Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Bosch – O VOO E A QUEDA DE SANTO ANTÃO (II)

Autoria de Lu Dias Carvalho

ANDARILHO123O tríptico da Tentação de Santo Antão traz no volante esquerdo O Voo e a Queda de Santo Antão, que mostra o santo, inconsciente, sendo carregado por dois frades e um terceiro homem vestido com roupas seculares, o que para muitos trata-se de um autorretrato do pintor.

As quatro figuras atravessam uma pequena ponte, que passa sobre um riacho de águas escurecidas, e, abaixo dela estão três figuras horrendas a conversar, tendo uma delas uma folha escrita na mão, enquanto um mensageiro, misto de homem e pássaro, aproxima-se do grupo. Na margem do riacho há um enorme ovo, de onde sai um filhote, mas a ave mãe está engolindo uma de suas crias.

À frente, na estrada onde se encontram Santo Antão e seus amigos, um grupo de diabos dirige-se para uma figura, que se encontra ajoelhada, com a parte inferior nua. Suas pernas abertas formam a entrada de um bordel.

Na paisagem ao fundo, um falso farol exerce atração sobre os navops, trazendo-os para a costa, onde serão destruídos, pois ali se encontram inúmeros cadáveres e demônios. Um monstro em forma de peixe e escorpião, com uma torre nas costas, engole outro. Na mesma tábua, Santo Antão aparece no Céu, sendo carregado por demônios e outros monstros malignos.

Ficha técnica
Ano: c. 1501
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 131,5 x 53 cm
Localização: Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, Portugal

Fonte de pesquisa
Bosch/ Taschen
Bosch/ Abril Coleções

Bosch – TRÍPTICO DA TENTAÇÃO DE SANTO ANTÃO (I)

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O diabo dispõe de mil maneiras para causar dano. Naquela mesma noite ouviu-se um ruído tão grande que tremeu todo aquele lugar. Os muros da sua cela pareceram abrir-se, e entrou uma multidão de demônios; aparências de bestas selvagens e répteis, espectros de leões, ursos, leopardos, touros, serpentes, áspides, escorpiões e lobos enchiam o recinto.(Atanásio de Alexandria, sobre Santo Antão)

O pintor holandês Hieronymus Bosch (c. 1450 -1516) era um artista profundamente preocupado com a maldade humana e ficou famoso por suas aterradoras representações das forças do mal.

O tríptico A Tentação de Santo Antão é outra obra-prima do pintor holandês Hieronymus Bosch, mostrando o poder que Satanás exerce sobre o mundo, ao usar todos os seus ardis, para capturar a alma humana, iludida com os prazeres dos sentidos. O tríptico traz no volante esquerdo O Voo e a Queda de Santo Antão, no central, A Tentação de Santo Antão, e no direito, Santo Antão em Meditação (todos presentes neste blog).

O artista toma como tema a lenda sobre santo Antão, asceta egípcio do século III, que depois de distribuir seus bens com os pobres, retira-se para o deserto, onde passa 20 anos, a fim de levar uma vida pia e refletir sobre as palavras de Jesus. Contudo, os demônios personificados nos pecados de sua vida passada, começam a tentá-lo com visões devassas e aterrorizantes, pondo em cheque a sua fé, que no final é a grande vencedora. O santo tornou-se um símbolo de renúncia à vida mundana.

Bosch vale-se de todo o seu conhecimento para retratar a lenda do santo, de modo que a composição está cheia de símbolos estranhos, relacionados com a alquimia, com a magia e o ocultismo, que continuam indecifráveis até os dias de hoje, como vimos em suas pinturas anteriores, analisadas aqui.

Ficha técnica
Ano: c. 1501
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 131,5 x 225 cm
Localização: Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, Portugal

Fonte de pesquisa
Bosch/ Taschen
Bosch/ Abril Coleções

Matisse – A FAMÍLIA DO PINTOR

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Não se trata nem de um retrato, nem de decoração pura. (Sarah Stein)

Na sua composição A Família do Pintor, Henri Matisse apresenta sua família, num ambiente interno, cheio de ornamentos, com todos os membros envolvidos nas suas respectivas recreações:

• Os filhos Jean e Pierre ocupam o centro da composição, assentados, um de cada lado, diante de um tabuleiro de damas, totalmente concentrados no jogo.

• Marguerite, filha de outro relacionamento do pintor, antes de se casar, está de pé, à direita, tendo um livro fechado nas mãos, como se estivesse meditando sobre o que acabara de ler.

• Amélie, esposa de Matisse, está sentada numa poltrona, mergulhada em seu bordado.

