Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Delacroix – O SEPULTAMENTO

Autoria de Lu Dias Carvalho

Os detalhes são, em geral, medíocres e dificilmente passam por uma inspeção minuciosa. Por outro lado, o todo desperta uma emoção que me surpreende. (Delacroix sobre a pintura)

O pintor francês Ferdinand-Victor Eugène Delacroix (1798 – 1863) nasceu numa família rica. Seu pai Charles Delacroix, homem culto e de formação iluminista, fazia parte da alta burguesia, tendo sido embaixador da França, na Holanda, e a mãe, Victoire Oeben, era filha de um importante artesão que trabalhara para o rei Luís XV. Delacroix era o caçula dos quatro irmãos e, portanto, pertencia a um ambiente culto e aristocrático. Assim como o pai, os irmãos Charles-Henri e Henriette e também o tio pintor, Henri Riesner, tiveram uma grande influência na vida de Delacroix, sempre o apoiando em suas aspirações, pois desde criança ele já demonstrava inclinação pelo desenho.

A composição intitulada O Sepultamento ou ainda A Lamentação, obra do artista, mostra o amadurecimento de seu estilo, tendo sido comparada ao “Massacre de Chio”. Apresenta fortes contrastes de luz e sombra, o que acentua a sua dramaticidade e mudanças de cores vivas. É grande o contraste entre a mortalha branca que envolve parte do corpo inerte do Mestre e o manto vermelho de São João Evangelista assentado no chão, em primeiro plano, ambos se destacando contra o fundo escuro.

A pintura apresenta, em primeiro plano, um grupo desolado diante do corpo lívido de Jesus Cristo que acabara de ser descido da cruz e deposto sobre a pedra. Maria, sua mãe, em grande sofrimento é amparada por uma mulher. Ele acaricia os cabelos de seu filho martirizado. Outra mulher, possivelmente Maria Madalena, levanta a mortalha de Jesus para ver a extensão de seus ferimentos. Dois outros personagens, talvez José de Arimateia e Nicodemos, de pé, observam o corpo sem vida do Mestre. Um deles traz nas mãos um recipiente com unguento para passar em suas feridas. São João Evangelista que traz entre as mãos a coroa de espinhos de Jesus,  fixa-a com imensa tristeza.

Ao fundo, desenrola-se uma triste e sombria paisagem de céu baixo e nuvens escuras intensificando o desamparo em que se encontra o grupo. Três cruzes são vistas mais distante, duas delas trazendo ainda o corpo dos dois ladrões. Duas figuras – uma delas com um manto vermelho – são vistas caminhando em direção ao grupo, enquanto duas outras, à direita, afastam-se dele.

Ficha técnica
Ano: 1848
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 162  x 132 cm
Localização: Museu de Arte, Boston, EUA

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://www.mfa.org/collections/object/the-lamentation-christ-at-the-tomb-31074

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Dürer – MADONA E CRIANÇA COM PERA

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor Albrecht Dürer (1471 – 1528) foi o primeiro artista alemão a se preocupar com o real, ou seja, com o homem e a natureza, usando o método científico que tinha por base a observação e a pesquisa. Foi gravador, ilustrador, cientista, desenhista e pintor. Foi responsável por trazer o Renascimento para a Alemanha. Embora fosse um homem muito religioso que pendia para o misticismo, era dono de uma curiosidade ilimitada. Procurava compreender a aparência de todas as coisas perceptíveis através dos sentidos. Estava sempre em busca do novo. Era filho de um renomado mestre. A profissão do pai foi muito importante para que ele se enveredasse pelo caminho da arte, pois, naquela época, os ourives encontravam-se entre os mais importantes artesãos. Seus estúdios serviam de encontro para intelectuais e endinheirados.

A composição de fundo escuro intitulada Madona e Criança com Pera ou ainda Virgem e Criança Segurando um Pedaço de Pera é obra do artista e revela a sua capacidade criativa. O desenho sutil é preenchido por um poderoso claro-escuro a modelar as formas esculturalmente. A preocupação de Albrecht Dürer nesta pequena pintura não é sentimental, mas, sim, de estilo.

A Virgem mais se parece com uma camponesa com o filho nos braços. O artista não agregou símbolos religiosos à pintura para mostrar a divindade de Maria e Jesus, excetuando a roupa azul da Virgem, simbolizando sua virgindade e o véu transparente que reforça sua pureza, mas que poderiam passar despercebidos. Aqui são retratados em sua verdadeira humanidade.

Os olhos de Maria estão voltados para seu nu e rechonchudo Menino que se encontra sobre um pano azul, deitado em seus braços, como se o apresentasse ao observador. Na sua mãozinha esquerda ele traz a metade de uma pera. Mostra-se ativo, com a cabeça levantada e com seus olhos escuros direcionados a algo que se encontra diante de seus olhos.

A pera que o Menino Jesus segura – ao contrário da maçã que simboliza o pecado da humanidade – significa na iconografia renascentista o amor de Deus pela humanidade. A pera teve uma parte dela comida pela criança, como mostram as duas marcas de seus dentinhos, o que significa que o Menino está unido às suas criaturas.

