Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Rafael – PARNASO

Autoria de Lu Dias Carvalho

Rafael Sanzio e sua oficina pintaram um afresco em cada um dos quatro muros interiores da Stanza della Segnatura, no Palácio do Vaticano, em Roma. Tais afrescos representam as quatro áreas do conhecimento humano: filosofia, religião, poesia e direito.  São assim chamados: A Escola de Atenas, A Disputa do Sacramento, As Virtudes Teologais e Parnaso.

O afresco intitulado Parnaso representa a poesia. A palavra “parnaso” significa “morada simbólica dos poetas”. Trata-se de um tema muito conhecido na literatura e que vem desde Homero até Virgílio, passando por Dante e Petrarca. Ao transpô-lo para a pintura, Rafael modernizou-o, dando-lhe a forma do “repouso” humanista, onde podem conviver divindades mitológicas, antigos videntes e poetas. Na sua obra está presente o mitológico Monte Parnaso, morada de Apolo, que se encontra no centro da composição, sentado, tocando uma “lyra de bracio”, típica do período do Renascimento.

O deus Apolo, ponto focal da obra, traz a cabeça envolta por uma coroa de louros. Encontra-se sentado debaixo de loureiros.  Está cercado por nove musas (elas personificam os nove tipos de arte), nove poetas da Antiguidade e nove poetas contemporâneos do artista, tais como: Homero, Safo (única poetisa), Anacreon, Dante, Ovídio, Virgílio, Horácio, Bocaccio, Ariosto, Petrarca, dentre outros, o que demonstra a intemporalidade da arte poética. À direita de Apolo está Calíope, a musa da poesia épica, sentada, e vestida de branco.

Homero, o famoso poeta épico da Grécia Antiga, a quem se atribui os poemas épicos “Ilíada” e “Odisseia”, já cego, encontra-se à esquerda, de pé, vestido com uma túnica azul escuro. Seu rosto foi baseado no de Laocoon da famosa escultura clássica chamada “Laocoon e Seus Filhos” (presente aqui no site). Ele está ladeado pelos poetas Dante (à esquerda) e Virgílio (à direita), sendo acompanhado por um jovem, sentado à sua direita, que toma nota de sua poesia oral.

Ficha técnica
Ano: 1509/10
Técnica: afresco
Dimensões: 670 cm de base
Localização: Museus do Vaticano, Roma, Itália

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirado
http://www.umich.edu/~homeros/Artgallerypages/raphael.htm
http://www.wga.hu/html/r/raphael/4stanze/1segnatu/3/parnass.html

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Boucher – ALEGORIA DA MÚSICA

Autoria de Lu Dias Carvalho

O gravador, desenhista e pintor francês François Boucher (1703 – 1770) era filho de um artista que criava padrões para bordados e ornamentos. Iniciou sua vida artística ainda muito jovem, como aprendiz de Fraçois Lemoyne, onde ficou por um breve tempo, vindo depois a trabalhar para Jean François Cars, um gravador de cobre. Aos 20 anos de idade recebeu o “Grand Prix de Rome” que era um incentivo aos novos artistas.

A composição intitulada Alegoria da Música é uma obra do artista, tido como sucessor de Watteau na pintura de temas galantes. Embora François Boucher fosse dono de um repertório vasto, tinha predileção pelos temas mitológicos e alegóricos. Em suas pinturas sempre aparecia uma jovem e bela mulher pousando sensualmente. Ele retratava, muitas vezes, o requinte dos ambientes luxuosos, sendo por isso criticado pela burguesia progressista.

A cena mostra uma jovem em cima de uma imensa nuvem, sentada de perfil, com a cabeça voltada para a esquerda, onde se veem dois querubins. Seus cabelos dourados, presos, deixam à vista seu esguio pescoço. Ela veste uma túnica branca que deixa a descoberto o seio esquerdo e, sobre ela, um manto azul. Entre suas alvas pernas está um manto vermelho que se espalha à sua esquerda e sobre o qual descansam um livro de pautas, duas rosas e um casal de pombas.

Instrumentos musicais e um livro de pautas são os atributos da mulher e encontram-se em torno dela. Os dois pequenos anjos nus dirigem-se à jovem. Um deles segura uma flauta doce na mão esquerda e uma coroa de louros na direita. Uma pomba branca parece pousar no ombro da jovem, próxima ao braço do anjo. Outro anjo brinca com as cordas da lira que a jovem mulher segura. O casal de pombos, próximo ao livro de pautas, encontra-se de costas para o pequeno grupo.

Ficha técnica
Ano: 1764
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 103,5 x 130 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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Mantegna – JUDITE E HOLOFERNES

Autoria de Lu Dias Carvalho

A composição intitulada Judite e Holofernes ou Judite com a Cabeça de Holofernes já figurou na coleção do Rei Charles I da Inglaterra, como sendo um trabalho de Rafael Sanzio, mas é na verdade uma obra do pintor italiano Andrea Mantegna. Só foi reconhecida como trabalho de Mantegna em 1918, o que foi confirmado depois pelos peritos do artista. Mantegna nutria grande predileção por este tema. A temática, tirada dos livros apócrifos da Bíblia, e que traz a idealização de uma mulher judia que decapitou um homem poderoso e mau, foi muito usada  na arte renascentista por diversos pintores.

