Kandinsky – IMPROVISAÇÃO III (Aula nº 94 F)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

A composição intitulada Improvisação III é uma obra expressionista do artista russo Wassily Kandinsky (1866-1944) em que ele mostra grande liberdade no uso de cores intensas, contornos arrojados e sombras fortes. Suas inflamadas e amplas pinceladas diagonais, feitas de cores vivas, refletem a influência adquirida do Fauvismo. O cavaleiro em seu cavalo azul, sob a forma de São Jorge que derrotou o dragão, remete a uma figura de adoração dos ícones da Igreja Ortodoxa russa que teria influenciado o artista em sua infância.

As áreas de cor recebem contornos escuros, dando à pintura uma firmeza especial. É possível notar que à medida que o artista encaminha-se para a abstração, vai modificando a maneira de empregar o contorno, transformando-o num modo de desenhar formas abstratas dentro de uma área de cor.

As duas figuras verdes que se mostram conversando, à esquerda, continuam sendo um segredo do artista, mas elas, com certeza, dizem respeito a algumas particularidades do mundo dos homens, pois é comum encontrar em muitas das “Improvisações” de Kandinsky a separação entre o lado esquerdo e o direito da pintura, sendo que o primeiro remete ao mundo material e o segundo ao mundo espiritual.

Kandinsky em várias obras relativas à série “Improvisações” deixa o tema em segundo plano, a fim de que a cor alcance o ápice de seu potencial expressivo. Nesta obra ele apresenta um cavalo e um cavaleiro (figuras comuns à sua obra), sendo que o cavaleiro azul transforma-se num símbolo da procura do artista pelo renovamento espiritual, quer diga respeito à arte, quer diga respeito à sociedade.

Entre os anos de 1009 e 1914 Kandinsky criou 35 “Improvisações” numeradas e mais outras tantas que não receberam numeração. Para muitas delas ele criou desenhos e variações preparatórios. Assim, ele as definiu: “Especialmente inconscientes, na maior parte despertando de repente expressões de eventos de um caráter interior e, portanto, impressões da natureza interna”.

Para o pintor todas as cores traziam um significado espiritual, pois, a cor, assim como os sons da música, explicava ele, é o acesso para a alma. O vermelho, por exemplo, de acordo com a sua nuança, poderia remeter a uma chama ou a pensamentos de uma flauta e, quando escuro, aludia ao de um violoncelo.

Ficha técnica
Ano: 1909
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 94 cm x 130 cm
Localização: Museu Nacional de Arte Moderna, Centro Pompidou, Paris, França

Fonte de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante

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Van der Goes – A CAÍDA E REDENÇÃO DO HOMEM

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor flamengo Hugo van der Goes (1443-1482) é tido como um dos mais importantes pintores flamengos da segunda metade do século XV. Não se sabe muito sobre os primeiros anos de sua vida. Trabalhou como mestre na associação dos pintores de Gante, onde nasceu. Participou da decoração do casamento de Carlos, o Temerário, possivelmente ao lado de Hans Memling e Petrus Christus. Suas pinturas atendiam especificamente ao que era definido pelos clientes, quer eclesiásticos ou seculares. Entrou para o Convento de Roode, sendo ordenado como irmão laico, e nesse local  passou os últimos anos de sua vida. Mesmo tendo feito votos de pobreza, castidade e obediência, não abandonou a pintura. Segundo o irmão Gaspar Ofhuys, ele tinha crises de melancolia, possivelmente depressão, acompanhadas de crises de culpa, tendo sido acometido também por alucinações religiosas. Alguns estudiosos aludem ao fato de sua arte mostrar tensão e austeridade.

A composição religiosa intitulada Caída e Redenção do Homem ou ainda O Díptico de Viena é uma obra do artista. O lado direito do díptico é intitulado “Lamentação pelo Cristo Morto” e o esquerdo é chamado de “Pecado Original”. A conexão entre as duas partes é explicada pela teologia cristã, como sendo o pecado de Adão e Eva o responsável por separar Deus da Humanidade e, por isso, foi necessário o sacrifício de Jesus Cristo para que ela fosse salva.

