O RATO E A RATOEIRA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Diferentes tipos de cereais enchiam o celeiro de certo fazendeiro. De uma feita,  ele  notou que um rato andava zanzando por ali, porque muitas espigas de milho encontravam-se roídas. Era preciso pegá-lo antes que proliferasse, aca- bando com suas valiosas provisões. Aqueles bichinhos procriavam logo após o terceiro mês de vida, sendo que o tempo de gestação era curto, durando em média 22 dias, podendo a fêmea parir entre cinco e 12 filhotes por vez — o que não era pouco.

O homem comprou na cidade uma potente ratoeira. Em casa armou-a com um pedaço de queijo e botou-a próxima ao balaio com milho.

O rato que não era tolo, ficou a espreitar a entrada do fazendeiro no celeiro, pois sentira de longe o cheiro do queijo — guloseima que muito apreciava — e pôs-se a espiar seus passos. Ao notar que o objeto deixado era uma ratoeira — armadilha muito conhecida de sua espécie —, sentiu-se amedrontado. O roedor tinha ciência de que era preciso contar aos bichos sobre o que avistara, antes que algum deles caísse na esparrela. E foi exatamente o que o espertinho fez:

– Amigos, um grande perigo nos ronda na figura de uma maldita ratoeira. Temos que dar um jeito de eliminá-la, antes que nos mate. Unamo-nos e tratemos de dar a ela um fim imediatamente.

– Uma ratoeira não é um problema para mim — falou a galinha.

– Tampouco para mim! — exclamou o porco.

– O que uma ratoeira poderá me fazer de mal? — inquiriu a vaca.

– O rato quer salvar a pele às nossas custas — debochou a ovelha.

O roedor nada pode fazer, senão voltar para casa abatido com a omissão dos companheiros de fazenda. À noite, porém, a mulher do fazendeiro ouviu um barulho e correu para ver se o rato fora preso na armadilha, mas ali estava uma cobra venenosa presa pelo rabo e que acabou por picá-la.

As criadas deram à mulher uma canja de galinha, pois ela se encontrava acamada e fraca. Para suprir a fome dos amigos visitantes, mataram o porco. E com a morte da desafortunada mulher que não resistiu ao veneno da víbora foram sacrificadas a ovelha e a vaca para alimentar todas as gentes que vieram participar do funeral.

Moral da História:
O problema de um pode estar fortemente atrelado ao dos demais.

Livro à venda
Capa dura, 545 páginas, 170 fábulas (incluindo apólogos)
Contato para compra: Lu Dias Carvalho    e-mail: ludiasbh@virusdaarte.net
Obs.: 10% do preço de capa que recebo por direito autoral é doado a uma instituição que cuida de animais de rua.

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O LIMIAR DA LIBERDADE (Aula nº 105 B)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O artista francês René Magritte (1898–1967) foi a mais importante figura do movimento surrealista. Suas imagens excêntricas não eram o resultado de sonhos nem de estados psicológicos autoinduzidos, mas, sim, procedentes da observação e das indagações do artista no que diz respeito aos acontecimentos do dia a dia. Para ele a ideia era o resultado do pensamento consciente, e era isso o que importava na pintura.

A composição intitulada No Limiar da Liberdade é uma obra do artista que dela fez duas versões, uma menor (1929) que não trazia o teto cinza e esta que foi encomendada por seu patrono, poeta e colecionador de arte surrealista, Edward James. A obra apresenta oito painéis de parede, todos eles de igual tamanho que retratam: uma floresta, o céu azul com nuvens brancas, a fachada de uma casa, filigranas de papel, um torso feminino, uma textura apresentando as fibras da madeira, sinos e labaredas de fogo.

Magritte apresenta aqui vários pontos importantes de seu trabalho: espaços vazios e a impressão de que existe uma calmaria; pinturas dentro de uma pintura; e colocação de objetos fora de seus ambientes normais, dando-lhes um caráter muito real. Todos os elementos presentes na obra são temas ou desenhos que ele retirou de trabalhos anteriores.

O torso feminino — com curvas e tons de pele naturais — lembra uma obra do Renascimento. Ao apresentar apenas o torso da mulher, o artista torna-a anônima e sem personalidade, sendo vista apenas como objeto sexual. O painel de mogno é como se fosse uma homenagem a seu colega impressionista Max Ernst que usava em seus trabalhos texturas de fibra de madeira.

