Autoria de Lu Dias Carvalho
Todos os povos — em quaisquer que sejam os tempos — possuem uma simbologia específica, própria de sua cultura. Os símbolos não possuem significados inerentes, ou seja, em si mesmos. Eles precisam fazer parte da identidade social e cultural de um povo, num determinado tempo, pois seu significado também se modifica. A arte é um campo riquíssimo em simbologia. Tanto a Idade Média quanto o Renascimento contaram com um simbolismo bastante organizado, sendo que alguns de seus símbolos ainda fazem parte da cultura de nossos dias, a exemplo da abelha, vista como extremamente laboriosa, sendo usada para simbolizar o trabalho produtivo.
O simbolismo teve uma função muito importante numa época em que a grande maioria da população era analfabeta. A palavra “símbolo” deriva-se do grego antigo “symballein”, cujo significado é “unir, agregar, associar”, etc. Em tempos idos era costume, após o término de um contrato ou acordo, a quebra de um bloco de argila de modo que cada um dos participantes ficasse com um pedaço (symbola), sendo que a união de suas frações comporia a unidade. Assim teve início seu uso figurado que tanto pode representar algo, como ser indicativo de que alguma coisa está faltando para levar à conclusão ou à totalidade.
O símbolo na arte tem a função de repassar informações sobre uma ideia específica. Muitas vezes um mesmo símbolo pode ter vários significados. Uma árvore, por exemplo, dentro da simbologia cristã tanto pode ser uma referência à cruz onde Cristo foi imolado, como pode representar a “árvore da vida” que relaciona o mundo terreno com o espiritual. O relacionamento entre religião e simbolismo tem sido expresso em todos os tempos, a começar pela Pré-História com a “Vênus de Willendorf”. A arte funerária do antigo Egito tinha uma rica simbologia que retratava a preocupação com a vida após a morte. Na Idade Média a simbologia era usada sobretudo com a finalidade de repassar ensinamentos. E nos tempos de hoje, quando o homem traz consigo um olhar mais crítico sobre a visão simbólica das muitas vertentes de nosso mundo, novas eras científicas ganham vida com uma simbologia própria.
Na arte cristã existia uma variada simbologia correlacionada com o espiritual e o terreno. Sua função didática permitiu que as tradições religiosas e espirituais fizessem uso do simbolismo para levar às pessoas o entendimento do divino. Os símbolos eram muitas vezes combinados de maneira a formar uma alegoria (expressão do pensamento ou da emoção, muito usada em literatura, pintura e escultura, através da qual se representa simbolicamente um objeto para significar outro), quando a ideia a ser exposta era mais complexa, como na representação da batalha entre o bem e o mal. A Bíblia traz muitos exemplos de alegoria usados para explicar verdades espirituais, como as parábolas de Jesus em que os personagens e os eventos representam uma verdade sobre o Reino de Deus ou sobre a vida cristã.
Como podemos perceber, ainda que fossem direcionados a uma população analfabeta, o simbolismo e a alegoria são meios que exigem a participação intelectual do observador, pois ele precisa ter conhecimento sobre o que se referem, não bastando apenas olhar para compreender seu verdadeiro sentido. É por isso que nos passam despercebidas muitas coisas nas pinturas dos mestres do passado, uma vez que não tempos a compreensão de toda a sua simbologia, como veremos no estudo de obras.
A Bíblia — livro sagrado dos cristãos — está repleta de simbolismo e de parábolas (narrativa alegórica que evoca, por meio de comparação, valores de ordem superior, encerra lições de vida e pode conter preceitos morais ou religiosos) religiosas. Cristo é representado como pelicano, cordeiro, pastor, etc. A obra pictórica conhecida como “Os Esponsais dos Arnolfini” — criada por Jan van Eyck em 1434 (século XV) — é riquíssima em simbolismo e alegoria, sendo essa pintura uma das mais famosas no que diz respeito à arte simbólica e alegórica cristã. Seu simbolismo religioso é tão complexo que até hoje não foi totalmente decifrado. Vejamos alguns exemplos de símbolos.
- A primeira figura ilustrativa do texto (sempre olhando da esquerda para a direita) é conhecida como “triquetra” (ou triqueta), uma forma geométrica usada para expressar a Santíssima Trindade. Observem que se trata-se de três arcos entrelaçados. O símbolo inteiro é uma referência à unidade e à eternidade.
- A segunda figura é conhecida como “lábaro” ou “cruz de Chi-Rho”, monograma composto por duas letras iniciais gregas da palavra Cristo: X (chi) e P (rho).
- A terceira imagem trata-se de um dos símbolos secretos mais antigos de Cristo, encontrado nas catacumbas romanas. Tem por base um acróstico: as letras iniciais das palavras gregas para Jesus Cristo, o Filho de Deus e Salvador formam a palavra grega “ichthus” que significa “peixe”.
- A quarta imagem representa uma pomba a emanar sete raios numa referência ao Espírito Santo com seus sete dons.
- A última figura é um basilisco, símbolo medieval que representava o diabo, a luxúria e as doenças.
