Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Rubens – A DEPOSIÇÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho

Peter Paul Rubens (1577 – 1640), filho do advogado Jan Rubens e de Maria Pypelinckx, nasceu em Siegen na Vestfália. Os primeiros onze anos de sua vida foram passados em Colônia, na Renânia, pois sua família teve que fugir da Antuérpia, para escapar da guerra entre católicos e calvinistas. Após a morte do pai, a mãe retornou com os filhos para Antuérpia, onde Rubens – católico devoto – estudou latim e tornou-se pajem na família real. Aos vinte e um anos foi inscrito como pintor na corporação de São Lucas, vindo a  tornar-se mestre. Quando estava prestes a completar trinta anos, Rubens partiu para a Itália, onde ficou a serviço de Vicenzo I Gonzaga – Duque de Mântua – de quem recebeu um missão diplomática na Espanha. Na Itália ele aproveitou para conhecer várias cidades, ficando mais tempo em Gênova e Roma.

A composição religiosa intitulada A Deposição é uma obra desse gênio da Escola Flamenga do longo do período barroco. Anteriormente foi atribuída ao pintor Van Dyck, mas foi pintada por Rubens durante sua primeira permanência em Roma. A influência da escultura romana faz-se presente nesta pintura, como mostram as laterais da mesa de pedra, onde foi depositado o corpo de Cristo descido da Cruz sobre uma mortalha branca. Ali se encontram esculpidas cenas de sacrifício. As figuras também mostram um relevo escultural. Junto a esta se encontra a coroa de espinhos.

O grupo em volta de Jesus Cristo – a partir da esquerda para a direita – é formado por José de Arimateia, próximo à cabeça do Mestre, amparando a Virgem; Maria com os olhos voltados para cima, observando os raios de luz que descem da área escura da pintura sobre o corpo do Filho, produzindo em sua pele as tonalidades do espectro e iluminando a tela; João, o amado apóstolo do Mestre; a chorosa Maria Madalena que aqui é mostrada com longos cabelos loiros e que traz o seio direito de fora e a mão direita sobre a mão de Jesus; e o que parece ser uma criança, debruçada sobre o corpo de Jesus, trazendo as mãos postas.

O Cristo de Rubens é mostrado em toda a sua humanidade, dentro de uma forte presença escultórica. Seu corpo lívido, com os membros azulados e já enrijecidos, tomba para trás, sendo amparado por uma jovem Maria que por sua vez é amparada pelo apóstolo João.

Ficha técnica
Ano: 1602
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 177 x 135 cm
Localização: Galleria Borghese, Roma, Itália

Fontes de pesquisa
Galleria Borghese/ Os Tesouros do Cardeal
http://www.peterpaulrubens.net/the-deposition

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Rafael Sanzio – DAMA COM UNICÓRNIO

Autoria de Lu Dias Carvalho

Giovanni de Santi – pai de Rafael – era um homem culto, dramaturgo de sucesso e estudioso que tinha excelentes relacionamentos. A pintura era o seu meio de ganhar a vida, embora fosse considerado sem talento para a profissão – crítica que nunca o desanimou – e nem o tornou invejoso, pois era humilde em reconhecer suas limitações e o talento dos colegas. Tinha grandes pintores no rol de seus amigos, inclusive o famoso Piero dela Francesca que chegou a se hospedar em sua casa. Tudo isso contribuiu para influenciar o filho a seguir seus passos. Rafael – ainda garoto – acompanhou seu pai numa visita ao grande mestre Perugino que se encontrava no ápice de sua fama. Segundo alguns críticos tal contato foi de grande valia para a sua formação precoce de pintor.

A composição intitulada Dama com Unicórnio é uma obra da juventude do artista, retratando uma dama da alta sociedade da época, mas que até hoje constitui um enigma para os estudiosos de arte em relação à sua identificação. Durante muito tempo esta obra foi modificada por adições e repinturas e transformada em Santa Catarina. Nela é possível notar a influência de Piero della Francesca e de Leonardo da Vinci com sua suave técnica do esfumato.

O pequeno unicórnio que repousa no colo da jovem mulher é outro enigma quanto à sua simbologia. Se visto de acordo com a tradição medieval, tratava-se de um perigoso animal que só podia ser preso por uma virgem, sendo um dos símbolos da Virgem Maria com seu Menino Jesus.

A mulher é representada sentada em primeiro plano, junto a um parapeito. Ela fita o observador com grandes olhos azuis. Seu rosto delicado é coroado por longos cabelos dourados, jogados para trás.  Um grande decote deixa à vista seu colo alvíssimo, ornado com um enorme colar que traz na ponta uma pedra vermelha e uma grande pérola barroca. Às suas costas abre-se uma extensa paisagem com água, montanhas e céu, em variados tons de azul.

