DE MÉDICO E DE LOUCO…

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Há dias venho recebendo inúmeras notificações sobre a importância do bicarbonato de sódio na cura disso ou daquilo. Confesso que nunca fui nem um pouco crédula nas curas miraculosas, propagadas ao deus-dará. No entanto, ao ler A Incrível História dos Remédios – Robert e Michele Root-Bernstein (Editora Campus) – passei a compreender que tudo é possível, pois muitas receitas de raízes, ervas e larvas, usadas antigamente na cura de doenças, começam a ser aceitas na medicina alopática e homeopática.

O que acontece, meus caros amigos, é que muita coisa, até então vista como grotesca, passa a ser normal aos olhos da medicina moderna. E certas crendices ou remédios populares assumem um novo patamar na nossa história medicinal. O assunto é fascinante, ainda mais que de médico e louco, todos nós temos um pouco. Uma grande verdade disse Sir William Osler, famoso médico canadense, em 1902: “As filosofias de uma época tornam-se os absurdos da era seguinte e as tolices de ontem tornam-se a sabedoria de amanhã”. Durmam com um mexinflório deste!

A minha avó Otília sempre dizia que não podemos duvidar de absolutamente nada neste velho mundo de meu Deus. É seguindo esta sua filosofia que me encontro hoje. Nem mesmo a borra de café, usada para estancar o sangue de cortes na cabeça, usadas em certas regiões deste nosso imenso país, amedronta-me mais. Podem me lambuzar à vontade com tal borra na falta de um especialista. Perdida por pouco, melhor é estar perdida por muito. Se não curar, serve para fortalecer os miolos.

É interessante notar como certas terapias, até então consideradas absurdas, estão sendo vistas sob um novo olhar, depois de descobertas as suas bases científicas. Dentre elas, os autores citam os banhos de imersão, as sangrias e a aplicação de larvas para curar feridas. Imagino que alguns dos leitores estejam se arrepiando, só de pensar em ter um monte de larvas sobre as feridas de seu corpo. Também me encontro na expectativa de encontrar alguns insetos que possam remover as ulcerações da alma humana e, quem sabe, as chagas que nos provocam as paixões agudas. Vocês já imaginaram como seria bom se pudéssemos ligar para o larvário mais próximo e pedir:

– Por favor, mandem-me uma dúzia de crisálidas, pois preciso me curar de uma dor de cotovelo, o mais rápido possível.

No outro dia, após tal aplicação, amanheceríamos leves e soltos, como um monte de borboletas esvoaçantes, prontos para uma nova temporada de paixonite aguda. Mudaríamos apenas de agente infeccioso, pois novas paixões brotariam. Por isso, paixão vai, paixão vem… E a vida continua. O bom mesmo é curar ganância, egoísmo e desumanidade com os bichos, as gentes humildes e a Terra como um todo.

As sanguessugas com suas ventosas também estão na ordem do dia. Já estão sendo aplicadas em terapias. O que sentimos é que, ao trazer certos tratamentos milenares, frutos do aprendizado dos povos em diferentes culturas e épocas, a medicina moderna dá um grande passo em direção à sabedoria popular. Ainda bem que muitos conceitos estão sendo revistos. Portanto, olhem agora com mais carinho para os chazinhos disso e daquilo, ensinados pelos mais velhos. Ainda existe muita sabedoria popular sendo trazida à luz de nossos tempos.

 

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NOVO ESTILO – CUBISMO III (Aula nº 97)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Uso da Colagem

A colagem, na medida em que reforçava sua relação com o Cubismo, passou a influenciar o método de todos os artistas do grupo, encantados com um meio que se exprimia com base num processo de corte, colagem e dobradura do objeto. O sucesso entre eles foi tamanho que chegaram a pintar quadros que imitavam colagens. E como era de se esperar, o Cubismo Sintético ofereceu uma visão mais decorativa da arte, tornando-se mais popular junto aos críticos e ao público. Teve seu apogeu com Henri Matisse, chegando até os movimentos posteriores do século XX, principalmente à Pop Art. A pintura cubista, a partir de c. 1912/1913, já trazia muita influência da colagem.

