A PRIMEIRA IMPRESSÃO É A QUE FICA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

galinha

Não há quem não se deixe levar pelas primeiras impressões. Sabemos, contudo, que tal caminho esconde muitos abismos e lodaçais. E para reforçar este nosso defeito, diz o ditado popular que é a primeira impressão que fica. Mas não deveria ser assim, para o nosso próprio bem, pois impressão não dá camisa a ninguém, mas a certeza, sim.

Todos nós carregamos uma certa dose de intuição, embora todo julgamento devesse estar alicerçado em paredes firmes. A dona intuição não pode tomar a frente e ir dando o caso por encerrado: gosto ou não gosto e ponto final. Tal avaliação leva-nos muitas vezes a cair numa tremenda esparrela. A gente vê cara, mas não possui raios-X para ver o coração das pessoas. Nem sempre aquilo que nos agradou num primeiro momento, conserva a nossa mesma opinião com o andar da carruagem. Por isso, acabamos muitas vezes dando com os burros n’água, se nos precipitamos nas avaliações.

Devo dizer, a bem da verdade, que os meus burricos estão sempre molhados, coitadinhos. Já devo possuir muitas tropas no fundo dos lagos, rios, mares e oceanos. Estou sempre a fechar os olhos, sem querer enxergar além das aparências, preferindo  apostar na bondade humana. Comigo não existe essa de ficar com um pé na frente e outro atrás, para o meu azar. O fato é que tenho uma grande tendência para acreditar nas pessoas, faça chuva ou faça sol. O meu juízo é sempre pródigo, até que venha a certeira cacetada. Algumas delas têm sido bem doloridas. Mesmo assim, ainda não aprendi que o dia do benefício é a véspera da ingratidão.

As primeiras impressões devem ser consideradas como indicações vagas, sujeitas a verificações. É preciso ter muito cuidado com o lodaçal das simpatias e antipatias instintivas, antes de edificar concepções do bem e do mal, do justo e do injusto, do real e do fictício, da verdade e do errado. A afoiteza foi sempre uma péssima companheira, levando-nos sempre à contrição, pois o apressado acaba comendo cru. Tomadas de posição precipitadas impedem-nos de fazer uso do discernimento e do comedimento.

Nós vamos acumulando enganos ao longo da vida em nossos julgamentos precipitados, pois uma concepção errônea impede-nos de buscar outra que possa ser a certa. Cautela é o caminho a ser seguido. O melhor mesmo é buscar o equilíbrio, até que o tempo – mestre da sabedoria – mostre-nos a verdade, ou pelo menos parte dela, para que não sejamos pegos com as calças na mão. Outro ponto importante para não cairmos em roubadas  é não nos deixarmos levar pela opinião de terceiros, pois, como diz a minha amiga Lena, galinha que anda atrás de pato morre afogada. Assim, só depois de um bom convívio é que se deve dizer: meu anjo da guarda não combina com o de sicrano ou beltrano.

 

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O GRANDE PINHEIRO (Aula nº 88 C)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Lembra-se do pinheiro plantado à beira do Arc, debruçando sua cabeça de longos cabelos sobre o abismo que se abre aos seus pés? O pinheiro que protegia nossos corpos do calor do sol com seus ramos. Ah! Possam os deuses protegê-lo do machado do lenhador! (carta de Cézanne a Zola)

A árvore abalada pela fúria dos ventos / Agita seus galhos despojados no ar / Um imenso cadáver que o mistral balança. (Cézanne) 

O pintor francês Paul Cézanne (1839–1906) era filho do exportador de chapéus Louis-Auguste Cézanne que depois se tornou banqueiro, e de Anne-Elisabeth-Honorine Aubert, tendo nascido na pequena cidade de Aix-en-Provence. Teve duas irmãs, Marie e Anne, nutrindo uma relação mais forte com a primeira que sempre tomava o seu lado, em relação ao autoritarismo do pai. Cézanne e Marie nasceram quando seus pais ainda mantinham uma relação secreta. Cézanne, pintor  impressionista e pós-impressionista, é tido como o precursor do Cubismo.

