Arquivo da categoria: Pinacoteca

Pinturas de diferentes gêneros e estilos de vários museus do mundo. Descrição sobre o autor e a tela.

Pieter Bruegel, o Velho – A TORRE DE BABEL

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição denominada A Torre de Babel é uma obra-prima do pintor Pieter Bruegel, o Velho, cujo tema é inspirado em Gênesis (11: 1-9), no Antigo Testamento. Babel era o nome hebreu para a cidade da Babilônia, que ficava na Mesopotâmia. O artista fez três pinturas usando esse mesmo tema bíblico que na verdade trata-se de uma alegoria ao orgulho e à fraqueza humana.

Segundo o Antigo Testamento, os descendentes de Noé, orgulhosos, puseram-se a construir uma torre com o objetivo de alcançar o céu e, assim, jamais serem esquecidos. Sabedor de que todo aquele trabalho seria vão, o Senhor, para impedi-los, fez com que os responsáveis pela construção da obra passassem a falar línguas diferentes de modo que ninguém pudesse se fazer entender. Até então, todos os homens da Terra falavam a mesma língua.

Bruegel pintou a torre inclinada para esquerda, inacabada e já em deterioração, parecendo aniquilar a cidade que se ergue a seus pés. Próximo à sua base, inúmeras embarcações são vistas, pois era ali que os materiais de construção eram aportados. Uma pedreira, no canto inferior esquerdo, está recebendo a visita de Nimrod, rei da Babilônia, responsável por mandar construir a torre, e seu séquito. Alguns dos homens deixam o trabalho para prestar-lhe reverência, ajoelhando-se no chão. Grandes blocos de pedra espalham-se pelo local. O minúsculo tamanho das pessoas, pintadas na base da torre, mostra o quanto elas são insignificantes diante da grandiosidade do projeto em execução.

O pintor baseou-se na descrição de uma torre de sete andares, descrita por Heródoto, denominado o “Pai da História”, mudando apenas a forma dessa. Bruegel fez sua torre arredonda, diminuindo de tamanho à medida que subia, ligando os andares por rampa. O Coliseu também lhe serviu de inspiração. Ele pintou uma torre de edificação confusa, provavelmente com o objetivo de demonstrar a inutilidade de sua construção, cujo fundo moral seria mostrar que muitos esforços humanos são totalmente desnecessários, pois são oriundos do orgulho. Atrás da torre encontra-se a cidade.

Ficha técnica
Ano: 1563
Técnica: óleo sobre painel
Dimensões: 114 x 155 cm
Localização: Museu, Kunsthistoriesches, Viena Áustria

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Bruegel/ Editora Cosac e Naify
http://www.visual-arts-cork.com/famous-paintings/tower-of-babel.htm
http://www.artbible.info/art/tower-of-babel.html

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Pieter Bruegel, o Velho – JOGOS INFANTIS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição denominada Jogos Infantis é uma obra do pintor Pieter Bruegel, o Velho, na qual ele mostra a importância de ter sido um pintor de miniaturas, ao agregar numa única tela, cuidadosamente organizada, mais de 230 figuras humanas, fato muito comum em suas pinturas. O artista tornou-se conhecido por suas obras, ao retratar o cotidiano dos camponeses — gente pela qual nutria grande admiração — tanto no trabalho quanto nos festejos. Mais uma vez Bruegel repassa a impressão de que o quadro foi pintado de cima, estando ele a olhar a cena embaixo, como acontece com várias de suas pinturas. Embora tenha pintado outros quadros que retratam a vida camponesa, Jogos Infantis é o único que apresenta predominantemente crianças, o que era incomum naquele período.

Pieter Bruegel nesta sua pintura miniaturiza adultos, transformando-os em crianças, fato comum na iconografia medieval. As crianças variam de bebês a adolescentes. O artista representa um grande número de jogos e atividades lúdicas (em torno de 83) do século XVI, sendo muitos deles identificáveis e ainda usados até os dias de hoje, como as seguintes brincadeiras: pernas de pau, roda, pular corda, rodar aros, cavalo de pau, cata-vento, cabra-cega, pular carniça, soprar bexiga, esconde-esconde, jogar castelo, andar de cadeirinha, boneca, pião, cavalinho, boca de forno, bolhas de sabão, cabo de guerra, e outros tantos mais.