Ficha técnica
Ano: entre 1512
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 49 x 37 cm
Localização: Museu de História da Arte, Viena, Áustria

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://www.wikiart.org/en/albrecht-durer/virgin-and-child-holding-a-half-eaten-pear-

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Degas – CARRUAGEM NAS CORRIDAS

Autoria de Lu Dias Carvalho

As coisas mais bonitas da arte vêm da renúncia. (Degas)

O pintor impressionista Edgar Degas (1834 – 1917) nasceu em Paris. Era o primeiro filho de Pierre-Auguste Hyacinth de Gas, banqueiro, e de Celéstine Musson. Tratava-se de uma tradicional família francesa, muito rica e culta. Seu pai era um homem que nutria grande admiração pelas artes, especialmente pela música e pelos pintores italianos do Renascimento, portanto, não causa surpresa o fato de o garoto ter mostrado sua vocação artística desde cedo.

A composição intitulada Carruagem nas Corridas ou também Nas Corridas no Campo é obra do artista. Além de ser uma paisagem é também uma cena do cotidiano da vida francesa da época e um retrato de família. A carruagem é vista em primeiro plano, conduzida por dois belos cavalos. Nela se encontram o amigo de Devas – Paul Valpinçon – sua esposa e uma ama de leite com o bebê do casal no colo. Um buldogue – de costas para o observador – encontra-se na boleia. Um dos cavalos traz uma rosa atrás da orelha.

Degas, um magistral colorista, usou de grande delicadeza na feitura desta pintura, como é possível ver através do verde delicado da paisagem, do azul-claro do céu, ornado com suaves nuvens brancas, dos amarelos e cor-de-rosa sutis das roupas e sombrinhas femininas, contrastando com os tons marrons e negros da carruagem e dos cavalos em primeiro plano.  Uma luz delicada irradia por toda a tela.

O artista mostra a influência japonesa sobre sua arte, ao colocar a carruagem e os cavalos fora do centro da composição, ou seja, no canto inferior da tela, à direita, o que deve ter sido muito audacioso para a época. Outro detalhe desta influência é o modo como ele arbitrariamente, cortou a tela nas bordas direita e inferior.

Ao fundo, em meio à paisagem, as pessoas assistem à corrida dos jóqueis, estando algumas delas montadas a cavalo e outras de pé. À esquerda, vê-se parte de uma charrete que é conduzida por um homem. Bem mais ao fundo são vistas algumas edificações e grandes árvores. A cena mostra um estilo inglês, o que era muito comum na França de então.

Embora tenha começado sua carreira levando em conta a tradição acadêmica, inspirado em Rafael e Ingres, Degas aderiu ao grupo impressionista. Este quadro encontra-se dentre os seus primeiros trabalhos feitos de acordo os ditames do grupo.

Ficha técnica
Ano: 1869
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 36,5 x 56 cm
Localização: Museu de Arte, Boston, EUA

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://www.mfa.org/collections/object/at-the-races-in-the-countryside-32250

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Manet – A CANTORA DE RUA

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor francês Édouard Manet (1832 – 1883) nasceu em Paris, numa família de classe alta, sendo seu pai juiz e sua mãe filha de um diplomata francês. Era o mais velho dos três irmãos: Eugène, que viria a se casar com a pintora Berthe Marisot e Gustave. Embora tivesse tido uma criação muito rigorosa, encontrando a oposição de seu pai em relação à carreira de artista, seu tio Édouard Fournier, irmão de sua mãe,  levava-o ao Louvre, para conhecer os grandes mestres da pintura e da escultura, vindo ele a tornar-se um reconhecido pintor.

A composição A Cantora de Rua é uma obra do artista. Manet sempre se opôs às intransigentes convenções acadêmicas da época, ditadas pelo gosto dos salões, ligando-se aos impressionistas. Usou um tema comum para compor um belo retrato. O pintor acreditava que a arte – desde que se tivesse uma atitude objetiva – poderia ser criada com o material mais humilde que o artista tivesse às mãos.

Esta obra foi inspirada no encontro imprevisto do artista com uma cantora de rua na parte velha da cidade de Paris, no início da noite. A mulher, segurando uma guitarra, saiu da taverna e levantou o seu longo vestido. Como ela houvesse se recusado a posar para ele, o artista usou como modelo Victorine Meurent, sua modelo predileta.

A mulher, usando sua longa saia acinzentada e casaco da mesma cor, enfeitado com preto, traz na cabeça um chapéu escuro. Seus olhos estão fixos no observador. A mão esquerda segura uma guitarra e a direita leva cerejas à boca. Um pano amarelo, no qual repousa um cacho de cerejas, descansa na confluência de seu braço e antebraço esquerdos. Ela traz a saia levantada, deixando à vista uma pequena parte da anágua. Seu rosto branco com olhos escuros lembra uma máscara oriental.

