Arquivo da categoria: História da Humanidade

Esta categoria tem por objetivo mostrar aspectos e costumes sociais da vida humana em tempos idos.

O CASAMENTO NO IMPÉRIO ROMANO

Autoria de Lu Dias Carvalho

casimro

Aos homens e mulheres livres era permitida a instituição do casamento, mas essa era privada aos escravos, no Império Romano. Esses, portanto, viviam em estado de promiscuidade sexual. Contudo, aqueles poucos que gozavam da confiança de seu senhor, administrando-lhe a casa, ou mesmo servindo ao imperador, podiam viver amancebados com uma concubina, muitas vezes presenteada pelo próprio amo.

Os homens e mulheres considerados livres e que podiam se casar eram aqueles que:
• nasceram de um cidadão e uma cidadã;
• eram bastardos, porém filhos de uma cidadã;
• escravos que foram libertados por seus donos.

O mais interessante é que o casamento daquela época nada tinha a ver com instituição de nossos dias. Tratava-se de um ato particular, informal, não escrito, ou seja, não submetido ao poder público. O único contrato que existia era o dote, e isso se a mulher contasse com um. Era mais parecido com o noivado atual. Em caso de separação, o juiz decidia se o casal era casado ou não, através dos indícios, tais como a constatação de dote, assim como gestos que comprovassem a união. Podia-se também obter a testemunho de terceiros. Contudo, havia casos em que somente os dois podiam dizer se eram casados ou não. A presença de algumas testemunhas no casório, portanto, era muito importante, em caso de negação do casamento, posteriormente, por uma das partes. E, assim como hoje, o casal também recebia presentes de casamento por parte dos amigos e parentes.

Ainda que o casamento se tratasse de um ato privado, não escrito e solene, trazia em seu bojo certos direitos legais, como o fato de legitimar os filhos, que herdariam o nome do pai, dando continuidade à sua linhagem, caso não viessem a ser deserdados, por um motivo ou outro, fato muito comum à época. Na morte do pai, os filhos tornavam-se donos de seu patrimônio, assim como acontece nos dias de hoje, embora não haja mais, em nossos dias, a discriminação em relação aos filhos fora do casamento.

O divórcio do casal era muito simples. Era necessário apenas que o esposo ou esposa se afastasse um do outro, com a intenção de divorciar-se. Nem havia a necessidade de repassar ao cônjuge abandonado tal informação. Muitos homens e mulheres nem sabiam que se encontravam divorciados, pois o cônjuge saía de casa sem dizer nada. A mulher, mesmo que tivesse tomado a decisão de separar-se, ou tivesse sido rejeitada pelo marido, tinha o direito de levar seu dote, se o tivesse, é claro.

A noite de núpcias era meio complexa. O marido, acostumado com a falta de delicadeza com suas escravas, não tinha a tarimba necessária para deflorar sua esposa, deixando-a “horrorizada”. Alguns deles, mais “sensíveis”, não desvirginavam a mulher na primeira noite. Contudo, sodomizava-a, praticando a conjunção anal. Nesse caso, podia-se empregar o ditado “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.”. Quando grávida, à esposa era negado o ato sexual, durante toda a gestação. Outra censura imposta era quanto ao horário de fazer amor: só podia ser feito durante a noite. Fora disso constituía licenciosidade, pouca-vergonha.

Por que então as pessoas chamadas “livres” casavam-se? A finalidade do casamento encontrava-se no ato de adquirir filhos legítimos, que sucederiam o pai no trato com o patrimônio adquirido. Era também a maneira mais rápida e justa de obter fortuna, ao fazer uso do dote que acompanhava a esposa. E, por último, aumentava o número de cidadãos, fortalecendo o corpo cívico do Império Romano.

Nota: afresco encontrado em Pompeia, Itália.

