Arquivo da categoria: Música

Estudo sobre os grandes nomes da pintura mundial, incluindo o estudo de algumas de suas obras

Raízes da MPB – NELSON CAVAQUINHO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Lupicínio Rodrigues canta a dor de cotovelo (…) cornitude (…), algo bem concreto, identificável e estreitamente relacionado como uma situação definida. (…) Nelson Cavaquinho é cantor da melancolia e da angústia existenciais, ambas ligadas ao grande mistério da vida e seu corolário inevitável – a morte. (José Novaes, professor de psicologia da UFF)

Existencialista? Beatnik? Hippie? Punk? Ninguém pode chamar de carreira artística, no sentido formal, a trajetória errante do bardo carioca Nelson Antônio da Silva, o Nelson Cavaquinho. (Tárik de Souza, jornalista de música)

O compositor, cantor, violonista e cavaquinhista Nelson Antônio da Silva nasceu na cidade do Rio de Janeiro/RJ, em 1911. A lavadeira Maria Paula da Silva e Brás Antônio da Silva, tocador de tuba da Banda da Polícia Militar, eram seus pais.

A influência do pai e de um tio violinista logo se fez presente na vida do menino, mas como a família passava por dificuldades, ele teve que começar a trabalhar cedo. Chegou até mesmo a tentar ser jogador de futebol. Acabou conhecendo músicos como Juquinha, que o adestrou no cavaquinho chorão, Mazinho do Bandolim e Edgar Flauta da Gávea. Alguns dos músicos conhecidos formaram um conjunto e convidaram o garoto para tocarem juntos, de modo que aos 16 anos de idade, ele assinou a sua primeira composição, o choro Queda. Quando trabalhava como bombeiro hidráulico, passou a frequentar uma roda de choro e ali ficou conhecendo os irmãos Romualdo e Luperce Miranda.

Ao se casar com Alice Ferreira Neves, Nelson Antônio da Silva viu-se em dificuldades financeiras. O pai levou-o então para a Cavalaria da Polícia Militar, para que o filho malandro tivesse um emprego fixo. Mas o serviço levava-o ao mundo da música. Quando patrulhava o Morro da Mangueira, parava nos botequins para encontrar os sambistas Carlos Cachaça, Zé com Fome e Portela, dentre outros. Segundo contam, certa vez, sua montaria voltou sozinha para o quartel, enquanto o dono bebia todas. O soldado boêmio acabou recebendo baixa devido às suas inúmeras punições. Depois disso acabou trabalhando com curtume.

Dois profissionais gabaritados do mercado musical, Rubens Campos e Henricão, entraram como parceiros em Não Faça a Vontade Dela, mas o disco não obteve sucesso, pois, só saiu em edição particular, de modo que, sem dinheiro, Nelson foi obrigado a vender parcerias, coisa muito comum na época, muitas vezes para pessoas que não tinham nada a ver com música.

Nelson iniciou sua carreira musical com o choro, mas acabou se mudando para o samba, após o convívio com os sambistas do Morro da Mangueira, trocando o cavaquinho pelo violão.

O carioca Guilherme do Ponto foi um dos parceiros mais importantes de Nelson, que preferia um lugar no Cabaré dos Bandidos, ao efervescente meio musical carioca. Era tão avesso a horários, que sua mãe morreu e foi sepultada sem que disso ele tivesse conhecimento. Encontrava-se em uma de suas triplas noitadas. E, em razão de sua vida boêmia, separou-se da esposa, deixando três filhos, todos homens.

Nelson começou a sair do semi anonimato, quando participou de uma roda de música, proposta por Cartola e que acabou dando origem ao Zicartola (ver texto sobre Cartola), onde se reuniam antigos e jovens compositores, assim como intelectuais, jornalistas e artistas das mais diferentes áreas.

Nara Leão, musa da bossa-nova, foi a responsável por revelar Nelson Cavaquinho para a classe média, ao gravar no seu disco, em 1964, a canção Luz Negra, feita de parceria com Amâncio Cardoso. Daí para frente, não lhe faltavam intérpretes, sendo admirado, inclusive, por Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) que produziu seu primeiro “Song book”.