Algumas diversões são calmas, enquanto outras são mais agressivas. Muitas crianças brincam tranquilamente, mas há grupos envolvidos em puxões de cabelo, luta livre e brincadeiras violentas. Um dos grupos está se divertindo com um jogo em que alguém corre pelo meio de um túnel de crianças, tendo todas elas a chutar-lhe as pernas, numa espécie de corredor polonês. Nenhuma atividade mostra-se mais importante do que a outra nesta obra do artista. O rio com suas margens, à esquerda, alivia de certa forma a cena abarrotada de crianças.

Para melhor observação do leitor, listo alguns exemplos das brincadeiras: próximo à cerca vermelha um grupo de 11 crianças simula um casamento. A noiva, usando uma roupa escura que mais se parece com uma batina, traz uma coroa na cabeça, sendo ladeada por duas personagens. Atrás dela segue o séquito e à frente duas garotas levam um grande cesto com pétalas de flores que vão sendo espalhadas à passagem do grupo festivo. Também chama a atenção em primeiro plano a presença de dois grandes barris e aros, usados para entretenimento. Na janela da casa, à esquerda, uma criança usa uma máscara, tentando chamar a atenção dos que se encontram abaixo. Na parte inferior, à esquerda da tela, na entrada do edifício, três crianças cobertas com mantos seguem em procissão atrás daquela que leva um suposto bebê para ser batizado.

Nenhum espaço fica imune ao enxame infantil, espalhado por toda a imensa tela, ocupando praça, ruas, casas, jardins e até mesmo o rio e suas margens. As crianças que se encontram em primeiro plano são bem maiores, as demais vão diminuindo de tamanho, à medida que se distanciam do observador. Elas ocupam o grande edifício que domina a praça, que pode ser uma prefeitura ou algum outro edifício cívico importante, possivelmente enfatizando a moral comum da época que rezava que os adultos que dirigem os assuntos cívicos são como crianças aos olhos de Deus.

As roupas infantis são coloridas, havendo a predominância das cores vermelha e azul que mais chamam a atenção. As cores alegres contrastam com o fundo amarelado da composição. São bem pequenas as diferenças fisionômicas entre uma criança e outra, assim como há pouca variação nas vestimentas. Ainda assim, a pintura não se mostra monótona, pois a postura dos corpos denota movimento, não havendo dois elementos iguais em toda a composição.

A falta de informações sobre quem encomendou a obra levou ao debate sobre o significado existente por trás da pintura.  E são inúmeras as teorias. Uma delas afirma que se trata de um ensinamento moral que usa os jogos infantis como metáfora para mostrar a loucura dos adultos. Uma ideia oposta, baseada na teoria humanista do século 16, argumenta que a pintura mostra a importância das brincadeiras no desenvolvimento infantil.

Ainda quanto ao significado da pintura, existe também a ideia de que esta composição tenha sido a primeira de uma série de pinturas representando a Idade do Homem, sendo essa a representação da “juventude”. Se foi esta a intenção do artista, é provável que não houve prosseguimento, pois não existe referência de pinturas relacionadas ao tema, ou seja, às idades madura e velhice. Uma outra teoria revela que as crianças, focadas em suas brincadeiras, possuem a mesma seriedade demonstrada pelos adultos em suas atividades supostamente mais importantes, aos olhos de Deus, ou seja, os jogos dos filhos possuem tanto significado quanto as atividades de seus pais.

O fato é que tal quadro vem passando por inúmeras leituras e interpretações ao longo dos tempos, inclusive é um manual dos divertimentos e recreações da Europa Medieval, muitos dos quais continuam presentes nos dias de hoje. Veja abaixo:

Atenção leitor – a leitura deste texto vem batendo recordes dia após dia, ano após ano. Gostaria que deixasse na parte de “comentários” o porquê de ter chegado até ele, para que eu possa desenvolver uma tese sobre o assunto. Por favor, dê-me seu feedback.

