Arquivo da categoria: Saúde Mental

Fórum para debate sobre problemas de saúde mental, com textos alusivos ao tema.

OS ANTIDEPRESSIVOS EM NOSSA VIDA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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É sabido que os antidepressivos não funcionam igualmente para todas as pessoas, variando substancialmente de uma para outra. Até mesmo nas reações adversas, podem ser percebidas diferenças. Há casos, por exemplo, em que algumas pessoas, fazendo uso de uma mesma substância ativa, perdem o apetite, emagrecendo, enquanto outras passam a comer sem limites, engordando. Portanto, quando alguém diz que o antidepressivo X ou Y não o beneficiou, pode estar coberto de razão. É por isso que é muito difícil o tratamento com tais medicamentos, pois o psiquiatra trabalha com hipóteses em relação ao paciente, ou seja, com erros e acertos. É o medicado quem irá definir seus avanços, se está melhorando ou não. É a descrição de seu estado físico e mental que irá dar o aval ao psiquiatra para continuar, aumentar, diminuir, ou mudar o antidepressivo.

O sumiço da SP (síndrome do pânico) é um dos resultados mais visíveis no tratamento com antidepressivos. A ansiedade e a depressão, contudo, são mais difíceis de serem combatidas, até mesmo pela visão que o paciente passa a ter sobre o próprio tratamento. Ingenuamente, imagina, na maioria das vezes, que ao tomar um antidepressivo, nunca mais terá ansiedade ou tristeza, pois está fazendo uso da pílula da felicidade. Esquece-se de que também se faz necessário mudar certos comportamentos, levar menos carga nos ombros, pautar a vida pela tolerância consigo e com os outros, aceitar o que não pode mudar, em suma, viver com mais leveza.

Embora tomemos um antidepressivo, o que melhora consideravelmente nossa qualidade de vida, continuamos humanos do mesmo jeito, com alegrias, tristezas, esperas, aborrecimentos, indignações, decepções, etc. O modo como tratamos essa gama de emoções é que faz toda a diferença. O antidepressivo funciona como um fator de equilíbrio das nossas emoções desenfreadas, fazendo com que nossos neurônios passem a funcionar dentro daquilo que denominamos “normalidade”, mas em hipótese alguma transforma-nos em seres divinos, acima do bem e do mal, habitantes de um paraíso imaginário. E, se alguém, ao tomar um medicamento tal, vê-se como um zumbi, desprovido de emoções boas e ruins, deve imediatamente voltar ao psiquiatra, pois encontra-se no vale das sombras.

Sou uma velha usuária de antidepressivos, caminhada que vem desde a minha adolescência. Venho de uma família de depressivos crônicos, pelo lado materno, herança deixada, desde a passagem de minha bisavó por este planeta, passando por minha avó, mãe, tias, um monte de primos, numa muito bem repartida herança. É fato que alguns parentes privilegiados fugiram à regra. A genética permitiu-lhes abrir mão de tal herança, legando-a, generosamente, a nós outros. Já passei por uma infinidade de antidepressivos dos mais variados laboratórios. Com alguns me fiz amante temporária, em razão das brigas de foice com o meu organismo. Com outros amásios convivi bons tempos, até que passaram a não me satisfazer mais (coisa da vida a dois). Atualmente encontro-me nos braços do oxalato de escitalopram. Confesso que temos formado um bom par, embora haja dias em que lhe viro a cara, ou seja, sinto-me deprimida com os reveses da vida. O que faço? Apenas exclamo: Obá! Continuo humana!