O mais interessante na colagem é que não se tratava de símbolos, pois o elemento usado representava a si mesmo (jornais, caixas de fósforos, cartões de visitas, etc.). E, de acordo com o desejo dos cubistas, trazia a arte para mais próximo da realidade. O artista Juan Gris no seu quadro intitulado “O Lavatório” (1912), fez uso de um pedaço de espelho. Tanto Picasso quanto Gris fizeram colagens humorísticas e inventivas em suas primeiras obras usando tal técnica.

O uso de materiais cada vez mais fortes fez com que a influência da colagem se espalhasse em obras tridimensionais, permitindo que o Cubismo se tornasse uma escultura que se abre. Vazios e sólidos passaram a ter o mesmo valor artístico. Artistas como Jacques Lipchitz e o escultor russo Alexander Archipenko que fez a primeira escultura “com um furo” (Mulher Andando), liderados por Picasso, tomaram o mesmo caminho. Na arte pictórica pode-se dizer que a colagem só foi assumida como meio de expressão por Pablo Picasso, Georges Braque e Juan Cris, pelo menos na maior parte. Ainda assim, Picasso e Braque, que tinham trabalhado muito anos juntos, com a invenção da colagem, deixaram as diferentes personalidades reaparecerem.

Os combates bélicos (Primeira e Segunda Guerra Mundiais e a Guerra Civil Espanhola) afetaram profundamente o Cubismo. Os artistas, aterrorizados com os horrores vistos e ouvidos, começaram a transformar suas obras, principalmente Fernand Léger e Georges Braque, modificando totalmente seu estilo após 1918. Pablo Picasso e Georges Braque acabaram se separando, uma vez que o segundo foi servir no front (1915), onde foi seriamente ferido e, ao retomar à pintura mais tarde, não mais adotou as formas geométricas, preferindo pincelada suaves e livres.

O fato é que “As Senhoritas de Avignon” (Les Demoiselles d’Avignon), obra de Pablo Picasso, foi responsável tanto pelo Cubismo quanto por toda a arte moderna. Ao fracionar uma imagem, o Cubismo contribuiu para o aparecimento do Orfismo, do Raionismo e do Futurismo. E ao botar a geometria em primeiro plano, serviu de apoio para a arte Supremista e Construtivista. Com o uso da colagem, o Cubismo antecedeu o Dadaísmo, o Surrealismo e a Pop Art. Com o uso de superfícies planas preparou o caminho para o Expressionismo Abstrato, estilos que veremos à frente.

Ilustração: Natureza-morta com Xadrez (1915), Juan Gris, o artista agrega a técnica da colagem.

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
A história da arte/ E. H. Gombrich
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha

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Bassano – ENTRADA DOS ANIMAIS NA ARCA…

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Autoria de Lu Dias Carvalho

                                                 (Cliquem na imagem para ampliá-la.)

O pintor italiano Jacopo Bassano (c. 1517-1592), cujo nome verdadeiro era Giacomo da Ponte, nasceu numa família de pintores. Estudou com o pai, Francesco Bassano, o Velho, e também como Bonifazio Veronese em Veneza. Foi influenciado por Ticiano, Lorenzo Lotto, Tintoretto, pelos maneiristas, entre outros. Suas obras mostram uma luminosidade esplêndida, exatidão nos detalhes e elementos narrativos simples. No início de seus trabalhos sua pintura possuía um estilo mais popular, contudo, com o passar dos anos, ela foi evoluindo até encontrar uma síntese perfeita, próxima do colorido de alguns dos grandes mestres italianos, como Tintoretto e Veronese, com figuras vibrantes. O artista é tido como um dos mais representativos do final da Renascença veneziana, pioneiro nas pinturas paisagísticas venezianas.

A composição intitulada Entrada dos Animais na Arca de Noé é uma obra do artista. Apresenta a figura bíblica de Noé, responsável pela construção da Arca, segundo o Antigo Testamento (livro maior dos cristãos) a ordenar o desfile majestoso de animais que sobem a rampa, antes da chegada do dilúvio. A cena acontece no nascer do dia, momento antes de ter início o dilúvio.