Durvalina Maria de Jesus foi a última esposa de Nelson Cavaquinho que, além de beber, fumava compulsivamente. Morreu aos 75 anos de idade, em 1985, de enfisema pulmonar. Beth Carvalho é a principal intérprete do músico.

Nota
Acessem o link abaixo para ouvirem Folhas Secas
http://www.youtube.com/watch?v=kV8SyD2QF9w

Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/Coleção Folha de São Paulo

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Raízes da MPB – JACOB DO BANDOLIM

Autoria de Lu Dias Carvalho chiquinha1

Selecionar faixas dentro da discografia construída ao longo de duas décadas por Jacob é um desafio, pois sempre ficarão de fora gravações espetaculares. Trata-se da melhor discografia de um solista brasileiro de todos os tempos: numerosa, homogênea em qualidade e muito coerente em termos de repertório. (Henrique Cazes, músico, produtor, arranjador e escritor)

O compositor e instrumentista Jacob Pick Bittencourt nasceu na cidade do Rio de Janeiro/RJ, em 1918,era filho do farmacêutico capixaba Francisco Gomes Bittencourt e da polonesa Rachel Pick.

Na parte de baixo do sobrado em que moravam Jacob e sua família, vivia um francês que tocava violino, e que ficara cego na Primeira Guerra Mundial. O menino solitário deliciava-se com suas músicas. Ganhou um violino, mas não se adaptou com o arco do instrumento, partindo inúmeras cordas. Resolveu então mudar para um bandolim, aprendendo a tocar sozinho. Era um autodidata. E, como quem gosta de música está sempre com o ouvido em alerta, certo dia, quando vinha de uma festa, ouviu um choro solado pela clarinete de Luiz Americano. Em casa, tentou reproduzir a melodia que ouvira. A partir daí nasceu a paixão de Jacob pelo choro.

Quando tinha 15 anos de idade, Jacob fez sua estreia na Rádio Guanabara. E, ao sair vencedor do concurso Programa dos Novos, com o conjunto Jacob e sua Gente (Valério Farias, Roxinho, Osmar Menezes, Carlos Gil, Manoel Gil e Natalino Gil), passou a se dedicar totalmente à carreira de solista. Seu conjunto tocava em rádios, ganhando pequenos cachês. E, quando Osmar Menezes morreu, um dos integrantes do conjunto Jacob e Sua Gente, Benedito César Ramos de Faria, pai de Paulinho da Viola, entrou em seu lugar como violonista.

Ao resolver se casar com Adylia Freitas, Jacob teve que prometer ao pai da futura mulher que não dependeria da música como sustento de sua futura família. De modo que, paralelamente à profissão de artista, Jacob sempre exerceu outras atividades como vendedor, agente de seguros e títulos, prático de farmácia, etc. Chegou a ser dono de um laboratório e duas farmácias. Logo vieram os filhos Sérgio e Elena.

Quando gravou com Ataulfo Alves, em 1940, alguns sambas, incluindo o clássico Ai, que saudades de Amélia, sua genialidade começou a ser notada. Mesmo assim, Jacob fez um concurso público para escrivão da justiça, no qual trabalhou até se aposentar, cumprindo a promessa feita ao sogro.

Foi a esposa Adylia quem insistiu para que Jacob voltasse para a vida artística. Ele formou um novo grupo, composto por César Fria, Fernando Ribeiro, Pinguim e Luna, passando a gravar discos na gravadora Continental. Depois, transferiu-se para a RCA Victor. Ao deixar a gravadora Continental, um novo artista assumiu seu lugar, Waldir Azevedo, que já estreava o clássico Brasileirinho, vindo depois o baião Delicado e Pedacinhos do Céu, o que acabou mexendo com o ânimo de Jacob. Mas, ele não deixava de dar o melhor de si, aperfeiçoando-se em tudo que fazia. Além de começar a escrever suas próprias composições, também tinha a preocupação de anotar música de autores antigos, para que essas não viessem a se perder com o tempo.