Ficha técnica
Ano: 1560
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 118 x 161 cm
Localização: Museu de História da Arte, Viena, Áustria

Fontes de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia/ Editora Könemann
https://chnm.gmu.edu/cyh/primary-sources/332
Bruegel/ Editora Cosac e Naify

 

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Pieter Bruegel, o Velho – A DANÇA DOS CAMPONESES

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição denominada A Dança dos Camponeses é uma pintura de gênero do artista Pieter Bruegel, o Velho. Ele se tornou conhecido por suas pinturas retratando o cotidiano dos camponeses, tanto no trabalho quanto nos festejos. O artista nutria grande admiração por essa gente, encontrando-se sempre entre eles, por ocasião de suas festividades.

A festa acontece ao ar livre, diante das casas. Numa delas, pendurada num pau fixo a uma janela, está uma bandeira vermelha triangular, que desce até a cerca de madeira. Ao fundo, vê-se a igreja com sua torre. E uma árvore, à direita, traz em seu tronco um quadro com a imagem da Virgem Maria e seu filho Jesus.

Vários pares dançam animadamente. À esquerda, em primeiro plano, um casal dirige-se para o grupo de dançarinos. O homem, à frente, com a mão esquerda na cintura, traz no chapéu uma colher de pau. Ele segura a mão de sua companheira, que veste um longo vestido rodado, com avental amarelo e uma enorme touca branca. É possível observar, presas à cintura da mulher, uma bolsinha e a chave da casa. Eles direcionam o olhar para um casal abraçado, que se beija, à esquerda, fato incomum para a época. Atrás dos dançarinos, um grupo de pessoas observa o par “desavergonhado”.

Numa mesa, à esquerda, estão três camponeses que parecem discutir entre si. Um deles parece ter atingido o rosto do outro, ao levantar a mão. Sentado à frente da mesa, de costas para o trio, um gaiteiro, sem se descuidar de seu instrumento, ouve o rapaz ao lado, que segura um jarro de cerveja. Duas crianças, à direita do gaiteiro, brincam de dançar. Elas se parecem com adultos em miniatura, pois vestem-se como as pessoas mais velhas.

A pintura de Bruegel, quase sempre escondia um fundo moral. Aqui, ele atenta para o pecado da embriaguez e da raiva, pelo qual são acometidos os homens que bebem à mesa. A pena de pavão, que ornamenta o chapéu do rapaz ao lado do gaiteiro, simboliza a vaidade e o orgulho. O casal, que se beija, e o homem e a mulher que se encontram de braços dados na porta da casa, que mostra uma enorme bandeira vermelha, um puxando o outro, não se sabe para que fim, denotam luxúria. Assim como é pecado o fato de, ao festejarem o dia de um santo, os bailarinos postarem-se de costas para a igreja e para o quadro da Virgem e seu filho. Ou seja, a vida material mostra-se mais importante que a espiritual para as pessoas presentes na composição.

Ficha técnica
Ano: 1567
Técnica: óleo sobre painel
Dimensões: 114 x 164 cm
Localização: Museu, Kunsthistoriesches, Viena Áustria

Fontes de pesquisa
Bruegel/ Editora Cosac e Naify
https://mydailyartdisplay.wordpress.com/2011/03/27/the-peasant-dance-by-pieter-bruegel-the-elder/

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Ticiano – ALEGORIA DA PRUDÊNCIA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição denominada Alegoria da Prudência é uma obra do pintor italiano Tiziano Vacellio, conhecido por Ticiano, em que o pintor retrata a si mesmo, a seu filho Orazio e, possivelmente, a seu sobrinho Marco Vecellio, representando as três Idades do homem. Filho e sobrinho trabalharam com o pintor.