A Virgem Maria também é possuidora de uma vasta simbologia: o lírio, a rosa branca, a rosa vermelha, o sol, a lua e uma coroa com 12 estrelas, um jardim cercado, um portão fechado, um espelho, um manto azul, etc. O cão é um animal muito presente na pintura antiga, símbolo da fidelidade e da vigilância. A cereja na iconografia cristã possui a mesma simbologia da maçã, como fruta do paraíso.
Exercício
Para o enriquecimento deste texto/aula os participantes deverão responder as questões abaixo:
1. Como teve início o uso figurado do símbolo?
2. Qual é a função do símbolo na arte? Exemplifique.
3. Qual foi a origem do peixe na simbologia cristã?
Fontes de pesquisa
História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
Renascimento/ Nicholas Mann
Signos e Símbolos/ Editora Escala
Views: 36
Lu
O ser humano usa os símbolos desde os tempos mais remotos. Existem documentos criptografados que ainda não foram entendidos. As alegorias são narrativas que utilizam os símbolos como caracteres de sua linguagem, produzindo a virtualização do significado, ou seja, transmitindo um ou mais sentidos, além do sentido literal. Está presente em formas de manifestações artísticas, como pintura, escultura, dentre outras. No Carnaval o carro abre-alas vem sempre com o nome e símbolo de escola, de acordo com o enredo abordado. Costumo assistir pela TV ao desfile de Escolas de Samba e fico admirada com tanta criatividade e beleza.
Marinalva
O simbolismo está presente nos mais diversos momentos de nossa vida, inclusive na nossa fala. Quando alguém diz “- Hoje vou comer um prato bem grande!”, significa que a pessoa está com muita fome, não é mesmo? A arte, como retrata a vida, não poderia ser diferente. Em todos os seus estilos nós vamos encontrar uma simbologia específica, sendo necessário estudá-la para entendermos um pouco daquilo que o artista quis repassar numa determinada época. O carro abre-alas do Carnaval traz um simbolismo muito grande, pois, além de dar uma dica sobre a temática a ser desenvolvida pela Escola de Samba, ele é o coração da própria escola.
Beijos,
Lu
Lu
Imagino que a simbologia tenha começado expressando a suposta divindade e colocando juntos aqueles que a comungavam. A fragilidade humana desde a Idade da Pedra buscou um amparo além da existência. A simbologia em torno do deus sol e da lua mostra isso. Na arte ela só é compreendida quando o observador conhece o significado dos símbolos.É impressionante a força de um símbolo, também muita expresso no futebol, onde a camisa do jogador incorpora toda a identidade do time.
Antônio
A existência dos símbolos vem de priscas eras. Ao fazer seus desenhos nas cavernas o homem primitivo tinha ciência do que esses representavam para ele. O Egito antigo deixou uma cultura riquíssima em símbolos, sendo muito deles ainda não decifrados. A arte, de acordo com o tempo em que é expressa, também traz uma rica simbologia, sendo necessário estudá-la para melhor compreendê-la. A camisa do time realmente possui uma simbologia muito forte.
Abraços,
Lu
Lu
Os símbolos apareceram na vida do homem desde a Pré-história e perpetuam até os nossos dias. As pessoas sempre os utilizaram como elementos representativos e influenciadores em todos os aspectos da vida humana. Estão presentes no setor econômico, político, religioso, social e cultural. Muitas vezes são capazes de mover multidões para seguir ideias benéficas ou maléficas. É importante ressaltar o caso do nazismo, representado pela suástica SS. Infelizmente esse símbolo, juntamente com a ideia distorcida de mundo, provou um holocausto e muita destruição no nosso planeta.
A religião sempre utilizou símbolos para comunicar melhor com seus seguidores. A Bíblia é cheia de simbologia, utilizando parábolas para expressar determinadas mensagens relativas à crença cristã. Infelizmente falsos cristãos utilizam esses símbolos bíblicos para manipular pessoas com pouco esclarecimento e promover a extorsão de dinheiro de outros bens, contrariando todo o ensinamento de Cristo. Na arte já vimos com bastante veemência a utilização de símbolos para expressar passagens bíblicas e fortalecer a fé cristã.
Hernando
Você expressou muito bem sobre a importância do símbolo que tanto pode servir o bem como o mal. Penso que nos dias de hoje, com a rapidez impulsionada pela internet, a simbologia passou a ter um caráter ainda mais preocupante, quando a serviço do mal. Num piscar de olhos um símbolo viaja por todo o mundo. E temos visto símbolos escabrosos, preconceituosos e hediondos espalharem por aí. Faz-se necessário que medidas sérias sejam tomadas, principalmente relativas àqueles que apregoam o preconceito que desumaniza.
Abraços,
Lu
Lu
Como os símbolos expressam mitos, crenças, fatos, situações ou ideias, sendo umas das formas de representação da realidade e comunicação direta, favor comentar:
• Os símbolos como forma de comunicação, pois foram usados desde o início da humanidade, quando não existia a linguagem escrita;
• Os brasões como símbolos e sua representações como arte, pois são usados até nos dias de hoje.
Adevaldo
A simbologia é realmente muito vasta em qualquer que seja a cultura. Nós iremos conhecer os assuntos mencionados por você, ao estudarmos as obras de arte, quando teremos a oportunidade de conhecer um grande número de símbolos, tanto religiosos, quanto mitológicos e referentes aos nossos dias (nos estilos Contemporâneos).
Abraços,
Lu