Autoria de Lu Dias Carvalho
Os mais antigos estilos de arte originaram-se nos oásis de imensos desertos em terras sob o controle de tiranos orientais, a exemplo do Egito, o que contribuiu para que a arte não sofresse modificações ao longo de milhares de anos, uma vez que aos déspotas não interessam as mudanças. Contudo, a história da arte seguiu caminhos diferentes em outras terras vizinhas ao mundo egípcio — enseadas das penínsulas da Grécia e da Ásia Menor —, terras não pertencentes à soberania de um só monarca. Eram regiões que reuniam grandes riquezas, produtos oriundos do comércio e também da pilhagem marítima. A ilha de Creta — a maior de todas as ilhas gregas — foi originalmente o principal centro dessas terras. Seus reis costumavam mandar embaixadas ao Egito, levando as obras de seus artistas e trazendo outras de lá.
Não se sabe ao certo qual era o povo que habitava a ilha de Creta à época e cuja arte foi transmitida ao continente grego, ganhando espaço principalmente em Micenas (outrora um dos maiores centros da civilização grega e hoje um sítio arqueológico na Grécia). Contudo, em cerca de 1000 a.C., novas tribos, guerreiras oriundas da Europa, adentraram na península grega, chegando até o litoral da Ásia Menor, derrotando seus antigos habitantes e destruindo a arte ali produzida.
Dentre os guerreiros recém-chegados estavam as tribos gregas que se espalharam por várias cidades pequenas e por pontos de abrigo ao longo da costa mediterrânea. Embora houvesse conflitos entre elas, nenhuma conseguiu subjugar a outra. A arte dessas tribos, nos primeiros séculos de sua dominância, era tosca e sem qualquer traço de leveza, não lembrando em nada o gracioso estilo cretense, mas, ao contrário, suas obras mostravam-se mais rígidas do que as dos artistas egípcios. Os padrões geométricos que decoravam suas cerâmicas eram muito simples e, quando esses artistas representavam uma cena, criavam-na rígida e severa.
A Grécia era divida em cidades-estados, sendo Atenas a mais conhecida e importante no que diz respeito à arte. Ela foi responsável pelos primeiros passos de uma técnica nova que viria a fazer toda a diferença na história da arte — o escorço (desenho ou pintura que reproduz seus motivos em escala menor, segundo as normas da perspectiva) — sendo os povos gregos e romanos os que mais perto chegaram da perspectiva (assunto que estudaremos mais à frente).
Quando os artistas gregos iniciaram a criação de estátuas de pedra, partiram sabiamente do ponto em que os egípcios e os assírios haviam parado. Estudaram e imitaram os modelos egípcios e com eles aprenderam como criar a figura de um jovem de pé (ilustração acima), a demarcar as partes do corpo e os músculos que o mantém unido. Eles, no entanto, não se limitaram a reproduzir o que estudavam, mas acrescentavam às obras suas próprias experiências, buscando descobrir algo novo em relação ao corpo, aprimorando sua arte.
A investigação conduzida pelos artistas gregos fazia toda a diferença. Enquanto os egípcios tomavam o conhecimento que tinham como definitivo, seguindo as normas preestabelecidas e rigorosamente impostas à criação artística, os gregos acrescentaram ao saber que apreendiam o próprio olhar e, assim, suas oficinas punham em prática novas ideias, criando novos jeitos de representar a figura humana. Cada nova invenção era assimilada imediatamente pelos artistas, formando um grande elo interativo de aprendizado. Ainda que falhassem muitas vezes em suas experiências — uma vez que não seguiam regras fixas —, os artistas gregos deixavam claro que a criatividade não tinha limites e que os erros e acertos eram próprios de quem buscava o aprimoramento de sua criação.
Ao que parece, o trabalho dos escultores gregos antigos era mais abundante do que o dos pintores, pois só nos é possível formar uma vaga ideia sobre o trabalho pictórico (relativo à pintura) através das decorações em cerâmica, como nos mostram os vasos — recipientes usados na maioria das vezes para guardar vinho ou azeite (ver ilustração acima).
Exercício:
1. Por que a arte grega foi capaz de transformar-se ao longo dos tempos?
2. Como se deu o aprendizado dos artistas gregos no que diz respeito às estátuas?
3. Qual é a importância de termos um comportamento investigativo na nossa vida?
Ilustração: 1. Os Irmãos Cleóbis e Biton (c. 615 – 590 a.C.), obra de Polímedes de Argos / 2. Aquiles e Ajax jogando Damas na pintura do vaso (c. 540 a.C.)
Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
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Lu
É admirável o que os gregos antigos conseguiram criar, usando apenas os materiais e conhecimentos existentes à época. Usaram a criatividade, tendo como inspiração o homem, a religião e a própria natureza. Não se importavam em apenas imitar, mas queriam sempre acrescentar algo diferente.
É importante observar a assimilação e a transmissão de conhecimento existente entre os povos que habitaram a Grécia Antiga. Essa troca de estilos, a perseverança e a vontade de aperfeiçoar cada vez mais fez com que a arte se tornasse cada vez mais enriquecida.
Marinalva
A arte na Grécia Antiga realmente foi profícua e inovadora, ao contrário do que estudamos na arte egípcia. Uma das principais razões para que isso acontecesse foi a interação entre os povos e a liberdade que os artistas tinham para criar, ao contrário do que acontecia no Egito Antigo. A privação da liberdade atinge as produções artísticas em cheio, amordaçando e minando a criatividade em quaisquer que sejam os tempos.
Beijos,
Lu
Lu
É impressionante como a arte e o reflexo do estilo de vida de um povo é moldado politicamente de acordo com os interesses dos senhores do poder, independentemente do período da história humana.
É notório que a arte grega teve início nas penínsulas gregas e no baixo Oriente, região da Turquia, banhada pelos mares Mediterrâneo, Egeu e Negro. Certamente era uma região de muita circulação de pessoas e mercadorias, ou seja, havia um intercâmbio robusto entre os povos. Nesse período,a arte era muito simples e precária, não havia uma técnica apurada nos trabalhos artísticos. Posteriormente, os gregos desenvolveram técnicas artísticas bastante avançadas, principalmente nas esculturas, com detalhes mais aguçados das partes do corpo humano, como por exemplo dos músculos e órgãos genitais. Também houve muita criatividade na elaboração das cerâmicas, com desenhos geométricos, mas, em contrapartida nao houve avanço nos trabalhos pictóricos(pintura).
É interessante observar como a arte imita vida! Na civiluzacao grega não havia um imperador absoluto, existiam tribos com chefes independentes nas várias penínsulas, diferentemente da civilização egípcia, onde o imperador, um tirano que ditava as normas para os artistas se expressarem, sempre com cunho religioso, como pano de fundo a morte, com técnicas rígidas e pouca criatividade. Como a civilização grega foi moldada de uma forma mais livre e sem repressão, possibilitou ao artista criar novas possibilidades, exercendo sua liberdade para poder acertar e errar, aprimorando o senso crítico e a liberdade – elos fundamentais para desenvolvimento da consciência crítica e, consequentemente da artística.
Hernando
Se não me engano, já no primeiro texto/aula, eu explico que a história da arte é também a história da humanidade, mostrando, como escreveu você, que a arte imita a vida. A arte nada mais é do que uma resposta à vida (ou a demonstração dessa) que um povo leva num determinado período de sua história, portanto, conhecer a história da arte é também conhecer a história da Terra. Enganam-se aqueles que acham que o estudo da arte não lhes acrescenta absolutamente nada. Assim pensando, deixam de viajar através da História e descobrir fatos que até então lhes eram desconhecidos. E, numa sequência lógica, o conhecimento de tais fatos abrem o nosso horizonte, a nossa capacidade de compreender e julgar, mas julgar com conhecimento de causa, sem o “achismo” tão comum ao povo brasileiro.
Possuo uma admiração muito grande pelo saber da Grécia Antiga com sua arte maravilhosa nos mais variados campos e os seus inesquecíveis filósofos. Penso que, depois, poderemos partir para um curso de filosofia aqui no blogue.
Abraços,
Lu
Lu
Acredito que os gregos, mentalmente libertos dos medos da vida “pós-mortem”, buscaram no realismo da vida toda a força e criatividade artística necessária para exaltá-la, conforme evidencia o primor das suas obras, a começar pelas esculturas, uma forma bem mais realista do que a arte pictórica.
O comportamento investigativo é a mola propulsora que desvenda segredos em todos os campos da ciência, abrindo novos caminhos para outras descobertas, embora muitas dessas possam ocorrer acidentalmente, o que implica em novas explicações e descobertas. Em se tratando da arte criativa o viés é o mesmo, embora esta caminhe de forma diferente, pois é produto da capacidade inata do indivíduo que pode evoluir através de outro artista, inspirada na anterior.
Antônio Messias
Os gregos antigos, embora ligados à mitologia, enxergavam a vida de uma forma bem diferente dos egípcios, por exemplo. A crença em seus deuses mitológicos não os limitava, mas os impulsionava em busca do aperfeiçoamento. Ali também viveram os grandes filósofos, os grandes pensadores da humanidade. A arte grega foi tão importante que vários estilos que vieram depois dela a ela recorreram (e ainda recorrem).
Abraços,
Lu