Jacob foi responsável por trazer Ernesto Nazareth, sofisticado compositor, para o choro, ao gravar oito músicas de sua autoria, adaptando-as para o bandolim e conjunto regional. Daí para frente, os chorões sentiram mais facilidade para tocar as músicas do erudito compositor. Jacob também se preocupou em trazer para cena os chorões da velha guarda como Álvaro Sandim e Juca Kalut, entre outros, deixando um rico acervo para a música popular brasileira. Foi o criador do instrumento chamado “violinha”, responsável por enriquecer as canções mais românticas.

Jacob passou a trabalhar com o regional do Canhoto. Como sempre, sua produção era regular e de elevado nível de qualidade. Seu maior sucesso foi o choro Cariocas. E, para atender os diretores da RCA, alegando que a vendagem de seus discos era baixa, Jacob aceitou solar músicas de sucesso com o acompanhamento de uma orquestra, nascendo o LP Época de Ouro, que também viria a ser o nome de seu conjunto. Ele adorou o disco, apontando-o como o seu melhor trabalho, mesmo não trazendo choro, mas apenas sambas e valsas. Gravou depois, com orquestra, Valsa Brasileiras de Antigamente.

Quando Canhoto trocou de gravadora, Jacob montou o seu grupo, o inesquecível Conjunto Época de Ouro, composto por competentíssimos instrumentistas: César Faria, Carlinhos Leite, Horondino Silva, o Dinu, Jonas e Gilberto D’ávila. Tudo como ele queria, sendo sempre muito exigente em relação à qualidade do que fazia, sendo possível ver em Assanhado, em A Ginga do Mané e no Voo da Mosca, a preciosidade do seu trabalho.

Em 1964, Jacob gravou aquilo que considerava seu grande sonho: a Suíte Retratos para bandolim, regional e orquestra de corda, dedicada a ele pelo maestro Radamés Gnattali, em 1956. Cada movimento trazia homenagem a um pioneiro da música brasileira: Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Anacleto Medeiros e Chiquinha Gonzaga. Embora não tivesse feito sucesso entre os chorões, Suíte Retratos iniciava as mudanças que o choro viveria muitos anos depois. Em 1967, gravou o disco Vibrações, tido pela crítica como o mais completo de sua carreira.

Jacob do Bandolim morreu em 1969, aos 51 anos, de seu segundo infarto, quando retornava da casa de seu amado Pixinguinha.

Nota
Cliquem no link abaixo para ouvirem a canção Assanhado:
http://www.youtube.com/watch?v=r_zmyeLgEG8

Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/ Coleção Folha de São Paulo.

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Raízes da MPB – DORIVAL CAYMMI

Autoria de Lu Dias Carvalho rel12

Só quero que me deixem ficar no meu ritmo. Num dia bonito qualquer, sair com a chave no bolso, caminhar em direção à praia, conviver e conversar com desconhecidos. A pessoa é o enfeite da vida (Dorival Caymmi)

A chamada “batida” de violão de Dorival é dele e de mais ninguém. Muito mais tarde, um músico como Baden Powell vai se aproximar desse balanço baiano, mas a cadência de “Vestido de Bolero”, de “Vatapá”, “Requebre Que Eu Dou Um Doce” ou de “Samba da Minha Terra”, não é a mesma do samba carioca da época, inventado nos morros do Rio de Janeiro e seguido por um Noel Rosa ou um Cartola. (Aluísio Didier, compositor e documentarista)

O compositor, cantor e violonista Dorival Caymmi nasceu em Salvador/BA, em1914. Filho do funcionário público Durval Henrique Caymmi e de Aurelina Cândido Sores, foi, desde menino, calmo e otimista, apesar de ter nascido em tempos difíceis, poucos meses antes de desencadear a Primeira Guerra Mundial.

Foi o pai de Durval quem lhe ensinou as posições básicas do violão. O tio Cici, irmão de sua mãe, era boêmio e violonista, gostava de tocar chorinhos alegres, e assim contribui para ampliar o horizonte musical do sobrinho, que cresceu num ouvindo música tanto em casa quanto na vizinhança. Além disso, tinha aulas de canto com a professora Amanda e também participava do coro paroquial. Os pais de Dorival, ao descobrirem a inclinação do filho para a música, fizeram tudo para ajudá-lo.