Fonte de pesquisa:
História da Vida Privada/ Companhia das Letras

Views: 0

O CORPO ATRAVÉS DOS TEMPOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

vida12

Na Pré-História, o corpo era arma de sobrevivência, a fim de caçar e correr dos predadores, mas nas primeiras civilizações, os treinos e as atividades sempre estiveram voltados a necessidades coletivas, como guerrear. (Denize Bernuzzi de Sant`Anna)

Como o corpo era considerado sagrado, a Igreja proibia dissecações e estudos de cadáveres. (Luiz Ferla)

Nem sempre o corpo físico gozou do status que possui hoje, ou seja, pertenceu exclusivamente à pessoa, capaz de modelá-lo segundo os seus desejos. A sua história, através dos tempos, mostra-nos como serviu aos mais díspares interesses, que eram mutáveis de acordo com a visão de cada época. Em suma, era escravo da cultura dominante. Durante milênios serviu a diferentes determinações sociais, religiosas ou militares, sem nenhum compromisso com a beleza, tão arduamente buscada atualmente, e também responsável por muitos atalhos perigosos, muitos vezes levando-o à morte.

Na pré-história, nossos antepassados, moradores das cavernas, preocupavam-se apenas em sobreviver, sendo o corpo a arma de melhor embate, tanto na busca por comida (a caça) quanto para lhes possibilitar mais um dia de vida, ao obter forças suficientes para correr dos incontáveis predadores. E se modelo de beleza houvesse naquela época, estaria mais para as gorduchas, vistas como boas procriadoras, como nos mostra a pequena escultura da Vênus de Willendor (ver ÍNDICE), encontrada por arqueólogos, que estipulam sua idade em 28 mil anos.

A Grécia de 1200 a. C., era famosa por seus “gymnasiums”, onde se dava a formação masculina, desde criança. O corpo tinha que ser forte para ser um bom soldado e participar das competições dos jogos públicos. Ali também havia a preocupação com a mente, sendo estudadas as matérias: literatura, música e filosofia. O corpo era visto com normalidade, sendo que os atletas faziam os exercícios desprovidos de roupa. Também o Império Romano tinha preocupação com a formação física de seus soldados, importante para garantir-lhe grandes vitórias bélicas. Ao comparar a vida dos gregos naquela época, vemos como houve um retrocesso na vida dos homens e mulheres. Hoje existe uma busca exacerbada pela malhação, enquanto a formação intelectual evaporou-se. Literatura? Filosofia? Música? O que é isso?

A Idade Média foi um tempo de reclusão e castigo para o corpo físico. A religião amordaçou-o, ao elegê-lo como sagrado, determinando que o casal devesse usá-lo apenas com o fim de procriação. Até mesmo as posições sexuais estavam sujeitas ao julgamento da Igreja. Toda aquela que não se limitasse ao conhecido “papai e mamãe” era tida como bestial e, consequentemente, pecaminosa. Até as preliminares do ato sexual estavam sob o jugo da religião. No gozo, o homem deveria depositar o sêmen dentro do cálice vaginal. Evitar filhos era pecado. E à mulher era vedado ficar por cima do homem, uma vez que ele era o chefe da família. Tal posição depunha contra o macho. As mãos não tinham função durante o ato sexual, pois era pecado provocar a ejaculação, com “toques indecorosos”. Também não se podia negar o sexo, o que constituía um pecado, a não ser que a mulher se encontrasse visivelmente doente.

A Igreja também emperrou o andar da Ciência, ao proibir que cadáveres fossem dissecados e estudados. Constituía pecado grave abrir o corpo, onde se encontrava a casa do divino. Em suma, todas as maravilhas herdadas dos gregos foram jogadas por terra, inclusive os hábitos de higiene e os cuidados relativos à saúde. A morada de Deus não poderia ser conspurcada com cuidados e ações julgados como pecaminosos. Deveria continuar “in natura”, sem nenhum laivo de “conservantes”. Tudo era visto com o intuito de macular a morada do divino. A casa corpórea não poderia ser arrumada. Os corpos fediam. Penosos tempos aqueles!

A chegada do Renascimento, que corajosamente passou a beber nas fontes da Antiguidade Clássica, traz perfume e beleza ao corpo, cujos poros, entupidos de sujeira, começam a respirar com o retorno aos valores humanistas e artísticos. Passa a deixar o cativeiro religioso e ser fonte de beleza e vida, sendo representado, por deusas, ninfas e outros elementos da mitologia grega. Botticelli imortaliza a sua obra com O Nascimento de Vênus (ver ÍNDICE). E assim o fazem muitos outros artistas da renascença. Os grilhões da escravidão religiosa do corpo vão sendo quebrados. Leonardo da Vinci transforma-se num dos maiores anatomistas do período. A Ciência começa a libertar-se. Cadáveres são dissecados, órgãos, ossos e músculos estudados. Grandes descobertas são feitas.