A pintura intitulada “Pecado Original” apresenta Adão e Eva no Paraíso, debaixo de um pé de macieira, sendo tentados pelo demônio. O pintor retrata o casal com corpos delgados e contornados, mas sem uma beleza chamativa. Ambos se encontram nus. O magricela Adão esconde sua genitália com a mão direita, enquanto Eva, com sua barriguinha protuberante, tem a sua genitália coberta por uma flor azul. Ela segura uma maçã, enquanto colhe outra. Uma grande salamandra com cabeça de mulher e pés de aves aquáticas, representando o demônio, encontra-se de pé ao lado da macieira, observando o gesto de Eva.

A pintura denominada “Lamentação pelo Cristo Morto” traz a figura de Jesus, postado sobre uma mortalha branca, envolta por nove pessoas em profundo desalento. Aglomeradas em torno do Mestre, elas formam um vigoroso movimento diagonal. A coroa de espinhos jaz no chão. Ao fundo vê-se o Monte Calvário, onde se encontra a cruz da crucificação. O céu mostra-se escuro e nublado.

O verso do painel esquerdo traz a pintura da imagem de Santa Genoveva, enquanto o do painel direito traz vestígios de um brasão de armas, onde se vê um escudo com uma águia negra e o vestígio dos pés de dois apoiantes.

Ficha técnica
Ano: c. 1479
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 33,5 x 23 cm (medida dos dois quadros)
Localização: Museu de História da Arte, Viena, Áustria

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
https://artsandculture.google.com/asset/the-fall-of-man-and-the-lamentation

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HEURECA! HEURECA!

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Conta-se que Hierão, rei da Sicília, foi certa vez presenteado com uma coroa de ouro, sendo que o doador apregoava aos quatro ventos que a dádiva fora feita de ouro maciço, o que acabou por despertar a curiosidade do monarca. Como o ser humano nunca foi digno de total confiança, sendo afeito a parlapatices e bazófias em quaisquer que tenham sido os tempos, o soberano achou por bem testar a veracidade dos fatos, ou seja, buscar a certeza de que a oferenda era tal e qual espalhava pelo reino o dadivoso, pois a curiosidade estava a tirar-lhe o sono.

Havia, contudo, um embaraço que apoquentava o tal rei, roubando-lhe noites e noites de sono: como descobrir a verdade. Até a rainha já estava incomodada de tanto ouvir os passos do marido ressoando, noite após noite, pelo quarto real. O soberano foi então informado de que poderia confiar sua problemática a um único homem: Arquimedes. Se ele não a resolvesse, melhor seria derreter a coroa, o que não desejava fazer, para conferir o material, ou então crer na palavra do ofertante.

Ao respeitado cientista prático e teórico, Arquimedes, coube a missão de retirar da cabeça do soberano aquele peso, não o da coroa, mas o da curiosidade. Ele se pôs a pensar e pensar. Quem estava agora preocupada com as noites insones do marido era sua esposa, fatigada com a dificuldade da empreitada. Pobre esposo! A tarefa não era fácil, mas é certo que não seria impossível, já que ter ideias era seu mister. E para comprovar a máxima de que o Universo conspira a favor de quem quer algo com todas as forças de seu ser, enquanto tomava banho, o matemático concluiu que se o nível da água subia, quando ele entrava na tina, logo poderia conhecer a densidade da substância de que fora feita a coroa, medindo o volume de água deslocado.

Conta a história que Arquimedes ficou tão eufórico por encontrar a solução para acabar com o agastamento real que se esqueceu de que estava nu e saiu gritando pelas ruas:

– Heureca! Heureca!

Nota: Segundo o Aurélio, a palavra eureca ou heureca é uma interjeição que vem do grego heúreka, pret. perf. do ind. de heurískein, ‘achar’, ‘descobrir’. Emprega-se, quando se encontra a solução de um problema difícil.

