Autoria de Lu Dias Carvalho
A moça empertigada de olhar altivo desceu de seu carro, passou indiferente por mim, e seguiu à minha frente com seu salto de 15 centímetros, visivelmente tensa, com medo de cair. Nas mãos, trazia um belo embrulho que, por seu formato, parecia alguma guloseima, enfiada no braço carregava uma colorida sacola. Pelos trajes, dava para ver que ia a um aniversário.
Cá com os meus botões, eu me perguntava como alguém podia se equilibrar em saltos tão finos e altos, quando um barulho esquisito tirou a minha concentração. Lá estava ela, a moça empertigada e de olhar altivo, estatelada no chão. O embrulho espatifou-se a uns dois metros de distância, a sacola rasgou-se, um dos sapatos ficou sem salto e o pé estava todo escalavrado. Um dos saltos agulha da infeliz ficou preso entre dois paralelepípedos.
Confesso que mordi a língua para não rir, enquanto as pessoas que se encontravam num ponto de ônibus próximo caíam em sonoras gargalhadas. Aproximei-me da deselegante moça de olhar cabisbaixo e a ajudei se levantar. Um rapaz que vinha em nossa direção abaixou-se para tentar recolher a torta que se espatifara no chão.
Levei-a até o edifício, onde acontecia o encontro festivo e me pus a caminho. Continuei indagando dos meus botões, por que é tão difícil conter o riso em certas situações? Alguns atestam que o homem é o único animal que ri. Eu cá tenho as minhas dúvidas, pois acho que as hienas gargalham, meus gatos sorriem, assim como macacos, cavalos, cães e etc.
Segundo os estudiosos no assunto, quando rimos, todos os órgãos de nosso corpo levam vantagem: diminuição dos batimentos cardíacos, estímulo do apetite, perda de calorias, juventude, endorfinas, analgésicos naturais… O neurologista Henri Rubenstein diz que um minuto de boas gargalhadas pode nos proporcionar até 45 minutos de relaxamento. E o professor William Fry, por sua vez, chegou à conclusão de que 100 risadas possuem o mesmo efeito de uma sessão de 10 minutos de ginástica abdominal, com aparelhos.
Mas o que sei é que, mesmo tendo conhecimento de toda esta terapia proporcionada pelo riso, nada consola quem passa pelo vexame de cair na rua. Se duvidarem, perguntem à moça não mais elegante e de olhar altivo.
Views: 0
Lu,
Coincidentemente assisti a uma matéria no Fantástico desse domingo onde o neurocirugião Fernando Campos, do Hospital Samaritano de SP, afirma que é normal rirmos de situações como essa, pois é um comportamento social e culturalmente aceito. O Mário está coberto de razão em seu comentário, pois esse mesmo psiquiatra William Fry que você citou afirma que cada pessoa desenvolve um senso de humor que muda conforme a situação do momento. Se é um contexto de pouca seriedade, como o caso dessa ex-elegância, a reação é atípica. Mas ninguém acha graça de uma pessoa despencando de um prédio de dez andares, pois o sofrimento vivido pela pessoa nos causa agonia de saber que é grave a situação. Há também os efeitos da incoerência da situação, neste caso, inusitada e inesperada, que nos leva ao riso instantâneo, ainda que reprimido, como você fez. É como se o cérebro do observador “sentisse cócegas” nos neurônios, que reproduzem os padrões de atividade do cérebro de quem caiu, cujos neurônios são usados para tentar recuperar por elas mesmas,o equilíbrio perdido, através de movimentos ainda que desconexos e desajeitados. Bela explicação, não? Então, se deparar novamente com tal situação, não se reprima, pode rir à vontade, só tome cuidado para não levar uma “bolsada” no pé da orelha!
Abraços,
Rosalí.
Rosali
É verdade!
Inconscientemente ficamos sabendo se podemos rir ou não.
Como se o cérebro ficassem em alerta para nos transmitir a ordem de rir ou não.
No caso da moça, foi interessante ver como sua arrogância caiu por terra.
Desceu do salto na mesma hora.
Gostei muito de suas explicações.
Você sempre nos trazendo boas explicações.
Beijos,
Lu
Lu Dias
Tu acha que este salto combina com esta calçada?
Quanto a rir da desgraça alheia, só rimos quanto o caso não é letal, porque se for, liberamos adrenalina ao invés de endorfina…
Mário
Este salto não combina com lugar algum.
Segundo os ortopedistas, não devemos usar saltos inferiores a 1 cm e nem superiores a 4 cm.
Mas a vaidade feminina faz das mulheres um joguete em suas garras.
É verdade!
É preciso que a queda não traga riscos.
Nisso somos sábios.
Abraços,
Lu