A composição denominada O Grande Pinheiro é uma obra do artista e encontra-se em solo brasileiro. Faz parte do acervo do MASP desde 1951. Trata-se de uma maravilhosa tela, uma das obras-primas do pintor. A composição tem como personagem central um majestoso pinheiro que ficava no parque do Jas-de-Bouffan, na Provença, já de propriedade do pai do artista.

O grande pinheiro ocupa a parte central da tela, dividindo-a verticalmente. Reina soberano sobre a vegetação que se mostra à sua esquerda e à sua direita, num terreno ligeiramente inclinado. Ele quase alcança o céu.  O vento dobra sua copa para a direita, enquanto seu tronco alto e delgado verga-se para a esquerda, oferecendo resistência. A folhagem do magistral pinheiro se parece com uma cabeleira revolta, tendo ao fundo um tocante céu azul.

O majestoso pinheiro figura na tela como se fosse um gigantesco personagem a receber o observador. Nada há que embote a sua beleza. Esta exuberante paisagem demonstra o nível de beleza a que chegou o grande mestre da pintura, com seu sincretismo maravilhoso de volumes e de tonalidades. O artista criou em sua paisagem uma harmonia de tons azuis e verdes com toques quentes ocasionais nos galhos e na folhagem que captam a tira ocre da estrada que passa à frente do pinheiro.

Ficha técnica
Ano: 1890 a 1896
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 85,5 x 92,5 cm
Localização: Museu de Arte, São Paulo, Brasil

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
http://sunsite.icm.edu.pl/wm/paint/auth/cezanne/land/great-pine/

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BIPOLARIDADE – NOIVADO DESFEITO

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Autoria de Rebeca Mendes

Eu me relacionei com uma pessoa bipolar durante um ano e três meses. Era um romance dos tempos de faculdade e do qual acabei me reaproximando durante a pandemia. Moramos em cidades diferentes e distantes, então nos vemos a cada mês. Eu não sabia que ele tinha qualquer problema de saúde mental, até presenciar o primeiro episódio de mania (até então não sabíamos que era assim que chamava) logo após o seu aniversário de 32 anos.

Foi tudo difícil. Eu estava muito assustada, sem saber como lidar com o problema. Ele se encontrava extremamente diferente do comportamento habitual. Normalmente é uma pessoa muito tranquila e amorosa, mas durante a fase de mania ficou super agitado, não dormia, inconsequente com as palavras e atitudes e passou a me contar coisas que havia feito sem o meu conhecimento, como conversas com outras mulheres. Aquilo me fez desabar em tristeza e frustração, mas não me sentia no direito de sofrer enquanto ele estava naquele estado lamentável. Passados os dias, ele me pediu perdão e prosseguimos com o nosso relacionamento.

Sete meses depois outro episódio de mania aconteceu. Ele havia parado a medicação por conta própria e sem o conhecimento de ninguém. Durante a crise ouvi mais confissões de traição, mas me senti culpada mais uma vez. Achava egoísmo sofrer e terminar com ele naquela situação. Não me sentia com o direito de abandoná-lo. Passados alguns dias, e com ele já menos instável, recebemos o diagnóstico de transtorno afetivo bipolar. Na hora eu cheguei a sentir até um alívio por saber do que se tratava e ele também. Prometeu-me se comprometer com o tratamento, parou de beber e parecia que tudo daria certo.

Mesmo com o problema de confiança por conta das traições confessadas por ele, o relacionamento seguiu tranquilo. Eu evitava situações de estresse ou gatilhos que pudessem despertar nele outras crises. No entanto, mesmo tomando a medicação e estando bem, ele entrou em mais um episódio de mania. Estávamos muito bem, viajamos no réveillon, fizemos planos para esse ano e, inesperadamente, ele terminou comigo. Este último episódio de mania começou de forma muito sutil e ele logo foi ao psiquiatra para rever a medicação, mas ainda assim o episódio progrediu, tendo dias de altos e baixos.

No último domingo saímos por insistência dele, pois eu não gosto de sair quando ele se encontra nessa situação, para evitar a exposição e o que pode gerar uma experiência desagradável, mas também é difícil negar todos os convites pelo medo de chateá-lo. Encontramos uns três amigos dele num barzinho que já é bem conhecido. Ele tomou um refrigerante, conversou bastante, falou de seus planos para a festa de aniversário. Depois de cerca de duas horas ele me chamou para voltarmos para casa.