O que as pessoas precisam entender é que, junto com o tratamento psiquiátrico, faz-se necessário mudar caminhos, traçar novas rotas na busca pelo mais importante coadjuvante do tratamento químico: uma nova maneira de olhar e aceitar a vida. Confesso que, ao aliar uma busca pelo Caminho do Meio, ou seja, pelo equilíbrio de minhas emoções, eu encontrei o segundo remédio mais profícuo para a minha depressão. Parei de botar toda a responsabilidade no antidepressivo, para dividi-la comigo mesma. Em suma, tomei consciência de que a pílula da felicidade é ainda um mito, e que assim seja eternamente, pois o sofrimento é o sentimento que mexe visceralmente com o nosso âmago, tornando-nos realmente humanos. É dele que nasce a sensibilidade, a compaixão, a generosidade, a gratidão, a autopreservação, em suma, o amor à vida como um todo.

É bom que se saiba que não existe resultado 100% efetivo em relação a esse ou àquele antidepressivo, porque ninguém é 100% feliz neste nosso planeta chamado Terra. Só a certeza de nossa finitude é um soco no estômago. Existem algumas teorias que aludem a essa fugacidade a busca exagerada por riquezas e poder. Segundo elas, alguns, mais do que outros, não aceitam esta certeza que habita em cada um de nós, pobres mortais. E se agarram às coisas materiais e ao poder no sentido de preencher tal vazio e fugirem dessa certeza inquestionável. São pessoas perigosamente enfermas.

Aos meus companheiros de caminhada, fica a sugestão de que se tratem à vista de problemas mentais, procurando um psiquiatra de confiança. Mas, mais do que isso, que procurem também ser mais compassivos consigo e com os outros. Nossa caminhada pela Terra é tão veloz, para que carreguemos nos ombros pesados fardos Quanto mais leveza, mais descansados estaremos para ver a beleza que existe ao nosso derredor. Temos que deixar as sendas do materialismo doentio, que nos instiga a ver alegria apenas nos grandes favorecimentos, e alegrar-nos com pequenas coisas: com uma flor que se abre no jardim, um beija-flor que pousa na janela, um papo com alguém agradável na rua, um favor feito, uma comidinha gostosa, o cumprimento do vizinho, o roçar do gato e a festa do cão à chegada dos donos em casa, um banho refrescante, uma chuvarada, um pôr-do-sol, uma tarde de trovoadas, o contato com as pessoas queridas… Não esperem um tempo especial para se sentirem alegres, até que já não saibam mais sorrir. Comecem agora. Já!

Nota: na ilustração estão duas pinturas de Edvard Munch (Noite de Verão e Melancolia)

Atenção:

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SÍNDROME DO PÂNICO – O MEDO DO MEDO

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AUTISMO E ENTREVISTA COM TEMPLE GRANDIN

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A abordagem de um distúrbio mental num folhetim visto por milhões de pessoas, com uma linguagem bem didática, presta um grande serviço à população. Qualquer informação relativa à saúde será sempre bem-vinda. Sem falar que a comunidade científica encontra-se preocupada com o aumento dos números de prevalência de autismo no mundo. Seria uma epidemia? É encontrado em todo o planeta e em famílias de qualquer configuração racial, étnica e social. As manifestações do transtorno variam imensamente, dependendo do nível de desenvolvimento e da idade cronológica do indivíduo. A síndrome do autismo ainda não apresenta cura, mas, quanto mais cedo for diagnosticada, mais fácil torna-se a programação de seu tratamento.

O autismo vem sendo muito conhecido, mas pouco entendido. O Aurélio assim o define: “Fenômeno patológico caracterizado pelo desligamento da realidade exterior e criação mental de um mundo autônomo.”.  Mas acreditar que o autista vive em um mundo próprio criado por ele é considerado um mito. O seu isolamento acontece em razão da dificuldade que sente em iniciar, manter e terminar um contato de interação. O autismo é, portanto, um transtorno que se caracteriza, principalmente, pelo dano provocado à sociabilidade, pois o autista não consegue se comunicar com as pessoas, ao não estabelecer relacionamentos.

