Autoria de Lu Dias Carvalho
A composição Enterro do Conde de Orgaz é considerada a principal obra de El Greco em que ele, pela última vez, põe em cena todos os seus recursos pictóricos, pois a partir daí passou a eliminar de seu trabalho tudo aquilo que considerava desnecessário. A obra é tida como um marco da pintura maneirista, sendo de extrema originalidade. O pintor – tido hoje como um um dos mais importantes pintores do Maneirismo europeu – dividiu a composição horizontalmente em duas partes: o corpo do conde sendo enterrado embaixo e sua alma chegando aos céus, na parte de cima cima.
Esta obra foi pintada 250 anos depois da morte do conde de Orgaz. Sua inspiração nasceu da lenda de que, ao ser sepultado, dois santos desceram do céu – Santo Agostinho e Santo Estêvão – e tomaram seu corpo nos braços e o depuseram na túmulo. Portanto, estão representadas a morte a ressurreição do conde.
O conde Gonzalo Ruiz de Toledo era famoso como benfeitor de instituições religiosas, principalmente da igreja de Santo Estêvão e dos agostinianos de modo que, antes de morrer, deixou para a Igreja de São Tomé, onde queria ser sepultado, as rendas de sua vila. Este quadro foi encomendado pela referida igreja ao pintor El Greco em sua homenagem. A iconografia foi aceita pela Igreja que viu na obra do artista o ensinamento de que as boas obras, com a ajuda dos santos, conduzem à salvação.
Na parte terrena, a tela apresenta uma enorme procissão liderada pelo sacerdote e pelos clérigos que estão realizando o ofício do sepultamento do conde. Os dois personagens de amarelo, ricamente vestidos, representam Santo Agostinho e Santo Estêvão segurando o corpo do conde. O primeiro segura-lhe a cabeça e o segundo os pés, para postá-lo na sepultura, enquanto são observados por um grande número de pessoas trajadas com as roupas sóbrias da época. Também encontram-se presentes importantes figuras da cidade de Toledo, incluindo o próprio pintor (acima de Santo Estêvão, fitando o observador). Esta é, sem dúvida, uma das características mais notáveis da composição, ao usar os retratados para fazer o limite entre o céu e a terra.
O pároco da igreja de São Tomé é o responsável pela oficialização da cerimônia fúnebre. Ele se encontra na extrema direita da tela, de costas para o observador, com as mãos abertas, olhando para o céu. Outro oficiante encontra-se a seu lado, de perfil, fazendo a leitura da Bíblia. Ao lado direito deste, um homem segura a cruz do cortejo, responsável por fazer a ligação entre a cena da terra com a do céu.
O pintor apresenta com pormenores a aparência das pessoas e dos objetos, a exemplo da armadura do conde; a palidez do defunto; a meticulosa representação dos paramentos eclesiásticos e a transparência da veste branca, sobrepeliz, usada sobre a batina preta do sacerdote que oficia a cerimônia fúnebre e olha absorto para o céu.
O garotinho que aparece abaixo, à esquerda da composição, apontando para o conde e os dois santos com a mão esquerda, e segurando na direita um círio funerário, é Jorge Manuel, o único filho do pintor, quando tinha oito anos. No lenço que aparece no seu bolso está a data de seu nascimento. Ele e seu pai são as duas únicas figuras a olhar para o observador. Atrás dele se encontra São Francisco. O gesto de apontar era usado na pintura sacra como indicativo de que uma lição estava sendo ensinada e, no caso, significa que “as boas ações são responsáveis para garantir a absolvição e a salvação da alma”.
Na parte superior, um céu cheio de glória paira sobre a cena. Um anjo com um manto amarelo no colo e cabelos dourados leva a alma do conde Ruiz ao julgamento, como se ela fosse o fantasma de uma criança. Mais acima, a Virgem Maria abaixa-se para receber a alma do conde, enquanto São João Batista, quase nu, intercede a Jesus Cristo pela alma do morto, cercado por anjos e santos. Atrás da Virgem está São Pedro, com as chaves do Reino dos Céus, responsável por abri-lo para receber a alma do conde.
A parte superior da tela que representa a cena celestial é intensa, movimentada, vibrante e abstrata, ao contrário da inferior – que representa o mundo terreno – que é solene e hirta. Embora aparentemente frágeis, as nuvens sustentam inúmeras e pesadas criaturas. Além das figuras de Jesus e da Virgem, todo o céu está tomado pelos apóstolos, santos, anjos músicos e querubins.
Ficha técnica
Ano: 1586-1588
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 480 x 360 cm
Localização: Igreja de Santo Tomé, Toledo, Espanha
Fontes de pesquisa
El Greco/ Editora Girassol
Renascimento/ Editora Taschen
Pintura na Espanha/ Jonathan Brown
Arte em Detalhes/ Publifolha
Views: 44
A obra em si é espetacular, quase dá para viver dentro do desenho, pois parece tão real. Espero que sejamos recebidos também em cima, para isso temos que fazer coisas boas cá em baixo. El Greco era um homem de fé, pois tenho visto outras obras dele, toda são espetaculares.
Rui
Trata-se realmente de uma obra-prima.
El Greco era um grande pintor e cristão fervoroso, de modo que suas pinturas estavam ligadas aos preceitos religiosos. Como você disse, a pintura atrai-nos para dentro dela.
Abraços,
Lu
Misericórdia! Como é difícil entrar no reino dos céus!
Perfeita sua interpretação! Bem redundante minha frase… rsrs.
Ju
Seu comentário fez-me dar uma boa gargalhada… risos.
Mas este ritual só é para os ricos, logo, seremos recebidos no céu com mais simplicidade… risos.
Abraços,
Lu