Ao chegar em casa, ele se irritou porque eu ainda não tinha lavado a louça e terminou o relacionamento comigo. Entregou-me a aliança e pediu-me para tirar as minhas coisas do quarto. Eu moro a quase 400 km de distância da cidade dele, e tive que pegar o primeiro ônibus para voltar pra casa. Agora eu não sei o que fazer. Não sei se espero a mania passar. Não sei se sigo a minha vida. Estou devastada. Abri mão de muitas coisas pelo relacionamento, até mesmo de sofrer, quando tive motivos ruins e agora nem mesmo sei por que ele terminou o namoro.

Tenho tentado falar com ele, mas está tão frio que é como se nossa relação nunca tivesse existido para ele. Escrevo aqui como um desabafo e como um pedido de ajuda. Minha família e meus amigos não entendem essa relação e me dói muito pensar que eu me doei tanto para não ter o direito de um término digno, com um pouco de carinho e respeito. É possível que ele volte atrás? Hoje o meu pensamento não é na reconciliação e sim que possamos conversar, quando ele estiver lúcido. Recuso-me a aceitar uma separação sem nem mesmo saber a causa.

Ilustração: Ciúmes, 1930, Edvard Munch.

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QUEM PUXA AOS SEUS NÃO DEGENERA

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Autoria de Alfredo Domingos gandhi1345

A explicação genética confirma que saímos aos nossos. Os cabelos louros são do avô. Os olhos azuis são do pai. A estatura alta vem da parte do outro avô. E por aí seguem as comparações. Tudo bem, mas não me agarro à gênese! Quero tergiversar. Voar com as ideias dos tipos:

– Paulinho é tão desaforado quanto a mãe!
– João é tão organizado quanto o pai!
– Marina é cômica do mesmo jeito que é a irmã mais velha!

São estas algumas das exclamações que a família e amigos apontam como referências, fazendo tudo para que a semelhança seja reconhecida e festejada. Outras similitudes vêm das profissões:

– Ele é professor como o pai.
– Ela é médica e tem a mesma especialidade da mãe.
– Júnior herdou o pendor artístico do pai. Está cursando teatro. Faz caras e bocas da mesma forma.
– Leninha costura divinamente! Confecciona vestidos de noiva tal qual a mãe nos bons tempos.
–Tocar bem piano é dom da família inteira.

Está bem! As pessoas divagam buscando coerência, tentando atrelar uma coisa à outra.  Precisamos justificar de um tudo, fazer o quê? Porém, não degenerar porque puxamos a quem nos gerou, ou está conosco vai além. Considero mais relevantes o exemplo e o ensinamento que são passados. Entendo que a convivência sadia pode salvar alguém. Pode dar rumo ao desgovernado.

A validade do provérbio está no sentido de aproveitar as boas lições, realizar o bom combate, estar atento às dicas importantes. Não importam parentesco, cor da pele, sinais físicos, ofício e demais coincidências. Releva refletir sobre o proveito que conseguimos obter e em consequência fortalecer as nossas vidas.

Nota: Artesanato do Vale do Jequitinhonha

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OS TELHADOS VERMELHOS (Aula nº 88 B)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

 Uma bela pintura, uma pequena casa escondida na floresta que nos impressionou com seu toque forte e simples. (Crítica à época)

 Não defina muito de perto os contornos das coisas; é a pincelada de valor correto e cor que deve produzir o desenho. (Camille Pissarro)

O pintor francês Jacob Abraham Camille Pissarro (1830–1903) desde pequeno mostrava a sua inclinação pela pintura. Em Paris encantou-se com as telas de Camille Corot e tornou-se amigo de Paul Cézanne, Claude Monet, Charles-François, dentre outros artistas impressionistas. Teve quase todos os seus quadros destruídos por ocasião da guerra franco-prussiana, quando se mudou para a Inglaterra. Ao retornar a Paris, passou a pintar na companhia de Cézanne, influenciando-se mutuamente. Foi um dos fundadores do Impressionismo e um dos mais importantes artistas responsáveis pela coesão do grupo. Tornou-se famoso por ter sido o primeiro impressionista a trabalhar com a técnica da divisão de cores, obtida através do uso de manchas de cor isoladas. Também trabalhou com os neoimpressionistas, como Georges Seurat e Paul Signac, e fez uso do pontilhismo. São características de sua obra uma paleta de cores cálidas e a firmeza com que captava a atmosfera, através de um trabalho definido de luz. Foi professor de Paul Gauguin e de Lucien Pissaro, sendo esse último seu filho.

