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Autoria de Nath Braga
Eu tenho 32 anos e estou com meu marido desde os 17. O nosso relacionamento beirava à perfeição! Era tanta parceria, tanto carinho, cuidado e amor que eu sempre ficava imaginando como isso seria possível e o quão grata eu era por ter algo tão especial! As nossas famílias eram extremamente desestruturadas e nós dois, juntos, arrumávamos forças para lidar com tudo. Assim foi por vários anos. Era sempre nós dois juntos. Realmente tínhamos algo especial.
Após aproximadamente 6 anos de relacionamento, meu marido teve que lidar com o encerramento da empresa em que ele trabalhava, e isso foi o suficiente para vê-lo se tornar outra pessoa. A empresa era da tia dele (até então sócia majoritária), encontrando-se muito bem financeiramente. O setor ia encerrar, pois atuavam na área social, pois o governo cortou o orçamento para isso, mas não estava falindo, pois a empresa já tinha feito muito dinheiro no decorrer de outros anos, com o meu marido sempre diversificando os negócios.
O meu esposo começou a apresentar falas exageradas de que ia parar debaixo da ponte, passar fome e que a vida havia acabado. Em algum momento essas falas começaram a serem redirecionadas a mim. Dizia que eu era uma parasita, que se eu tivesse dinheiro e a minha família não fosse “fodida” não haveria preocupação, que todos nós éramos uns encostados, que eu vivia fora da realidade. Eu tentava acalmá-lo, dizendo-lhe que ele não iria parar debaixo da ponte, que a gente daria um jeito. Dizia que ele era super inteligente, com várias especializações e tudo se resolveria. Estava claro para mim que ele não estava normal.
Aquilo foi tão surreal, pois namoramos durante 7 anos antes disso e nunca brigávamos, nem nos tratávamos assim, e do nada ele passou a ser cada vez mais agressivo. No começo eu só conseguia sentir que ele estava doente, mas depois de um tempo passei a internalizar tudo o que falava e realmente isso me afetou.
Várias coisas aconteceram, começando por sua tia manipuladora que fechou a empresa e não lhe pagou o que era justo. Sua família sempre exerceu controle sobre ele, através do dinheiro, e não queria fazer um acerto, mas, sim, mantê-lo como seu dependente. Ele tinha muita dificuldade em se posicionar e não saiu com nada que lhe favorecesse. Mas parecia que ele descontava tudo em mim, pois era a única pessoa com quem tinha liberdade para falar, porque fazia tudo que a família queria nas situações mais absurdas.
Acabamos fazendo um mau negócio ao iniciarmos uma operação industrial na área alimentícia, e as coisas só pioraram. Com uma operação que já era ruim e caótica, meu marido entrou numa segunda indústria e arrastou-me para essa loucura com ele. Ninguém em sã consciência faria o que fez. Saiu para almoçar num sábado e voltou com essa empresa comprada. Ela foi nos passada com números forjados (estava falida), os funcionários eram praticamente uma quadrilha, eu tinha medo até de ficar lá só, a operação funcionava 24h e todos os dias do ano, sendo a madrugada a parte mais puxada. Meu marido cuidava do operacional. Passava noites sem dormir. Não havia rotina, virava dias e mais dias sob extremo estresse, além de estarmos dormindo e alguém ligar na madrugada e termos que sair correndo para a fábrica, já caindo no olho do furacão. Isso piorou a situação dele.
Ele sempre fez terapia, mas eu cheguei a brigar com a psicóloga dele por puro desespero, pois sabia que ele tinha alguma condição grave emocional, e ela continuava tratando-o sem qualquer indicação de acompanhamento psiquiátrico ou de diagnóstico de qualquer doença. Em uma das crises dele e de extrema confusão, entrei em contato com ela aos berros e choro, chamando-a de incompetente. Ela o tratou durante anos e eu nunca fui ouvida, agora desabava tudo, e ele ainda saía de lá com a validação de que eu era quem estava errada. Esse foi a data em que eu tentei suicídio.
