Arquivo da categoria: Fotografias

Textos, fotos e endereços de vídeos

QUANTA TERNURA NUM SÓ GESTO!

Autoria de Lu Dias Carvalho

pombo3

Não resta dúvida de que a matéria-prima de quem escreve é a sensibilidade envolta pela ternura e, muitas vezes, pela indignação. O escritor pode dominar a língua com maestria e conhecer todos os elementos da técnica literária, mas, se lhe faltar a capacidade de interagir com o meio em que se insere, quer física ou mentalmente, através das emoções, pode-se dizer que ele é apenas um anotador. O mesmo se pode dizer sobre os mais diferentes tipos de artífices, ao manipular a matéria-prima de seu dom.

A arte não é senão a capacidade que possui o artista de sentir o mundo, cujos olhos veem o que passa despercebido às pessoas comuns, antes de liberar o fruto de seu talento. A arte é contemplativa, pois leva o artífice a se isolar do mundo externo ainda que seja por um breve tempo, centrando seus sentimentos num único objetivo, no intuito de se embebedar com uma gama de sentimentos despertados, deixando de lado o cotidiano, para depois burilar tudo aquilo que suas emoções captaram.

Não resta dúvida de que o autor da foto acima é uma pessoa dotada de extrema sensibilidade. É um artista! Quantas pessoas devem ter passado por esse homem embevecido com os pombos que o afagam, possivelmente um morador de rua no banco de madeira de uma cidade qualquer, talvez de uma metrópole, sem tê-lo percebido. Para muitos, essa figura humana é apenas mais um elemento agregado à paisagem urbana, sem nenhum motivo para merecer atenção. Mas para o artista ele é especial, único e quase divino. Por isso, captou-o primeiro com os sentimentos, depois com os olhos, e com suas lentes ele o eternizou nesta fotografia belíssima.

Está latente na fisionomia desse homem idoso, com seus cabelos ralos e esbranquiçados e de mãos maltratadas pelo tempo, a ausência de carinho humano. Ele fecha os olhos ternamente, abaixa a cabeça e faz de suas mãos um assento para que as aves possam melhor tocá-lo, sem que tenha de aprisioná-las, para melhor sentir o carinho que delas emana.  Dois pombinhos, pousados em seus ombros, reverenciam-no como se fosse um rei, enquanto cinco sentinelas, no alto do gradil, velam por ele, às suas costas. À sua direita, no topo do banco, um pombinho mira os companheiros, e no colo, outro mais curioso tenta saber o que traz sua mão esquerda. Muitas aves estão espalhadas pelo chão, como vassalos daquele rei sem trono ou coroa, mas simplesmente cidadão do mundo, sem teto ou vintém.

Eu sinto vontade de chorar, tamanho é o meu encantamento.

Bendito seja o homem!
Benditas sejam as aves!
Bendito seja o artista!

(*) Imagem copiada de oloboeocordeiro.wordpress.com

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O AMOR, A CRIANÇA E A GUERRA

Autoria de Lu Dias Carvalho

menina e o desenho

Esta menina perdeu a mãe na guerra.
No pátio do orfanato desenhou-a com giz.
Aconchegou-se num colo que não existe mais,
deixando fora as sandálias para respeitá-la, como
manda a cultura oriental ao se entrar num lugar santo.
(Explicação que acompanha o pps)

O mundo virtual traz-nos muitas coisas interessantes e outras nem tanto. Mas os pontos positivos superam em muito os negativos, quando mil caminhos desta nossa existência, ainda que efêmera, abrem-se à nossa frente e nos tornam parte deste planeta maravilhoso chamado Terra. Não digo “parte” pelo fato de estarmos aqui neste momento. Refiro-me a nos sentirmos integrados a ele, lutando para que se transforme num lugar sagrado, onde todos nos tornemos divinos, mas só depois de nos tornarmos realmente humanos.