O transtorno do autismo já pode ser detectado antes mesmo do terceiro ano de vida, quando as habilidades da criança, em vez de evoluírem, regridem, embora não seja fácil diagnosticá-lo, em razão da variação comportamental que possui a criança autista. Ela passa a se isolar, ficando cada vez mais retraída, sem interagir até mesmo com a mãe, não faz contato visual, sendo que muitas crianças passam a ter dificuldade na linguagem, além de apresentarem um comportamento hostil ou restritivo, como balançar o corpo para frente e para trás, ininterruptamente, ou manusear o mesmo objeto por horas a fio.

Classifica-se o autismo, junto com outras doenças correlatas, como transtorno global do desenvolvimento(TGD). Mas atualmente é visto como transtorno do espectro autista (TEA), que engloba tudo (o Autismo, a Síndrome de Asperger e o Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação), levando em conta apenas a gradação: leve, moderada ou grave, com a finalidade de facilitar o diagnóstico. De qualquer forma, não se trata de um transtorno totalmente definido. Algumas crianças, por exemplo, embora sejam autistas, mostram-se inteligentes e dominam a fala, enquanto outras são incapazes de desenvolvê-la. Certos autistas são fechados e distantes, enquanto outros possuem comportamentos rígidos e específicos.

A neurociência (Aurélio: Qualquer das ciências que estudam o funcionamento do sistema nervoso, especialmente o do cérebro.), ao entender que possuímos um “cérebro social”, vem ajudando na compreensão do diagnóstico do autismo. Ela mostra que o modo como o cérebro funciona repercute no nosso comportamento. Exemplificando: temos a capacidade de notar a emoção na face de outra pessoa, apenas ao observá-la, assim como sabemos como agir neste ou naquele contexto, modificando nosso comportamento. E mais importante: somos capazes de nos colocar no lugar do outro, fator imprescindível para a empatia, ou seja, para as interações sociais. O autista não possui tais habilidades, ou apresentam déficits em relação às mesmas. Portanto, não estabelece relacionamentos e não responde de acordo com o ambiente em que se encontra inserido.

O autismo não está ligado ao retardo mental ou à falta de domínio das palavras, como pensam alguns. Certas crianças, apesar de autistas, apresentam inteligência e fala  intactas, muitas vezes com inteligência acima da média. Outras apresentam sérios problemas no desenvolvimento da linguagem. Alguns portadores da síndrome parecem fechados e distantes, outros presos a rígidos e restritos padrões de comportamento. As manifestações do transtorno variam imensamente, dependendo do nível de desenvolvimento e da idade cronológica do indivíduo.

Certos adultos com autismo são capazes de ter sucesso na carreira profissional. Porém, os problemas de comunicação e socialização causam, frequentemente, dificuldades em muitas áreas da vida desses indivíduos. Adultos com autismo continuarão a precisar de encorajamento e apoio moral na sua luta para uma vida independente. Pais de autistas devem procurar programas para jovens adultos autistas bem antes dos seus filhos terminarem a escola.

Indivíduos com autismo usualmente exibem pelo menos metade das características listadas a seguir:

  1. Dificuldade de relacionamento com outras pessoas
  2. Riso inapropriado
  3. Pouco ou nenhum contato visual (não olham nos olhos das pessoas)
  4. Aparente insensibilidade à dor (não respondem adequadamente a uma situação de dor)
  5. Preferência pela solidão e modos arredios (buscam o isolamento e não procuram outras crianças)
  6. Rotação de objetos (brinca de forma inadequada ou bizarra com os mais variados objetos)
  7. Inapropriada fixação em objetos
  8. Perceptível hiperatividade ou extrema inatividade (muitos têm problemas de sono ou excesso de passividade)
  9. Ausência de resposta aos métodos normais de ensino (muitos precisam de material adaptado)
  10. Insistência em repetição, resistência à mudança de rotina
  11. Não tem real medo do perigo (consciência de situações que envolvam perigo)
  12. Procedimento com poses bizarras (fixar um objeto ficando de cócoras; colocar-se de pé numa perna só; impedir a passagem por uma porta, somente liberando-a após tocar de uma determinada maneira os alisares)
  13. Ecolalia (repete palavras ou frases em lugar da linguagem normal)
  14. Recusa colo ou afagos (bebês preferem ficar no chão que no colo)
  15. Age como se estivesse surdo (não responde pelo nome)
  16. Dificuldade em expressar necessidades (sem ou limitada linguagem oral e/ou corporal; gestos)
  17. Acessos de raiva (demonstram extrema aflição sem razão aparente)
  18. Irregular habilidade motora (podem não querer chutar uma bola, mas podem arrumar blocos)
  19. Desorganização sensorial (hipo ou hipersensibilidade, por exemplo, auditiva)
  20. Não fazem referência social (entram num lugar desconhecido sem antes olhar para o responsável, para fazer referência antes e saber se é seguro)

