Autoria de Lu Dias Carvalho
Teme a mulher e brinca com as víboras.
Mulher é como bolacha, pois em todo lugar se acha.
Os provérbios são o mais sintético dos estilos literários e trazem no seu bojo uma parte de nossa história ao longo dos tempos. Possuem um cunho moral, ensinando qual é a maneira correta de pensar ou agir em determinadas ocasiões, mas de acordo com a cultura desse ou daquele povo, o que não significa que sempre estejam corretos. Também fantasiam, exageram e debocham. Mostram as dessemelhanças entre homens e mulheres, quase sempre defendendo a superioridade e o privilégio dos primeiros, ou seja, em sua maioria são machistas, uma vez que retratam a sociedade.
Ao se remeterem à história da humanidade, os provérbios deixam clara a posição do homem e da mulher, através dos tempos, dentro das diversas sociedades, principalmente naquelas mais fechadas em que predomina a oralidade. Retratam os pontos de vista de uma determinada cultura e, por sua vez, reforçam-nos. E como a mulher é malvista desde o surgimento de Eva, não seria de esperar que fossem generosos para com ela, na imensa maioria das vezes. Poucas são as sociedades que evoluíram a ponto de rebater, e até mesmo eliminar, os provérbios de cunho machista.
Revendo a história da fêmea humana através dos tempos é possível certificar-se de que o homem sempre esteve no comando, quer no âmbito familiar, do trabalho, político ou religioso, enquanto à mulher coube a tarefa de cuidar dos filhos e da casa. São poucas as culturas que, mesmo nos dias de hoje, fogem a tais ditames, ainda que muitas mulheres trabalhem fora de casa para ajudar no orçamento doméstico.
É interessante notar que a diferenciação entre o homem e a mulher, que vem desde as culturas mais remotas, originou-se em razão da forma que possui o corpo feminino, de modo que, inconscientemente, isso acabou por definir a posição social que um e outro deveriam ter dentro da sociedade. Mesmo em países onde se prega a igualdade entre os sexos é possível notar vestígios da submissão feminina. Contudo, existem sociedades hoje, como a espanhola, que possuem leis severas que coíbem qualquer forma de machismo, não importando a classe social do agressor.
Será que a mulher vem fazendo uma releitura de sua posição dentro da sociedade, ou continua seguindo o comportamento que seus antepassados preconizaram para ela? Para responder tal pergunta, teríamos que dar um giro pelo planeta. Mas já sabemos que, quanto maior for o acesso à educação, mais os papéis executados pelo homem e pela mulher tornam-se mais coincidentes, partilhando os mesmos deveres e as mesmas responsabilidades. No Brasil, homens e mulheres exercendo a mesma função, têm direito a um salário semelhante, sob pena de multas severas ao empregador. O que já é um bom começo rumo à igualdade.
O provérbio ruandês, direcionado ao homem, que reza “Um mau lar, obriga-te a buscar água e lenha”, mostra o quanto a mulher ainda é discriminada em certas culturas. Lenha e água simbolizam o trabalho doméstico, tido como serviço inferior em tais sociedades, e que cabe à mulher fazer, mas jamais ao homem.
Exemplos de provérbios sobre mulheres:
- Um mau marido às vezes é um bom pai, mas uma má esposa nunca é uma boa mãe. (Provérbio espanhol)
- As mulheres são como sapatos, sempre podem ser trocadas. (Provérbio indiano)
- As mulheres são como ônibus: quando um parte, outro chega. (Provérbio venezuelano)
- Sabedoria de mulher, sabedoria de macaco. (Provérbio japonês)
- O barco segue o leme, a mulher segue o homem. (Provérbio vietnamita)
- As mulheres e os bifes, quanto mais batidos, melhores. (Provérbio alemão)
- Mulher é como cabra: amarra-a onde crescem os espinhos. (Provérbio ruandês)
- Nunca confies numa mulher, mesmo que tenha te dado sete filhos. (Provérbio japonês)
- Ter uma única esposa é viver com um único olho. (Provérbio congolês)
- A galinha sabe quando é manhã, mas olha para o bico do galo. (Provérbio ganês)
Obs.: Temos aqui neste espaço uma seleção de provérbios relativos às mais diferentes vivências das mulheres.
