Arquivo da categoria: Pintores Brasileiros

Informações sobre pintores brasileiros e descrição de algumas de suas obras

Pintores Brasileiros – ALFREDO VOLPI

Autoria de LuDiasBH

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Tudo o que ele fazia me comovia, porque via que ele fazia isso com paixão. (Francisco Rebolo)

A questão é que sempre pintei as minhas pinturas que “saem”, nunca fui atrás de corrente alguma. Os concretistas me convidaram, fui expor com eles… Mas nunca pensei em seguir alguém ou qualquer corrente. […] Sempre pintei o que senti, a minha pintura aos poucos foi se transformando, começa com a natureza, depois aos poucos vai saindo fora, às vezes, continua, eu nunca penso no que estou fazendo. Penso só no problema da linha, da forma, da cor. Nada mais… Meus quadros têm uma construção, o problema é só de pintura, não representam nada. Isso vem aos poucos, é uma coisa lenta, é um problema, toda a vida foi assim. (Alfredo Volpi)

 Alfredo Volpi foi um homem quase iletrado, mas um pintor de grande cultura visual. As particularidades da história cultural do Brasil levaram-no a percorrer um caminho que na Europa demandaria várias gerações, da pintura romântica até a crise do modernismo. […] Sua arte nunca deu saltos: evoluiu por modificações e incorporações graduais, que permitiram reduzir a uma linguagem original um leque bastante considerável de influências. Nunca viajou, a não ser por um breve período em 1950, mas dispôs de uma sensibilidade muito aguda para aproveitar o que estava à mão – e o que estava à mão, afinal, não era tão pouco. Não foi um pintor de sistema, e sim de método: manipulou informações díspares […], até encaixá-las em sua arte. Foi nessa digestão lenta, mais do que na indigestão antropofágica, que veio à tona um modelo convincente de arte moderna brasileira. O modernismo de Volpi é um modernismo da memória, afetivo e artesanal, de marcha lenta e voz mansa. (Lorenzo Mammí)

 O pintor ítalo-brasileiro Alfredo Volpi (1896-1988) nasceu em Lucca, na Itália. No ano seguinte ao seu nascimento, sua família mudou-se para a cidade de São Paulo. Quando criança foi estudar na Escola Profissional Masculina do Brás, passando a trabalhar, mais tarde, como entalhador, encadernador e marceneiro.

Iniciou sua pintura aos 16 anos de idade, como modesto aprendiz de decorador de parede, pintando frisos, florões e painéis de residências. Nessa mesma época, ele deu início a seu trabalho com óleo sobre madeira e telas. O artesão-artista criou composições com grande impacto visual. Juntamente com os pintores Aldir Mendes de Sousa e Arcanjo Ianelli tornou-se um reconhecido colorista. Foi também pintor decorador, trabalhando em residências abastadas da sociedade paulista. Trabalhou junto com o pintor e escultor espanhol Antonio Ponce Paz, em paredes e murais, tornando-se grandes amigos.

Volpi tornou-se amigo dos artistas Fúlvio Pennachi, Mário Zanini e Francisco Rebolo, passando a fazer parte do Grupo Santa Helena (artistas que pintavam em uma sala do Edifício Santa Helena, na Praça da Sé), mas não tinha com o grupo uma identificação estética em comum. Veio a conhecer o pintor italiano Ernesto Fiori, em 1938, havendo muito compartilhamento entre os dois. Em 1950, ele viajou para a Europa, fixando-se em Veneza, mas fazendo visitas a outras cidades, inclusive Pádua, onde ficou conhecendo os afrescos de Giotto na capela Scrovegni. Encantou-se também com a obra de Paolo Ucello.

A primeira exposição individual de Volpi aconteceu em São Paulo, quando ele tinha 47 anos. Com o passar dos anos, o trabalho do artista evoluiu para o abstracionismo geométrico, como comprova sua série de bandeiras e mastros de festas juninas. Em 1953, juntamente com Di Cavalcanti, Volpi recebeu o principal prêmio nacional na Bienal de São Paulo. Fez parte da primeira Exposição de Arte Concreta do Grupo Santa Helena.