Entrevista com Temple Grandin  (uma das mais reconhecidas autoridades em autismo no mundo).

“O autismo é parte de quem eu sou, mas não vou permitir que ele me defina. Sou uma expert em animais, professora, cientista, consultora.”

FSP – Seu novo livro trata do cérebro dos autistas. Em que ele é diferente?
TG – As ligações são diferentes, meu cérebro é diferente do cérebro de um neurotípico (pessoa sem o transtorno). Não é culpa da mãe ou da educação, autistas nascem com diferenças físicas.

FSP – Como deve ser o tratamento das crianças com autismo na escola?
TG – A educação deve levar em consideração as habilidades da criança, investindo nelas. Se a criança tem habilidade para as artes, vamos investir nisso. É preciso trabalhar com a criança para enfrentar suas dificuldades. Se ela tem problemas para se relacionar, é preciso ensinar aos poucos as habilidades sociais, ensiná-la a cumprimentar, a dar a mão. Se não consegue falar, é preciso atacar esse problema, uma palavra de cada vez, ou usar música.

FSP – Como os pais podem saber se seu filho é autista?
TG – Não é preciso fazer ressonância magnética do cérebro para identificar autistas ou crianças com problemas de desenvolvimento. Se uma criança chega aos três anos e ainda não consegue falar, existe algum problema.

FSP – Como a família pode ajudar a criança?
TG – A melhor forma é ficar muito tempo com a criança, horas a fio, conversando com ela, tentando ensinar uma palavra, um gesto de cada vez. Avós são muito boas para isso; em geral, têm tempo para se dedicar aos netos e habilidades pedagógicas.

FSP – Na escola, devem ser colocadas em classes especiais?
TG – As crianças com autismo podem frequentar escolas comuns, mas os professores precisam saber que elas têm necessidades e habilidades especiais. Uma criança autista pode ser muito fraca na escrita, mas ótima com os números. Então, ela deve receber atendimento extra para aprender a escrever ou ler e ser incentivada a progredir naquilo em que for boa – no exemplo, pode passar adiante da classe em matemática.

FSP – O que precisa mudar no atendimento à criança autista?
TG – Os educadores devem focar nas habilidades das crianças autistas, não só nas suas deficiências, para que elas tenham melhores condições de se integrar à sociedade. As crianças autistas devem ser incentivadas a se especializar em alguma atividade. Quando eu estive na escola, sofri muito com as críticas e as gozações dos outros. Eu me refugiei no desenho, no trabalho com os animais. A atividade especializada é muito boa para os autistas: música, artes, robótica, seja o que for.

FSP – O que fazer para que os autistas possam ter uma vida independente?
TG – É preciso entender que os autistas pensam diferente. Alguns pensam em padrões, outros por imagens. É preciso aproveitar isso para ajudá-los, para que possam contribuir com a sociedade. Mas é preciso ajudá-los. Eu sugiro que, a partir dos 12 anos, as crianças recebam orientações e treinamento em áreas que possam lhes ser úteis para que venham a ter um emprego, seja atendendo em uma loja, seja trabalhando com animais ou qualquer outra coisa.