O Renascimento muda o curso da história do corpo, que ganha até proporções, através de O Homem Vitruviano (ver no Índice). Seus pintores e escultores despem anjos, santos, deuses, heróis gregos e bíblicos. E até Jesus Cristo só tem, muitas vezes, o corpo coberto por um ínfimo véu. Os músculos na arte são trazidos à vista. A região púbica não mais escandaliza. Michelangelo expõe aos olhos do mundo o seu escultural Davi (ver no Índice).

Daí para frente, o corpo sofre inúmeras mudanças em seus padrões, sendo muitas vezes judiado. A musculação agiganta os músculos, ou os deforma, segundo alguns. Vem também a fase da busca pela magreza doentia, com risco de morte para o indefeso corpo, sujeito à anorexia e à bulimia. Os “fast foods” entram na competição, com o avultamento e aviltamento do corpo. Por ora, são os últimos na dianteira da parada, pois em todo o mundo as pessoas engordam abusivamente (não me refiro à gordura por problemas de saúde), seviciadas pela gula. As indústrias de alimentos deitam e rolam, muitas delas colocando componentes viciantes nesses. É preciso vender mais e mais! O corpo? Que exploda!

NotaO Nascimento de Vênus, pintura de Sandro Boticcelli

Fontes de pesquisa
Corpos de Passagem/ Denize Bernuzzi de Sant`Anna
Políticas do Corpo/ Denize Bernuzzi de Sant`Anna
Aventuras na História/ Editora Abril
História da Vida Privada/ Companhia das Letras

Views: 10

IDADE MÉDIA – AS TRÊS FASES DA VIDA

Autoria de Lu Dias Carvalho

vida

Os números sempre tiveram uma grande importância na história da humanidade. Pitágoras, já na Antiguidade, trabalhava com a mística desses, que permaneceu em toda a Idade Média, quando, no seu final, a velhice entrou em pauta. A partir daí, muitos pintores fizeram composições apresentado as três fases da vida. O número três era visto como o mais importante. Na Antiguidade, ele representava o todo (princípio, meio e fim). Para Aristóteles, o três fazia-se representar na ética, pois um mau resultado acontecia quando não se levava em conta o limite, quer fosse pelo excesso ou pela falta, uma vez que o meio representava a medida exata. Foi ele quem atribuiu o número três às fases da vida: a juventude possui tudo em excesso (força, raiva, valor e instintos), enquanto a velhice sofre com todos eles, e somente no meio da vida é que se tem tais qualidades apenas fracamente. O três foi importante na Idade Média, pois levava em conta a Santíssima Trindade: Deus-Pai, Filho e Espírito Santo.

As fases da vida não foram representadas na Antiguidade, talvez por serem vistas como passageiras e desnecessárias, embora se tenha refletido sobre elas. O tema só entrou em voga após 1500, quando clientes seculares passaram a fazer encomendas com tal temática.

Naqueles tempos, a criança não gozava dos privilégios que possui hoje. Não eram fortes os elos entre pais e filhos, porque nascimento e morte eram uma constante na vida das pessoas, principalmente na das crianças. Poucos recém-nascidos conseguiam sobreviver em meio a um mundo tão doentio e hostil. Procurar aceitar tais condições funcionava como autodefesa para os pais, portanto, dificilmente os pequeninos ganhavam espaço na pintura, que era um privilégio dedicado aos adultos. As crianças também eram vistas como adultos imperfeitos, em razão do pecado de Adão e Eva. Quando apareciam na arte, elas eram sempre vistas como anjos, querubins ou Cupidos.

Numa de suas fábulas, Esopo atribui três animais às três fases da vida:

• O cão representa a velhice, porque é mal-humorado e simpático apenas com quem o alimenta.
• O boi equivale ao meio da vida, porque trabalha regularmente e assegura a vida dos jovens e dos velhos.
• O cavalo, no entanto, simboliza a infância, porque é uma idade insolente e descontrolada.