Alfredo Volpi, tido como um dos artistas mais importantes da segunda geração do modernismo, com sua arte genuinamente brasileira, era um mestre da técnica, dono de grande sabedoria pictórica. Ele conseguiu passar de um decorador de paredes a uma posição invejável na arte. Autodidata, era capaz de pintar nos mais diferentes gêneros e estilos. Uma característica de seu trabalho é a presença de casarios e bandeirinhas. Todas as mudanças operadas em sua arte foram lentas e gradativas, acompanhando seu amadurecimento no diálogo com a pintura. Sobre Volpi, assim escreveu Olívio Tavares de Araújo:

Nos primeiros anos da década de 40, as vistas e marinhas de Itanhaém mergulham numa atmosfera ligeiramente irreal, que evoca algo da “pintura metafísica” – embora não se pareça em nada com ela – e é obtida através do colorido severo e da economia de imagens voluntárias: em nenhuma obra sobrevive qualquer elemento acessório. […] No final da década de 40 para frente, a realidade já não surge sequer como estímulo, mas apenas como um repositório de imagens, um repertório iconográfico do qual Volpi retira formas avulsas existentes – portas, janelas, telhados, ruas, pátios, barcos, gradis, linhas do mar ou do horizonte – como se fossem signos abstratos. […] Daí em diante, começa a série de fachadas; e com elas se abre a porta à pura abstração geométrica. […] As condições para que ele (Volpi) cumpra seu papel de mestre consumado, e ascenda à ímpar posição que hoje ocupa, só se reúnem após 55. Data do pós-concretismo o Volpi definitivo, aquele que conseguiu fazer o que muito poucos outros fizeram, o que pode competir no plano internacional da inventividade e qualidade.

Fontes de pesquisa
Brazilian Art VII
https://www.escritoriodearte.com/artista/alfredo-volpi/
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa1610/alfredo-volpi

Tarsila – CARNAVAL EM MADUREIRA

Autoria de Lu Dias Carvalho

emie1   (Faça o curso gratuito de História da Arte, acessando: ÍNDICE – HISTÓRIA DA ARTE)

Tarcila do Amaral esteve no Rio de Janeiro em 1924, onde passou o Carnaval. Surpreendeu-se com a ousadia da cultura popular ao deparar-se com uma alegoria de 15 metros, criada como decoração do carnaval de Madureira, como foi noticiado e documentado por fotografia, de uma Torre Eiffel em torno da qual, através do uso de uma engenhoca girava um dirigível, homenagem à Santos Dumont. Esta foi a inspiração do quadro em questão, exposto em Paris em 1926, e hoje fazendo parte do acervo da Pinacoteca da Cidade de São Paulo.  (Marlon Lima)

A composição Carnaval em Madureira, obra da pintora brasileira Tarsila do Amaral, é uma construção visual, feita a partir de esboços e de experiências vivenciadas pela artista. Não se trata de um registro real. A escolha do título deveu-se à fama do bairro de Madureira, conhecido desde as primeiras décadas do século XX por suas rodas de samba e blocos carnavalescos tradicionais.

No meio da tela está a Torre Eiffel (situada em Paris/França) enfeitada com bandeirolas coloridas. À sua esquerda encontra-se um dirigível. Ao fundo duas enormes pedras remontam às lembranças da vida da artista na fazenda da família com várias formações rochosas, local em que a pintora viveu sua infância. Tudo isso é transportado para os morros da cidade do Rio de Janeiro numa linguagem própria e numa mistura de meio rural, urbano e exterior.

Na seu quadro Carnaval em Madureira Tarsila emprega tonalidades luminosas e mistura temas brasileiros e estrangeiros. As figuras possuem o tom de pele moreno que se destaca pela uso de roupas coloridas. A vegetação é de um verde luxuriante.

Quase todas as mulheres presentes na composição usam chapéus chamativos de diferentes tamanhos, formas e cores — adereços de Carnaval. Também estão presentes várias crianças. Duas delas ornamentam seu cachorro, prendendo um enorme laço de fita ao rabo do animal, pois o bichinho também faz parte da folia. Uma mulher alta e magra, com muitos colares no pescoço, contrapõe-se à outra, baixa e gorducha, trazendo um lenço na cabeça. Há muitas figuras geométricas na pintura (círculos, triângulos, retângulos, trapézios).

A presença da Torre Eiffel está ligada à França, símbolo de modernidade, país buscado ou almejado por quase todos os artistas da época. A pintora ali passou vários anos de sua vida. As bandeirinhas aludem à alegria.