Estão representados da esquerda para a direita:
• a velhice (Ticiano) – virada para a esquerda
• a idade adulta ou maturidade (seu filho Orazio) – virada para frente
• a juventude (seu sobrinho Marco Vecellio) – virada para a direita

Abaixo das cabeças humanas estão representadas as de três animais:
• o lobo – voltada para a esquerda
• o leão – voltada para a frente
• o cão – voltada para a direita

A alegoria também se refere ao tempo: passado, presente e futuro. Os animais, conforme certas tradições, estão ligados a tais categorias do tempo e à prudência. Segundo o escritor Macrobius, do século V, a cabeça do leão refere-se ao presente, quando se é forte; a cabeça do lobo é designada pelo passado; a cabeça do cão representa o futuro.

Uma inscrição latina faz um meio círculo em volta das cabeças humanas. Ela diz: EX PRAETERITO / Praesens PRUDENTER AGIT / NE FUTURA actione DETURPET , que pode ser traduzida como: “A partir da experiência do passado, opere o presente de forma prudente, para não estragar as ações futuras”. Segundo alguns, Ticiano tinha como objetivo direcionar sua família, em relação à herança que deixaria, após sua morte.

Embora haja muitas explicações sobre a pintura, a mais aceita é a de que Ticiano tinha por objetivo mostrar que a prudência é fruto da experiência, que por sua vez vem com a velhice, importante para a discriminação e o julgamento artístico.

Ficha técnica
Ano: c. 1560
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 75,5 x 68,4 cm
Localização: The National Gallery, Londres, Grã-Bretanha

Fontes de pesquisa
Ticiano/ Editora Taschen
www.totallyhistory.com/allegory-of-prudence/
http://www.titian.org/an-allegory-of-prudence.jsp

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Pieter Bruegel, o Velho – CAÇADORES NA NEVE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição denominada Caçadores na Neve, também conhecida como O Retorno dos Caçadores, é uma pintura do artista Pieter Bruegel, o Velho. Faz parte de uma série de seis pinturas que retratam períodos do ano, encomendadas por um comerciante da Antuérpia. Cinco delas ainda sobrevivem, felizmente (O Dia Escuro, Retorno da Manada, Colheita de Feno, Os Ceifeiros e o Mastro de Maio, existindo do último apenas cópias feitas pelo filho do artista). Presume-se que este quadro represente o mês de dezembro ou janeiro (no hemisfério norte).

Em sua obraBruegel retrata a difícil caminhada de três caçadores e sua matilha através da neve densa em meio a quatro árvores perfiladas, desprovidas de folhas em razão do rigor invernal. Cerca de uma dúzia de cães acompanha os homens, deixando profundos rastros atrás. À frente do grupo veem-se os passos de uma lebre montanha abaixo. Os homens estão de costas para o observador e, pela postura do corpo, aparentam estar muito cansados depois de uma caçada infrutífera. Contudo, o tema principal desta obra é a paisagem que se desdobra em três planos: primeiro plano, plano intermediário e plano de fundo. Tudo faz menção ao inverno, com o branco do gelo por toda parte.

Abaixo dos caçadores que descem o declive nevado, atentos ao percurso, está a aldeia em que vivem. Eles estão voltando para casa após a difícil caçada nos campos gelados. Encontram-se muito bem agasalhados. Cada um deles leva uma lança ao ombro e um embornal. O de maior tamanho carrega um animal, possivelmente uma raposa, nas costas, pendurada em sua arma. Os cães de diferentes raças mostram-se exauridos pelo esforço feito.

À esquerda do grupo, numa estalagem, conforme mostra o cartaz dependurado apenas por um gancho, encontra-se uma família composta por quatro adultos e uma criança. Um homem e uma mulher alimentam o fogo para cozer o alimento dos hóspedes, sendo observados pela criança. Um dos homens carrega uma mesa. Na porta, uma mulher aparece com mais lenha. O vento direciona a fumaça e as chamas para dentro do local.

