Autoria de Lu Dias Carvalho
A minha amiga Josefina não se encontrava hoje num dos seus bons dias. Estava tomada pela dor ocasionada pela ingratidão, sentindo-se usada por seus familiares. Ofereci-lhe meus ouvidos e atenção para que lavasse a alma. Assim, desabafou ela:
– Eu me peguei pensando nas vezes sem conta em que me usaram, ou nas vezes em que permiti que me usassem, como um verdadeiro “boi de piranha”. Eu não sou devorada viva como acontece com o pobre animal, mas esfacelada paulatinamente. Minha dor é tão grande que tenho a sensação de que vou me desintegrar em meio ao caos que assola minha alma. Mas irei superar este momento e aqueles, ou seja, as piranhas que tentaram me devorar, não estarão bem por muito tempo, pois tudo na vida tem o seu reverso.
Certíssima em entregar a contrapartida dos reveses ao tempo, minha amiga saiu da conversa bem mais leve, e eu fiquei curiosa para saber a origem da expressão boi de piranha, à qual ela se referiu com tanta mágoa. Vamos lá:
Quando os boiadeiros vão atravessar com suas boiadas os rios da Bacia Amazônica e do Pantanal, quase sempre infestados por piranhas (peixes carnívoros), pegam o boi mais velho e cansado ou o mais doente da manada e o sacrificam, colocando o pobre infeliz num lugar acima ou abaixo de onde se dará a travessia. De modo que, enquanto as piranhas devoram a pobre vítima, os boiadeiros aproveitam para atravessar o rebanho bovino, sem perigo algum. Que pena do animal! Esta expressão popular é genuinamente brasileira.
Transposta para a linguagem popular, segundo o nosso Aurélio, trata-se da pessoa que, em um grupo, é submetida ou se submete a um sacrifício ou experiência para favorecer os companheiros. Não é fácil servir de “boi de piranha” contra a vontade.
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