Aos 16 anos de idade, o garoto Dorival começou a compor. Ao conhecer Itapoã, encantou-se com as pessoas simples do lugar e caiu de amores por tudo que ali existia, principalmente pelo mar. No lugar, reunia-se com os amigos, tocava violão, cantava e curtia seus amores.

Dorival Caymmi e seu amigo Zezinho ganharam um emprego na Rádio Clube, formando, com mais dois amigos, o grupo Três e Meio, devido à pequena estatura de seus integrantes. No ano seguinte, recebeu um convite profissional da Rádio Sociedade.

Aos 38 anos de idade, Dorival Caymmi, resolveu deixar sua cidade de Salvador, em direção ao Rio de Janeiro, levando na bagagem algumas das Canções Praieiras, sendo Noite de Temporal a primeira delas. Da viagem nasceu a canção Peguei um Ita no Norte.

A vida de Dorival Caymmi no Rio de Janeiro não foi fácil no início. Muitas vezes pensou em abandonar seus sonhos e voltar para casa, mas os amigos não deixavam. Fez um teste na Rádio Tupi, onde tocou violão e cantou, ganhando a simpatia de Theóphilo de Barros Filho e Assis Chateaubriand. Ali, passou a cantar duas vezes por semana. Depois foi para a Rádio Nacional, levado por Braguinha e Almirante, que lhe apresentaram Carmem Miranda, a mais importante cantora da música popular brasileira, na época, que viria a gravar O Que É Que a Baiana Tem?, e outras de suas canções.

Dorival Caymmi, após dois anos no Rio de Janeiro, casou-se com Stela Tostes, uma cantora principiante. O escritor Jorge Amado, parceiro de três músicas, pelo menos, foi o padrinho do casal. A primeira filha foi Nana. Depois vieram Dori e Danilo, todos ligados à música.

Nota
Acessem o link abaixo para ouvirem Dora
http://www.youtube.com/watch?v=X9CZawyrTgI

Fonte de Pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/Coleção Folha de São Paulo

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Raízes da MPB – DOLORES DURAN

Autoria de Lu Dias Carvalho

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As letras de Dolores Duran eram muito femininas, bem escritas, num tom coloquial que faz com que nenhuma palavra fique ultrapassada, mesmo já tendo se passado mais de 50 anos. (Rodrigo Faour, jornalista e pesquisador musical)

Dolores Duran falou de sentimentos como ninguém, em todas as línguas. Seu idioma era o amor! (Antônio Maria, cantor)

Eu não tenho inimigos, tenho amigos que se extraviaram, mas voltam qualquer dias desses. (Dolores Duran)

Não me acorde, estou cansada. Quero dormir até morrer. (Dolores Duran – frase dita no dia em que morreu)

Dolores Duran, compositora, cantora e instrumentista, nasceu em 1930, na cidade do Rio de Janeiro/RJ, com o nome de Adileia Silva da Rocha. O sargento da Marinha Armindo José da Rocha e Josefa tinha uma prole de quatro filhos, sendo ela a terceira deles. A vida não era fácil para a família. Adileia nem chegou a completar o ginásio, pois tinha que trabalhar para ajudar em casa, mas, como menina prodígio, aprendia tudo por conta própria. Desde garotinha que ela sonhava em ser uma cantora famosa. Já fazia parte de festas de reisado e procissões, nas quais soltava sua bela voz infantil.

Adileia teve que passar pelos inúmeros testes exigidos dos cantores da época, contrariamente aos dias de hoje, em que qualquer um pode ser chamado de “cantor”, resultando num mercado cheio de mediocridades. De modo que a menininha talentosa ganhou seu primeiro troféu, num concurso de calouros, aos seis anos de idade. E ainda era atriz de teatro. Quando mais crescida, ganhou a nota máxima no programa Calouros em Desfile, na Rádio Tupi, sendo julgada por ninguém menos que o exigente Ary Barroso.

A pequena artista cantava tão bem, que passou a integrar a caravana de cantores no programa de calouros, conhecido como Escada de Jacó, participando de shows de bairro, cinema, teatros e circo. Também atuou como radioatriz na Rádio Tupi, participando de encenação de histórias infantis.