Os dois filhos do pintor usam o mesmo estilo de roupa, com a mesma cor vermelha, sendo muito parecidos, o que os leva a perder a identidade, enquanto a duas mulheres, esposa e filha, encontram-se distantes, com roupas diferentes, sendo bem individualizadas.

Existem muitos ornamentos no ambiente. Chama a atenção um vistoso tapete oriental, no meio da sala. Dois sofás, intensamente decorados, estendem-se de um lado e outro da lareira branca, decorada com vermelho e azul, sobre a qual encontram-se dois vasos de flores e uma estatueta. A parede também é toda decorada.

Ficha técnica
Ano: 1911
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 210 x 245 cm
Localização: Museu Ermitage, São Petersburgo, Rússia

Fontes de pesquisa
Matisse/ Taschen
Matisse/ Abril Coleções

Matisse – MULHER COM CHAPÉU

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição Mulher com Chapéu, obra do pintor francês Henri Matisse, foi exposta no primeiro Salão de Outono, em Paris. Embora tivesse sido aceita pelo júri que fazia a seleção das obras, foi motivo de grande deboche por parte do público e de alguns críticos, que escarneciam do pintor e de seu trabalho, tentando, inclusive, tentado arranhar a pintura, fato que deixou o artista, que à época tinha 35 anos, muito depressivo.

A obra Mulher com Chapéu tem como modelo a esposa de Matisse, Amélie, à época com 33 anos, uma morena com seu rosto comprido e boca grande. Na mão esquerda ela traz um leque. Trata-se de um quadro chamativo, típico de um retrato burguês, com a modelo usando um traje excessivo e um chapéu enorme e imponente. Ela se encontra com o corpo meio de perfil, mas traz o rosto voltado para o observador. É impossível distinguir as partes que a compõem, excetuando o rosto, pois as demais formas são diluídas numa profusão de cores berrantes, pintadas em forma de manchas. Seus olhos parecem tristes e indagativos.

Matisse, chateado com o comportamento desdenhoso do público e sua falta de educação, nunca mais voltou ao Salão, onde estava exposto seu quadro Mulher com Chapéu. Apenas a senhora Matisse ali ia, enquanto o artista permanecia angustiado e infeliz em casa.

A composição era estranha ao público, tanto pelo colorido quanto pela anatomia da mulher. Acabou sendo comprada pelos irmãos norte-americanos Gertrude e Leo Stein, que colecionavam obras de arte. Ao final, eles se tornaram muito amigos do casal Matisse. Acabaram também por ajudar o pintor, ao comprar dele um quadro tão criticado, contribuindo para elevar o preço de suas obras.

Conta-se que uma assistente da exposição, apontou para a mulher do quadro acima e, furiosa, falou a Matisse:

– Não existe uma mulher com o nariz amarelo!

Ao que o artista respondeu-lhe:

– Não é uma mulher, senhora. É um quadro!

Ficha técnica
Ano: 1905
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 80,6 x 59,7 cm
Localização: Coleção particular

Fontes de pesquisa
G. Stein – A autobiografia de Alice B. Toklas
Matisse/ Taschen
Matisse/ Abril Coleções
Matisse/ Coleção Folha

Bosch – O BARCO DOS LOUCOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição O Barco dos Loucos, também conhecida como A Nave dos Loucos, obra de Hieronymus Bosch, faz parte do conjunto formado por Alegoria do Prazer e a A Morte do Avaro. Presume-se que faça parte dos primeiros trabalhos do pintor, levando em conta a relativa simplicidade da pintura e significado alegórico.  Representa o mundo temporal e o espiritual.

No barco, representante de ambos os mundos, terreno e espiritual, passam o tempo mergulhados nos prazeres da carne, sem se preocuparem com a fluidez da vida, portanto, em vez de ancorarem no porto da salvação, todos irão chegar às costas do país dos loucos, recebendo a condenação no dia do Juízo Final. A obra apresenta vários personagens.

Na parte central do barco encontram-se sentados uma freira e um monge. Enquanto ela tenta tocar um alaúde, instrumento musical que muitas vezes é associado ao desregramento, traz os olhos fixos e a boca aberta, juntamente com o monge, tentando abocanhar um alimento pendurado numa corda, parecido com um pão ou bolo, movido pelo homem que sobe na árvore. Uma tábua, que se encontra entre eles, contém um prato com cerejas, tidas como as frutas da imodéstia, enquanto ao lado está um copo, provavelmente contendo dados para serem jogados.