As fases da vida e a morte eram representadas tanto pelos autores gregos quanto romanos, tomando como relação o homem (o adolescente e o velho), como se fora ele o representante da humanidade, conduta que perdura até os dias de hoje. Contudo, na pintura dava-se o contrário, talvez pelo fato de o corpo da mulher apresentar mudanças mais visíveis durante as fases da vida, sem falar que sua beleza chamava muito mais a atenção. Artistas, como Hans Baldung, usavam a mulher na representação de tais fases. Em algumas delas agregava-se a presença da morte, ora com uma simbologia religiosa ora apenas para mostrar a fugacidade da vida. Ainda hoje a mulher é usada como tal, como nos mostra a composição As Três idades da Mulher (1905) de Gustav Klimt, ilustrando este texto.

Fonte de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Taschen

Views: 5

A HISTÓRIA DO BANHO ATRAVÉS DOS TEMPOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

banho1

Nos dias de hoje, a maioria de nós já volta do serviço pensando em tomar um gostoso banho. E quem fica em casa, não vê o momento de cair debaixo do chuveiro. Poucos são aqueles que se deitam sem terem lavado o corpo. Dormir sujo dá uma coceira danada, umas agulhadas aqui e acolá. Muitas vezes é preciso se levantar de madrugada para fazer o que deveria ter feito antes. Mas a história nem sempre foi assim. Podemos conhecer a história do banho, caso venhamos a dar um volteio pelo tempo. Apertem os cintos e vamos nessa!

No Oriente, o banho era visto como a purificação do corpo e também como fonte de aprazimento, enquanto no Ocidente acontecia em lugares públicos e coletivos, em harmoniosos encontros entre os interessados. Ali as pessoas tanto eliminavam a sujeira corpórea, como botava as fofocas em dia. Mas a Igreja, totalmente obcecada pelo pecado, embora esse se encontrasse mais sob suas ações, cismou que o ato de banhar-se era a mais vergonhosa luxúria, que não agradavam os olhos de Deus. Talvez tenha sido ela própria a espalhar que o banho abria os poros da pele, transformando-os numa porta aberta para a entrada de doenças. Assim, ignorância e superstição jogaram as pessoas nos braços da imundície, entrada real para inúmeras doenças, ficando os indivíduos a chafurdarem no desasseio e numa infinidade de moléstias, a maioria delas advindas da ascosidade. O negócio era tão sério, que na Europa, o gostoso banho passou a inexistir. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, ficaram perplexos, ao ver a quantidade de vezes que nossos índios banhavam-se, numa coesão perfeita com a água.

O banho através dos tempos:

• 3000 a.C. – no Egito: segundo pesquisas, aquele povo já era comprometido como asseio corporal, fazendo uso de sabonetes e óleos corporais. Usavam até uma ducha, feita de peneira ou cesta. Era também comum encontrar privada, chuveiro e toaletes nas residências abastadas. Sem falar que para o rio Nilo convergia um grande número de pessoas, que ali tomavam banho apesar dos perigosos crocodilos. A limpeza corporal estava ligada à purificação da alma.

• 1700 a.C. – Grécia: provavelmente nenhum outro lugar deva ter se preocupado tanto com a limpeza corporal do que esse país. Somente um corpo sadio poderia ser morada de uma mente sã. A preocupação do Estado era tamanha, que mantinha locais públicos de banho, com entrada gratuita para quem desejasse ali dar trato ao corpo. Algumas casas de banho detinham até banhos quentes e frios, com banheiras individualizadas. Mas, quanto aos acompanhamentos, os gregos estavam bem mais atrasados do que os egípcios, pois usavam cinzas de madeira e argila como sabonete. Com certeza, não ficava uma sujeirinha. Ainda é comum ver mães, no interior pobre de nosso país, lavar os pés encardidos dos filhos com cacos de telha de argila. Os molequinhos fogem desse tratamento como o diabo foge da cruz.

• 321 a.C. – Roma: sai na dianteira da História ao construir um conjunto de aquedutos, que levava água para as residências, certos espaços públicos e casas de banhos. Chegavam a durar de duas a três horas os banhos. Que delícia! Tinham por finalidade higienizar o corpo e também servir de tratamentos medicinais. Fico imaginando as conversas que ali eram mantidas, como se elas fossem um jornal oral, passado de boca a boca, pois nada como o ócio para carregar as fofocas de um lado para o outro.

