres e de seus auxiliares precisa ser feito com maestria e muito amor. Eles lidam com uma matéria-prima delicadíssima: o corpo humano. Contudo, os bonecos humanos, que durante anos a fio vêm pagando um Plano de Conserto, abrindo mão de muitos prazeres da vida, não têm culpa alguma. É o sistema que permite que tais planos tenham compromisso apenas com o lucro pecuniário, sem nenhuma preocupação com a qualidade da restauração de seus assegurados, pagando uma mixaria às Oficinas de Conserto que se veem enraivecidas com o descaso. Leis rígidas deveriam penalizá-los, para que seus assegurados não viessem a pagar o pato. Num país que tem a ética por bandeira, a saúde jamais estará a serviço do capital doentio que abocanha tudo com sua boca desmedida e mandíbulas ferozes, de modo que os artífices e os ajudantes de tão preciosa restauração trabalham com prazer e dedicação plena.

A mulher e seu homem encontram-se ainda no PA, aguardando a bendita vaga que não aparece. Ali, os bonecos humanos não têm direito à alimentação e tampouco ao banho, mesmo que a espera dure uma semana, pois, segundo o parecer da Oficina de Conserto, ainda não se encontram legalmente internados. O que não deixa de ser uma cruel ironia, pois o banho é muito necessário aos doentes, muitos deles com as roupas íntimas molhadas pela dor excessiva, e a comida deveria ser balanceada para eles, dentro dos critérios de cada caso. O soro desce dolentemente pela veia do marido. No compartimento ao lado, cercado por uma cortina azul, dona Suely, com fortes dores nos pulmões e falta de ar, também espera por vaga. Em mais dois leitos a situação é a mesma. Lá fora, no corredor, um grande número de bonecos aguarda por consultas, alguns deles serão indicados para a internação. Pobres bonecos humanos!

Gemidos agudos varam a noite. Irmã e filha adolescente rodeiam o leito da mulher com rosto de cera e olhos profundos, perdidos na vastidão de seu sofrimento. Somente a injeção de morfina dá um alento para a dor que a consome em vida. Uma jovem e bonita mulher, Cida, entrou no PA aos gritos. Um quisto no ovário dobrava-a em duas. Medicada, dormiu como um anjo. Recebeu boas novas: poderia voltar para casa. Nos outros leitos, dois bonecos já desgastados pelo tempo dormem profundamente sob o efeito de remédios. Também são liberados. Mal saem, outros ocupam seus lugares, num vai e vem sem fim. O marido só faz dormir, aguardando tranquilamente o desenrolar de seu caso. Vez ou outra solta um suspiro profundo, nascido do mais íntimo de seu ser. Sua paciência e tranquilidade acalmam o coração aflito da mulher, ansiosa para que tudo se resolva logo. Mas há tantos bonecos humanos precisando de conserto, em casos tão desesperadores, e são tão poucas as prateleiras onde poderão ficar, que as palavras de ordem são “esperar… e … esperar”.

A mulher refugia-se em seus pensamentos, como uma forma de minimizar sua dor, ao ver tanto sofrimento naquela Oficina de Conserto. Ela se condói com a fragilidade e impotência dos bonecos humanos. Apresentam-se em todas as idades, tipos físicos e classes sociais. Ali, todos se igualam no infortúnio e na busca pela restauração da saúde. Ela conclui em seu coração:

– O ser humano não é nada! Absolutamente nada! Todo o espírito de superioridade que carrega ao longo da vida é vão e inglório. Quem sabe seja essa uma verdadeira lição de vida!?

Nota: Imagem copiada de www.viaeptv.com

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PARA TODA AÇÃO EXISTE UM RETORNO

Autoria de Lu Dias Carvalho

pombo

A pequena varanda abria-se para o leste, de onde a mulher podia ver o nascer do sol e o brotar da lua de dentro das montanhas verdejantes de sua Belo Horizonte. Uma larga porta de vidro separava a sala do pequeno terraço, onde beija-flores esvoaçavam em busca de pólen nas touceiras de russélia de flores vermelhas e amarelas, e sabiás, bem-te-vis, maritacas, dentre outras aves, passavam em voos rasantes, vindos das muitas árvores que se espalhavam em derredor. Nas tardes azuis, outro céu desenhava-se no vidro da porta, igualzinho ao que se estendia de frente para ela. A mulher sentia-se feliz naquele pedacinho do mundo, onde mantinha contato permanente com as coisas da natureza, embora vivesse no coração de uma cidade grande.

Era tarde de sábado. O céu estava azulado com algumas nuvens de carneirinhos brancos. Um vento frio balançava as folhas das árvores, chegava até a sacada e ia adentrando pelo apartamento através de uma pequena abertura da porta de vidro. A mulher lia, acomodada em sua poltrona verde. Três bichanos estendiam-se pelo tapete florido, tirando uma gostosa soneca. Na sala de televisão, o marido comprazia-se vendo seu time jogar, embora se mostrasse ansioso por um gol. Se aquilo fosse uma amostra do mundo, poder-se-ia dizer que a vida transcorria na mais absoluta paz, numa comunhão entre homens, bichos e natureza.