Ficha técnica
Ano: 1924
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 76 x 63 cm
Localização: Acervo da Fundação José e Paulina Nemirovsky, São Paulo, Brasil

Fonte de pesquisa
Tarsila do Amaral/ Coleção Folha

Carlos Bracher – PINTURA E PAIXÃO

Autoria de Luiz Cruz

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O pintor, desenhista e gravador Carlos Bernardo Bracher nasceu em Juiz de Fora, no seio de uma família de artistas. Seus irmãos Décio, Nívea e Celina, pintores, e Paulo, músico, enquanto seu pai, o professor Waldemar Bracher, foi compositor. Desde cedo, Carlos Bracher, o caçula dos irmãos, foi despertado para a arte e começou a pintar ao entrar na adolescência. Frequentou a Sociedade de Belas Artes Antônio Parreiras e, na década de 1970, instalou-se em Ouro Preto, tornando-se um dos mais conhecidos artistas brasileiros, que fez da pintura sua trajetória de vida, no sentido amplo da palavra. Desde as primeiras obras de Bracher, seja retrato ou paisagem, ou ainda natureza morta, podemos perceber o nascimento de um dos artistas mais expressivos das artes plásticas brasileiras.

Antes de se instalar em Ouro Preto, ainda na década de 1960, a família Bracher realizou uma expedição artística à cidade de Tiradentes, registrando em significativas obras o conjunto arquitetônico local, com seu casario colorido, envolto por vegetação, e a Matriz de Santo Antônio dominando a paisagem, quando o lugar ainda estava submergido na completa decadência. Foi nessa ocasião que Carlos Bracher realizou sua primeira série sobre o tema paisagem, que depois de alguns anos na antiga Vila Rica, e trabalhando incansavelmente a paisagem ouropretana, passa a viajar e realizar diversas séries paisagísticas pelo Brasil afora e até pelo exterior.

A partir da passagem de Frans Post (1612-80) pelo Brasil, acompanhando a equipe de artistas do príncipe Johan Maurits de Nassau-Siege, governador do Brasil Holandês, no período de 1637-44, o país nunca mais deixou de ser percebido, através da arte. Post foi o criador da paisagem brasileira e, desde então, esse tema tem sido trabalho e com certeza é inesgotável, diante da diversidade e do olhar de cada artista à paisagem do Brasil. E Bracher é um dos mais celebres paisagistas da atualidade. Suas obras apresentam-nos uma paisagem que ao mesmo tempo em que é in situ, é também in visu, pois ele a enfrenta e se apropria dela no trabalho de campo. Domina-a e reflete com uma fúria inigualável, com seus largos pincéis carregados de tinta, que vão construindo o espaço. Cor sobre cor. Texturas sobrepondo-se, às vezes encobrindo claros, às vezes encobrindo escuros. Sempre criando um clima de mistério, que só vai ser revelado quando o espectador da obra parar, e seguir cada movimento de suas pinceladas, desde as mais densas, até os toques suaves do artista, que leva brilho e vigor para as camadas pictóricas. Cada obra é detentora de um domínio técnico, mas também de uma grande paixão pelo apreciar, fazer e revelar, pela arte.

Bracher é muito mais que paisagista, é um retratista que pinta não apenas a face das pessoas. Ele pinta o corpo e a alma dos seus retratados. É por isso que cada retrato de sua autoria deixa-nos magnetizados pela expressividade, muito além do apenas retratar. Seus autorretratos são obras que espelham seu visível e invisível, naqueles momentos em que o pinta, e, como cada momento do artista é diferente pela emoção, ambientação ou cronologia, em Bracher deparamo-nos com uma coleção de autorretratos de riqueza imensurável. Suas naturezas mortas são sempre reconstruídas a partir de objetos de seu próprio atelier. Cada uma carrega um sentido, com formas, volumes, luzes e sombras, que tornaram uma marca pessoal e identificável ao primeiro olhar.

Estamos diante de um dos artistas brasileiros mais completos e respeitados, tanto aqui quanto em outros países, por onde expôs, como a França, Itália, Rússia, Japão, China, Inglaterra, Holanda, Espanha, Portugal, Chile, Colômbia e Estados Unidos.

Até aqui tratamos mais do artista do que do homem. Bracher é uma pessoa encantadora. Figura de generosidade incomum. E não há como deixar de passar pelo Castelinho, em Juiz de Fora, onde sua família morava. Era mais do que uma residência, era um templo das artes, e cada um, ao adentrar aquele espaço, era invadido por experiência ímpar, pelos detalhes, seja nas pinturas, esculturas, objetos, fotografias, livros, ou pela solução arquitetônica, pela paisagem deslumbrante que se descortinava, ou ainda pela música do piano. E a recepção calorosa dos Bracher, especialmente a dedicação de Nívea, que sempre foi uma artista de primeira linha. Em sua casa em Ouro Preto, onde vive com a pintora Fani Bracher, sua esposa, junto à Casa da Opera e à Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Bracher integrou-se de tal forma à localidade, que nos associamos por demais sua imagem com a imagem da própria cidade. O homem, não é apenas o homem, ele é também parte do ambiente em que nasce, cresce e vive, com toda gama de minúcias, inclusive a paisagem, na qual está inserido. Por isso, nessa mostra imperdível, que ora se realiza, podemos apreciar um pouco dos ambientes reconstruídos, em que Bracher cresceu: a sala do Castelinho e o atelier, onde cria suas obras.

