Autoria de Lu Dias Carvalho
A composição denominada Retrato do Comerciante Georg Gisze é uma obra-prima do pintor renascentista alemão Hans Holbein, o Moço (c.1497-1543), que se especializou em retratos. Aprendeu sua arte com o pai, Hans Holbein, o Velho, sendo posteriormente aceito na Guilda dos Pintores em Basileia. Embora tenha também pintado murais, retábulos e iluminuras, tinha predileção pelo retratismo, sendo exímio nos pormenores de sua obra. O artista é tido como um dos maiores expoentes do retratismo de seu tempo. Com esta composição, um dos mais belos retratos da pintura alemã, ele mostra o ápice de seu desenvolvimento artístico, ao apresentar diferentes texturas, metal e tecido e as variantes do reflexo de luz no vidro.
Na composição acima o pintor retrata o comerciante George Gisze em seu escritório na cidade de Londres. O retratado encontra-se próximo à sua escrivaninha, abrindo uma carta. É possível ler a escrita externa: “Dem erszamen Jergen Giszte tu Lunden em Engeland Mynem broder to handen” (Para entregar ao meu irmão, o respeitável Jergen Gisze, em Londres, Inglaterra). O retrato de Gisze foi feito quando ele tinha 34 anos, como pode ser verificado através do papel na parede posterior: “Anno aetatis suae XXXIII”. O pintor, por sua vez, tinha mais ou menos a mesma idade.
Gisze é retratado no canto da sala, praticamente imprensado, de modo que seu cotovelo esquerdo parece bater na divisória ao lado. Ele veste uma camisa branca, tendo por cima um gibão de seda avermelhado e acima desse uma jaqueta preta, aberta acima dos cotovelos. Traz no dedo indicador da mão esquerda um anel, sendo que dois outros estão dependurados na prateleira de cima. O artista deixa em destaque os dois braços, a fim de conferir amplitude e volume ao comerciante que projeta sua sombra na parede posterior. Vê-se aí um contraste entre as delimitações do espaço físico e o volume das roupas bufantes do moço.
No cinto de Gisze vê-se um molho de chaves e também sob a prateleira direita. Um belo tecido oriental reveste a mesa, como se houvesse a intenção de mostrar pompa. Também decoram a escrivaninha um vaso de flores e um distribuidor esférico de barbante ricamente adornado. Ali também se encontra um relógio de caixa, apresentando um único ponteiro no mostrador superior, isso porque os pequenos relógios de bolso e de mesa à época eram acionados por molas de aço, não sendo muito precisos. As pessoas orientavam-se pelas badaladas dos relógios de igrejas e das prefeituras, que trabalhavam movidos por pesos.
Holbein deixa muitas correspondências à vista na composição. Acontece que naquela época, a correspondência comercial era guardada em cestos e pastas, mas aquelas que o destinatário precisava ter em mãos eram colocadas entre as ripas da parede feita de tábuas, como vemos na pintura. O vaso e as flores são os únicos elementos do retrato que não têm relação com a profissão de comerciante, numa demonstração da capacidade do pintor. Também compõem o cenário um anel de sinete, um carimbo manual, ao lado do relógio de pêndulo, estampado em cera ou lacre. Na prateleira à esquerda vê-se dependurado outro selo, mais ricamente adornado.
Sobre a mesa estão penas, uma caixa com moedas e barras de cera para lacrar. Ao lado está um recipiente com pequeninos orifícios para despejar areia fina sobre os documentos trabalhados, fazendo as vezes de um mata-borrão. Ali também estão tesouras, objetos utilizados nos contratos, pois o texto era escrito duas vezes na mesma folha de papel, embaixo e em cima, depois cortado, de modo que cada uma das partes ficasse com uma cópia.
Obs.: Exames radioscópicos da tela mostraram que Holbein objetivava pintar a cabeça de Gisze de frente e que mais tarde a virou de lado, embora suas pupilas continuem olhando para a frente, encarando o observador.
Ficha técnica
Ano: 1532
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 96 cm x 86 cm
Localização: Gemäldegalerie, SMPK, Berlim, Alemanha
Fontes de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Editora Taschen
1000 obras-primas da pintura europeia/ Editora Konemann
Views: 14