• Séc. 4 e 5 – Europa: essa trouxe o malfadado uso do “paninho” que mais sujava do que limpava. Devia carregar um “cheiro dos diabos”. Cruz credo! Mas não pense o leitor que isso foi coisa do demo. Por favor, inocente-o! Foi coisa da Igreja, comandada por um papa de nome Gregório I, que deveria ter o rabo mais sujo do que o do diabo. Não é que o dito proibiu as gostosas casas de banho, sob a alegação estapafúrdia de que “o corpo era a abominável vestimenta da alma”, assim sendo, o pobre corpo, esse escravo da mente (ou alma) era a grande fonte do pecado. Eu queria ver a alma abrir mão do corpo e andar por aí, lutando pelo pão de cada dia… Ainda que algumas existem, num engodo de dar dor de barriga, na forma de membros de igrejas, das mais diferentes denominações. Essas almas vivem sempre no bem bom. Voltando à “sujeira”, ela era santificante. Quanto mais sujo, asqueroso, fedorento e cheio de inhaca fosse o cristão(ã), mais santificado era ele. Não sei como os narizes aguentavam tanto bodum. A água só podia ser usada em três momentos: batismo, benzimento e banho pré-nupcial. Penso que muita gente casava-se apenas para tomar um banho… risos.

• Séc. 6 – Alexandria: a coisa já começou a melhorar, pois ninguém é de ferro para aguentar aquela catinga por tantos séculos. Era a vez de o Império Bizantino entrar em foco, provavelmente com um nariz mais sensível. A terça parte do orçamento da cidade destinava-se ao aquecimento das casas de banho, que traziam vestiários, banho a vapor e massagens. E onde as pessoas podiam lavar as sujeiras do corpo, uma vez que as da alma exigiam desinfetantes com poderes profundos.

• Séc. 16 – Brasil: quando os portugueses aqui chegaram, os coitados ficaram encucados com a lavação de nossos índios. Para que gastar a pele tanto assim? A qualquer momento lá estavam eles, os silvícolas, como peixes nas águas dos rios e mesmo no mar, enquanto eles, os portugueses, trocavam de roupa uma vez por dia, digo, por mês. Esse hábito tão anti-higiênico trazia-lhes excelentes companhias: pulgas, carrapatos, piolhos… E, como o que é bom deve ser copiado, não demoraram os portugas a caírem na água e com ela se aprazerem feito patinhos. Ainda bem que herdamos tamanha riqueza de nossos amados indígenas. Benditos sejam eles!

• Séc. 18 – Europa: foi a chegada do Iluminismo para botar um pouco de luz na mente de muitos beatos que ainda proliferavam no meio da Igreja ou a seguiam. Foi a época em que ciência saiu a campo e desmontou a superstição de que o banho abria os poros para as doenças. Ao contrário. Eram fontes de saúde. Houve uma reviravolta. Doentes eram banhados à força. Camisolões eram usados para a compostura do banho. E os serviçais tiveram os seus trabalhos dobrados. Não era fácil aquecer água para uma família numerosa. A vida é sempre assim, uns têm que carregar o peso do progresso para outros.

• Séc. 19 – Inglaterra: os serviçais devem ter posto as mãos para o céu quando a Inglaterra inventou o chuveiro, em 1810. Devem ter canonizado o santo responsável por tamanha criatividade. Nada mais de ficar enchendo banheira. Nada mais de ficar aquecendo caldeirões de água. Nada mais de ficar queimando os dedos. Liberdade ainda que tardia! O mais engraçado é que a água vinha de um reservatório no solo e subia para o chuveiro. Vinte anos depois os Estados Unidos simplificaram mais ainda o ato de tomar banho, usando uma alavanca para bombear a água… Xuá! E mais mudanças vieram até nossos dias, até chegarmos às banheiras luxuosas de hidromassagem, mas que não chegam aos pés das cachoeiras das nossas Minas Gerais (não tive a intenção de rimar).

Amigos, depois dessa caminhada de 4.900 anos através da História da humanidade, só falando sobre banho, eu senti uma vontade danada de cair debaixo de um chuveiro, com a água bem quentinha, usar um sabonete bem cheiroso, depois um creme e, por último, uma colônia com cheiro de capim cidreira, em todo o corpo. Acho que Morfeu irá se comprazer com a ideia.