Noé, figura mais importante da pintura, encontra-se de joelhos. Ele recebe os primeiros raios de sol da manhã que antecede o dilúvio. Encontra-se no centro da composição, barbudo e usando uma túnica vermelha. Está acompanhado de sete membros de sua família em meio aos mais diversos casais de animais.

A maioria dos animais caminha em direção à Arca, enquanto outros ainda descansam, esperando pacientemente a sua vez. Apesar do grande rebuliço da partida, não há sinal de desordem. Todos parecem tomados por grande paciência. O céu encontra-se repleto de aves das mais diferentes espécies que voam em direção à Arca, onde encontrarão o abrigo esperado, a fim de que suas espécies não sejam extintas. Outras tantas estão numa grande árvore, próxima à subida da rampa.

Todas as figuras humanas trazem a cabeça voltada para baixo, atentas aos seus afazeres para a partida, excetuando Noé que olha em direção à entrada dos animais na Arca. No meio da rampa encontra-se um casal de felinos – leão e leoa.

A Arca localiza-se na extremidade da tela e não na parte central. O artista mostra em seu trabalho apenas uma pequena parte dela. Somente são vistos seu flanco, uma grande rampa e uma porta que serve de entrada e onde se vê uma figura masculina responsável por receber os bichos.

O mais importante para Jacopo Bassano era mostrar os animais e não a arca. Sendo assim, não havia a necessidade de inseri-la por inteiro na composição, mas tão somente fazer uma leve menção a ela. Presume-se que, para criar os animais com tanta perfeição, o artista deva ter feito um estudo sobre eles antes, o que mostra o quanto era um excelente desenhista. Esta pintura é tida como uma das primeiras abordagens do artista em relação aos temas do Antigo Testamento que mais tarde seriam objeto de diferentes versões por sua oficina, onde trabalhavam seus filhos.

Ficha técnica
Ano: c. 1570
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 207 cm x 265 cm
Localização: Museu del Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
O livro da arte/ Martins Fontes
1000 obras-primas da pintura europeia/ Editora Konemann

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O OVO DE COLOMBO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

ovo1    ovo

Segundo contam os historiadores, estava o explorador e navegador genovês Cristóvão Colombo – responsável por conduzir a frota que chegou ao continente americano – participando de um banquete realizado para comemorar sua empreitada, quando um dos convivas perguntou-lhe se outra pessoa poderia ter sido capaz de realizar o mesmo feito. Antes de responder, o navegador provocou os presentes para que botassem um ovo fresco de galinha de pé sobre a mesa, usando qualquer uma de suas extremidades. É claro que ninguém conseguiu tal façanha.

Colombo propôs, então, mostrar como resolver tal proeza: pegou o ovo e bateu levemente uma de suas extremidades contra a mesa, quebrando minimamente a casca e colocando-o de pé. Um dos presentes exclamou que qualquer um poderia ter feito aquilo, se daquele jeito fizesse. Ao que o navegador acrescentou que de fato poderia, porém, o mais difícil era ter tal ideia. Ou seja, primeiro é preciso que alguém coloque a ideia em prática, para que outro possa segui-la com facilidade.

Muitos historiadores atestam, contudo, que tal proeza diz respeito ao arquiteto italiano Fillipo Brunelleschi (já estudamos sobre ele aqui no nosso site), quando projetou o famoso domo da Catedral de Santa Maria del Fiore, na cidade de Florença, Itália. Sendo Colombo também um italiano, ele a conhecia, tendo apenas reproduzido a façanha diante dos espanhóis. Outros, porém, atribuem a artimanha feita com o ovo ao construtor Juanelo Turriano. Mas não nos importa os meandros da história, o fato é que ela ficou conhecida como o ovo de Colombo.