Fontes de pesquisa:
Einstein &Saúde (www. Einstein.br)
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2013/05/1284675-autismo-e-parte-de-mim-mas-nao-me-define-diz-a-cientista-temple-grandin.shtml

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GRANDES TRAUMAS E REVIVESCÊNCIA

Autoria do Dr. Telmo Diniz

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Sequestros, assaltos, roubos, estupros e acidentes automobilísticos, esses e outros cenários fazem parte do cotidiano do brasileiro. As tragédias nas grandes capitais brasileiras e a violência é uma constante na vida das pessoas, independentemente da classe social. São traumas que podem permanecer por meses, até anos. Não é à toa que a sociedade contemporânea está adoecendo. São doenças sociais cada vez mais comuns, que se disseminam na população, como os vários tipos de distúrbios da esfera da ansiedade.

Vítimas dessas tragédias e grandes traumas podem ficar com sequelas psíquicas bem marcantes. Todos estes fatores de estresse podem causar o que chamamos de Transtorno Pós-Traumático, que pode ser entendido por uma perturbação psíquica decorrente de um evento ameaçador à pessoa. Ele consiste num tipo de recordação que é conhecido como revivescência, pois é muito mais forte que uma simples recordação. Na revivescência, a pessoa além de recordar as imagens do evento, realmente sente como se estivesse vivendo novamente a tragédia com todo o sofrimento original.

Para esse diagnóstico é essencial que a pessoa tenha experimentado um evento traumático ou uma grande ameaça. Quando esse evento ocorre, é necessário também que a pessoa tenha apresentado uma resposta marcante de medo ou horror. No período que se segue, o indivíduo passa a ter recordações muito vívidas, abruptas e involuntárias do evento. Podem ocorrer pesadelos, sentir como se o evento fosse acontecer de novo, chegando a comportar-se como se estivesse de fato revivendo aquele evento traumático. É também possível que a pessoa tenha alucinações durante as crises.

O tratamento com antidepressivos, com atividade serotoninérgica, pode ser útil em alguns casos, porém, a psicoterapia cognitivo-comportamental é o caminho mais acertado. Esse tipo de terapia tem características próprias, pois possui um enfoque diretivo, trabalha os pensamentos automáticos, as crenças sem sentido, os comportamentos alterados e, consequentemente, obtém resultados eficazes. Esse tipo de psicoterapia está focado na resolução dos problemas, fornecendo ao indivíduo uma explicação clara das dificuldades emocionais, prevenindo as recaídas. Durante a psicoterapia, a pessoa é ensinada a identificar os pensamentos que originam as perturbações emocionais e a substituí-los por modos de pensar mais amenos e positivos.

Ao longo de todo o tratamento, a pessoa aprende também técnicas de autoajuda que produzem alívio rápido dos sintomas e o aumento do autocontrole diante do medo, sem adentrar nos quadros de pânico e de ansiedade generalizada. Em vários casos, a associação da medicação com a terapia é de grande ajuda, ou seja, um trabalho conjunto entre médico e psicólogo.

Nota: ilustração copiada de dialogospoliticos.wordpress.com

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O ESTRESSE AGUDO E O CRÔNICO

Autoria do Dr. Telmo Diniz

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O estresse se caracteriza por ser um mecanismo fisiológico do organismo sem o qual nós não teríamos sobrevivido. Os homens das cavernas tinham de reagir imediatamente ao se deparar com um animal faminto. Caso contrário, não teriam deixado descendentes. Nós existimos porque nossos ancestrais se estressavam, isto é, liberavam uma série de mediadores químicos (adrenalina e cortisol) que provocavam reações fisiológicas para se prepararem para todos os perigos. Mas o grande desafio da sociedade moderna é a adaptação ao estresse crônico.