O único objeto presente na sala é uma densa peça de artilharia que se volta para o torso feminino, reforçando suas associações fálicas. O painel retratando o céu azul, embora convencionalmente seja pintado acima da linha do horizonte, aqui é visto mais abaixo, situando-se entre a floresta e a fachada da casa. O compositor e trompetista norte-americano Mark Isham compôs em 1983 a música “No Limiar da Liberdade” dedicada a esta pintura.

Ficha técnica
Ano: 1937
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 2,39 x 1,85 m
Localização: Museu Boijmans va Beuningen, Roterdã, Holanda

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Magritte/ Editora Taschen
https://www.theartist.me/collection/oil-painting/on-the-threshold-of-liberty/

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Pieter Bruegel, o Velho – A VOLTA DA MANADA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

A composição denominada A Volta da Manada é uma pintura do artista holandês Pieter Bruegel, o Velho. Faz parte de uma série de seis pinturas que retratam períodos do ano, encomendadas por um comerciante da Antuérpia. Cinco delas ainda sobrevivem (O Dia Escuro, Caçadores na Neve, Colheita de Feno, Os Ceifeiros e o Mastro de Maio, existindo do último apenas cópias feitas pelo filho do artista).

Presume-se que este quadro represente o mês de outubro ou novembro (ou os dois), mostrando uma paisagem de outono, como se vê no contraste entre as cores quentes da vegetação, composta por árvores desfolhadas, e as cores frias do céu que se mostra mais escuro do lado direito, onde há uma maior concentração de nuvens, prenunciando tempestade. A paisagem escarpada apresenta algumas edificações e mostra pessoas trabalhando na lavoura à direita. Um rio com algumas embarcações corta o cenário. Animais são vistos no campo a pastar. Uma ave solitária é vista no galho mais alto, à esquerda.

O artista, que gostava de pinturas retratando paisagens ou cenas camponesas, mostra aqui uma manada de vacas, sendo conduzida pelos vaqueiros que empunham grandes paus para tangê-la, levando o rebanho à aldeia no topo da colina. Os seis vaqueiros e o gado encontram-se numa colina, regressando da pastagem. Animais e homens possuem praticamente as mesmas cores. Eles formam uma larga curva que é quebrada por uma árvore isolada à direita e um grupo de árvores à esquerda.

Ficha técnica
Ano: 1565
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 117 x 159 cm
Localização: Museu de História da Arte, Viena, Áustria

Fonte de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://www.wga.hu/html_m/b/bruegel/pieter_e/07/21novemb.html

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UM NEGÓCIO DA CHINA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

china   

Todos sabem que a China é o mais importante parceiro comercial do Brasil. Compra o triplo do que é vendido para os EE.UU, segundo parceiro comercial de nosso país, vindo a Argentina em terceiro lugar.Se os chineses deixarem de comprar os nossos produtos, estaremos num mato sem cachorro. Mas não vim falar de economia, mas das maravilhosas porcelanas vindas da China, bem antes de sua explosão comercial e de sua caminhada para se tornar a primeira potência mundial.

Ainda me lembro de uma ricaça, amigona de minha vó, que tinha uma cristaleira guarnecida com peças da mais pura porcelana chinesa (seu marido trabalhara num navio chinês, tendo ido várias vezes àquele país). O que mais encantava a criançada era um conjunto de chá em que predominavam o vermelho e o amarelo, tendo todas as peças o formato de um dragão. O bule era o dragão pai (ou seria mãe?) e as xícaras seus filhotes. Que lindeza! Aquilo extasiava os nosso olhos de crianças, ao voltarmos da escola. Ali perdíamos uns 30 a 40 minutos em nossa adoração aos dragões.

A senhora Deolinda, dona da família de dragões, quando se encontrava de bom humor, abria sua cristaleira, trancada a sete chaves, e permitia, para nosso deleite, que puséssemos a mão no seu tesouro. Mas ela não soltava a peça em exposição, envolta por uma flanela azul, pois “criança não é bicho de confiança”, como sempre dizia. A gente fazia fila para tocar naquelas belezuras, ciente de que todo cuidado ainda era pouco. Ninguém queria carregar o “pecado mortal” de quebrar uma delas. Tremíamos de medo e emoção, pois, apesar de pouco conhecermos sobre preços, sabíamos que não havia dinheiro capaz de pagar nem mesma a fuça de um daqueles filhotes de dragão.  E ainda ganharíamos um ano de castigos, e Deus sabe lá o que viria a mais.