Nada indica que o artista tenha feito sua obra baseando-se num fato real, ou seja, na expulsão dos loucos da cidade. Possivelmente trata-se de uma representação simbólica da seleção dos maus. Como monges e freiras devessem ficar sempre separados, a presença de ambos no mesmo espaço, já era um indicativo de condenação à época do pintor. Por sua vez, naqueles tempos, o alaúde, por ter um buraco redondo, simbolizava a vagina, enquanto a gaita simbolizava o pênis. Manejá-los remetia à luxúria.

O jogo entre a freira e o monge, para ver quem é capaz de comer o pão, ou o que quer que seja, evidencia a gula, embora alguns estudiosos interpretam que os dois estão apenas cantando. Outra presença marcante é o número de barris e recipientes para vinho, a sugerir a embriaguez. Ao que parece, o pintor quer mostra que, para cometer tantos pecados, é preciso que sejam dementes. Os loucos, portanto, na composição de Bosch, são as pessoas que se comportaram inadequadamente, segundo os princípios morais da época, incapazes, portanto, de alcançarem o reino dos céus.

Há na composição duas árvores dentro do barco. Uma é usada como leme, sendo ligada à popa, e a outra, com folhas, é usada como mastro. Um grande peixe está suspenso num galho seco, enquanto outro galho sustém um louco, de costas para o grupo, que bebe vinho numa tigela, usando o uniforme dos loucos da época, e trazendo na mão uma vara contendo na ponta as suas próprias feições . Ele parece ser o mais calmo de todo o grupo.

A bandeira em forma de flâmula do mastro, desfraldada ao vento, traz uma lua crescente, emblema dos turcos, que queriam invadir a Europa. Era também usada para marcar os dementes em uma composição, por isso, eles eram vistos sob a bandeira dos desafetos dos cristãos.

Saindo de uma enorme moita, um sujeito tenta cortar a fita que prende ao mastro um ganso assado, o que remete ao pecado da gula. Mesmo que as velas, o leme e os ramos não sejam capazes de impulsionar o barco, isso não afeta o prazer dos ocupantes, que já se encontram bêbados e alegres. Sendo que duas freiras e um frade deixam de lado as obrigações ligadas ao espírito, para se comprazerem com os prazeres mundanos.

Em cima, no meio da árvore, aparece algo que tanto pode ser uma caveira quanto uma coruja, considerada a ave da sabedoria e da morte, pois, em razão do estado atual do quadro é impossível precisar. Qualquer uma estaria de acordo com a obra. Na água estão dois homens. Um deles levanta sua tigela, pedindo mais vinho. Um outro, seguro naquilo que seria o leme, parece vomitar.

Havia muita simbologia na arte da Idade Média. Através do conhecimento de tais sinais, o observador podia decifrar a obra. O significado dessa simbologia ainda é muito estudado nos dias de hoje para melhor compreensão da arte desse tempo. Por exemplo, um barco poderia significar um símbolo de Estado, da Igreja, da fé ou a vida. A água era ligada à limpeza, à renovação e ao batismo. Também significava perigo, ameaça ou pecado. Assim, as figuras nuas representadas na água de O Barco dos Loucos são pecadores. A água também poderia estar relacionada à demência, inclusive, na cidade holandesa de Meulebeck, os dementes eram levados a passar sobre uma ponte, com o intuito de obterem a cura.

Ficha técnica
Ano: c. 1494
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 57,8 x 32,5 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de Pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
Bosch/ Abril Coleções
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
Bosch/ Tachen

Bosch – A CARROÇA DE FENO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O mundo é uma carroça de feno e cada um pega o quanto pode. (Ditado flamengo)

Porque toda a carne é como a erva … secou o feno e caiu a flor, mas a palavra do Senhor permanece para sempre. (Epístola de S. Pedro)

A Carroça de Feno trata-se da obra central de um tríptico do pintor Hieronymus Bosch, sendo que na parte esquerda está representado o Paraíso e na direita o Inferno. Assim como toda a obra do pintor, esta é também incomum, contendo inúmeros personagens e objetos, muitas vezes sem nenhuma interação. Dentre os pecados tidos como mortais, a ambição, ou avareza, pelos bens materiais, parece ter sido a maior preocupação do pintor, sendo tratada em muitas de suas obras, embora os demais pecados também sejam apresentados nesta composição.

No centro da composição encontra-se uma carroça cheia de feno, puxada por seres estranhos, diabos. Sobre ela cresce uma touceira de mato, diante da qual se encontram três personagens em harmonia, um deles tocando um alaúde. Atrás deles, um casal está abraçado, sendo observado por alguém detrás da moita. As pessoas ali estão ladeadas pela figura de um anjo que olha para o céu, pois é o único a notar a presença divina, e de um diabo com cauda de pavão, a perturbar a música. Ambos representando o bem e o mal.

