Autoria de Lu Dias Carvalho
Dalí parecia ver repressão sexual em tudo. O quadro O Angelus, 1859, do pintor francês Millet, fascinava-o, tendo realizado inúmeras interpretações da obra, no seu modo paranoico de ver as coisas. Para ele, no cansaço, os camponeses erotizavam seus instrumentos de trabalho. Segundo o pintor, o quadro de Millet foi responsável por despertar o instinto sexual nele e na esposa Gala.
Na composição O Angelus de Gala, ele representa sua esposa duplamente: Gala de frente para Gala. Sendo que a que se encontra de costas para o observador está em tamanho maior, bem superior à de frente. Segundo Dalí, são os dois lados de sua mulher confrontando-se “cara a cara”.
A Gala de frente para o observador está sentada sobre um carrinho de mão, instrumento de trabalho dos camponeses e, portanto, segundo a visão do pintor, um instrumento erotizado. Ela demonstra uma atitude hostil, como mostram seus olhos apertados, o corpo ereto, as mãos contidas no colo e o olhar inflexível direcionado à outra Gala. Talvez seja essa a que amedronta o pintor, que chegou a registrar que, quando adolescente, tinha horror ao ato sexual.
A Gala a de costas está sobre o que se parece com uma caixa. Ambas estão de saia, blusa interna e jaqueta de brocados. São fantásticos os bordados das jaquetas, podendo ser vistos em minúcias, o que demonstra a capacidade do artista em trabalhar com detalhes.
Ao fundo, detrás da cabeça de Gala, está uma variação do quadro de Millet. Observe o leitor que o homem tem a postura encolhida, enquanto mantém o chapéu entre as pernas. A mulher, por sua vez, tem as mãos juntas, em postura de prece, como no quadro de Millet, contudo, é bem maior do que o homem. Possivelmente Dalí via a figura feminina como grande e amedrontadora, ou seja, como a fêmea do louva-a-deus antes da cópula.
Ficha técnica
Ano: 1935
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 32,4 x 26,7
Localização: Museum of Modern Art, Nova York, EUA
Fontes de pesquisa
Dalí/ Coleção Folha
Dalí/ Abril Coleções
Views: 1