O tempo rodopiou, passando veloz, mas não levou a nossa saudade da família de dragões de dona Deolinda. Foi com pesar que soubemos que, após ser acometida pelo mal de Alzheimer, o seu filho mais novo, mergulhado nas drogas ilícitas, vendeu o dragão pai (ou seria mãe?) e seus filhotes por uns míseros trocados para comprar crack. Quanto sacrilégio com as nossas lembranças! E lá se foram os nossos bichinhos mundo afora, possivelmente passando de mão em mão no submundo das drogas. Embora possam ter virado cacos, eu ainda os imagino na cristaleira reluzente de dona Diolinda, aguardando a nossa volta da escola, levando-lhes o calor de nosso encantamento.

 Uau! Trepei nas asas do dragão pai (ou seria mãe?) e esqueci-me de que vim aqui falar sobre a expressão “negócio da China” que se originou, segundo contam, das viagens feitas por Marco Polo ao Oriente, no século XIII, quando contava aos quatro ventos que tudo naquele país longínquo era belo e extravagante, o que despertou a atenção dos comerciantes de diferentes partes do mundo à época. Existem outras explicações para tal expressão, mas esta é a mais comum. Fazer um negócio da China significa, portanto, que a pessoa fez um excelente negócio, obtendo lucros impensáveis. Trocando em miúdos, também significa que alguém foi passado para trás, pois só assim a outra parte pode lucrar tanto. Não é mesmo?

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BIPOLARIDADE – S.O.S. ESTOU QUASE DESISTINDO!

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Autoria de Nath Braga

Eu tenho 32 anos e estou com meu marido desde os 17. O nosso relacionamento beirava à perfeição! Era tanta parceria, tanto carinho, cuidado e amor que eu sempre ficava imaginando como isso seria possível e o quão grata eu era por ter algo tão especial! As nossas famílias eram extremamente desestruturadas e nós dois, juntos, arrumávamos forças para lidar com tudo. Assim foi por vários anos. Era sempre nós dois juntos. Realmente tínhamos algo especial.

Após aproximadamente 6 anos de relacionamento, meu marido teve que lidar com o encerramento da empresa em que ele trabalhava, e isso foi o suficiente para vê-lo se tornar outra pessoa. A empresa era da tia dele (até então sócia majoritária), encontrando-se muito bem financeiramente. O setor ia encerrar, pois atuavam na área social, pois o governo cortou o orçamento para isso, mas não estava falindo, pois a empresa já tinha feito muito dinheiro no decorrer de outros anos, com o meu marido sempre diversificando os negócios.

O meu esposo começou a apresentar falas exageradas de que ia parar debaixo da ponte, passar fome e que a vida havia acabado. Em algum momento essas falas começaram a serem redirecionadas a mim. Dizia que eu era uma parasita, que se eu tivesse dinheiro e a minha família não fosse “fodida” não haveria preocupação, que todos nós éramos uns encostados, que eu vivia fora da realidade. Eu tentava acalmá-lo, dizendo-lhe que ele não iria parar debaixo da ponte, que a gente daria um jeito. Dizia que ele era super inteligente, com várias especializações e tudo se resolveria. Estava claro para mim que ele não estava normal.

Aquilo foi tão surreal, pois namoramos durante 7 anos antes disso e nunca brigávamos, nem nos tratávamos assim, e do nada ele passou a ser cada vez mais agressivo. No começo eu só conseguia sentir que ele estava doente, mas depois de um tempo passei a internalizar tudo o que falava e realmente isso me afetou.

Várias coisas aconteceram, começando por sua tia manipuladora que fechou a empresa e não lhe pagou o que era justo. Sua família sempre exerceu controle sobre ele, através do dinheiro, e não queria fazer um acerto, mas, sim, mantê-lo como seu dependente. Ele tinha muita dificuldade em se posicionar e não saiu com nada que lhe favorecesse. Mas parecia que ele descontava tudo em mim, pois era a única pessoa com quem tinha liberdade para falar, porque fazia tudo que a família queria nas situações mais absurdas.

