ÍNDIA – A VACA SAGRADA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

vafol

As cidades indianas têm crescido muito e as vacas passaram a ser um problema mais do que visível, que nem mesmo o divino touro Nhandi poderá resolver, sendo uma das queixas mais recorrentes, o fato de que elas, em busca de alimento, espalham o lixo, rasgando os sacos. Sem falar no perigo que vêm trazendo para elas e para o tráfego nas grandes cidades, que se avoluma cada vez mais, com o acréscimo de veículos.

Tentando reduzir a população de vacas em Nova Delhi, o governo vem contratado homens, que possuem a incumbência de capturar e transportar as divinas vaquinhas para bem distante das fronteiras da cidade, onde são cuidadas. Mesmo isso não tem sido fácil, pois, ao ouvirem o som do caminhão, elas saem em debandada pelas ruas e, sem falar na oposição do povo hindu quanto a tal método. O problema parece realmente insolúvel.

Segundo a visão ocidental, a Índia só abandonará as suas superstições religiosas no dia em que matar e comer uma vaca. Acha um paradoxo a adoração à vaca, enquanto milhares de indianos morrem de fome. Questão difícil de ser resolvida, pois nem mesmo os 200 anos de domínio britânico mudaram alguma coisa na visão desse povo, em relação à vaca sagrada. Por isso, a proteção à vaca tem sido chamada de “lunático entrave” para a gestão das explorações sensatas, segundo a visão dos economistas ocidentais. Como vegetariana que sou, eu me oponho à matança dos animais. Penso que não seja por aí.

O mundo ocidental acha um absurdo o hindu não aproveitar para comer as vacas doentes ou idosas. No entanto, a Índia gasta muito menos com o envelhecimento de seu gado, do que os estadunidenses com seus gatos e cães. Ao ouvir loas sobre a civilização ocidental, certo estadista indiano respondeu que “o agricultor indiano vê o gado como parte da família, uma vez que dele depende para sua própria subsistência”. Por isso, faz todo sentido, quer economicamente ou emocionalmente, lutar pelo seu bem-estar. Quase toda família rural indiana possui, no mínimo, uma vaca leiteira. A Índia possui a maior concentração de gado do mundo, e é o segundo produtor mundial de leite.

É interessante notar que os principais problemas de saúde na Índia são, na verdade, resultantes da superlotação urbana, saneamento inadequado e das dificuldades de atendimento médico. Enquanto no Ocidente, a hipertensão arterial, doenças cardíacas, artrite e câncer constituem as maiores ameaças para a saúde. Temos que buscar o meio- termo entre as culturas.

Os Vedas (livro sagrado do hinduísmo) concordam com a alegação ocidental de que o homem tem domínio sobre os animais. No entanto, não aceita o modo como o Ocidente lida com seus dependentes animais. Alegam que temos domínio sobre as nossas crianças e anciãos, mas nem por isso justifica o fato de abatê-los. Os Vedas não ensinam que a vaca é superior à forma humana de vida. Pelo contrário, é uma mãe a prestar favores à sociedade humana e, por isso, deve ser protegida. Sua assistência ao homem libera grande parte da humanidade da luta na vida, proporcionando-lhe mais tempo, para a busca espiritual. É um erro pensar que os animais não possuem sentimentos, dizem eles. O que a Ciência está a nos provar.

Para a Índia, a vaca representa o princípio sagrado da maternidade, simbolizando a caridade e a generosidade, pelo jeito como distribui seu leite, que é essencial para a alimentação dos jovens e idosos. Contudo, as nossas sagradas rainhas enfrentam sérias dificuldades. Uma delas é a subnutrição crônica em razão da falta regional e sazonal de forragem e água. Ficam com o sistema imunológico enfraquecido, tornando-se suscetíveis à infecção parasitária e outras doenças. Sendo que um grande número de animais mal nutridos cria um potente meio de surtos de doenças infecciosas, que exigem vacinas caras, muitas vezes ineficazes pela falta de refrigeração. Os ocidentais questionam se, a uma triste existência em quase inanição, muitas vezes também doentes crônicas, sem assistência governamental, não seria mais humano o abate. E ambientalistas preveem que haverá um choque breve no território indiano, porque a massa de terra do país não pode sustentar o crescimento da população humana e animal, como vem acontecendo.

Gowshalas (refúgios para o gado) e pinjrapoles (refúgio para uma mais diversificada população animal) estão localizados em toda a Índia, sendo mantidos pelos impostos e doações de caridade da comunidade empresarial. Mesmo sabendo que o búfalo é de melhor qualidade na produção de leite do que a maioria das variedades de vacas, raramente ele é encontrado em gowshalas, porque é considerado impuro e não merecedor do mesmo respeito que a vaca. Mas, infelizmente, tais abrigos não podem absorver todos os bezerros, vacas e bois, uma vez que a população bovina está constantemente aumentando, pois a vaca deve ter um bezerro para produzir leite. Os danos ecológicos, produzidos por milhões de vacas leiteiras, estão transformando algumas partes da Índia num deserto desprovido de árvores e solo superficial.

Devido à oposição religiosa à eutanásia, mesmo morrendo de dor e sem assistência alguma, esses animais não são submetidos a ela. Muitos ortodoxos hindus e jainistas opõem-se à morte de animais, por qualquer razão, pois pregam que é errado interferir, de alguma forma, com o carma ou o destino do outro. Hindus têm fundamentado que matar uma vaca doente é como matar a própria mãe, o que é impensável para eles.

Nota: Imagem copiada de http://aumagic.blogspot.com.br

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10 comentaram em “ÍNDIA – A VACA SAGRADA

    1. LuDiasBH Autor do post

      Rui

      Penso que, com a globalização, essas culturas absurdas irão acabar, para o bem do povo.
      Não é possível viver como se estivesse na Idade Média.

      Abraços,

      Lu

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  1. Pedro Rui

    Temos de respeitar a cultura, mas nem 8 e nem 80. Realmente seria bom que tratassem das vacas doentes, até pelo sofrimento delas e pelas doenças que podem passar. É verdade que muito daquele povo passa fome e muitas crianças morrem todos os dias.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Pedro

      Para mim, só é possível respeitar uma cultura quando ela cuida bem de seu povo.
      E não vemos isso na Índia.
      E mesmo assim, muita gente ainda acredita em espiritualidade naquele país.
      É triste ver crianças morrerem de fome.

      Abraços,

      Lu

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  2. Cezar

    Quando uma questão simples passa para o lado religioso, acaba se tornando uma complicação. Às vezes, criamos fantasias e fábulas reconfortantes que acabam indo de encontro a nossa própria existência. Eis aí mais um triste exemplo.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Cezar

      É verdade!
      Onde há o bedelho da religião, atrelado às superstições, vira um embaraço só.
      E assim, sofrem bichos e gentes.

      Abraços,

      Lu

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  3. Messias

    Lu
    É uma equação complexa. O direito da utilização eticamente digna da vaca como alimento está vinculado ao investimento de qualidade de vida a ela oferecida. Inclui aí uma morte rápida e sem sofrimento quando no abate. O sofrimento é o que de pior pode-se infligir a qualquer ser vivente.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Messias

      Você tem toda a razão.
      O bom seria se os animais fossem conservados com saúde, sem a necessidade do abate.

      Abraços,

      Lu

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