Na aldeia os moradores são vistos em variadas atividades. Uma mulher atravessa uma ponte, carregando um feixe de gravetos; um homem conduz uma carroça; outro, de arma em punho, parece caçar aves; mais outros caminham pelas ruas, etc. Contudo, a maioria das pessoas, parecidas com meros sinais pretos, encontra-se praticando esportes de inverno, sobre dois lagos congelados. O artista representa com maestria a atmosfera de frio e de silêncio propícia a uma paisagem coberta pela neve.

As casas com seus telhados cobertos pela neve espalham-se pela composição. Algumas torres podem ser observadas. É possível ver a fumaça saindo de algumas chaminés. Árvores copadas estendem-se por toda a composição em contraste com as desfolhadas, vistas em primeiro plano. Vários pássaros estão pousados nas árvores. Ao fundo veem-se montanhas com seus picos agudos. O céu é verde-acinzentado. Uma ave corta os ares. O verde do céu, o tom esverdeado do gelo e a brancura da da neve produzem um efeito maravilhoso.

Ao contrário de muitos outros quadros de Bruegel que trazem ensinamentos morais, não se encontrou um significado oculto para esse. As cores frias predominam na composição, sendo que as figuras escuras dos caçadores e dos cães fazem um grande contraste com a brancura da neve, dando ênfase à diagonal que parte da esquerda, embaixo. A composição Caçadores na Neve faz parte das obras mais admiradas de Pieter Bruegel.

Ficha técnica
Ano: 1565
Técnica: óleo sobre painel de madeira
Dimensões: 117 x 162 cm
Localização: Kunsthistorisches Museum, Viena, Áustria

Fontes de pesquisa
Bruegel/ Editora Cosac e Naify
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Renascimento/ Editora Taschen
http://www.theartwolf.com/landscapes/bruegel-elder-hunters-snow.htm
https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=http://viewfromaburrow.com/2013/11/28/pieter-bruegel-the-

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Pieter Bruegel, o Velho – O CASAMENTO CAMPONÊS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição denominada O Casamento Camponês — também conhecida como O Banquete de Casamento ou Casamento Aldeão — é uma pintura de gênero do artista Pieter Bruegel, o Velho, que mostra a importância de ter sido um pintor de miniaturas, ao agregar numa única tela inúmeras figuras humanas, fato comum em suas obras. Bruegel tornou-se conhecido por suas pinturas retratando o cotidiano dos camponeses, tanto no trabalho quanto nos festejos. Ele nutria grande admiração por essa gente, encontrando-se sempre entre ela por ocasião de das festividades, o que levou muitos a imaginarem que fosse também um camponês.

Bruegel brinda-nos com um de seus maravilhosos e mais conhecidos quadros em que retrata o festejo decorrente de um casamento camponês na Idade Média. Dizem que essas festividades tornaram-se tão ruidosas à época que foi preciso um decreto imperial estabelecendo o número de convidados, de modo a impor ordem nos locais onde eram realizadas. Sua obra trata-se de uma verdadeira comédia humana que acontece num celeiro, como mostra a palha empilhada ao fundo. Inúmeras ações acontecem ao mesmo tempo, trazendo uma grande riqueza anedótica, gracejo e observação perspicaz. Ainda mais curioso é o modo como o artista colocou tantos personagens em sua obra, sem repassar a sensação de atulhamento.

Uma longa mesa de madeira feita com pranchas sobre cavaletes — no século XVI nem mesmo os ricos possuíam grandes mesas —, mostrada de forma oblíqua, ocupa grande parte do celeiro. Ela está circundada por toscos bancos também de madeira e forrada com um pano branco. O único banco com recosto está enfeitado com gravuras de festas religiosas ou romarias. O ambiente rústico é um celeiro de uma fazenda, conforme mostra a palha empilhada quase até o teto. Dois feixes de trigo e um ancinho pendurados na parede, à esquerda da noiva, podem estar representando a pequena parte da colheita a ser deixada nos campos pelos fazendeiros, para ser apanhada pelas viúvas, órfãos e pobres, ou, então, a difícil vida de trabalho dos camponeses.