Para que o leitor entenda melhor a diferença entre estresse agudo e crônico, a fase aguda é imprescindível para a sobrevivência. Um exemplo é estarmos diante de um assalto: o batimento cardíaco e a pressão arterial aumentam, o sangue é desviado do intestino e pele para os músculos, que precisam estar fortalecidos para o que conhecemos como “reação de luta ou fuga”. Já o estresse crônico resulta do acúmulo de pequenos problemas que se repetem todos os dias. Contas a pagar, problemas a resolver, o trânsito que não anda, etc. São eventos corriqueiros que provocam um discreto e constante aumento da pressão arterial e do número dos batimentos cardíacos que, sem dúvida, trazem consequências nefastas para o organismo no longo prazo.

Os desafios da vida moderna vêm impondo mudanças nos hábitos de vida entre as pessoas. A sobrecarga de atividades no dia a dia e a dificuldade de adaptação a esta nova realidade vêm provocando um aumento significativo do estresse crônico, que pode trazer prejuízos à saúde física e emocional. Não é incomum este tipo de paciente no consultório, relatando uma fadiga e cansaço sem explicação (tipo “arrastando correntes”), insônia, diminuição da libido, irritabilidade, entre outras queixas.

A abordagem do paciente com estresse crônico passa por uma boa e completa anamnese, exame físico e uma revisão laboratorial. O primeiro passo é identificar a causa do estresse e verificar se é possível afastá-la. Se não for, é preciso criar estratégias para resolvê-la. Uma boa “higiene do sono” deve ser revista, pois seguidos episódios de insônia é problema extra. As atividades físicas sempre são bem-vindas para a redução dos quadros de estresse, aliadas a atividades extra trabalho (hobbie). Se a pessoa não conseguir controlar os níveis de estresse, sozinha, deve procurar ajuda profissional. Uma ajuda que vem da fitoterapia, que pode contribuir bastante, são os adaptógenos (o principal representante é o ginseng).

Clinicamente, as ações terapêuticas dos adaptógenos compreendem o aumento da atenção e da resistência à fadiga, além de reduzir os prejuízos e transtornos relacionados ao estresse. Adaptógenos não são considerados estimulantes, mas, sim, moduladores da resposta, tanto da suprarrenal, quanto do sistema nervoso autônomo – o que permite um aumento da resistência física e psíquica ao estresse. Na área psíquica, os adaptógenos reduzem os prejuízos causados pelo estresse, e ainda melhoram a cognição e a memória. Os adaptógenos podem ser de grande ajuda, porém, a associação com melhoras no estilo de vida são primordiais.

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INFORMAÇÕES SOBRE OXALATO DE ESCITALOPRAM

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O mercado trabalha com uma variedade de antidepressivos. Dentre as inúmeras substâncias usadas, uma das mais modernas e mais indicadas pelos especialistas vem sendo o oxalato de escitalopram, usado no tratamento da depressão, síndrome do pânico, agorafobia, ansiedade generalizada (TAG), fobia social e transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Segundo orientações encontradas na bula, o paciente, que irá fazer uso de tal substância, deve avisar a seu médico, se teve ou tem algum problema de saúde, principalmente:

• epilepsia ; diabetes;
• comprometimento do funcionamento dos rins e/ou do fígado;
• níveis de sódio diminuídos no sangue;
• tendência a sangramentos ou manchas roxas;
• doença cardíaca coronariana;
• estar em terapia eletroconvulsiva;
• deve também relatar os medicamentos que estão sendo usados, ou que usou nos 14 dias anteriores ao início do tratamento, a fim de evitar reações adversas.