Nota: fotos do autor, aspectos da exposição.

Modesto Brocos – RENDENÇÃO DE CÃ

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Nem só de gênios é feita a história da arte. Frequentemente, uma obra de pouca originalidade detém uma grande importância – não por ser especial, diferente, revolucionária, mas, ao contrário, por ser mediana e representativa do senso comum. (Rafael Cardoso)

A composição A Rendenção de Cã é uma obra do pintor galego, mas naturalizado brasileiro, Modesto Brocos. Foi vencedora da medalha de ouro na Exposição Geral de 1895. Outra prova de sua importância foi o fato de ser adquirida pela Escola Nacional de Belas-Artes (ENBA). Também foi mostrada no I Congresso Internacional das Raças, em Londres, em 1911, a fim de fazer parte de um trabalho em que se apregoava a hipotética branqueação da gente brasileira. Mas, como deixa claro o historiador da arte Rafael Cardoso, embora tecnicamente bem feita para os padrões da época, trata-se de uma obra convencional, principalmente se comparada ao trabalho de alguns pintores da mesma geração de Modesto Barroco.

A tela apresenta três adultos e um bebê. A mulher com o filhinho no colo, assentada num banco de madeira, é a figura central. Traz os cabelos escuros presos em forma de coque, e usa roupas condizentes com a época. Ela olha a criança e ao mesmo tempo, com o dedo indicador da mão direita,  mostra uma senhora idosa e negra, ao lado, gesto que também contribui para unir as figuras da tela, formando um só grupo composicional.

O bebê no colo, usando uma camisolinha branca, posicionado de frente para a senhora idosa, também a observa. Traz na mãozinha esquerda uma fruta e com a direita imita o gesto da mãe, reforçando o grupo composicional. Sua cabecinha encontra-se alinhada com o umbral da porta. Ao se traçar duas diagonais, formando um X, percebe-se que a cabeça da criança encontra-se no meio da composição.

Ainda segundo Rafael Cardoso, o circuito de continuidade que se estabelece “partindo do olhar do neném, passando pela cabeça da mãe e terminando no rosto da senhora idosa”, além de deixar visível a presença de três gerações, leva a imaginar que a senhora seja a avó da criança, embora haja entre elas um grande diferenciamento de cor.

A senhora negra encontra-se de pé, à direita da mãe com seu bebê, descalça, usando uma pesada vestimenta e um lenço branco com desenhos, a cobrir-lhe os cabelos. Traz os olhos e as mãos voltados para o alto, em posição de prece, como se estivesse a pedir ou a agradecer por algum benefício recebido, ou até mesmo pedindo bênção para a criança. As folhas da palmeira, atrás dela, acompanham o ascender de suas mãos, e o amarelo desbotado da parede reforça sua negritude.

O homem encontra-se assentados na soleira de madeira da porta, encostado no umbral, que separa a parte clara da composição da escura. Supõe-se que seja o pai, sobretudo pela proximidade entre ele e a mulher com a criança. Com a cabeça voltada para a direita, ele olha o bebê com satisfação e ternura.  A cabeça da criança, alinhada com o umbral, mostra que ela pertence às duas partes. Ouso imaginar, portanto, que ela representa a miscigenação advinda da cor mulata da mãe com a cor branca do pai.

Atrás do grupo vê-se um biango feito de taipa, com o reboco caído em algumas partes. Parte do terreiro, na entrada da casa, é coberto por pedras. No vão escuro, que reforça a brancura da pele do homem, estão algumas roupas dependuradas. O quadro é visto como revolucionário para a sua época, quando a presença de um negro, raça até então considerada inferior, só  era vista no trabalho servil, numa obra de arte.

Nota:
Ao tomar como elemento de narrativa apenas a cena puramente visual, é possível fazer várias leituras da mesma. Portanto,  não significa que a linha de parentesco aqui desenvolvida seja a única leitura. Porém, aqui, o título da obra tem grande peso sobre o modo como foi interpretada. (Ver Gênesis: 9,19).