Eu não sabia se ele mentia na terapia ou se não tinha noção da gravidade das coisas que fazia, mas tinha a certeza de que algo não estava bem. Afinal, eu namorei com ele durante 7 anos, antes de começar com essas crises e o conhecia bem. Fui até em algumas consultas com ele, quando a nossa situação quase estava saindo do controle. Ele também ia à minha terapia (além da terapia de casal que fizemos). Eu tinha a impressão de que lá ele conseguia o respaldo de que eu era infantil e ele o certo. Na sua cabeça, nas distorções horrorosas, eu sempre estava fazendo cagadas, quando na verdade era puro surto dele. Em algum momento meu emocional ficou muito frágil.
Após uma situação grave que passamos, ele foi ao psiquiatra e foi medicado apenas como ansioso. Ele não era só ansioso, era bipolar! Eu sei dizer se ele está em crise só pelo seu olhar. Eu sofria noite e dia na mão dele. Qualquer coisa virava brigas homéricas com uma baixaria sem fim. Eu virava a puta, vagabunda, parasita, a que tinha caso com seu melhor amigo e daí para pior. Paranoia pura! Ele passava a me odiar naquele momento. Tudo virava ódio do nada. Há mensagens no meu celular em que ele manda “eu te amo” em cima e do nada, embaixo, ele me xinga por alguma situação inventada.
Quando está em mania, meu marido parece que quer ver o meu fim. Numa dessas nossas brigas eu tomei uma quantidade grande de remédios e tentei suicídio. Quando ele chegou no banheiro e me viu mal, só falou que nem pra morrer eu prestava. Perdi a consciência, mas tenho certeza que demorou muito para me socorrer. Que pessoa que vê a outra assim e não recua? Do nada ele voltava a ser aquela mesma pessoa que eu amava e com quem tinha tanto alinhamento, mas bastava uma situação de estresse para que buscasse motivo para brigar comigo: um papel deixado na mesa ou resgatando algo do passado, tudo distorcido.
Fechamos a empresa e recentemente, após novas brigas (até vizinhos chamarem a polícia com medo de algo nos acontecer), ele voltou ao psiquiatra. Pediu para que eu entrasse junto e a partir daí foi diagnosticado com bipolaridade, finalmente. Tenho a impressão que, no seu caso, vive mais em períodos de mania, com o ego elevadíssimo. Tudo sabe fazer e eu nada sei. Sua confiança fica absurda e me reduz a merda. O objetivo dele é claro: destruir o meu emocional. Até mesmo o abuso sexual infantil que eu sofri na mão de um primo, ele usa para me atingir. Seu objetivo é unicamente me machucar. Quando está no seu estado normal é o meu melhor amigo e sua companhia é a melhor do mundo. Ele me assusta, pois vive distorcendo minhas falas, criando situações horrorosas que são pura insanidade. Parece que só fica feliz quando briga e se esforça bastante para isso.
Faz uns 3 meses que ele iniciou o tratamento com estabilizador de humor e tudo parecia estar indo tão bem, mas agora precisou lidar novamente com a tia para sanar a questão financeira, pois ela não lhe pagou como deveria e isso está nitidamente o desestruturando. Eu sentia que estava para entrar em crise, há dias! Agora criou uma nova briga entre nós, passou a me acusar de ladra (eu sempre cuidei das finanças da família) e está realmente muito agressivo, a ponto de ameaçar partir para a agressão física.
Eu não sei mais o que eu faço. Já fui ao fundo do poço várias vezes por causa dele que acabou com a minha autoestima. Já tentei me suicidar, já briguei com psicóloga, fui a chata todas as vezes em que fomos em algum psiquiatra e ele voltava com remédio para ansiedade ou depressão… Já batalhei muito por ele e por nós, mas me vejo extremamente frustrada. Sua fisionomia fechando é um gatilho pra mim. Já começo a ter crise de ansiedade, esperando pela próxima briga. Passei a ter convulsões por conta do emocional.
Ele passou a “jurar-me”, falar que vai me bater, que vai me arrebentar, que vai isso e aquilo, que vai se separar e me deixar na merda, porque sempre foi quem proveu dinheiro e eu nada fiz. Sei que isso é parte da doença, mas me machuca. Eu não consigo lidar com o problema. E nem ele me permite! Se estou tentando não entrar na briga, fica me perseguindo. Passa o dia digitando absurdos para mim, é algo lunático mesmo… Estou quase desistindo, não sei se dele ou de mim. Essa doença arrancou o que eu tinha de maior felicidade.
Ilustração: Cinzas, Edvar Munch, 1894
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