Tal expressão passou a significar algo muito fácil de ser realizado, mas depois que alguém já o tenha feito. Abaixo a afirmação de Colombo:

Convenhamos, entretanto, que apesar de sua simplicidade e facilidade, você não descobriu a solução, e apenas eu removi a dificuldade. O mesmo ocorreu com a descoberta do Novo Mundo. Tudo que é natural parece fácil, após conhecido ou encontrado. A dificuldade está em ser o inventor, o primeiro a conhecer ou a demonstrar. (Cristóvão Colombo)

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NOVO ESTILO – CUBISMO II (Aula nº 96)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Fases do Cubismo

Os pintores cubistas foram além da teoria de Cézanne — teoria essa que retratava as formas da natureza como geométricas —, ao representar num mesmo plano aos lados de um objeto, de modo que suas faces ficassem de frente para o observador. O uso de um objeto tridimensional no mesmo plano dava-se através do uso de linhas retas e formas geométricas, sem nenhuma preocupação com a aparência da realidade. Os artistas cubistas, portanto, abriram mão da perspectiva, fizeram a geometrização das formas e passaram a usar cores neutras (branco, preto, cinza e tons de castanho e ocre, etc.).

O movimento cubista pode ser dividido em duas fases: o Cubismo Analítico (1909) e o Cubismo Sintético (1911) que se diferem em razão das seguintes características:

Cubismo Analítico — retrata o período inicial do movimento, sendo visto como um Cubismo mais sofisticado, bem mais próximo das técnicas pictóricas tradicionais. Fazia a decomposição dos elementos que compunham uma obra, com o objetivo de mostrar a visão total de todos os ângulos e lados, numa ordem de planos sucessivos e sobrepostos, ficando a figura menos identificável. As passagens criadas necessitavam ser reconhecidas pelo observador, exigindo que ele se tornasse um participante efetivo. Para Juan Gris o que Cubismo Analítico fazia era partir de um detalhe (um motivo visto) até chegar a uma generalização (a pintura).

Cubismo Sintético — buscou tornar a figura mais reconhecível e adicionou elementos como o vidro, pedaços de madeira, metais, letras, números e objetos, a fim de que a composição, além de tornar-se mais visual, provocasse sensações táteis. Desaprovava alguns dos princípios do Cubismo Analítico. Levava em conta a realidade da imagem que passou a fazer parte do mundo real. Para Juan Gris o que Cubismo Sintético fazia era partir da generalidade da superfície e dos materiais usados pelo artista, até chegar a uma imagem especial e única criada por ele.

As pinturas cubistas analíticas mostravam imagens frias e achatadas, mas a partir de 1911 pequenas mudanças estavam sendo introduzidas na arte cubista, como mostra a composição “Ma Joli” de Pablo Picasso que era o título e também o refrão de uma canção popular francesa. Ao adicionar tais palavras à sua composição, o artista, fazia, ao mesmo tempo, uma dedicatória à sua amante Marcelle e personalizava e humanizava a imagem pouco reconhecível de uma mulher tocando violão. Por sua vez, o cubista Juan Gris mostrava-se menos rebuscado e mais tradicional, com o objetivo de tornar sua obra mais reconhecível e calorosa como pode ser visto em “Retrato de Picasso”.

Na fase do Cubismo Sintético muitas texturas passaram a ser exploradas, dando maior ênfase ao uso de uma combinação ou “síntese” de diferentes estilos numa única obra. Essa fase teve início em 1912 e perdurou por toda a década de 1920, tendo dela participado artistas como Robert Delaunay, Francis Picabia, Jean Metzinger, Fernando Léger e Marcel Duchamp.

Os pintores cubistas estavam cientes de que era preciso tornar sua parte mais compreensível para o público. O pintor Fernand Léger, por exemplo, ao criar uma série de pequenas pinturas bem delineadas em cores primárias — um pouco distante das obras de Picasso e Braque —, repassou ao Cubismo um ânimo diferente e uma nova estética no mundo da arte pictórica, ao romper com as regras de perspectiva, escorço, textura e o uso do chiaroscuro, elevando o Cubismo a um mundo modernista, guiado pela tecnologia. Da série “disco” de Léger, a mais notável é conhecida como “A Saída do Ballets Russes”, ilustração acima, em que ele fez uso de uma paleta alegre de amarelos, vermelhos e azuis, além do preto.