A artista adolescente tinha um ouvido afinado para línguas estrangeiras, aprendendo-as com muita facilidade. Por isso, foi incentivada a participar de um concurso que buscava uma cantora mexicana. Foi quando, por sugestão de um casal amigo, Adileia virou Dolores Duran. Ela foi contratada como crooner de uma boate, onde cantava em várias línguas, ao lado de Aracy de Almeida, Linda Batista, Jorge Goulart e Sílvio Caldas, estrelas dos shows principais. Também foi contratada pela Rádio Nacional para cantar músicas estrangeiras.

Dolores Duran, cantora romântica, gravou seu primeiro disco cantando dois sambas para o carnaval de 1952: Que Bom Será e Já Não Interessa. Não fez sucesso. Mas em 1954, gravou o samba Tradição, de Ismael Silva e o samba-canção Canção da Volta, que fez um grande sucesso, tornando-se um clássico da MPB.

Como tinha facilidade para cantar em várias línguas, os anos 50 vieram a calhar para Dolores Duran, que cantava todo gênero de canções internacionais: boleros, fados, tangos, músicas italianas, norte-americanas, francesas, rocks, calypsos, etc. Chegou até a gravar um fado, Coimbra, em esperanto.

Seu primeiro long-play, em 1955, denominado Dolores Viaja, trazia oito faixas, cada uma numa língua diferente. Época em que se casou com Macedo Neto que era radioator e compositor. O casamento durou cerca de dois anos.

A primeira letra de Dolores Duran foi Se é Por Falta de Adeus, musicada em ritmo de samba-canção por Tom Jobim, quando iniciava sua carreira musical, e cantada por Doris Monteiro.

A artista foi, em todos os sentidos, uma mulher à frente do seu tempo. Na música, foi uma das primeiras compositora e letristas brasileiras. Gravou também ritmos nordestinos no álbum Esse Norte É Minha Sorte, que continha baiões, toadas e xotes de vertentes românticas. Compôs letras e músicas belíssimas. É dona de uma das obras mais belas da MPB, embora carregasse na maioria de suas canções uma boa dose de tristeza, pois, apesar da fama, a cantora tinha que conviver com a depressão e com o sentimento constante de solidão.

Dolores Duran faleceu em 1959, aos 29 anos, de problemas cardíacos. Desde os oito anos de idade, havia sido diagnosticada com uma febre reumática. Deveria levar uma vida regrada, coisa que nunca fez: bebia, fumava três maços de cigarros por dia e só retornava para casa ao amanhecer.  Deixou uma filha adotiva, Maria Fernanda Virgínia da Rocha Macedo, que ficou com três anos de idade.

Nota:
Acessem o link abaixo para ouvirem A Noite do Meu Bem
http://www.youtube.com/watch?v=BgGZspMGwBQ

Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/Coleção Folha de São Paulo

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Raízes da MPB – HERIVELTON MARTINS

Autoria de Lu Dias Carvalho dac

Herivelto Martins pertence a um tempo na música brasileira em que existiam dois nichos bem marcados de artistas: o bloco dos grandes cantores e o dos grandes compositores, que se orgulhavam de ter suas músicas gravadas por essas belas vozes. Havia poucas exceções como Ataulfo Alves e Dorival Caymmi – que já eram notórios e expressivos cantores e compositores. Herivelto ficava no meio termo, nunca sendo visto exatamente como um “cantor”. (Rodrigo Faour, jornalista e pesquisador musical)

O compositor, cantor e violonista Herivelto de Oliveira Martins nasceu em Engenheiro Paulo de Frontin/RJ, em 1932. Era filho do ferroviário e artista amador, Célio Bueno Martins e de Carlota de Oliveira Martins, sendo o mais velho dos seis irmãos. Mesmo a profissão de artista não sendo bem vista naquela época, seu pai incentivava-o a seguir a carreira musical. Aos 3 anos de idade, ele já recebia uns trocados por recitar versinhos.