Como era costume no que diz respeito aos trabalhos de Manet, o tema e a pintura não agradaram os críticos acadêmicos da época. Eles acharam a pintura mal feita, contudo, o renomado romancista Emílio Zola, grande amigo do pintor, admirou as belezas formais da composição e a sua interação com a vida real.

Ficha técnica
Ano: c. 1862
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 171 x 106 cm
Localização: Museu de Arte, Boston, EUA

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://www.mfa.org/collections/object/street-singer-33971

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Van Gogh – O CARTEIRO ROULIN

Autoria de Lu Dias Carvalho

 Agora estou trabalhando com outro modelo, um carteiro de uniforme azul, adornado com ouro, um grande rosto barbado, muito parecido com Sócrates. (Van Gogh em carta a Theo)

O genial pintor holandês Vincent van Gogh (1853 – 1890) é, sem sombra de dúvidas, um dos grandes nomes da pintura universal, mas não é fácil falar sobre ele, pois suas paixões e sentimentos estão ligados à arte de tal forma que não é possível ater-se ao seu trabalho sem mergulhar na nobreza de sua alma impregnada de bons ideais, aos quais se entregou, a ponto de sacrificar a própria vida, pois nele tudo funcionava como um todo indivisível e exacerbante ao extremo. Contudo, a sua genialidade artística só foi reconhecida após sua morte. Mesmo tendo pintado 879 quadros em menos de uma década, só conseguiu vender um, A Vinha Vermelha, por um valor insignificante. Atualmente suas pinturas estão entre as mais caras do mercado das grandes obras de arte. Em 1990, o retrato O Dr. Gachet foi vendido por 82 milhões de dólares. Uau!

A composição denominada O Carteiro Roulin é uma obra do artista. Joseph Roulin foi um grande amigo que Van Gogh arranjou em Arles, quando ali passou dias atormentados em razão de seus transtornos mentais. Em sua correspondência a seu irmão Theo ele o mencionava sempre. Este não o único retrato do amigo pintado pelo artista, pois dele fez cinco, mas é o único completo, pois os outros só o retratavam da cabeça aos ombros. O pintor usou vários membros da família Roulin como modelos.

Joseph Roulin é mostrado como um personagem altivo, de olhar direto e penetrante. Está sentado numa cadeira, de frente para o observador. Traz o braço esquerdo apoiado sobre uma mesa verde e a direita no braço de sua cadeira. Suas mãos parecem nervosas. Sua barba é grande e compacta.  Seu corpo ocupa a maior parte da tela de fundo claro. Veste uma farda azul com oito grandes botões dourados na frente e um quepe onde se encontra escrito a palavra “Postes”.

Ficha técnica
Ano: 1888
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 81,5 x 65,5 cm
Localização: Museu de Arte, Boston, EUA

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Cézanne – SRA. CÉZANNE EM UMA…

Autoria de Lu Dias Carvalho

Não se mova, as maçãs não o fazem! (Cézanne)

Quero fazer do impressionismo uma arte tão sólida quanto a dos museus. (Cézanne)

O pintor francês Paul Cézanne (1839 – 1906) era filho do exportador de chapéus Louis-Auguste Cézanne, que depois se tornou banqueiro, e de Anne-Elisabeth-Honorine Aubert, tendo nascido na pequena cidade de Aix-en-Provence. Teve duas irmãs – Marie e Anne – nutrindo uma relação mais forte com a primeira, que sempre tomava o seu lado em relação ao autoritarismo do pai. Cézanne e Marie nasceram quando seus pais ainda mantinham uma relação secreta.

A composição intitulada Senhora Cézanne em uma Poltrona Vermelha é uma das obras-primas do artista. Trata-se de um retrato de sua esposa Horteze Fiquet, ex-modelo de artistas, que inúmeras vezes serviu de modelo para ele. Posou para Cézanne em cerca de trinta retratos. O desenho bem estruturado da obra em que a cor predomina sobre o traço, a luz e a sombra é uma contribuição à pintura europeia.

A sólida figura da senhora Cézanne, sentada em sua poltrona estofada de vermelho que forma um grande bloco de cor, trazendo as mãos entrelaçadas, toma grande parte da tela, ficando ela bem próxima ao observador. Seu corpo está ligeiramente inclinado para a sua direita e o rosto sério com olhos castanhos não expressa emoção. Ela veste uma blusa cinza-azulado que traz um grande laço na frente. A saia possui largas listras verticais. Os cabelos castanhos estão arrumados num coque no alto da cabeça.

A parede atrás dela é de um amarelo-esverdeado com motivos azuis. Ela se mostra totalmente imóvel, como era de gosto do artista que era muito perfeccionista e lento. Seu rosto e mãos estão pintados com pequenas áreas de cores que lhes dão forma. Este imenso retrato apresenta muitos blocos de cores, delicadamente variadas, compondo um todo de grande harmonia.

Ficha técnica
Ano: 1877
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 73 x 56 cm
Localização: Museu de Arte, Boston, EUA

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://www.mfa.org/collections/object/madame-c%C3%A9zanne-in-a-red-armchair-

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