Fontes de pesquisa:
Nunca se case com uma mulher de pés grandes/ Mineke Schipper
Livro dos provérbios, ditados, ditos populares e anexins/ Ciça Alves Pinto
Provérbios e ditos populares/ Pe. Paschoal Rangel
Ilustração: Artesanato do Vale do Jequitinhonha
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Lu
Nós mulheres temos muita culpa em sermos tratadas assim, aceitamos tudo naturalmente e mesmo sem perceber, ainda criamos nossos filhos dentro dessa filosofia machista, ultrapassada e perigosa para as mulheres. E do jeito que que as coisas estão, com mínimas mudanças , ninguém irá mudar com leis coisas que têm raízes tão fortes e profundas. Todos os ditados sobre as mulheres são revoltantes, indignos, querem nos ver com a cara no chão, e o pior, a maioria delas aceitam. É uma sociedade muito desigual, em que as mulheres têm muitos deveres e os homens privilégios. Não acredito que muita coisa irá mudar daqui pra frente, não confio muito na humanidade.
Marinalva
Você tem razão ao dizer que as mulheres têm culpa por aceitarem a submissão, mas precisamos levar em conta que foram séculos de subjugação. Muito trabalho ainda precisa ser feito, principalmente nos países islâmicos, onde a mulher é vista como coisa.
Beijos,
Lu
Lu
As mulheres estão cada vez mais estão ocupando os espaços que lhes são devidos, apesar dos conservadores tentar impedir essa tendência, principalmente aqui no Brasil com o bolsonarismo retrógrado e sem respeito às mulheres.
Adevaldo
É muito bom ver como as mulheres vêm arregaçando as mangas e brigando por seus direitos. Muito homens dignos como você estão em campo, ajudando-as. Quando todas elas tiverem a consciência de seu poder, governos como esse jamais alçarão voo.
Abraços,
Lu
Lu
Trata-se de uma cultura machista que, infelizmente, na pior versão, hoje oculta, dita, não por palavras, mas mata, trazendo sua pior forma de depreciação em todos os ângulos no direito do “NÃO”.
Sandra
O machismo precisa ser combatido em todos os campos, a começar pelo papel das mães que criam filhos machistas, não antenando para o resultado futuro.
Abraços,
Lu
Prezada Lu Dias
Republicaram esse post no blog do Luís Nassif e vim aqui te recomendar um livro que trata justamente sobre provérbios e mulheres. Parece interessante:
O livro “Nunca Se Case Com Uma Mulher de Pés Grandes: a Representação da Mulher No Dito Popular” fala sobre como os provérbios no mundo todo, da Europa às mais distantes aldeias, falam das mulheres. Um resumo:
“Quase todo mundo é capaz de citar um provérbio de cor. Concisos e eloquentes, dotados de rima, ritmo e imagens, sintetizam uma realidade, uma regra social ou moral e a transmitem de geração em geração. Nunca se case com uma mulher de pés grandes, de Mineke Schipper, é o resultado da análise feita durante anos pela autora a respeito de provérbios que representem as mulheres de todo o planeta e de todas as épocas. Nas mais diversas culturas, as questões de gênero têm sido expressas em provérbios, o menor dos gêneros textuais. Este livro fornece ao leitor insights reveladores sobre a condição feminina através dos séculos e continentes. Para surpresa de todos, Mineke descobriu mais semelhanças que diferenças em milhares de provérbios sobre as mulheres oriundos de mais de 150 países. Eles refletem diversas fases da vida da mulher: de menina a noiva, de esposa a coesposa, de mãe a sogra, viúva e avó; as alegrias e tristezas do amor, do sexo e da maternidade; a mulher no trabalho, seus talentos e poder. ”
http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/4052637/nunca-se-case-com-uma-mulher-de-pes-grandes-a-representacao-da-mulher-no-dito-popular/
Teresa
Quando resolvi escrever uma série sobre Provérbios, andei procurando livros que tratassem do tema. E este foi um dos que encontrei. Fiquei apaixonada logo de cara.
Achei sensacional a abordagem da escritora.
Quando o Assis Ribeiro publicou o meu texto no blog do Nassif (blog que amo), ele se esqueceu de copiar a fonte de pesquisa. Ando garimpando livros sobre provérbios, mas são muito poucos no mercado. Os que encontrei, excetuando o citado por você, foram encontrados em sebo, já bem velhinhos. Caso tenha conhecimento sobre outros, gostaria que indicasse para mim. Será um prazer contar com a sua presença no VÍRUS DA ARTE.
Muito obrigada pela atenção, ao me comunicar a presença de meu texto no blog do Nassif, e também por me indicar o livro, ainda que eu já o tenha.
Beijos,
Lu
Minha nossa, a coisa é pior do que eu imaginava, especialmente o provérbio alemão. Cruzes!
Cris
Fico cá imaginando a vida das mulheres antigamente. O provérbio alemão é mesmo um horror. Mas, pelo que sei, as alemãs de hoje não aceitam ser submissas, já botaram ordem no galinheiro.
Beijos,
Lu