As mudanças cromáticas de Fernando Léger, agregadas ao desenvolvimento da colagem por Picasso e Braque, contribuíram para impelir as mudanças e apressar a visão da crítica e do público em relação ao Cubismo que entra na segunda fase sintética. Nessa fase os artistas preocupavam-se menos com o método de observação e mais com o processo de estruturação e planejamento da obra. A cor ganha um papel mais forte e as formas — ainda fragmentadas e planas — tornam-se maiores e mais decorativas. Materiais como fragmentos de jornais e pedaços de tecidos são muitas vezes adicionados à tela, representando de antemão a colagem.

O Cubismo que se iniciou com as artes plásticas, acabou se espalhando por outras manifestações artísticas, como a Poesia e a Literatura. Quanto à existência de tal movimento no Brasil, aqui não existiram pintores tidos como cubistas, sendo o Cubismo apenas objeto de estudo, no entanto, diversos artistas modernistas viram-se por ele influenciados.

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
A história da arte/ E. H. Gombrich
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha

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UM ARRANCA-RABO

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Autoria de Lu Dias CarvalhoVetores Tapa de gato: Desenho vetorial, imagens vetoriais Tapa de gato|  Depositphotos

Por ocasião das últimas eleições para prefeito de Coxixó da Serra, tive a oportunidade de assistir a um comício na cidade. Ali me encontrava em visita a um familiar. Tirando as promessas mirabolantes e a verborragia vindas do palanque, tudo teria transcorrido na mais absoluta e costumeira pasmaria, se certa madame do lado opositor aos participantes do comício não tivesse passado pelo local e dado um tapa na cara da matrona, esposa de um dos candidatos, motivo suficiente para que o pau comesse.

As duas “finas” damas, depois de esbofetearem-se mutuamente seguidas vezes, passaram a rolar no chão, disputando para ver quem ficava por cima durante mais tempo, pouco se importando com as vergonhas, uma vez que ambas se encontravam de saia e com a camiseta de seu partido. O comício foi interrompido, uma vez que os presentes, achando que a rixa tinha bem mais emoção, voltaram as costas para o palanque com seus não muito distintos oradores com suas contumazes mentiras e promessas deslavadas. Toda a atenção pública passou a concentrar-se nas duas gladiadoras. A turba, como é comum acontecer,  instigava a desavença. Queria mais!

A notícia da quizila correu as ruas poeirentas de Coxixó da Serra. Os partidários da agressora, responsável pelo tabefe inicial, foram chegando e tomando o seu partido. Os seguidores da colega de comício também acharam por bem tomar suas dores. Assim, o tumulto dividiu-se em duas torcidas organizadas. Ninguém acudia. Ninguém separava. Todos queriam ver o circo pegar fogo. Repentinamente uma guinchada de sangue atingiu o rosto de alguém da plateia. Uma das desordeiras havia literalmente tirado parte da orelha de sua opositora que, em contrapartida, arrancou-lhe a ponta do nariz.

O arranca-rabo só acabou quando as tais foram parar na delegacia, sendo logo após encaminhadas ao posto de saúde, para tomarem vacina contra raiva e coisa e tal.  Dizem as más línguas que as duas chibantes desfilam atualmente por Coxixó da Serra de braços dados. Uma sem a ponta da orelha e a outra sem a ponta do nariz, mas agora pertencentes ao mesmíssimo partido. Que loucura!

O termo arranca-rabo foi trazido pelos colonizadores portugueses que, por sua vez, herdaram-no da tradição egípcia. Está ligado às batalhas de antigamente, quando arrancar o rabo do cavalo do inimigo era um grande trunfo. Quanto mais rabos de cavalos apresentasse, mais prestigiado era o guerreiro. Tal costume também foi comum entre os cangaceiros nordestinos, aqui no Brasil, como forma de humilhar os donos das propriedades invadidas. As bestas humanas digladiavam e eram os pobres animais as maiores vítimas, sem terem nada a ver com a rixa. O que prova que o rabo dos mais fracos sempre fica mais desprotegido.

Fontes de Pesquisa:
A Casa da Mãe Joana / Reinaldo Pimenta
http://www.brasilescola.com/curiosidades/arranca-rabo.htm

 

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