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O DESTINO DOS ANIMAIS (Aula nº 94 E)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Existe coisa mais misteriosa para um artista do que a ideia de como a natureza se espelha nos olhos dos animais? Como será que um cavalo, uma águia, uma corça, um cachorro veem o mundo? (Franz Marc)

 O pintor expressionista alemão Franz Marc (1880–1916) estudou teologia e filosofia, ingressando no mundo da arte em 1900, dedicando-se à pintura de paisagens tradicionais. Tornou-se conhecido por usar animais como tema de seus trabalhos e pelo uso incomum que fazia das cores primárias brilhantes. Justificava a sua predileção pelos temas animais sempre dizendo que a beleza e a espiritualidade desses lhe pareciam superiores às presentes nos seres humanos. 

Franz Marc foi apaixonado pela obra de Van Gogh e pelo trabalho dos impressionistas. Fez amizade com o pintor August Macke, quando passou a simplificar seu estilo e a usar a cor de um modo não naturalista. Conferia significado às cores que usava. Fez parte do grupo simbolista Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul). Influenciado pelo Futurismo de Robert Dalaunay assumiu o estilo abstrato nos últimos anos de sua vida.

A composição intitulada O Destino dos Animais é uma obra do artista, na qual ele apresenta os cavalos verdes. Observem com atenção. Uma égua está chorando, ao ver sua cria correndo aterrorizada em direção a uma árvore de tons sanguíneos caída, o que para ele era o símbolo do domínio material e da ruína ocasionada pelo homem. A égua e sua cria são verdes e adentram no quadro da esquerda para a direita.

Um desacompanhado cervo azul, com a parte inferior amarelada, ocupa a parte central da composição. Segundo a simbologia do artista, ele representa a gentileza. O cervo curva a cabeça ao receber o golpe que o abate, representado por um fino raio de luz alaranjada que vem em diagonal, da direita para a esquerda e atravessa a composição. A árvore tombada também atravessa em diagonal a composição, em sentido contrário ao do raio. As cores usadas dizem respeito a determinados atributos psicológicos:

  • azul – masculinidade, austeridade e intelecto;
  • amarelo – feminilidade e alegria;
  • vermelho – materialidade e dominação.

Ficha técnica
Ano: 1913
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 1,96 m x 2,66 m
Localização: Kunstmuseum, Basileia, Suíça

Fonte de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante

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SÓ FALAVA ABOBRINHAS

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Autoria de Lu Dias Carvalho abobrinha

Não é fácil passar uma noite acompanhando alguém que só fala abobrinhas. Ninguém merece tamanho desatino, ainda mais quando se sai de casa com o intuito de divertir-se. E foi justamente uma senhora, com uma dessas mentes de ameba, que se sentou ao meu lado, durante o jantar de noivado de um casal de amigos.

Éramos cerca de duas dúzias de pessoas, algumas das quais – parentes do noivo – eu jamais vira. Os lugares na mesa  traziam o nome das pessoas no intuito de fazer com que houvesse interação entre conhecidos e desconhecidos. E o meu estava lá, entre a dita senhora e seu esposo, um senhor de óculos, taciturno, totalmente desligado do mundo à sua volta, mas com um apetite voraz e cujos olhos não desgrudavam do prato.  À direita estava sua caricaturesca senhora, uma matraca viva. Ao contrário de seu varão, a varoa não mostrava nenhum interesse pelas iguarias servidas, pois se encontrava sob os ditames do regime. Estava ali apenas para matraquear, sem nenhum interesse pela sua ouvinte – no caso eu, esta criaturinha pura e indefesa que ora escreve (sem risos). A pessoa da ilustração sou eu gritando: – Pare!