Quando Herivelto tinha 5 anos, a família foi morar em Barra do Piraí, onde o pai fundou uma espécie de clube e teatro onde, segundo o próprio Herivelto, os membros da família trabalhavam como ajudantes diretos, pois, toda ela tinha tendência artística. Era obrigado a tocar diversos instrumentos e a aprender se conduzir pelo palco. Aos 10 anos de idade, já fazia paródias, imitando alguns tipos comuns e ainda ajudava a família, vendendo doces que a mãe fazia. Não completou o curso primário. Quando tinha 15 anos de idade, sua família foi morar em São Paulo, mas ele não se adaptou ao novo ambiente e, ao completar 18 anos, foi sozinho para o Rio de Janeiro, morar com seu irmão. Passou a dividir um quarto com sete pessoas, levando uma vida dos diabos.

No Rio, Herivelto Martins compôs as primeiras marchas de rancho, que fez para um bloco carnavalesco. Depois foi cantar de graça na Rádio Educadora, enquanto fazia testes em rádios. Chegou a desmaiar de fome na rua. Não estava fácil ganhar dinheiro no mundo musical. Sentiu que era preciso arranjar um emprego fora da área buscada. Foi trabalhar numa barbearia, contratado por um português, mal sabendo segurar uma navalha. O dinheiro dava para pagar o feijão com arroz da semana.

Herivelto passou a ser corista no conjunto do cantor J.B. de Carvalho, gravando nos estúdios da Victor. Acabou tendo sua primeira música comercial gravada. Como era muito hábil na criação de arranjos de coral nas canções, terminou como diretor de coro da Victor. Depois disso, fez par com o baiano Francisco Sena, na dupla Preto e Branco, gravando pela primeira vez como artista.

As músicas de Herivelto Martins passaram a ser gravadas por grandes cantores. O flautista e arranjador Benedito Lacerda tornou-se seu parceiro. Compuseram muitas músicas. Foram gravados até por Carmem Miranda. Época em que compôs seu grande clássico, Ave Maria no Morro, que se tornou o mais gravado de sua obra e um dos clássicos da MPB, sendo gravado pelos mais diferentes intérpretes, em várias línguas, inclusive em russo e esperanto.

Quando Francisco Sena, seu parceiro na dupla Preto e Branco, morreu, Herivelto ficou conhecendo Nilo Chagas, que iria substituí-lo, e acabou conhecendo Dalva de Oliveira. Os três passaram a trabalhar juntos, nascendo o Trio de Ouro. Dalva e Herivelto acabaram se casando. O cantor Pery Ribeiro foi o primeiro filho do casal e Ubiratan o segundo. Mas, Herivelto tinha outros dois filhos, Hélcio e Hélio, com Maria Aparecida, com quem teve um relacionamento logo após chegar ao Rio.

A vida de Herivelto e Dalva foi de muitas dificuldades no início, embora parecessem sempre muito elegantes. Com o tempo, a situação financeira foi melhorando e a família passou a viver muito bem. A casa vivia sempre cheia de visitas.

Herivelto Martins era muito genioso. Não aceitava ser contrariado, tanto é que recebeu o apelido de “galo garnisé”. E, como tanto ele quanto Dalva eram geniosos, as brigas começaram a acontecer. Ele era, sobretudo, um grande mulherengo, o que mais aguçava a desavença que chegava, muitas vezes, à violência física. Depois que Herivelto passou a ficar com a aeromoça Lurdes Torlly, com quem teve três filhos, o casamento degringolou de uma vez. Os dois meninos, Pery e Ubiratan, foram parar um colégio interno.

Quando casados, Herivelto era quem administrava as finanças do casal, ou seja, Dalva não via o dinheiro. Com a separação, ela se tornou a maior cantora do país, ganhando muito dinheiro, o que mexeu com a macheza de Herivelto, que partiu para os insultos, transformando a separação num escândalo, com as pessoas e a mídia tomando partido de um lado ou de outro. Sem falar nas trocas de farpas feitas através das canções, num bate-rebate.

Dalva de Oliveira e Chico Alves eram os dois grandes intérpretes das músicas de Herivelton Martins. Com a separação da primeira e a morte do segundo, Nelson Gonçalves passou a ser seu principal intérprete. Depois Ângela Maria entrou em cena e gravou sucessos seus.