Ficha técnica
Ano: 1506
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 66 x 55 cm
Localização: Galleria Borghese, Roma, Itália

Fontes de pesquisa
Galleria Borghese/ Os Tesouros do Cardeal
1000 obras-primas da pintura europeia/ Köneman

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Caravaggio – RAPAZ COM CESTO DE FRUTAS

Autoria de Lu Dias Carvalho

Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571–1610) nasceu no calmo povoado de Caravaggio, próximo à cidade de Milão e cujo nome acabou por incorporar-se a seu nome. Também existe a hipótese de que o pintor tenha nascido em Milão. Era filho de Fermo Meresi, arquiteto e decorador de Francisco Sforza – duque de Milão e marquês da pequena Caravaggio — e de Lucia Aratori. Aos cinco anos de idade vivia em Milão – cidade ocupada pela Espanha — com seus pais. Além das tensões geradas pela ocupação estrangeira, a fome e a peste também se faziam presentes. Em razão da peste a família do futuro pintor retornou ao povoado de Caravaggio que também acabou sendo alcançado pela doença que ceifou a vida do pai, do avô e do tio do garoto. Lucia, a mãe, optou por permanecer ali com os filhos, distanciando-se do fanatismo religioso e da violência política que se espalhavam por Milão.

A composição Rapaz com Cesto de Frutas é uma obra do artista que se encontra entre os grandes pintores de todos os tempos, sobretudo pela sua capacidade de inovação, guiada por sua audácia e originalidade. Esta pintura é um autorretrato de Caravaggio de quando ele tinha um pouco mais de 20 anos.

O rapaz, segurando uma enorme cesta de vime cheia de diferentes frutas e algumas folhas, sobressai do fundo neutro da tela, ocupando o centro da composição. Um jato de luz banha seu corpo, dando-lhe mais volume e projetando suas espátulas. Dois cones de sombra projetam-se à esquerda e à direita, como se fossem asas escuras. Por se tratar de uma pintura da juventude do artista, ainda não se encontra impregnada pelo tenebrismo caravaggesco que tanto viria a influenciar inúmeros pintores europeus na primeira metade do século XVII.

Não apenas a figura humana é representada sob um agudo senso de observação  quanto o cesto com as frutas e folhas. Diversas texturas são apresentadas com grande realismo: carne humana, o vime, pele dos pêssegos, uvas e romãs, assim como as diferentes folhas. Caravaggio foi sem dúvida alguma um dos primeiros a dignificar as naturezas-mortas, gênero até então desprezado na pintura.

Ficha técnica
Ano: 1593/94
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 70 x 67 cm
Localização: Galleria Borghese, Roma, Itália

Fonte de pesquisa
Galleria Borghese/ Os Tesouros do Cardeal
1000 obras-primas da pintura europeia/ Köneman

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Bronzino – VÊNUS, CUPIDO E AS PAIXÕES DO AMOR

Autoria de Lu Dias Carvalho

vencup

A composição denominada Vênus, Cupido e as Paixões do Amor, também conhecida por Alegoria de Tempo e Amor ou Uma Alegoria com Vênus e Cupido é uma obra do pintor italiano Agnolo Bronzino. Trata-se de uma pintura alegórica em que o amor é mostrado em suas várias facetas – obra típica da Contrarreforma.

Vênus – deusa da beleza e do amor – ocupa a parte central da composição, sendo abraçada por seu filho Cupido – o deus do amor – que segura seu seio esquerdo e sua cabeça. Na mão esquerda a deusa traz uma maçã e na direita segura a flecha de Cupido. Tais objetos representam as características ternas do amor, mas também seus aspectos inquietantes.

A pequena criança jogando rosas simboliza os prazeres que o amor promete. Sobre o manto azul, onde se encontra a deusa, à sua esquerda, estão presentes duas máscaras (a de uma jovem mulher e a de um velho), insinuando que o amor tem muitas personificações, não passando de ilusão as suas promessas. À sua direita está uma pomba que na simbologia pagã condizia com a inocência do amor em complemento aos seus aspectos puramente sexuais. A figura da pomba também está ligada à imagem de Vênus (Afrodite) e Cupido (Eros), deuses do amor, significando a efetivação dos desejos amorosos dos amantes.

Em segundo plano estão presentes outras facetas do amor, representadas pelas figuras humanas: a Malícia, o Ciúme, a Verdade e o Tempo – os maiores empecilhos para que o Amor torne-se prazeroso e eterno. Estão assim representados:

Tempo – velho com a ampulhet

Verdade – mulher, à esquerda, abrindo uma cortina azul;

Ciúme – figura arrancando os próprios cabelos;

Malícia – possui rosto suave, mas um corpo animalesco, com garras e cauda escamosa. Traz as mãos invertidas, disfarçando o que oferece. Numa das mãos está um favo de mel e na outra a própria cauda com um ferrão.

A cor pálida e esmaltada de Vênus, Cupido e do Prazer retira toda a sensualidade da cena ou qualquer ambiguidade que possa haver em relação ao que o artista quis mostrar.