A composição Os Telhados Vermelhos é uma obra-prima de Camille Pissarro que a pintou enquanto trabalhava ao lado de seu grande amigo Paul Cézanne, ambos usando o mesmo tema. A paisagem refere-se a um canto de uma aldeia com efeito de inverno. Um pequeno conjunto de edificações agrícolas com suas grandes chaminés e janelas azuis aparece por entre as árvores desfolhadas de um pomar que parecem formar uma teia. Para divisá-las é necessário passar primeiro pelas árvores com seus troncos e galhos retorcidos em primeiro plano.  As árvores ao fundo possuem os troncos verticais.

O artista fez esta composição ao ar livre, sem fazer uso de um esboço ou desenho, apenas fazendo o acabamento de memória em seu estúdio. As cores marrom e laranja avermelhado que colorem as superfícies dos telhados, esparramam-se por diversos pontos da tela. Elas estão nos campos e nas plantas vistas em primeiro plano, assim como ao fundo. Neste trabalho ele deixa evidente o seu senso de construção, com a forma sendo desenvolvida aos poucos. Ele sobrepõe camadas de cor de modo a criar uma densidade madura e um tom rico.

Para pintar “A Cote des Boeufs”, encosta também chamado “Côte de St. Denis”, o artista posicionou-se acima da colina e à esquerda.

Ficha técnica
Ano: 1877
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 54,5 x 65,5 cm
Localização: Museu de Orsay, França, Paris

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
http://www.musee-orsay.fr/en/collections/works-in-focus/painting/commentaire_id/red-roofs-.
http://www.camillepissarro.org/the-red-roofs-a-corner-of-a-village-winter-effect.jsp

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O BAMBAMBÃ DO PEDAÇO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

bambã

 Zeca de Sá Quelé achava-se o bambambã da cidade desde o dia em que as moças do lugar resolveram elegê-lo o rapaz mais garboso do pedaço. Tomando o título como um passaporte para os embelecos amorosos, Zeca transformou-se literalmente num “pegador”, um machão. O fraco do moço eram as garotas de fora, às quais chamava de “sangue novo”. Não dava bolas para as conterrâneas que morriam de amores pelo mancebo que se achava a última bolacha do pacote. Desprezava todas.

Foi numa festa para comemorar a inauguração de uma agência bancária que Zeca enrabichou-se pela visitante Samantha com “th”, como ela deixava bem claro, com seus cabelos dourados despencando-lhe pelas costas, os lábios carnudos breados de carmim e um longo pescoço, sempre cingido por um exótico xale de seda vermelha. Os dois dançaram, bem grudadinhos, a noite inteira, trocando beijos e amassos.

A cidadezinha de Zeca no que perdia em tamanho ganhava em língua, de modo que mal o dia amanhecera, espalhando o cheiro de café coado pelo ar, o nome do moçoilo já andava de boca em boca, ou melhor, de porta em porta, pois de acordo com o costume local as pessoas ficavam nas calçadas de manhã e à tardinha, perto das portas, mexericando sobre o que sabiam e o que supunham ser verdade. O assunto que rolava de ponta a ponta do lugar era que Zeca estava de namoro com um travesti.

Dois dias depois, com a certeza de que fora enganado pelo “sangue novo”, e não mais aguentando as alfinetadas das línguas ferinas e o desprezo das donzelas, até então relegadas ao segundo plano, o bambambã caliente, fazendo-se de morto, pegou o ônibus para São Paulo, com a desculpa de que fora convidado para ser modelo. Dizem as más línguas que há mais de oito anos não volta à cidade natal.

A expressão “bambambã” veio do quimbundo (língua da família banta, falada em Angola pelos ambundos). Significa exímio, bom no que faz. A repetição da palavra (bamba, bamba) acabou transformando em bambambã. “Lá em casa todo mundo é bamba, todo mundo bebe, todo mundo samba…“.

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