Uma das perguntas mais frequentes é em relação ao tempo que a medicação leva para fazer efeito. Na maioria das vezes, esse não é sentido logo após o início do tratamento, sendo necessárias algumas semanas para começar a surgir os efeitos positivos. Os efeitos adversos iniciais variam de pessoa para pessoa. Um dos mais sentidos é o aumento da ansiedade, que irá desaparecendo com a continuidade do tratamento. Isso não deve levar o paciente a paralisar a medicação, ou mudar a dose prescrita, sem autorização de seu médico. Alguns sintomas, contudo, devem ser imediatamente relatados ao especialista, quando em uso de tal substância:

• a mudança para uma fase maníaca (mudanças incomuns e rápidas das ideias, alegria inapropriada e atividade física excessiva);
• inquietude ou dificuldade de sentar ou permanecer em pé;
• pensamentos suicidas ou de causar ferimento a si próprio. É possível que continuem ou fiquem mais intensos antes que o efeito completo do tratamento antidepressivo torne-se evidente.

Observação:
• algumas vezes, a pessoa pode não conseguir perceber a existência dos sintomas acima citados, portanto, é útil pedir a ajuda de um amigo ou familiar para ajudá-la a observar possíveis sinais de mudança no seu comportamento;
• durante o tratamento, a pessoa deve avisar seu médico imediatamente, ou procurar o hospital mais próximo, se apresentar pensamentos ou experiências desagradáveis ou qualquer um dos sintomas anteriormente mencionados.

Atenção
• Normalmente o oxalato de escitalopram não deve ser usado no tratamento de crianças e adolescentes com menos de 18 anos de idade, pois esses apresentam um risco maior para alguns efeitos adversos, tais como tentativas de suicídio, pensamentos suicidas e hostilidade.
• O médico deve ser informado se a mulher está grávida ou pretende ficar. E também quando estiver amamentando, para evitar problemas para o bebê.
• Recomenda-se não ingerir álcool durante o tratamento.
• Os comprimidos são administrados por via oral, uma única vez ao dia. Podem ser tomados em qualquer momento, preferencialmente no mesmo horário.
• Não interromper o uso do remédio até que o médico avise.
• Ao terminar o período de tratamento, é recomendado, que a dose seja gradualmente reduzida por algumas semanas, para evitar os sintomas desagradáveis da descontinuação.

Relate a seu médico caso apresente algum dos efeitos adversos, embora muito deles sejam comuns:

• náusea; nariz entupido ou coriza (sinusite)
• aumento ou diminuição do apetite;
• ansiedade, inquietude, sonhos anormais, dificuldades para dormir, sonolência diurna, tonturas, bocejos, tremores, sensação de agulhadas na pele;
• diarreia, constipação, vômitos, boca seca; aumento do suor;
• dores musculares e nas articulações (mialgias e artralgias);
• distúrbios sexuais (retardo ejaculatório, dificuldades de ereção, diminuição do desejo sexual e, em mulheres, dificuldades para chegar ao orgasmo);
• cansaço, febre; aumento de peso;
• sangramentos inesperados, o que inclui sangramentos gastrointestinais;
• urticária, eczemas (rash), coceira (prurido);
• ranger de dentes, agitação, nervosismo, ataque de pânico, estado confusional;
• alterações no sono, alterações no paladar e desmaio;
• pupilas aumentadas (midríase), distúrbios visuais, barulhos nos ouvidos (tinnitus); perda de cabelo; sangramento vaginal; diminuição de peso;
• aceleração dos batimentos cardíacos; inchaços nos braços ou pernas;
• sangramento nasal;
• agressividade, despersonalização, alucinação;
• diminuição dos batimentos do coração; pensamentos suicidas;
• tontura ao levantar-se por queda da pressão (hipotensão ortostática)
• se sentir inchaço na pele, língua, lábios ou face, ou apresentar dificuldades para respirar ou engolir (reação alérgica), contate seu médico ou vá diretamente para um hospital com serviço de emergência;
• se apresentar febre alta, agitação, confusão, espasmos e contrações abruptas dos músculos, esses podem ser sinais de uma condição rara denominada síndrome serotoninérgica, contate o seu médico imediatamente;
• se apresentar algum dos efeitos adversos a seguir, deve contatar imediatamente o seu médico ou ir diretamente para um hospital com serviço de emergência: dificuldade para urinar, convulsões, cor amarelada da pele ou no branco dos olhos.