Foi exatamente este mundo virtual que me trouxe a imagem tocante da garotinha que busca conforto junto ao corpo etéreo de sua mãe ausente. Mais do que isso, numa postura de feto, ela procura o útero que a agasalhou e a protegeu de todas as maldades do homem, que ainda não se tornou humano. Mas aquele lugarzinho ali é sem dúvida, divino, ainda que por um breve instante, até que ela se acorde para as cruezas que lhe traz o homem, na vida.

Eu odeio todos os tipos de guerra, sobretudo pelo sofrimento que impingem às crianças, esses serezinhos que mal começam a desabrochar para a vida. Nada pode ser mais cruel do que roubar de uma criança a sua mãe. Ela perde todo o contato consigo e com o mundo. Melhor seria que tivesse nascido para a vida num outro tempo, numa outra dimensão, numa outra esfera ou num outro planeta, quando e onde o homem tivesse se tornado humano na busca do divino.

Malditas sejam todas as guerras que existem.
Amaldiçoados sejam os que as promovem.
Precitos os que nada fazem para evitá-las.
Desgraçados vermes da maldade humana
que tornam nosso planeta tão triste.
E benditas sejam todas as crianças
deserdadas do amor – pelas guerras,
de ontem, de hoje e de amanhã,
quaisquer que seja elas.

“Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la.” (Clarice Linspector)

Nota:
Peço aos leitores que leiam a observação do Gilberto J. Otto, postada como comentário:

Não querendo ser o “estraga prazeres” é que já vi esta foto sendo postada no face por vários amigos, oriundos de sites e blogs de cunho religiosos. Todos querem aproveitar e tirar uma “casquinha” da situação. Mas fui a fundo e na verdade achei o seguinte: A história conta, de fato, é verdadeira para milhares de crianças espalhadas pelo mundo, vítimas de guerras e outros males, mas não se aplica a menina na foto. A autoria Bahareh Bisheh explicou que a menina é sua prima e que se adormeceu sobre o asfalto do lado de fora da minha casa após muita brincadeira. A fotógrafa aproveitou o momento desenhou no chão a figura e subiu em uma cadeira para fazer a foto, não podia deixar passar a chance. A foto foi feita em janeiro de 2009. Assim, não há orfanato envolvido e nem trágica história por trás disso. Afirma a autora que é um estilo de fotografia. Visite o site e veja outras belas e criativas fotos com a mesma menina (visitem e comprove): http://www.flickr.com/photos/khatt-khatti/

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KEVIN CARTER E A FOTO PREMIADA

Autoria de Lu Dias Carvalho

fome

Estou deprimido, sem telefone, sem dinheiro para o aluguel, sem dinheiro para a manutenção dos filhos, para as dívidas. Dinheiro! Estou atormentado pelas lembranças vividas dos assassinatos e dos cadáveres da ira e da dor… Das crianças feridas e que morrem de fome, dos loucos do gatilho leve, com frequência da polícia, dos assassinos e verdugos. (Trecho da carta de despedida de Kevin Carter)

A foto acima, tirada numa aldeia do Sudão em 1993, é do fotógrafo sul-africano Kevin Carter (1960/1994). Depois de ser publicada no The New York Times, a foto acabou ganhando o Prêmio Pulitze por Recurso Fotográfico, o mais cobiçado prêmio do jornalismo, em 1994, sendo reproduzida em várias partes do mundo, representando o rosto da fome na África.

Após a publicação da foto pelo The New York Times, os leitores passaram a entrar em contato com o jornal, querendo saber o que teria acontecido com a criança faminta. O que levou os donos do jornal a emitir um comunicado, dizendo que a criança era capaz de fugir do abutre, mas que nada sabiam sobre seu destino.