Um baque surdo interrompeu a paz do ambiente descrito. Homem e mulher levantaram-se assustados, temendo que alguém pudesse ter caído de um dos andares acima. Os bichanos, sempre mais ágeis, tentavam passar pela pequena abertura da porta de vidro. Foi então que marido e mulher viram, ali no chão do terraço, o pombinho com um dos olhos fora da órbita, descendo pela carinha torturada pela dor e mesclada de sangue, mas ainda preso por um nervo que parecia ter se esticado. Meu Deus, o que fazer?

O bichinho nem se mexia, apenas deixava transparecer um ruído quase inaudível, que aos ouvidos da mulher chegava como um grito desesperado de socorro. Se a dor é torturante nas pessoas que conhecem os meios de saná-la – pensava a mulher- imagine num animalzinho sem nenhum tipo de proteção, solto ao deus dará. A dolência foi também tomando conta do coração da mulher, e ela foi se fazendo mais impotente e mais frágil. A princípio pensou que desmaiaria. Isso não! Primeiro era preciso socorrer a avezinha. Teria que tomar as rédeas da situação. Enrolou o bichinho numa fralda limpa, umedeceu sua cabecinha com água fria e, com ele no colo, pôs-se a procurar, através do telefone, por lugares que cuidassem de animais. Mas ninguém atendia. Maldito sábado! Uma amiga falou-lhe sobre um local que ficava aberto initerruptamente, num bairro mais distante.

Agora era preciso convencer o marido a deixar o jogo do time de seu coração e levar o animalzinho ferido até à Sociedade Protetora dos Animais (SPA). Não que ele tivesse um coração insensível, mas o fato é que homem vê sempre as coisas sob outra ótica, com uma naturalidade que faz raiva. Para ele era apenas mais um pombo, entre os milhares que voam pela cidade. Mas para ela não! Tratava-se de um bichinho que caíra na sua varanda, ao confundir o céu estampado no vidro da porta com o céu azul verdadeiro. Ela sentia que tinha a obrigação de salvá-lo. A ave não caíra ali à-toa, seu apartamento fora o escolhido. A bondade e o apreço da família pela vida estavam sendo testados, pois nada acontece por acaso. Ela falou disso tudo ao marido, e muito mais, e completou:

– Amado, tudo que fizermos pelo bem, ainda que seja pela menor das formas de vida, receberemos em dobro. Esta é a lei da vida. Lembre-se dos ensinamentos de Buda. Portanto, pegue um táxi, pois nem tem ideia de onde seja o local, e leve este bichinho que está se esvaindo em dor.

O marido, um ser humano primoroso, atendeu os queixumes da mulher, para que seu coração pudesse ficar em paz. Tomou o bichinho nas mãos e foi em busca do local indicado, onde ficam animais abandonados. Lá chegando, foi atendido por um veterinário que lhe disse que iria retirar o olho da ave, fazer uma curetagem e devolvê-la. Antes que ele pudesse cumprir o prometido, o homem partiu, pois não teria onde colocá-la, principalmente porque tinha gatinhos. Ao chegar à sua morada, o homem contou à mulher tudo que havia acontecido e complementou:

Meu bem, já comecei a receber o que gastei com táxi, conforme sua teoria. Achei R$0,25 (vinte e cinco centavos) na entrada de nosso prédio. O resto foi compensado com os dois golos que meu time fez.

A mulher ainda pensa naquele pombo, imaginando se continua vivo ou se foi devorado por alguma ave de rapina, uma vez que passara a ter a metade da visão. Mas o que fazer contra os reveses da vida? Ainda assim seu coração continua em paz, por não ter se omitido.

(*) Imagem copiada de pt.euronews.com

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PERGUNTA CAPCIOSA

Autoria de Alfredo Domingos

loteria

Sofrônico é um cara conservador. Seus hábitos são previsíveis e regrados. Não se afasta da rotina por nada. Desde que acorda até o sono da noite, cumpre um roteiro absolutamente programado.

Outro dia, Sofrônico, desusadamente, resolveu ousar. Ao ter que pagar uma conta de energia elétrica, fugiu do tradicional, da caixa bancária. Entrou numa Casa Lotérica, no centro do Rio de Janeiro, e procurou o guichê. Polidamente, para se certificar de que o empreendimento teria êxito, perguntou:

– Senhorita, por obséquio, é possível pagar esta conta em “espécie”?

A resposta foi uma “delícia”, como adjetivaria Tia Mariinha, doce figura mineira:

– Senhor, poder pagar, sim, mas eu não sei o que é “espécie”.

– Entendo, senhorita, mas com dinheiro posso pagar?

– Claro, fique à vontade – a moça encerrou o assunto, dando trato à obra.

Nota: Imagem copiada de www.mococa24horas.com.br

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