Autoria de Lu Dias Carvalho
Na arte brasileira, Segall é o artista que dela se ocupou com mais profundidade. (Olívio Tavares de Araújo)
Nunca foi maior e mais sincero o artista do que quando retratou os desamparados e os perseguidos, numa palavra os desvalidos da sorte, tangidos como gado à mercê das circunstâncias. Nessas enormes composições não há revolta ou desespero […]. Em tais momentos, sua pintura alça-se por sobre o plano meramente estético, para atingir a esfera da moral. (José Roberto Teixeira Leite)
O pintor Lasar Segall (1891-1957) era o sexto dos oito filhos do casal Abel Segall e Ester Segall, tendo nascido em Vilna, na Lituânia, quando o país ainda se encontrava sob o jugo do império russo. No decorrer da Primeira Guerra Mundial, Vilna foi invadida pelos alemães que ali permaneceram três anos e, após esse período, os russos retomaram à cidade. Segundo o próprio pintor, houve lutas entre lituanos, poloneses e russos pelo domínio de Vilna que ora ficava nas mãos de uns, ora nas mãos de outros, até ser incorporada à Polônia definitivamente. Por isso, ele sempre se sentiu como um apátrida. Sua família era judia e, como as demais, vivia à margem da sociedade, no gueto. Ele foi ali instruído pelo pai escriba do Torá (livro sagrado do judaísmo), com quem viveu até os 15 anos de idade.
A composição intitulada Interior de Indigentes é uma obra do artista que era muito sensível às questões sociais, dono de uma vocação humanitária e religiosa. Encontra-se no acervo do MASP desde 1950. O quadro em questão pertence ao seu período expressionista em que ele exterioriza os estados íntimos de sofrimento, usando uma dramática simplificação das linhas e das tonalidades principais da composição.
O casal encontra-se numa casa muito humilde, cujo chão é assoalhado. Em primeiro plano está a mulher, encarando o observador, como se lhe mostrasse sua miséria, trazendo o filho nos braços. Em segundo plano encontra-se o homem sentado diante de uma pequena mesa, com o braço esquerdo descansando sobre ela, perdido em seus pensamentos, sem saber o que fazer da vida.
A mulher é magra e seus olhos díspares repassam um grande sofrimento. Seus seios caídos são perceptíveis através do vestido de mangas compridas. Sua boca fechada traz a sensação de que não tem mais voz para alardear a sua pobreza, o seu eterno sofrimento. Ela apenas mostra o filho raquítico, talvez morto, enquanto faz um gesto com a mão direita. O homem traz o rosto sério, mergulhado na sua própria insignificância e impotência, aniquilado diante da miséria. Seu olhar de desesperança está voltado para a direita. Sua postura é de conformismo, como se não houvesse mais nada a fazer, senão aceitar e aceitar até que seu fim chegasse.
A sensação repassada ao observador é a de que ele também faz parte deste drama, caso traga consigo um rasgo de sensibilidade e seja capaz de ser tocado pelo sofrimento dos desvalidos, impotentes diante da crueza de um mundo estratificado.
Ficha técnica
Ano: 1920
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 83,5 x 68,5 cm
Localização: Museu de Arte, São Paulo, Brasil
Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
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Lu
Lasar Sagall consegue expressar a dor vivida pelas famílias no período catastrófico da Primeira Guerra Mundial. Observando a obra verifica-se no primeiro plano, a utilização de tons frios, uma mulher com uma criança no colo, segurando uma moeda, simboliza a falta de recursos. Um homem de perfil, numa mesa vazia, mostra a dificuldade vivida nesse período difícil da história humana. O artista utiliza tons frios e pastéis nas duas figuras. No segundo plano usa tons cinzas e marrons de forma retangular, mostrando a variedade de visão, a fim de mostrar ao espectador formas variadas de enxergar o mundo.
Segall foi um rebelde, utilizou a arte para denunciar a crueldade contra os refugiados, descamisados e o preconceito contra as prostituas. Ele deu voz e vida aos esquecidos pela sociedade, pelo Estado, ou seja, àqueles que vivem à margem da sociedade. Hoje,vivemos momentos parecidos com o vivido por Segall. Há um conflito no leste europeu, onde as grandes potencias utilizam o povo ucraniano como escudo humano para atingir seus objetivos geopolíticos, gerando uma grande massa de refugiados e destruição. Essas atrocidades têm acontecido por obra da OTAN em outros países do Oriente, com a falsa mensagem de que são pela democracia e liberdade, quando na verdade é em prol do imperialismo.
Hernando
É muito interessante o paralelo que você faz entre os acontecimentos do tempo de Segall e os de nossos dias. Quero deixar em evidência suas palavras, na análise que faz da situação que se desdobra no leste europeu:
“Essas atrocidades têm acontecido por obra da OTAN em outros países do Oriente, com a falsa mensagem de que são pela democracia e liberdade, quando na verdade é em prol do imperialismo.”
Abraços,
Lu
Lu
Essa obra de Lasar Segall reflete sua preocupação com as injustiças sociais e o sofrimento humano, retratando a pobreza e a violência da segregação socioeconômica dentro do imaginário do artista em uma composição estruturada por meio de planos constituídos em diagonais com o predomínio das formas triangulares. O Expressionismo de Segall mostra uma fase histórica de visualização e representação das camadas inferiores da sociedade contemporânea, tendo como fio condutor os processos de movimentos organizados de luta das minorias durante as duas grandes guerras.
Adevaldo
Com poucas palavras você resume o trabalho desse grande artista que escolheu o Brasil como sua segunda pátria:
“Essa obra de Lasar Segall reflete sua preocupação com as injustiças sociais e o sofrimento humano, retratando a pobreza e a violência da segregação socioeconômica…”
Abraços,
Lu