Na foto, Carter mostra uma dos milhares de crianças famintas do Sudão, à época, sem forças nem para levantar a cabeça, aparentemente entregue à própria sorte. Tem por companhia apenas um abutre atento, que a acompanha em sua agonia, com o objetivo de se servir de seu corpo como repasto. Carter foi duramente criticado por não ter feito nada. O fotógrafo acabou se culpando, segundo dizem, por não ter ajudado a criança semimorta e teria dito:

– Um homem ajustando suas lentes para tirar o melhor enquadramento de sofrimento dela talvez também seja um predador, outro urubu na cena.

O mais triste é que, um ano após ter tirado esta foto, Kevin Carter, acometido por uma depressão profunda, acabou se suicidando. Carter começou a trabalhar como fotógrafo de esportes de fim de semana em 1983, mas 1984 mudou-se para trabalhar para a Estrela Joanesburgo, empenhado em expor a brutalidade do apartheid.

Segundo informações, os pais de Kong Nyong (nome da criança da foto) foram contatados 18 anos após a foto ser tirada e contaram que seu filho sobreviveu à fome, tendo morrido quatro anos depois, vitimado por uma infecção.

Embora o bebê use no bracinho direito uma pulseira de plástico com a inscrição T3, assinalando a presença da ONU no local, vê-se que suas condições são lastimáveis. A pulseira é também indicativa de que o fotógrafo não abandonou a criança. Segundo João Silva, repórter gráfico sul-africano, ele e Carter estavam viajando acompanhados de autoridades da ONU. Eles ficaram no local apenas 30 minutos, enquanto era feita a distribuição de alimentos, e aproveitaram para tirar fotos. Conta João Silva que era a primeira vez que seu amigo tinha contato real com o drama da fome e ficou bastante chocado. Kevin Carter, que era uma pessoa depressiva e tinha uma vida bem complicada, suicidou-se aos 33 anos.

A foto de Kevin Carter contribuiu para que o planeta voltasse seus olhos para o que acontecia na África e, infelizmente, continua a acontecer.

Reflexões

Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome. (Gandhi)

A Terra provê o suficiente para satisfazer as necessidades de todos os homens, mas não sua ganância. (Gandhi)

Há o suficiente no mundo para todas as necessidades humanas; não há o suficiente para a cobiça humana. (Gandhi)

Fontes de pesquisa:
http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=17330
Wikipédia

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A MENINA, A BONECA E A BANDEIRA

Autoria de Hely Pamplona

menina e bone.

A Vila da Barca é uma vila de pescadores, que fica na margem da baia do Guajará, em Belém. Como esse lugar será destruído para a construção da orla da cidade de Belém, resolvi fotografar o local, com o intuito de guardar a sua memória para os que virão, depois de desaparecida aquela pacata vila.

Enquanto fotograva, deparei-me com uma garotinha, abraçada amorosamente à sua boneca de cabeça pelada e roupinha vermelha, provavelmente despresada por alguma menina rica, que me acompanhava com os olhos através de sua janela. Era uma casa pobre. Uma enorme bandeira do Brasil ocupava as duas bandas da janela, embora só se vislumbrasse a metade dela.

Tenho andado muito pelo meu Estado e, como ninguém, conheço as diferenças sociais que nele existem. Pobreza e riqueza, embora em quantidades diferentes, convivem lado a lado. É como se fosse a bandeira brasileira exposta naquela janela. A parte aberta, com a garotinha risonha e sua boneca, representa a pobreza escancarada da maioria do povo dos vilarejos, para quem quiser ver. A parte fechada, com a metade visível da bandeira, esconde a riqueza na mão de poucos, sendo usada e abusada, sem nenhum compromisso com os que pouco ou nada têm.

Foto do autor
Contato: helypamplona@hotmail.com

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ONDE FOI PARAR O BEIJA-FLOR?

Autoria de Hely Pamplona

beija tenis
A fotografia exige que o profissional esteja sempre com os olhos abertos para captar, com seus cliques, o inusitado, pois, as coisas acontecem quando menos se espera. A máquina a tiracolo deve estar sempre engatilhada, pois, num segundo, toda a cena pode mudar.