Nota: ilustração é um quadro de Renoir, Banhistas.

Fontes de pesquisa
Aventuras na História/ Abril
História da Vida Privada/ Companhia das Letras

Views: 2

DURA LEX SED LEX, NO CABELO SÓ GUMEX

Autoria de Lu Dias Carvalho

sed

Muitas pessoas afirmam que o homem era muito mais vaidoso antigamente do que nos dias de hoje, pois há suspeitas de que múmias, no antigo Egito, 3,5 anos atrás, já tinham as madeixas embelezadas para causarem uma boa aparência no outro mundo. Retornando a uma época mais atual, citam como referência o uso da famosa brilhantina. Pode até ser que sim, e que depois tenha havido uma queda na afetação masculina. Porém, nos dias de hoje, é cada vez maior o número de homens usando xampus, filtros-solares, cremes corporais, botox e outras coisas tais. No que fazem muito bem, pois, como dizia a minha avó: “Quem não se enfeita por si se enjeita.”.

Uma história interessante da vaidade humana está relacionada com as madeixas masculinas. Como o homem não podia recorrer ao truque do rabo de cavalo, para impedir que os cabelos lisos despencassem pela testa, trazendo incômodo, o jeito era besuntá-los, deixando todos os fios bem acomodados, onde foram postos. Para tanto, numa época em que a cosmetologia e os produtos de cabalo engatinhavam, restava aos moçoilos mais vaidosos, buscar novas descobertas, muitas vezes oriundas do disse me disse, sem nenhum anteparo científico. E foi assim que surgiram inúmeros tipos de gorduras vegetais, com destaque para o azeite de oliva e o óleo de palma, que deixavam os cachos com uma aparência molhada. No interior do país também grassava a banha de galinha, que além de manter os rebelados no lugar, ainda os tratava, dando-lhes brilho e conservando-lhes a cor. E o cheiro? Isso aí é outra coisa! Muitas pessoas misturavam as gorduras com alfazema, madeira do oriente e a outros perfumes baratos.

Mas se alguém pensa que as receitas para manter a compostura das cabeleiras paravam por aí, está muito enganado. Algumas delas cheiravam a bruxaria. Na Europa, lá pelos idos de 1300, havia uma fórmula considerada infalível, que talvez algum leitor queira experimentar em seus cabelos rebeldes, tamanha é a sua simplicidade: misturava-se à gordura de lagarto (o coitadinho nem possui cabelo) fezes de pombos (sempre existiram aos montões). Uma vez pronta a pasta, essa deveria ser aplicada diretamente na juba humana. Na Ásia, a receita era mais apreciável: gordura animal com mel ou ocre. Se escorresse pela cara ainda daria para lamber. E ainda dava cor aos cabelos. Na Ásia, um arsenal de pentes e uma pomada que tinha como base a cera, davam conta dos penteados mirabolantes da nobreza. Na América do Norte, mais pomposa, usava-se óleo de urso, refinado. Coitado do animal, que nada tinha a ver com o requinte humano.

Para o bem dos moçoilos e moçoilas, que pegavam carona no envaidecimento dos machos, em 1800, as pomadas começaram a ganhar o mercado. E no século XX, os apetrechos embelezadores deram um passo maior ainda, no sentindo de diminuir o sofrimento olfativo, tanto de quem usava produtos animais, não lá muito agradáveis ao nariz, quanto de quem era obrigado a conviver com figuras tais. Nasciam assim a goma de petróleo e a cera de abelhas. Mas com o andar da carruagem, e, com o olho num mercado tão auspicioso, certo perfumista francês criou, em 1900, a salvação, não a eterna, mas temporária, para as madeixas masculinas: a brilhantina. Tratava-se de um óleo perfumado que não só apaziguava a cabeleira, como lhe dava, juntamente com os bigodes, um ar umedecido. Era a glória!

E a Grã-Bretanha era lá maluca de ficar longe desse filão da cabelama? Never! Em 1929 lançou no mercado o Brylcreem, que jogou por terra a popularidade da Brillantine. E aí veio a febre, e junto com ela os topetes, cada um mais altos e sofisticados. Eram a vez dos engordurados (greasers). Que o digam Elvis Presley, James Dean, John Travolta e a turma do rock`n`roll e seguidores.

