Arquivo da categoria: Poesia

Temas diversos

APAIXONEI-ME POR AMIGA

Autoria de Lu Dias Carvalho

pin1

Sinto a língua molhada no meu rosto,
lambuzando-me com beijos de afago.
O corpo enroscado às minhas pernas,
olhos bebendo-me a alma – em tragos.

Enquanto Amiga corria pela praia,
de volta ao seu costumeiro destino,
lágrimas escorriam sobre meu rosto,
de volta ao meu, perdida – sem tino.

Ela – só um pontinho na areia branca.
Eu – um tosco borrão dentro do barco.
Ambas perdidas no tempo e no espaço,
salpicadas de gotas e pingos – amargos.

A chuva caía lá fora, molhando-a toda.
Regavam-me o rosto lágrimas doídas.
Eu levava um sentimento dilacerante,
ao deixá-la sozinha pra trás – na vida.

Ainda sinto o seu corpo naquele banho.
Desajeitada, com uma carência franca,
queria fugir, em meio às minhas pernas,
que, rijas, a sustinham – pelas ancas.

Ensaboava seu corpo de pelos dourados,
com o meu sabonete cheiroso de lavanda,
salpicando sobre si uma cascata cheirosa
de uma reconfortante espuma branca.

Deitamo-nos ao sol diante do mar azul,
sob o olhar surpreso de nossos vizinhos.
E secamos nossos corpos encharcados,
sob o farfalhar do morno vento marinho.

Eu – explodindo de afeto.
Ela – carente de afeição.
Eu – acariciando seu corpo.
Ela – beijando minha mão.

Antes de partir, roguei aos pescadores
que olhassem aquele serzinho solitário,
que caçava caranguejo, com destreza,
nas areias da praia – em desamparo.

Ainda sinto a ternura de seu abraço,
sua língua molhada sobre minhas pernas,
e seus olhos famintos de amor nos meus.
Amiga, como foi difícil dizer-lhe Adeus!

A VIDA E O PORTO

Autoria de Lu Dias Carvalho

porto

A vida nada mais é
que um grande porto,
onde uns chegam
e outros partem.

Esses choram de alegria,
porque estão chegando;
aqueles choram, tristonhos,
porque estão partindo.

Alguns chegam
bem alegres, festivos;
outros chegam
bem tristes, quebrantados.

Aqueles partem
abatidos, acabrunhados;
esses partem
satisfeitos, alegrados.

Alguns carregam
lágrimas nos olhos;
outros carregam
sorrisos nos lábios.

Aqueles partem
para de novo retornar;
esses partem
para nunca mais voltar.

Alguns chegam,
para logo partir;
outros chegam
para sempre ficar.

Aqueles querem ficar,
mas não podem;
esses querem partir,
mas são impedidos.

Uns dizem que vão embora,
e ficam;
outros dizem que vão ficar,
e partem.

Alguns permanecem
em terra firme;
outros partem
em águas profundas.

Esses acenam,
de pé, no cais;
outros acenam,
de pé, no convés.

Aquele lamenta:
– Deveria ter ficado mais!
O outro murmura:
– Eu ainda vou tarde!

E, assim, navega a humanidade!

Nota: Um panorama de Calecute, na costa do Malabar

A LUA É DOS NAMORADOS

Autoria de Alfredo Domingos

 LUA DE ALFREDO

Faço pães, esculpo pães,
confeito-os com creme.
São os tais pães doces.
Penso na amada que nem
reconhece em mim o amor.

Deixo um exemplar,
todos os dias, bem
na janela da casa azul.
Azul é a casa dela.

Passo de volta e vejo
que o pão foi retirado
Que bom! Ela o pegou.
Levou um pedaço de mim.
Pelo tanto de dias somados
devem ter o meu tamanho.

Malvina, finalmente,
trocou palavras comigo.
Soube do dono dos mimos.
Expliquei do meu ofício.
As tardes, ainda que de
poucos momentos,
passaram a ser nossas.

Ela me procurou entre os pães.
De alegria, morri e renasci
Queria gritar. Jorrar farinha branca, enfim.
O cheiro do pão assado tornou-se inodoro.
Ficou o seu perfume, pois os dois odores
não convivem no mesmo espaço.
Não há chance.

 Estamos bem próximos.
Toquei em suas mãos. Beijei-lhe a testa.
O amor está crescendo como a massa
É preciso que crie corpo. Que apareça.
Até ouvi de Malvina uma coisa linda.
Ela falou em me presentear com a lua
Sou louco pela lua, fascínio dos namorados.

Então lhe disse quase sem forças, lotado de amor:
– Traga a lua! Venha com ela debaixo do braço,
do mesmo jeito que faço com a bisnaga de pão.

Nota: Imagem copiada de www.lavioletera.com.br