Ficha técnica
Ano: c. 1543
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 146 x 116 cm
Localização: National Gallery, Londres, Grã-Bretanha

Fonte de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Géricault – O DERBY DE EPSOM

Autoria de Lu Dias Carvalho

O sensível pintor francês Jean-Louis-André Théodore Géricault (1791 – 1824) filho do advogado e comerciante Georges Nicolas e de Louise Jean-Marie Carruel foi um dos mais famosos, autênticos e expressivos artistas do estilo romântico em seu início na França. Sua mãe era uma mulher inteligente e culta. Desde a sua infância Géricault demonstrava interesse pelos desenhos e cavalos. Sua família mudou-se para Paris e sua mãe faleceu quando o garoto tinha dez anos, deixando-lhe uma renda anual. Na capital francesa o futuro artista tornou-se esportista, elegante e educado, frequentando os ambientes mais sofisticados. Embora seu pai não aprovasse a sua opção pela pintura, um tio materno resolveu o impasse, ao chamar o sobrinho para trabalhar com ele no comércio, mas lhe deixando um bom tempo livre para dedicar-se à pintura.

A composição intitulada O Derby de Epsom é uma obra-prima do artista, feita quando ele se encontrava na Inglaterra e ali esteve para expor “A Jangada da Medusa” que fora recebida com indiferença em seu país. Inspirando-se na famosa corrida do mesmo nome, o artista mostra uma aguçada observação da energia animal, ao descrevê-la. Como grande apreciador de cavalos e um apaixonado cavaleiro – tendo inclusive vindo a sofrer uma queda no final da vida, o que apressou a sua morte – Géricault pintou inúmeros quadros sobre o tema.

O quadro O Derby de Epsom – inspirado em estampas esportivas inglesas – encontra-se entre as obras mais apreciadas do pintor tanto pelo realismo que apresenta quanto pela sua vivacidade. Uma tonalidade leve e barrenta contribui para captar com fidelidade a atmosfera da corrida, repassando um grande clima de tensão. É o momento em que os cavaleiros forçam os animais que parecem voar.

Géricault centralizou na tela quatro cavalos com seus respectivos ginetes, praticamente em duas duplas. Um castanho e um preto tomam a dianteira, deixando um branco e outro castanho atrás. O artista alongou exageradamente os animais, efeito que sugere um ritmo crescente na corrida e também maior rapidez para fugir das nuvens pesadas prestes a desabarem. Os efeitos claro-escuro refletem com vigor a atmosfera da tempestade que não tardará a desabar sobre o local.

Uma das contribuições que o pintor deu com esta obra magnífica à pintura foi o fato de abrir caminho para a geração de pintores impressionistas que viriam a partir dele.

Curiosidade:
Segundo Eadweard Muybridge (fotógrafo inglês, reconhecido por seu trabalho pioneiro em estudos fotográficos de movimento) Géricault cometeu um erro ao apresentar as pernas dianteiras e traseiras dos cavalos estendidas para fora, pois isso nunca acontece com um cavalo a galope. Somente com a invenção da fotografia foi possível captar e analisar os vários movimentos de um animal galopante, o que faria Degas posteriormente em suas pinturas de pista de corrida.

Ficha técnica
Ano: 1821
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 92 x 123 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa
Gênios da pintura/ Abril Cultural
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
https://www.wga.hu/html_m/g/gericaul/1/111geric.html

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Géricault – CAVALO MALHADO ESPANTADO…

 Autoria de Lu Dias Carvalho

O sensível pintor francês Jean-Louis-André Théodore Géricault (1791 – 1824,) filho do advogado e comerciante Georges Nicolas e de Louise Jean-Marie Carruel, foi um dos mais famosos, autênticos e expressivos artistas do estilo romântico em seu início, na França. Sua mãe era uma mulher inteligente e culta. Desde a sua infância Géricault demonstrava interesse pelos desenhos e cavalos. Sua família mudou-se para Paris e sua mãe faleceu quando o garoto tinha dez anos, deixando-lhe uma renda anual. Na capital francesa, o futuro artista tornou-se esportista, elegante e educado, frequentando os ambientes mais sofisticados. Embora seu pai não aprovasse a sua opção pela pintura, um tio materno resolveu o impasse, ao chamar o sobrinho para trabalhar com ele no comércio, mas lhe deixando um bom tempo livre para dedicar-se à pintura.

A composição Cavalo Malhado Espantado pelos Relâmpagos é uma bela obra do artista que retratou realisticamente até mesmo a raça do animal. Esta tela comprova o quão fiel era Géricault com a realidade observada, o que o punha em desacordo com o espírito literário e idealista do neoclassicismo de sua época. O artista, fascinado por cavalos, fez inúmeros quadros retratando-os ora individualmente, ora em grupos e ora sendo montados.

O cavalo malhado, sem arreios e livre na natureza, encontra-se tenso, atento a qualquer movimento, amedrontado com os relâmpagos que riscam o céu tempestivo.

Ficha técnica
Ano: 1813
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 50 x 60 cm
Localização: Galeria Nacional de Londres, Grã-Bretanha

Fontes de pesquisa
Gênios da pintura/ Abril Cultural
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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