Vendo os diversos depoimentos aqui editados, venho contar um pouco do meu passado e presente no convívio com uma esposa bipolar. Espero poder ajudar outras pessoas que se encontram em tal sofrimento.
Estou junto a minha esposa há cerca de 20 anos. Sempre nos demos bem. Claro que existem aquelas briguinhas de casal. Estamos casados há 11 anos e temos uma filha de 7 aninhos. Desde que a conheci, ela passava por depressões todos os anos. Ia ao médico que lhe receitava alguma medicação e passado um mês ficava bem, isso na altura dos 16 anos. Ao longo dos anos ela percorreu vários psiquiatras, psicólogos, de tudo um pouco. Receitavam variadas medicações, sendo que umas davam resultado outras nem por isso, mas o problema todo é que quando se sentia bem, deixava de tomar a medicação, e isto durante todos os anos.
As coisas começaram a agravar-se depois do nascimento de nossa filha. Logo depois de nascer a criança, ela começou com a depressão. Até um ano e meio tive de ser eu a fazer tudo para a criança, pois ela não estava em condições. Não é nada fácil cuidar da casa e da filha, nunca dormir para dar leite e tratar da menina e depois ter que sair para trabalhar de manhã. Foi um caminho complicado, mas no fundo sinto-me mais forte, porque tenho uma menina que adora o pai. Adorei fazer tudo isto em prol de minha filha.
Como disse anteriormente, a partir daí começou a complicar. A minha esposa começou a ter outros relacionamentos, deixava de nos ligar, alterava-se conosco, começava a mudar a sua maneira de ser, a comprar muitas roupas, a gastar o dinheiro todo, a usar roupas mais provocantes, quando então descobri o seu primeiro caso. Conversamos muito e consegui perdoá-la. Como todos nós sabemos não é fácil, mas fiz isso pela nossa família. Eu amava muito a minha esposa, como ainda a amo.
Passou mais um ano e ela voltou a fazer tudo novamente depois de tantas promessas e de ir a várias consultas de terapias de casal. Foi tudo em vão. Eu estava desesperado, não suportava tanta dor pelo que estava a passar. A minha cabeça não aguentava mais. E mais uma vez consegui perdoá-la. Ela contava que não sabia explicar o porquê de fazer aquilo, de procurar outros homens. Dizua que era a adrenalina que não largava as pessoas. Eu ouvia as conversas. Ela era outra pessoa que eu não conhecia. Mais uma vez desculpei-a.
No meio dos anos continuava a ter depressões como sempre tinha, depois voltava a me trair. Andou nessa vida por cerca de 7 anos. Tudo isso que passei começou-me a afetar-me. Comecei a ter problemas de ansiedade e crises de pânico, coisa que nunca esperava ter por me sentir sempre forte. Passou a ser um desespero, porque já não dava atenção a minha filha que foi sempre a minha força. Depois de conversarmos novamente, antes de botarmos um ponto final na relação, ela se comprometeu a irmos a uma psicóloga e nessa conversa fomos aconselhados a buscar um psiquiatra. Senti-me melhor depois de falarmos com a psicóloga. Ela foi muito clara com a minha esposa, o que me deu alguma força.
Fomos a uma psiquiatra e contamos tudo o que se passava. Ela foi clara, dizendo que o problema da minha esposa era por ser bipolar. Não tinha nenhuma dúvida. Neste atual momento a minha esposa está a fazer o início da medicação e espero que dê resultados, para voltarmos a ser felizes. Só consegui passar por tudo isto por amá-la muito. Por isso, compreendo todos vocês pelo que passaram. É uma dor insuportável, e não desejo isso a ninguém.
Desculpem o meu desabafo, vou dando notícias. Quero agradecer pelo excelente blogue que permite partilharmos a nossa dor. Juntos somos mais fortes!
Ilustração: Mulher Chorando, Pablo Picasso.
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