Eurides Flores Pombal começou desfiando a sua árvore genealógica, sendo que em cada galho habitava uma “ilustríssima” personagem, responsável por ter feito isso e mais aquilo pelo país. A seguir pôs-se a descrever seus giros pelo mundo, só lhe faltando conhecer o Monte Olimpo. Parolou minutos a fio sobre suas cirurgias, feitas nos centros mais renomados do país. Tagarelou sobre seus amigos endinheirados, figuras do mais alto escalão da república tupiniquim.  E eu ali, mudinha da silva, com um sorrisinho amarelo, tentando levar a tortura numa boa. E pior, não conseguia comer nada, embora estivesse faminta, pois a matrona era daquele tipo que, se o interlocutor não estivesse olhando – olhos nos olhos –, ela fincava o seu dedo no braço dele. Meu marido e eu deixamos o grupo às três horas da madrugada.

Tive um pesadelo horroroso após poucos minutos de sono. Comecei a ver abobrinhas saindo aos montões da bocarra da dita madame. Elas caíam pela mesa, derrubando tudo: taças de cristal, travessas de porcelana e tudo que se encontrasse pela frente, num caos infernal.  Tapei os olhos com a barra da toalha de linho branco,  derrubando o resto de coisas que ainda jaziam de pé. As pessoas levantaram-se de seus assentos e começaram a gritar comigo, todas falando ao mesmo tempo. Acordei gritando:

– Abobrinha, não! Abobrinha, não! Abobrinha, não!

E por falar em abobrinhas, a expressão “só fala abobrinhas”, muito conhecida em nossos dias, originou-se quando a nossa moeda ainda era o cruzeiro e a nota de mil cruzeiros ganhou o apelido de abobrinha, pois a cédula tinha a cor do fruto da aboboreira. Com a inflação galopante, ela foi perdendo progressivamente o seu valor de compra. Hoje, “falar abobrinhas” significa uma conversa sem sentido, sem crédito, papo furado, ou seja, totalmente sem significância.

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DUAS MULHERES NA RUA (Aula nº 94 D)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor alemão Ernst Ludwig Kirchner (1880–1938) estudou arquitetura em Dresden e fez um curso de arte em Munique. Foi responsável por formar o grupo expressionista alemão Die Bücke com mais três colegas de faculdade, também amantes da pintura. Passou um tempo nos lagos Moritzburg para pintar nus em ambientes naturais. Em Berlim criou uma série de pinturas tidas como ponto de destaque do Expressionismo. À medida que envelhecia, seu estilo ia se tornando cada vez mais abstrato.

A composição intitulada Duas Mulheres na Rua é uma obra expressionista do pintor que executou uma série de pinturas, nas quais mostra cenas das ruas berlinenses, com a tensão característica da vida nas metrópoles.

Duas mulheres bem vestidas, com peles e chapéus de penas, de acordo com o estilo da época, são as figurais centrais da obra. Elas possuem tamanhos distintos. Trazem rostos de forma triangular, simplificados, lembrando máscaras (o artista era fã do primitivismo). As figuras apresentam certa distância do observador. O desenho anguloso e o sombreamento cruzado e forte repassam movimento à pintura.

As figuras ocupam praticamente toda a tela, dentro de uma perspectiva muito reduzida, sem que haja qualquer referência ao horizonte. Só é possível ao olhar do observador viajar através dos profundos decotes em V das duas mulheres ou de suas cabeças excessivamente ornamentadas.

O arco cor-de-rosa à direita tem por objetivo equilibrar a composição e remete aos suntuosos edifícios de Berlim. O pintor deixa sua marca de arquiteto ao criar as roupas das duas mulheres de uma forma escultural, remetendo à arquitetura. O artista em sua composição fez uso de cores ácidas e luminosas que ganham ênfase com seu desenho expressivo e com as pinceladas que ele deixa à vista. Sua paleta, muito comum à época, reduz-se aos tons de verde, amarelo, rosa e preto.

Ficha técnica
Ano: 1914
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 120,5 cm x 91 cm
Localização: Kunstsammlung Nordrhein-Westfalen, Düsseldorf, Alemanha

Fonte de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante

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