E, como a vida dá muitas voltas, Dalva de Oliveira gravou Fracassamos, em seu último compacto, samba-canção enviado-lhe por Herivelto, através do filho Pery, como presente. E Lurdes, a nova mulher do ex-marido, tornou-se sua amiga, ajudando-a nos seus últimos dias de vida. Herivelto Martins morreu aos 80 anos de idade, em 1992, de complicações pulmonares.

Nota
Ouçam Ave Maria no Morro, através dos links, abaixo, com Dalva de Oliveira, Scorpions e Andrea Bocelli, respectivamente:
http://www.youtube.com/watch?v=nHkdnNK3wcs
http://www.youtube.com/watch?v=NyrUzqhx2aM
http://www.youtube.com/watch?v=10sc8Vhgfio

Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/ Coleção Folhas

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Raízes da MPB – ARY BARROSO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Em meados do século passado, mesmo com Pixinguinha e Dorival Caymmi em atividade e evidência, e Tom Jobim a caminho do reconhecimento geral, parecia haver um consenso, quase unanimidade: Ary Barroso era o maior compositor popular vivo e o primeiro a tornar-se de fato, amplamente conhecido e tocado no exterior. (Moacyr Andrade – jornalista e crítico de música popular)

O compositor, letrista, pianista, chefe de orquestra, locutor esportivo e radialista, mineiro, Ary Evangelista Barroso, nasceu em Ubá/MG, no ano de 1903.

Os pais de Ary Barroso, Angelina e João Evangelista, morreram de tuberculose, ainda na flor da idade, antes que ele completasse 8 anos de idade. Seu único irmão, Milton, morreu de crupe no dia em que completou um ano de idade. Por isso, o pequeno Ary foi viver com sua avó Gabriela e sua tia Ritinha, ambas viúvas, sendo que a última dava aulas de piano para sustentar a casa. E foi com a tia Ritinha que o menino aprendeu piano. Aos 12 anos já era partner da tia, nos cinemas da cidade, tocando o fundo musical propício para a película exibida, pois naquela época o cinema era mudo.

Aos 18 anos de idade, Ary Barroso mudou-se para a cidade do Rio de janeiro, onde faria o curso de Direito, usando a herança deixada por um tio, para custear as despesas, mas que não demorou muito a acabar, já que era muito boêmio. Teve que recorrer ao piano para completar a mesada enviada por outro tio.  Foi numa das muitas pensões pela qual passara que ficou conhecendo a menina Ivone, de apenas 13 anos de idade, filha da dona da pensão, com quem veio a se casar, tendo com ela os filhos Flávio Rubens e Mariúza.

Ao deixar as salas do cinema mudo, Ary Barroso passou a tocar nas orquestras. Ao viajar para a Bahia apaixonou-se pela riqueza cultural daquela gente: ritmos variados, candomblés, capoeiras, etc. Seu encantamento pode ser visto em várias canções em que ele canta a Bahia.

Um dos grandes amigos e parceiros de Ary foi Luiz Peixoto. Juntos, fizeram grandes sucessos com Maria, Na Batucada da Vida, Por Causa Dessa Cabocla, Quando Eu Penso na Bahia, etc…

Dentre todos os inumeráveis sucessos de Ary Barroso, é impossível esquecer Aquarela do Brasil, que o levou até aos EUA, sendo incluído no filme Alô Amigos, de Walt Disney, e também para o filme Você Já foi à Bahia?, onde incluiu Os Quindins de Iaiá e Na Baixa do Sapateiro. Chegou a ser convidado para assumir a direção musical dos estúdios de Walt Disney, mas recusou.

Ary Barroso tinha Carmem Miranda como sua intérprete preferida. Ela chegou a gravar 30 canções do compositor. Vários intérpretes gravaram canções do mineiro de Ubá: Dircinha Batista, Lúcio Alves, Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Luís Gonzaga, Jamelão, Elza Soares, dentre outros.

Ary Barroso morreu, em 1964, aos 61 anos de idade, vitimado por uma cirrose hepática, decorrente do alcoolismo, com a qual lutou durante vários anos.

Nota:
Acessem o link abaixo para ouvirem Aquarela do Brasil
http://www.youtube.com/watch?v=3RrDAI7tFzU

Fonte de pesquisa:

Raízes da Música Popular Brasileira/Coleção Folha de São Paulo

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