Autoria de Lu Dias Carvalho
A arte desde os tempos primevos tem estado presente na história da humanidade que, através dela, expressa suas preocupações e desejos nas mais diferentes manifestações artísticas. Se a arte reflete as aspirações e as necessidades humanas é mais do que natural que o sexo nela esteja inserido através de uma simbologia apropriada a cada época da história. E mais do que qualquer outro segmento os artistas foram sempre os mais seduzidos pela sexualidade que se faz presente em todo o caminhar da arte. Ao acompanhar a sua trajetória, notamos que essa sexualidade algumas vezes mostra-se mais explícita e noutras mais velada, de acordo com os censores de cada tempo.
O surgimento do cristianismo foi como um freio para a arte erótica, contendo-a por quase mil anos sob a alegação de que essa era pecaminosa e só agradava ao diabo. Nesse longo período de tempo escondeu-se o corpo humano, elegendo-o como o vilão responsável por todos os pecados da humanidade, esquecendo-se de que ele era a morada do espírito. Só era permitido desnudar parte dele e isso apenas quando os trabalhos artísticos apresentavam a ação das torturas diabólicas sobre o corpo, pois o demônio era visto como o mentor dos crimes sexuais. A figura demoníaca podia ser apresentada totalmente nua e também as feiticeiras — tidas como servas de satã —, mostradas em atos libidinosos muitas vezes sob a forma de animais.
O advento do Renascimento fez com que o homem olhasse o mundo sob outro viés, o que trouxe mais liberdade, delicadeza e equilíbrio à arte. Essa foi a época do retorno da arte à cultura clássica, com seus deuses e mitos advindos da cultura greco-romana. Para ilustrar o período do Renascimento vale a pena relembrar algumas obras famosas como “O Nascimento de Vênus” — belíssima pintura de Sandro Botticelli — que mostra a deusa Vênus nua e o “Triunfo do Amor” — pintura de Francesco del Cossa — apresentando um casal em atitudes licenciosa na grama. Por sua vez, os pintores François Boucher e Jean Honoré Fragonard retrataram a corte francesa com total liberdade, exibindo inclusive temas como sexo grupal e autoestimulação.
Uma nova onda de puritanismo abateu-se sobre as manifestações artísticas após a Revolução Francesa e a vigência da era Vitoriana. A tecnologia, porém, permitiu que o homem europeu entrasse em contato com diferentes culturas, incluindo a hindu, marcada por grande sensualismo — ainda que cheio de significado religioso — em que o erotismo era visto como uma característica das divindades. Esse contato foi importante para a arte europeia do século XIV. Os artistas não mais se curvavam ao puritanismo, mas usavam o erotismo para escandalizar a burguesia. Mais tarde, Édouard Manet sacudiu Paris ao pintar “Olímpia” e “Almoço na Relva”.
A arte nem sempre foi tão liberal como em nossos dias. Em algumas épocas da história ela esteve refém dos mais diferentes códigos criados por grupos específicos. Atualmente os artistas não mais se submetem aos tabus e ao academicismo. Trabalham para que todos os temas sejam livres, inclusive os relativos ao sexo. Praticamente já não mais existem fronteiras para o chamado “permissível”. O erotismo ligado ao amor físico já não é mais barreira. Os apelos eróticos vêm deixando de causar reação de repulsa. A humanidade está mais madura e em consequência a arte tem sido vista com mais naturalidade.
Nota: O Nascimento de Vênus (Sandro Botticelli) / Triunfo do Amor (Francesco del Cossa)
Obs.: As obras citadas no texto encontram-se analisadas neste blog.
Fonte de pesquisa
Vida a Dois/ Editora Três
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