A cena, simples e clara, acontece dentro de uma tenda aberta, que é o abrigo do general Holofernes em campanha. Ali se encontram Judite, sua serva e o corpo sem vida do general babilônico sobre uma cama, do qual só se vê o pé direito, mas o bastante para contar toda a história. A heroína aproveita-se da embriaguez do inimigo de seu povo para decapitá-lo. Durante o Renascimento, Judite passou a simbolizar a virtude cívica da intolerância à tirania, quando o bem triunfa sobre o mal.

Judite, com o olhar voltado para fora da tenda com suas abas abertas em forma de cortina, traz na mão direita a cabeça de Holofernes e na esquerda a espada com a qual o decapitou. Ela não repassa nenhum tipo de emoção, mostrando-se calma, ciente do que acabara de fazer. Uma criada, visivelmente aturdida diante da cena aterradora, abre um saco para que ali seja colocada a cabeça que sua senhora ainda segura pelos cabelos. O pé visto na cama leva o observador a imaginar um corpo ali estendido, não sendo necessário mais do que isto.

A heroína é retratada de pé, como se fosse uma estátua clássica, como mostra a postura de seu corpo, num contraponto tortuoso mostrando a influência do escultor Donatello sobre o artista. Ela usa uma túnica branca, drapeada, como as vistas nas estátuas clássicas, envolta por um manto azul que deixa seu colo, ombro e braço esquerdos a descoberto. Apenas parte de suas sandálias exóticas está à vista. Seus cabelos cacheados caem-lhe pela testa e costas. Chamam a atenção a perícia e criatividade do artista na feitura do turbante branco da criada.

O painel possui cores brilhantes e variadas. O contraste entre o vermelho do manto da criada e o amarelo de sua túnica, cores que se fortalecem com o fundo escuro da tenda rosa e do céu noturno, é típico do artista. O piso da tenda é feito de lajes de pedra, estando algumas  bem desalinhadas, e terra.

Ficha técnica
Ano: c.1495/1500
Técnica: painel
Dimensões: 30 x 18 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://www.nga.gov/content/ngaweb/Collection/art-object-page.1181.html

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Manet – ESTAÇÃO SAINT-LAZARE

Autoria de Lu Dias Carvalho

Visitantes e críticos acharam o assunto desconcertante, a composição incoerente e a execução esboçado. Os caricaturistas ridicularizaram a pintura, e apenas uns poucos reconheceram o símbolo da modernidade que se tornou hoje. (Isabelle Dervaux, historiadora)

A composição intitulada Estação Saint-Lazare ou A Ferrovia é uma obra-prima do pintor francês Édouard Manet, tendo sido pintado quase que integralmente ao ar livre. Ao ser exposta pela primeira vez, no Salão de 1874, quando aconteceu a primeira exibição impressionista, foi recebida sem nenhum entusiasmo pela crítica e pelo público, como acontecera ao artista em relação a outras obras. Alguns, entretanto, defendiam o trabalho do pintor, aludindo à sua obra como uma pintura “cheia de luz”. Contudo, nenhum contemporâneo do artista foi capaz de reconhecer a excepcionalidade desta pintura que é vista hoje como uma das grandes inovações do século XIX.

A cena acontece um pouco acima dos trilhos da estação de Saint-Lazare, perto da oficina de Manet e bairro de Batignolles. A vista pintada é observada de cima para baixo, do jardim de Alphonse Hirsch, amigo do pintor. As duas personagens dominam totalmente a composição que conta com uma grade, trilhos, uma nuvem de fumaça e vapor, algumas fachadas de edificações grosseiramente esboçadas, etc. A garotinha representada é filha do amigo em questão e a mulher, com um cãozinho a dormir profundamente em seu colo, é Victorine Meurent, modelo preferida do artista, sendo este o seu último trabalho com Manet.

A mulher e a criança estão encerradas num pequeno espaço, limitado por uma pesada e escura grade de ferro que vai de canto a canto da composição, achatando o primeiro plano e separando-o do segundo. Na edificação, à esquerda, estava localizado o estúdio onde o pintor ensinava seus alunos. No parapeito, onde a grade de ferro está fixada, estão, à direita, dois cachos de uvas, possivelmente para lembrar que a pintura foi feita no outono. O cãozinho presente pode ser uma alusão à “Vênus de Urbino”, do pintor Ticiano.

A mulher, sentada à esquerda, de costas para a vista e de frente para o observador, usa um vestido azul-escuro com grandes botões redondos e detalhes brancos. Seus longos cabelos ruivos, cobertos por um chapéu preto, adornado com flores, caem-lhe pelas costas e ombro esquerdo. Tudo em conformidade com a moda da época. Ela retira os olhos de seu livro, marcando as páginas com os dedos, para fitar o observador, como se o interrogasse. A criança que se posta de frente para a vista e de costas para o observador, olha para longe. Ela usa um vestido branco com detalhes em azul, contrapondo-se ao da mulher. Traz os cabelos claros presos numa fita preta, semelhante à que a mulher usa no pescoço.

