Recontado por Lu Dias Carvalho
A corte de Periando, rei de Corinto, era servida por um refinado músico de nome Árion. Ele era exímio naquela arte. Por esta razão, era também o preferido do rei. Contudo, seu coração de artista queria ir além. Quando surgiu uma competição fora do reino, ele partiu para dela participar, sob os protestos de seu soberano, alegando que o talento que recebera também deveria estar à disposição de outras pessoas, e, que o prêmio, se conquistado, dar-lhe-ia ainda maior prazer. Conforme se esperava, ele foi o ganhador. Ele não via a hora de chegar e mostrar a seu soberano o valioso tesouro que ganhara.
Nem tudo foram flores na volta de Árion ao reino de Corinto. No segundo dia de viagem, já em alto mar, ouviu os marinheiros tramarem contra sua vida, com a finalidade de tomar o seu tesouro. Nada lhe restava a fazer, senão esperar. Pouco tempo depois, foi cercado pelo bando, que lhe pediu que escolhesse morrer dentro da nau ou no mar. O músico rogou-lhes tempo para que se preparasse para morrer como um trovador, após entoar seu canto de morte sob os acordes de sua lira. Vestiu suas belíssimas roupas de menestrel, e, acompanhado de seu instrumento musical, foi até o convés do barco, de onde cantou, enaltecendo a sua lira e os heróis do Elísio, que já haviam atravessado as águas escuras que levavam ao reino dos mortos. A seguir, Árion pulou no mar, que se abriu para recebê-lo, cobrindo-o com suas espumas.
O destino final do bardo ainda não estava traçado. Enquanto cantava e tocava sua lira, antes de saltar no mar, seus acordes atraíram os moradores das profundezas marinhas, como se Galateia, a rainha das profundidades, tivesse enviado-os. Um golfinho resgatou-o, oferecendo-se como montaria, levando-o são e salvo para a costa, de modo que Árion, caminhado e tocando, não demorou a chegar ao reino de Periando, onde foi recebido com grande júbilo. Contou ao rei todos os acontecimentos adversos de sua viagem, deixando-o contrariado com tamanha perversidade.
A nau dos criminosos não tardou a chegar ao porto. O rei perguntou-lhes pelo músico. Os marinheiros responderam-lhe que fora o ganhador de um valioso prêmio, tendo ficado em Tarento, gozando de muita prosperidade. Mal terminaram de contar a mentira, Árion surgiu, fitando-os. Pensando se tratar de um deus, eles contaram toda a verdade, sendo banidos de Corinto para uma terra bárbara, sem o direito de jamais voltarem.
Nota: Árion sobre um cavalo marinho, obra de William-Adolphe Bouguereau
Fontes de Pesquisa
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM
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