Acompanhando a carroça, estão o papa, o rei e o imperador, com seus séquitos, montados em seus cavalos, como se o feno pertencesse a eles por direito, sendo os donos de tudo, enquanto em volta da carroça, disputam homens e mulheres, usando escadas, garfos, ganchos e até mesmo as próprias mãos, para retirarem um pouco de feno para si, que, à época, era de fundamental importância no inverno. Alguns caem, em desespero, sob as rodas. Próximo aos diabos que conduzem a carroça é possível ver um monte de terra, com uma porta de madeira, de onde várias pessoas tentam sair. Com a presença do rei, papa e imperador, Bosch mostra que o poder terreno estava aliado ao espiritual.

A carroça está andando em direção ao Inferno, depois de ter deixado o reino da inocência, ou seja, o Paraíso, e os personagens irão pagar pelos pecados cometidos. Nem mesmo o trio de poderosos foi poupado por Bosch. Na parte superior da tela, em uma nuvem dourada, Cristo, mostrando suas feridas, olha para a humanidade com tristeza.

Na parte inferior da composição, há um grande número de personagens. Eles parecem alheios à passagem da carroça de feno. Estas pessoas estão envolvidas em enganar e roubar, sempre movidas pela ganância: um homem com um chapéu preto é um manipulador de marionetes, sendo que a criança próxima a ele pode ter sido roubada; uma cigana lê enganosamente a sorte de uma mulher, enquanto seu filho procura algo na saia dessa; um curandeiro causa sofrimento e trapaceia um cliente; uma freira busca pegar um demônio vestido de azul, que está tocando uma gaita de foles, que simboliza o pênis; três freiras enchem um enorme saco de feno pertencente a um monge bonachão, que tem um copo na mão, e rouba a Igreja. Atrás das cenas descritas, há muitas outras de assassinato.

Ao usar o feno como parte central da obra, o pintor El Bosco fez uma alusão às coisas mundanas, à efemeridade da vida e à tolice da ganância humana, diante de uma existência tão efêmera. Na sua pintura, o feno é usado pelos empregados de Satanás para corromper os homens arrogantes, avarentos e prepotentes, de modo a levá-los para o inferno. O feno também era tido, no século XVI, como o símbolo da falsidade e da fraude. Há duas versões dessa pintura.

Vejamos como Bosch demonstra os pecados mortais na sua tela:

  1. o papa, o rei e o imperador são os donos do carregamento de feno (Soberba);
  2. o homem de chapéu alto, acompanhado por uma criança, tendo às costas uma marionete, pode ser tido como um falso mendigo (Avareza);
  3. um curandeiro, diante de sua tenda com letreiros e frascos de pomadas, ludibria suas vítimas. Seu porta-moedas cheio de feno indica que ele é desonesto (Avareza);
  4. três freiras enchem um saco de feno, enquanto um frade, com sua barriga protuberante, bebe (Gula);
  5. o casal amoroso, de pé, no topo do monte de feno pode ser entendido como a representação da Luxúria;
  6. os dois homens brigando no centro da composição representam a Ira;
  7. o povo querendo pegar o feno, também pode representar a Inveja;
  8. um homem deitado debaixo das vestes de uma mulher com um bebê, pode significar a Luxúria, etc.

No Paraíso, visto à esquerda, são apresentadas cenas da criação: surgimento de Eva da costela de Adão, o pecado original e a expulsão do paraíso do casal. Os anjos indisciplinados, figuras pequenas semelhantes a insetos, na parte superior, também são expulsos. O pintor, em suas obras, criou para representar o diabo figuras híbridas, mistura de homem, animal e vegetal. No Inferno, visto à direita, o pintor apresenta o lugar com todos os seus horrores.

A temática principal de A carroça de Feno é a ganância humana. Desde os primórdios, tem sido essa a grande preocupação cristã, combatendo o triste paradoxo do excessivo amor aos bens materiais e o amor a Deus, coisa impossível de conciliar. Atualmente, o homem continua bem mais ávido pela riqueza, e pior, tenta tirar da natureza todos os seus tesouros, pois o feno não mais lhe interessa.

Ficha técnica
Ano: entre 1485 e 1500
Técnica: óleo sobre madeira
Painel central: 135 x 100 cm
Paineis laterais: 135 x 45 cm (cada um)
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fonte de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

Bosch/ Abril Coleções

Bosch/ Taschen