E como as coisas andavam no Brasil? Será que a vaidade passava longe destas terras? De jeito nenhum. Nós tínhamos o Gumex, certo tipo de pó solúvel em água. O vaidoso tinha que ser rápido no gatilho, pois se demorasse na aplicação, a mistura virava uma sola. A propaganda em latim era uma pérola: “Dura lex sed lex, no cabelo só Gumex” (A lei é dura, mas é a lei, no cabelo só Gumex). Foi criada pelo nosso saudoso Ary Barroso. O melhor era o apelido que recebiam os usuários do Gumex: “engomadinho”, “lambido”, “cabelo que boi lambeu”, “alisadinho”, e muitos outros. E assim foi até os anos 60.

Como tudo que é usado em demasia acaba cansando, os topetes agigantados caíram do trono, ou melhor, da cabeça. Produtos à base de água e gel vieram botar os cabelos nos devidos lugares. Mas isso não durou muito tempo. Basta dar uma andada pelas ruas para ver os jovens com seus topetes a “la moicanos”, cheios de gel. E assim é a moda, num vai e vem contínuo.

Fontes de pesquisa
Aventuras na História/ Editora Abril
http://www.ufrgs.br/napead/repositorio/objetos/fases-da-publicidade/index.php?p=arquivos

Views: 41

IDADE MÉDIA – JUVENTUDE, VELHICE E SAÚDE

Autoria de Lu Dias Carvalho

ingles1234

Quanto mais voltamos no tempo, mais nós nos deparamos com as crendices. E ficamos pasmos ao tomar conhecimento de quanto o homem era influenciável. Curioso, não tendo uma explicação científica, o que fazia era se apegar ao disse me disse. Sem resposta é que não ficava. A mente fantasiosa dava o tom. E, em assim sendo, Deus levava a responsabilidade por tudo, quer pelo milagre, quer pelo castigo. Sem falar nas vezes em que o diabo entrava em campo para semear o mal. A religião era a dona da verdade e a Ciência engatinhava, a trancos e barrancos.

A Ciência médica era ainda muito débil na Idade Média e muito tempo depois dela. Consistia em fazer exames anatômicos em cadáveres. Vigorava a ideia de que os métodos de cura estavam ligados à doutrina do humoralismo, ou seja, a doença surgia em consequência do rompimento do equilíbrio existente entre os humores: sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra. O sangramento ajudava a equilibrá-los. A passar por tamanha tortura médica, o melhor mesmo seria colocar-se nas mãos do Criador.

Às fontes termais era imputada uma série de milagres, como a famosa lenda sobre A Fonte da Juventude lembra-nos. Ainda assim, os benefícios terapêuticos eram creditados à bondade divina, e não à água em si, com seus minerais. Para elas afluíam gentes com as mais diferentes doenças, aleijões, ferimentos por armas, etc. Se a pessoa recuperava a saúde, dizia-se que fora Deus o responsável, se nada acrescia, a bênção fora retirada por ele, como punição, principalmente quando se cobrava pelo banho, ou, quando as pessoas tinham um comportamento lascivo no local.

Havia uma grande diferença, entre o tratamento que se dava aos corpos jovens e aos velhos. Enquanto os primeiros deveriam ficar cobertos, por não corresponder ao ideal de beleza, os segundos podiam permanecer desnudos, sendo, inclusive, idealizados. Na Antiguidade Clássica e no Renascimento, quando representados, os corpos das anciãs eram vistos como a representação do mal. Fato que persiste até nossos dias, cuja cultura ainda está totalmente ligada à juventude, não vendo beleza na velhice. Os homens, se velhos, são representados com poses de dignitários, artistas, etc. O machismo ainda se faz presente. Só que, naquela época, a juventude estava ligada à progênie, pois os filhos assumiam a vida dos pais no trabalho, suprindo-os, uma vez que o Estado não exercia tal função. Isso também levava as mulheres a morrerem prematuramente, em razão do excesso de parição, além das epidemias, pois eram mais frágeis. Havia, portanto, uma proporção maior de homens.

Nota: detalhe do quadro A Fonte da Juventude, de Lucas Cranach, o Velho

Views: 1