OS LIVROS DE AUTOAJUDA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Os livros de autoajuda são uma forma de explorar o mercado das fantasias de poder e sonhos, da realização individual que se desenvolve em meio a uma ordem social centrada no ego e orientada pela aquisição e acumulação privada da riqueza. (Francisco Ridiger)

É incrível ver como os livros de autoajuda proliferam pelas estantes das livrarias. São várias prateleiras dedicadas a eles. Confesso que não são a minha praia. Não os relego por desprezo ao gênero, mas por acreditar que somente eu posso mudar os rumos da minha vida, pois os caminhos dela, bem ou mal sou eu mesma quem traço. Acredito que qualquer mudança que eu possa fazer em minha vida, precisa nascer de dentro para fora, num profundo expurgo de crenças enraizadas desde as várias gerações de meus antepassados. Eu prefiro a sabedoria empírica de meus heróis anônimos e humildes, encontrados por aí, nas esquinas da vida, mas genuinamente experimentada na pele encarquilhada, à custa de muito sofrimento e calosidades, aos sábios da autoajuda, imersos em montanhas de dinheiro e em spas de luxo.

O brilhante Oscar Wilde possui uma definição bastante interessante sobre o cinismo com que se vende felicidade no mundo de hoje, incluindo aí certas religiões:

“O homem sabe o preço de tudo, mas o valor de nada”.

Concordo plenamente com o poeta, dramaturgo e escritor irlandês, quando questiono o direcionamento do saber para a esperteza e da inteligência para o convencimento. Arrepio-me com a facilidade com que certos autores do gênero em questão “ensinam-nos” a viver, quando na verdade só fazem quadruplicar a conta bancária a cada lançamento jogado no mercado, com a falsa promessa de que os leitores estão comprando a satisfação existencial. Fico com o pensamento de Diógenes de Sinope e seus cínicos:

A felicidade genuína deve envolver autoconhecimento crítico, ação virtuosa e desconfiança profunda dos bens exteriores, como riqueza, reputação e convenção social.

Já naqueles tempos, os filósofos estavam convictos de que qualquer mudança só se efetuaria, se a pessoa passasse por uma profunda reforma pessoal, pois ninguém muda ninguém. Engana-se quem toma para si tal encargo, ou seja, mudar alguém, pois levará muito pouco tempo para se decepcionar. Toda e qualquer transformação mental só poderá vir de dentro para fora. O máximo que podemos fazer é repassar para a pessoa o nosso modo de lidar com as emoções e a maneira como vemos a vida. Mas não carreguemos a presunção de que iremos reformá-la.

Quando aceitamos alguém em nossa companhia, é bom que nos perscrutemos antes sobre seus pontos positivos e negativos. Seremos capazes de conviver com eles? Ou imaginamos que iremos mudar a pessoa em pouco tempo? Se tivermos em mente a segunda opção, melhor será que nos afastemos dela. Na verdade, a melhor lição é o exemplo. O resto é atirar no escuro. Querer mudar alguém é dar com os burros n’água. Se conseguirmos fazer mudanças em nós mesmos, já é meio caminho andado. E é por essas e por outras que fujo da filosofia simplista dos livros de autoajuda.

Nota: Imagem copiada de nstitutoparacleto.org

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