Ficha técnica
Ano: 1895
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 199 x 166 cm
Localização: Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil

Fonte de Pesquisa
A arte brasileira em 25 quadros/ Rafael Cardoso

Pintores Brasileiros – MODESTO BROCOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O pintor, desenhista e gravador Modesto Brocos Y Gómez (1852-1936) nasceu em Santiago de Compostela, na Espanha. Seu primeiro professor foi o afamado escultor Isidoro Brocos y Gomez, seu irmão. Veio para a América do Sul, aos 18 anos, ficando dois anos na Argentina. Veio a seguir para o Brasil, onde permaneceu alguns anos. Aqui trabalhou como ilustrador do semanário “O Mequetrefe”. Foi responsável por introduzir em nosso país a técnica da xilogravura.

No Brasil, Modesto Brocos também não demorou muito, ficando apenas dois anos, e rumou para a França. Em Paris foi estudar na Escola de Belas Artes, onde teve o alemão Henri Lehmann como professor, mas não se adaptou ao tipo de ensino. Inquieto, logo partiu para Madri, voltando para Paris e de lá indo para Roma. Na capital italiana, onde estudou durante cinco anos, encontrou o mestre espanhol Pradilla, que veio a tornar-se seu protetor. Compôs grandes obras, nos mais diferenes gêneros, sendo um assíduo frequentador do Salão parisiense.

Modesto Brocos recebeu o convite de Rodolfo Bernardelli, à época diretor da Escola Nacional de Belas-Artes, para trabalhar no Rio de Janeiro. Logo após naturalizar-se brasileiro, recebeu a nomeação para professor na referida escola, onde lecionou até sua morte. Entre seus alunos encontravam-se Quirino Campofiorito, Reis Júnior e Sigaud. Também escreveu livros sobre o ensino artístico: “A Questão do Ensino das Belas Artes” e “Retórica dos Pintores”. Pintou inúmeros quadros com a temática brasileira, sobretudo a rural, como podemos ver em “Descascar Goiabas”, “A Peneirar Café” e a “A Rendenção de Cã”.

Fontes de Pesquisa
A arte brasileira em 25 quadros/ Rafael Cardoso
https://www.escritoriodearte.com/artista/modesto-brocos/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Modesto_Brocos

Rodolpho Chambelland – BAILE À FANTASIA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Para entender a originalidade que representava, em 1913, um quadro como “Baile à Fantasia”, é preciso um esforço para enxergá-lo com um olhar contemporâneo, e não através do filtro daquilo que veio depois. (Rafael Cardoso)

 Incontestavelmente o quadro, que mais de pronto chama a atenção e a empolga, é o denominado “Baile à Fantasia”, do jovem artista Rodolpho Chambelland. É uma poderosa nota de cor, um magnífico espécime de técnica colorista executada com singular gosto e habilidade. (Crítico anônimo do Jonal do Commercio)

 A composição Baile à Fantasia é uma obra do pintor brasileiro Rodolpho Chambelland e, como o próprio título indica, retrata um tema popular – o Carnaval – onde predominam a alegria, a liberdade trazida pelo anonimato, em razão do uso de fantasias, e a  animação. A tela foi comprada pela Escola Nacional de Belas-Artes (ENBA).

O artista retrata uma festa carnavalesca. No baile à fantasia, inúmeros personagens encontram-se presentes, em pares ou sozinhos. A vibração parece ressoar de todos os pontos da pintura. O principal destaque é dado ao par composto por um pierrô e uma colombina trajando um esvoaçante vestido vermelho, em primeiro plano, à direita da composição. As demais figuras espalham-se livremente por toda a tela, sob uma chuva de confetes e serpentinas, que inunda todo o salão.

O historiador da arte Rafael Cardoso, afirma que, para a época, o tema era bastante moderno, “não uma modernidade programática, de manifesto intelectual, mas uma sensibilidade para os assuntos e as experiências da vida urbana, das novas classes operárias, da boemia e da multidão”. Não apenas a temática usada pelo artista como também o tratamento dado ao quadro eram inovadores à época.

O pintor, em sua tela, faz uso do “divisionismo”, ou seja, ele aplica toques de cores puras, próximos uns dos outros, com o objetivo de criar uma vibração ótica no observador. Vistas de uma certa distância, as cores fundem-se, dando maior claridade e brilho à obra como um todo. A pintura é, em todos os sentidos, uma explosão de alegria, movimento e cores.

O Carnaval tem sido, em razão de sua riqueza visual, uma das festas populares brasileiras mais representadas nas artes plásticas. São inúmeras as obras retratando a magia do universo carnavalesco.

Ficha técnica
Ano: 1913
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 149 x 209 cm
Localização: Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil

Fonte de pesquisa
A arte brasileira em 25 quadros/ Rafael Cardoso