Ainda se vê uma densa nuvem de fumaça e vapor, deixada pelo trem que acabara de passar, responsável por tornar o céu acinzentado. O artista não viu a necessidade de representar a locomotiva, sendo tal nuvem suficiente para a compreensão do observador. É possível ver a assinatura do pintor e a data em que a obra foi concluída, embaixo, à direita.

Ficha técnica
Ano: c. 1873
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 93 x 114 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://www.nga.gov/feature/manet/manetbro.pdf
https://impressionados.wordpress.com/2014/07/11/obras-12/

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Degas – MADEMOISELLE MALO

Autoria de Lu Dias Carvalho

A composição Mademoiselle Malo é uma obra do pintor impressionista Edgar Degas. Ele fez diversos retratos dessa mesma mulher, possivelmente uma simples bailarina da Ópera de Paris, mas que chamou a sua atenção. Ela não era provida de beleza convencional, o que nos leva a crer que o pintor preferisse retratar a sensibilidade e a distinção de sua personalidade.

A mulher, sentada numa poltrona colorida, traz o seu olhar fixo num ponto invisível, perdida em seus pensamentos. Usa um vestido escuro que deixa apenas sua pequena cabeça e parte da mão direita e do antebraço esquerdo de fora. Seu rosto iluminado destaca-se na composição, chamando a atenção do observador. Seus cabelos, repartidos ao meio e presos atrás, são tão escuros quanto sua vestimenta.

O fundo da tela está salpicado de delicadas flores brancas e amarelas. O artista usou em sua tela tons marrons, pretos e verdes, que se tornam mais serenos com o ouro e o branco prateado das flores que parecem uma cascata de luz a cair detrás da cabeça da retratada.

Ficha técnica
Ano: c. 1877
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 81 x 65 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
http://www.edgar-degas.net/mlle-malo.jsp

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Toulouse-Lautrec – RUE DES MOULINS

Autoria de Lu Dias Carvalho

Ele escolhe pessoas notoriamente vulgares: salões de bailes com decorações miseráveis, corpos de mulheres cansadas ou sem nenhuma graciosidade – não para mostrar-lhes a feiura, mas para descobrir-lhes o frescor que outro olho qualquer não perceberia. Em resumo, Lautrec mostra o contrário daquilo que representa. E é exatamente essa procura pela pureza, essa sua necessidade do absoluto que o levam a buscar uma inspiração cada vez mais distante da sociedade aristocrática e culta, na qual ele nasceu. (Geneviève Dortu)

A composição intitulada Rue des Moulins é uma obra do artista francês Henri-Mari-Raimond de Toulouse-Lautrec que, além de boêmio e de ter grande fascinação pelas prostitutas, gostava de retratar a vida dos bordéis parisienses de Montmartre. O artista era um aristocrata excêntrico e inconformado com a hipocrisia moralista. Ele foi grandemente influenciado pela arte de Edgar Degas.

Toulouse-Lautrec tornou-se um frequentador contumaz do Moulin de la Gallete, retratando seus frequentadores e posteriormente do Moulin Rouge, casa luxuosa de espetáculos, inaugurada em 1889, onde se reuniam pessoas das mais diferentes classes.

A cena acima, mostrada pelo artista, retrata a vida de duas prostitutas num bordel de Paris, na Rue des Moulins, local em que o artista viveu durante certo tempo. Ele não as mostra com sensualidade, deboche ou preconceito, mas com total imparcialidade, meramente como seres humanos. As duas mulheres ocupam o centro da tela, perfiladas – uma atrás da outra.

As duas personagens assim se encontram – despidas da cintura para baixo –, porque irão fazer o exame médico obrigatório para prostitutas,  a fim de detectar doenças sexualmente transmissíveis. Naquela época, os bordéis parisienses passavam por inspeções policiais e tais exames eram rotineiros. Tinham como objetivo proteger a clientela, sobretudo, contra a sífilis, doença infecciosa e contagiosa, transmitida principalmente através do contato sexual. O próprio artista foi vitimado por tal doença.

As duas meretrizes encontram-se seminuas, com a vestimenta recolhida na parte superior e usam grandes meias pretas que descem a partir dos joelhos. A primeira, à direita, tem os cabelos ruivos, tendo sido muitas vezes retratada pelo artista. A segunda, um pouco mais alta, tem os cabelos loiros. À esquerda são vistos o vulto de um homem, usando um casaco escuro, de costas para o observador, e a cabeça de uma mulher, postada de frente, entre o vulto e a meretriz de cabelos ruivos.

Ficha técnica
Ano: 1894
Técnica: papelão montado sobre madeira
Dimensões: 83 x 61 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://www.sartle.com/artwork/the-medical-inspection-henri-de-toulouse-lautrec

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