 Estava eu andando pelas ruas de minha cidade, Belém, em busca de algo novo para fotografar. Meus olhos moviam-se desordenadamente na captura de um bom flagrante da natureza. Cansado, pois já era meio-dia, parei em um bar para tomar uma água mineral. Como se atraído por uma força magnética, fui até à porta e, não sei bem o porquê, meus olhos foram guiados para o alto. E foi aí que vislumbrei a improvável cena.

 Num fio negro de luz, estava dependurado um velho par de tênis , abandonado por seu antigo dono, pois, parecia não mais lhe oferecer serventia alguma. Vê-se que o pé mais alto já está soltando a sola, atrás. Mas um bichinho achou que, para ele, ainda era de muita valia, descansando sossegadamente no peito de um dos pés, com a cabecinha direcionada para o horizonte azul.

 O beija-flor, pássaro que se alimenta basicamente do néctar de flores, embora pouco incomum àquele tipo de lugar, acabou se interagindo com um objeto humano, ao aproveitar o velho par de tênis como descanso e observatório.

 Dentre as muitas fotos que tirei da cena, uma foi parar na capa de uma revista local. Aquela avezinha esperta fez com que eu ganhasse o dia.

Foto do autor
Contato: helypamplona@hotmail.com

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HELY PAMPLONA – O FOTÓGRAFO DA AMAZÔNIA

Autoria de Lu Dias Carvalho

aurora       pagaio

O fotógrafo Hely Pamplona nasceu na Fazenda Perseverança, na Cachoeira do Arari, na Ilha de Marajó, estado do Pará, em meio à exuberância da Floresta Amazônica e do rio Amazonas. Não poderia haver melhor lugar no mundo para despertar a sua vocação de artista, capaz de captar, através de suas lentes, os movimentos mais sutis da vida em derredor.

Desde pequeno, Hely ajudava sua tia a revelar fotos, oportunidade em que descobriu sua vocação para a fotografia, que acabou se confundindo com a sua própria história de vida.  Ele nos conta que a sua primeira câmera foi uma kodac instamatic, 177-X, que lhe foi deixada por essa mesma tia que o inspirou.

Com sua kodac na mão, convivendo com uma diversidade de animais e plantas no mundo encantado da Ilha de Marajó, onde não apenas era possível ver e ouvir, como também tocar as mais diferentes formas de vida, Hely passou a clicar tudo que via. O menino pobre tinha que dividir a responsabilidade de ajudar a família, pescando. Mas logo que se via livre da obrigação, o moleque corria para a sua velha máquina fotográfica e passava a clicar índios, caboclos, águas, animais e plantas.

Hely Pamplona foi para a cidade de Belém, capital de seu Estado, onde perambulava pelas ruas tentando vender suas fotos a revistas, a jornais e a turistas. Foram tempos muito difíceis para alguém muito jovem, criado no interior, carregando uma alma sensível, muitas ideias na cabeça e nenhum dinheiro no bolso. As necessidades diárias do jovem fotógrafo não esperavam a realização de seus sonhos. Mas ele não esmorecia, pois aprendera a remar contra a corrente desde criança. Não, não deixaria o barco de seus sonhos naufragar.

Hely é um artista ainda pouco conhecido neste país gigantesco de tantos talentos perdidos no anonimato. Possui incontáveis fotos que retratam o dia a dia do homem da floresta e dos rios, assim como de tudo que neles vive. Tem como projeto lançar um livro de fotografia, que é aguardado com muita ansiedade por seus fãs.

É com grande alegria que o Vírus da Arte & Cia recebe o fotógrafo Hely Pamplona em suas páginas, pois, o artista, gentilmente, aceitou o convite de mostrar parte de seu trabalho aqui. Obrigada, amigo!

(e-mail para contato com o artista: helypamplona@hotmail.com)

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