Acabamos fazendo um mau negócio ao iniciarmos uma operação industrial na área alimentícia, e as coisas só pioraram. Com uma operação que já era ruim e caótica, meu marido entrou numa segunda indústria e arrastou-me para essa loucura com ele. Ninguém em sã consciência faria o que fez. Saiu para almoçar num sábado e voltou com essa empresa comprada. Ela foi nos passada com números forjados (estava falida), os funcionários eram praticamente uma quadrilha, eu tinha medo até de ficar lá só, a operação funcionava 24h e todos os dias do ano, sendo a madrugada a parte mais puxada. Meu marido cuidava do operacional. Passava noites sem dormir. Não havia rotina, virava dias e mais dias sob extremo estresse, além de estarmos dormindo e alguém ligar na madrugada e termos que sair correndo para a fábrica, já caindo no olho do furacão. Isso piorou a situação dele.

Ele sempre fez terapia, mas eu cheguei a brigar com a psicóloga dele por puro desespero, pois sabia que ele tinha alguma condição grave emocional, e ela continuava tratando-o sem qualquer indicação de acompanhamento psiquiátrico ou de diagnóstico de qualquer doença. Em uma das crises dele e de extrema confusão, entrei em contato com ela aos berros e choro, chamando-a de incompetente. Ela o tratou durante anos e eu nunca fui ouvida, agora desabava tudo, e ele ainda saía de lá com a validação de que eu era quem estava errada. Esse foi a data em que eu tentei suicídio.

Eu não sabia se ele mentia na terapia ou se não tinha noção da gravidade das coisas que fazia, mas tinha a certeza de que algo não estava bem. Afinal, eu namorei com ele durante 7 anos, antes de começar com essas crises e o conhecia bem. Fui até em algumas consultas com ele, quando a nossa situação quase estava saindo do controle. Ele também ia à minha terapia (além da terapia de casal que fizemos). Eu tinha a impressão de que lá ele conseguia o respaldo de que eu era infantil e ele o certo. Na sua cabeça, nas distorções horrorosas, eu sempre estava fazendo cagadas, quando na verdade era puro surto dele. Em algum momento meu emocional ficou muito frágil.

Após uma situação grave que passamos, ele foi ao psiquiatra e foi medicado apenas como ansioso. Ele não era só ansioso, era bipolar! Eu sei dizer se ele está em crise só pelo seu olhar. Eu sofria noite e dia na mão dele. Qualquer coisa virava brigas homéricas com uma baixaria sem fim. Eu virava a puta, vagabunda, parasita, a que tinha caso com seu melhor amigo e daí para pior. Paranoia pura! Ele passava a me odiar naquele momento. Tudo virava ódio do nada. Há mensagens no meu celular em que ele manda “eu te amo” em cima e do nada, embaixo, ele me xinga por alguma situação inventada.

Quando está em mania, meu marido parece que quer ver o meu fim. Numa dessas nossas brigas eu tomei uma quantidade grande de remédios e tentei suicídio. Quando ele chegou no banheiro e me viu mal, só falou que nem pra morrer eu prestava. Perdi a consciência, mas tenho certeza que demorou muito para me socorrer. Que pessoa que vê a outra assim e não recua?  Do nada ele voltava a ser aquela mesma pessoa que eu amava e com quem tinha tanto alinhamento, mas bastava uma situação de estresse para que buscasse motivo para brigar comigo: um papel deixado na mesa ou resgatando algo do passado, tudo distorcido.

Fechamos a empresa e recentemente, após novas brigas (até vizinhos chamarem a polícia com medo de algo nos acontecer), ele voltou ao psiquiatra. Pediu para que eu entrasse junto e a partir daí foi diagnosticado com bipolaridade, finalmente. Tenho a impressão que, no seu caso, vive mais em períodos de mania, com o ego elevadíssimo. Tudo sabe fazer e eu nada sei. Sua confiança fica absurda e me reduz a merda. O objetivo dele é claro: destruir o meu emocional. Até mesmo o abuso sexual infantil que eu sofri na mão de um primo, ele usa para me atingir. Seu objetivo é unicamente me machucar. Quando está no seu estado normal é o meu melhor amigo e sua companhia é a melhor do mundo. Ele me assusta, pois vive distorcendo minhas falas, criando situações horrorosas que são pura insanidade. Parece que só fica feliz quando briga e se esforça bastante para isso.

Faz uns 3 meses que ele iniciou o tratamento com estabilizador de humor e tudo parecia estar indo tão bem, mas agora precisou lidar novamente com a tia para sanar a questão financeira, pois ela não lhe pagou como deveria e isso está nitidamente o desestruturando. Eu sentia que estava para entrar em crise, há dias! Agora criou uma nova briga entre nós, passou a me acusar de ladra (eu sempre cuidei das finanças da família) e está realmente muito agressivo, a ponto de ameaçar partir para a agressão física.