Nota: quero alertar os leitores, que muitos dos sintomas aqui mencionados são bastante raros, não sendo motivo para o medo de usar o oxalato de escitalopram, um dos antidepressivos mais modernos e mais usados no momento. Os laboratórios são obrigados a fazer  constar tudo nas bulas, ainda que seja apenas um caso em todo o histórico do remédio.

Tem como efeito positivo livrar-se:

  • da depressão;
  • da ansiedade generalizada (TAG);
  • da síndrome do pânico (com ou sem agorafobia)
  • da ansiedade;
  • da fobia social;
  • do transtorno obssessivo compulsivo (TOC).

Atenção:

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OS ANTIDEPRESSIVOS EM NOSSA VIDA

Fonte de pesquisa:
http://www.medicinanet.com.br/bula/8151/escitalopram.htm

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SÍNDROME DE BURNOUT – DOENÇA OCUPACIONAL

Autoria do Dr. Telmo Diniz

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O termo burnout, em melhor tradução livre, seria algo como “consumido pelo fogo”. É uma síndrome que compreende uma condição de estresse ligada intimamente ao trabalho da pessoa. Sua principal característica é o estado de tensão emocional e estresse crônico provocado por condições de trabalho desgastantes. A pessoa vai literalmente sendo consumida e suas forças vão se exaurindo aos poucos, dia após dia.

A síndrome é muito mais prevalente em pessoas cuja profissão exige envolvimento interpessoal direto e intenso, como entre profissionais das áreas de educação (professores), saúde (médicos, enfermeiros, cuidadores de idosos), assistência social, líderes religiosos, área de recursos humanos, agentes penitenciários, bombeiros e policiais. Caso sua profissão seja lidar diuturnamente com o ser humano, mantendo contato próximo com outros indivíduos, é um potencial candidato de, mais cedo ou mais tarde, vir a desenvolver alguns sintomas desta síndrome.

O indivíduo que “experimenta” burnout pode apresentar:
• fadiga constante,
• distúrbios de sono,
• dores musculares,
• dores de cabeça e enxaquecas,
• problemas gastrointestinais,
• respiratórios e cardiovasculares
• alteração no ciclo menstrual (em mulheres)

Sintomas psicológicos também estão presentes, como:
• dificuldade de concentração,
• lentificação do pensamento,
• sentimentos negativos sobre o viver e trabalhar,
• impaciência,
• irritabilidade,
• baixa autoestima,
• desconfiança,
• depressão, e em alguns casos até paranoia.

Geralmente, com toda esta sobrecarga emocional a pessoa passa a negligenciar suas obrigações, fica mais agressiva nas relações e perde a capacidade de relaxar. Além disso, tende ao isolamento, perde interesse pelo trabalho e em outras atividades que antes eram prazerosas.

As causas da Síndrome de Burnout compreendem um quadro multidimensional de fatores individuais e ambientais, que estão ligadas a uma percepção de desvalorização profissional. O ambiente de trabalho e as condições de realização deste podem também determinar o adoecimento ou não do sujeito. Esta síndrome vai além do estresse comum. É um misto de estresse e depressão, no qual o tema trabalho é a constante principal. É uma doença ocupacional, portanto.

É sempre importante ressaltar a relevância de um diagnóstico correto, para que não se cometam erros, como a confusão entre burnout e depressão. A primeira tem vários sintomas de depressão que estão diretamente ligados e relacionados ao trabalho da pessoa. O tratamento passa pelo uso de medicações com antidepressivos e ansiolíticos, além de abordagem psicoterapêutica, onde o profissional irá trabalhar com o paciente uma ressignificação do seu cotidiano e mudança de hábitos de vida, incluindo aí exercícios físicos e atividades de relaxamento. Tenho o costume de falar aos pacientes: seu trabalho é um meio de vida ou de morte? Pense nisso!

Nota: imagem copiada de blogjonathancruz.blogspot.com

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