Quase todos os presentes ao festejo trazem a cabeça coberta por gorros ou toucas, inclusive uma criança, orgulhosamente sentada à mesa, e outra no chão que lambe o dedo com seu enorme boné com uma pena de pavão. Todos estão bem agasalhados, levando a crer que a festividade acontece no inverno. Um cão encontra-se próximo a um homem de gibão preto, muito bem vestido, com uma espada na cintura, assentado numa tina virada de cabeça para baixo. Ele conversa com o monge que provavelmente foi o responsável por ter feito o casório. Seria esse homem bem vestido o fazendeiro, dono das terras, ou o próprio pintor?

Na porta ao fundo que leva ao ambiente festivo inúmeras pessoas aglomeram-se, esperando fazer parte da festa. Uma delas traz uma expressão patética no olhar, enquanto ao ver a comida transitar. Uma mulher com seu filhinho ao lado oferece uma caneca de cerveja a um homem com roupa vermelha e colete branco. À sua esquerda, um homem, de costas para a mesa, vira um caneco de cerveja na boca. Os convidados vestem roupas coloridas — com destaque para o vermelho e o branco que avivam a composição. A comilança é farta, com muita bebida e comida (panqueca, pão, mingau e sopa). As pessoas à mesa em sua maioria estão apenas preocupadas com o estômago.

A noiva encontra-se em destaque, usando uma grinalda enfeitada com pequenas penas de pavão sobre o cabelo, sentada na frente de uma colcha verde-escuro (ou seria azul?), onde se vê dependurada uma segunda coroa logo acima de sua cabeça. Ela tem uma expressão tola no rosto e traz as mãos entrelaçadas numa postura de recato, apenas acompanhando os acontecimentos. Os seus cabelos encontram-se à vista pela última vez, pois depois de casada passará a usar uma touca branca, como as demais mulheres presentes à festa. À sua esquerda estão, provavelmente, sua mãe e seu pai, este último assentado na única cadeira com espaldar, com seu boné preto, roupa escura e xale, o que mostra que é uma figura de destaque no ambiente. Esta figura pode ser também o notário, responsável pelo contrato nupcial. À direita dela estão duas mulheres com suas toucas brancas, conversando entre si.

O noivo não aparece ao lado da noiva, costume da época, quando também era vedada qualquer forma de carinho. Seria ele o homem que se encontra com uma colher na boca e olhos esbugalhados? Ou o homem de preto com uma caneca na mão, pedindo mais cerveja? Poderia ser também aquele que se encontra enchendo um caneco de cerveja, à esquerda, próximo de uma cesta cheia de jarros vazios — o que mostra que a festa acontece a mais tempo. Ou até mesmo o de touca vermelha na cabeceira da mesa, repassando os pratos para os convidados. Ele também poderia não se encontrar presente na festa. Este é um enigma que vem atravessando os séculos.

Dois gaiteiros animam a festa. O de camisa vermelha olha algo à sua direita. Talvez, faminto, aguarda ser servido pelos dois robustos homens que carregam uma enorme porta deitada, amarrada a dois pedaços de madeira, servindo de bandeja para os pratos. O de azul é o mais alto da festa, ocupando o centro do quadro. A colher de madeira no gorro de um deles mostra que se trata de uma pessoa pobre. Um homem, sentado à cabeceira da mesa à direita, pega um dos pratos e repassa-o para o vizinho, já com a mão num segundo. Chama a atenção o pé adicional que aparece debaixo da porta usada para servir os pratos. Mistério!

Como grande parte dos quadros de Bruegel trouxessem um ensinamento moral, presume-se que O Casamento Camponês — uma de suas obras mais conhecidas — ensine que se deve comer com moderação e nunca se esquecer dos necessitados, mas tudo não passa de suposições.

Ficha técnica
Ano: 1567
Técnica: óleo sobre painel
Dimensões: 124 x 164 cm
Localização: Museu, Kunsthistoriesches, Viena Áustria

Fontes de pesquisa
Bruegel/ Editora Cosac e Naify
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Los secretos de las obras de arte/ TaschenA história da arte/ E. H. Gombrich

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