Eu não sei mais o que eu faço.  Já fui ao fundo do poço várias vezes por causa dele que acabou com a minha autoestima. Já tentei me suicidar, já briguei com psicóloga, fui a chata todas as vezes em que fomos em algum psiquiatra e ele voltava com remédio para ansiedade ou depressão… Já batalhei muito por ele e por nós, mas me vejo extremamente frustrada. Sua fisionomia fechando é um gatilho pra mim.  Já começo a ter crise de ansiedade, esperando pela próxima briga. Passei a ter convulsões por conta do emocional.

Ele passou a “jurar-me”, falar que vai me bater, que vai me arrebentar, que vai isso e aquilo, que vai se separar e me deixar na merda, porque sempre foi quem proveu dinheiro e eu nada fiz. Sei que isso é parte da doença, mas me machuca. Eu não consigo lidar com o problema. E nem ele me permite! Se estou tentando não entrar na briga, fica me perseguindo. Passa o dia digitando absurdos para mim, é algo lunático mesmo…  Estou quase desistindo, não sei se dele ou de mim. Essa doença arrancou o que eu tinha de maior felicidade.

Ilustração: Cinzas, Edvar Munch, 1894

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PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA (Aula nº 105 A)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Toda a minha ambição no campo pictórico é materializar as imagens da irracionalidade concreta com a mais imperialista fúria da precisão. (Dalí)

Sempre me perguntam por que os relógios são moles, e eu respondo: “Um relógio, seja duro ou mole, não tem a menor importância, o que importa é que assinale a hora exata. Se o próprio tempo se curva, por que não os relógios? (Dalí)

A composição intitulada Persistência da Memória é uma obra do artista que nela apresenta um mundo irracional, autônomo e convincente. Inicialmente o observador tem a impressão de encontrar-se diante de uma enorme paisagem vazia, até que seu olhar se detém nos objetos em primeiro plano, principalmente numa série de relógios de bolso que se mostram em vários estados de mudança.  Ao apresentar relógios de metal derretendo-se ou dilatando-se, o artista modifica o entendimento racional do mundo físico.

Depois de jantar, após a saída de sua mulher para o cinema, Dalí notou que um queijo camembert havia derretido, esparramando-se além das bordas da vasilha.  Inspirou-se então no alimento para pintar seus relógios derretidos. Vários dos elementos, que aqui aparecem, estão presentes em outras obras do pintor.

A cena acontece na hora do crepúsculo. Ao fundo, à direita, encontram-se formas rochosas debaixo de uma luz transparente e triste, enquanto à esquerda, vê-se uma oliveira sem folhas. No primeiro plano, no meio da composição, está a caricatura do pintor, com o olho fechado, coberto por grandes cílios, remetendo à contemplação, sono ou morte. Sobre ele se encontra um relógio derretido. A proposta de Dalí é que haja a superação das limitações ditadas pelo tempo “terreno” de modo que as rédeas do inconsciente ganhem espaço.

Quatro relógios estão em cena: um se encontra no galho da oliveira; outro está colocado como uma sela sobre o perfil do artista (já conhecido em O Grande Masturbador); o terceiro desliza-se da beirada de um pedestal em direção ao solo; e o quarto, arredondado e vermelho, também situado no pedestal, está coberto por formigas que simbolizam a putrefação para o pintor. São as únicas criaturas vivas presentes na tela juntamente com a mosca, embora o artista tivesse pavor de formigas.

Mais uma vez o desejo sexual faz parte de uma obra de Dalí, numa relação entre duro e macio: os relógios derretidos e disformes estão ligados à impotência, ao contrário do vermelho, o único duro, mas que não tem serventia, pois está sendo destruído pelas formigas.  Este relógio pode estar fazendo uma alusão ao órgão sexual do pintor. Todos os relógios estão marcando horas diferenciadas, como se não existisse um tempo real, mas apenas a inconsciência, que não tem espaço ou tempo.

Esta é uma das composições mais conhecidas de Salvador Dalí.

Ficha técnica:
Ano: 1931
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 24,1 x 33 cm
Localização: Museum of Modern Art, Nova York, EUA

Fontes de pesquisa
Dalí/ Abril Coleções
Dalí/ Coleção Folha
Dalí/ Coleção Girassol
Tudo sobre arte/ Sextante

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