Autoria de Celina Telma Hohmann
Vivemos a era da aflição anímica em que nossa alma afligida, entre ser o que desejamos e descobrir que nem sempre é possível, põe-nos em conflitos que, aos poucos, afundam-nos sem que demos conta disso. Hoje é até natural assumir que estamos passando pela devassa dos transtornos mentais, mas sabemos que alguns os confundirão com falta de fé, chilique e falta de empenho. Não devemos nos preocupar com os outros e a opinião que têm sobre um mal que ainda não conhecem. São sortudos por não tê-lo, mas não imunes a ele.
Não é fácil descobrir que se está passando pela fase do pânico. Viver muito tempo dentro dessa síndrome é pior ainda. Só quem passou ou passa por ela conhece seus segredos que na verdade nem se mostram, mas vão sendo decifrados diariamente. Ela é a surpresa diária, a companheira que não é bem vista, tampouco deve ser aceita como parte da própria vida. Não é fácil livrar-se dela num estalar de dedos, mas, com o tempo, esse terror inicial vai se dizimando, virando fumaça e aí, num dia, ele some. Nunca se sabe se é para sempre, mas ele acaba. Basta que se cuide e tome consciência plena de que é preciso, muito mais que antes, aceitar que todos os seres humanos são passíveis de males inimagináveis.
Sempre uso, talvez como consolo (mas que tomo como verdade absoluta) que os sensíveis, cheios de sensibilidade genuína, são os mais vulneráveis aos transtornos mentais, problemas esses que tolhem, derrubam e assustam. Penso que se fossem indiferentes ao que os rodeiam nada disso os atingiria. Muitos indivíduos passam pela vida praticamente sem conflito algum. Sábios, santos ou alienados? Não sei! Quem não se importa com o mundo não se defronta com os medos e a sensação de impotência diante dele. Mas nós, detentores de problemas mentais, importamo-nos com a vida! E humanos em condição, fragilizados por conta de maldades que não aceitamos, vemo-nos presas de um turbilhão de sentimentos que não entendemos e que, ao final, leva-nos a conhecer o caminho complicado das confusões mentais, do pânico, do medo absurdo daquilo que antes não nos causava temor algum.
Hoje, com a alta incidência de necessidades que não havia antes, exigências que não faziam parte do dia a dia das pessoas, a exagerada exigência de perfeição e o querer fazer tudo da melhor forma e o mais rápido possível, é impossível seguir saudavelmente nessa linha, o que acaba gerando a paralisia. Normal? Não! Ruim, muito ruim! Fazemos parte de um novo clube. Há buscas, perguntas, por vezes bem confusas e nem sempre respostas imediatas, que existem, mas descobri-las é um caminho que demoramos a descobrir. Mas existe um consolo: há um novo olhar sobre o que nos aflige, a Ciência caminha a passos largos. Tudo ficará no passado, sim, bastando dar ao tempo o tempo que ele pede.
Nós, portadores de transtornos mentais, precisamos vivenciar nossas inseguranças com tolerância, sem que as sinta como amigas, mas descobrindo que não estão aí por puro acaso. Cuidemos de nós. Apenas nos encontramos temporariamente em crise. Não estaremos submetidos a ela eternamente! Não, mesmo! Medicamentos são necessários. Nosso cérebro também é uma maquininha complexa que, por vezes, nos assusta. E como nossa alma, também precisa do bálsamo. Os remédios ajudam. Inicialmente nos deixam meio tontos, amedrontados, mas ao final tudo se acerta.
Conheço os florais e não os tomei por sempre brincar que, no meu caso, eu teria que ter plantações a perder de vista de plantas e flores com aromas e gostos variados. Algumas pessoas conseguem um bom resultado, mas é preciso considerar que a formulação é individual, devendo o médico dizer qual o melhor caminho. Onde quase sempre pecamos é no que diz respeito à medicação que precisa ser bem orientada. Ela leva um tempo mais ou menos longo, dependendo de cada caso. Os transtornos mentais não nos deixarão pelo simples fato de acharmos que estamos prontos para abandonar a medicação, sem passar pelo parecer médico. Isso é ilusório e pode trazer consequências doídas. Nosso cérebro é quimicamente programado e os antidepressivos, quimicamente desenvolvidos em laboratórios, têm por objetivo repor o que perdemos.
Nota: a ilustração é uma obra de Edvard Munch
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Caros amigos e amigas
Tem sido muito comum algumas pessoas não se darem bem com um determinado antidepressivo, mudando para outro. Muitas vezes ficam com o medicamento numa gaveta, sem saber o que fazer com ele. Resolvi pedir-lhes que, quando tiverem uma caixa de antidepressivo em casa e do qual não mais farão uso, falem comigo sobre isso (via e-mail), pois temos muitas pessoas com reais necessidades desses, pois ora elas se encontram desempregadas. Como sabemos, esses remédios são bem caros. Conto com a ajuda de todos, quando possível for.
Abraços,
Lu
Celina
Ótima matéria. Eu me vi em todos parágrafos.
Grande abraço!
Lu
Completei 30 dias tomando o Escitalopram, esse que felizmente me trouxe muitas melhoras e o abandono de alguns sintomas, porém outros ainda são presentes como: zumbido na cabeça (ou ouvido), sonolência, vertigens, cabeça pesada e com incômodo, arrepio e pontadas em partes do corpo, medo de outras doenças ou de não voltar a ser a mesma de antes.
Ontem retornei à psiquiatra, seu diagnóstico foi que são ainda sintomas da ansiedade, como obtive uma melhora considerável, por esse motivo ela não iria aumentar a dose do remédio, pediu para que eu retornasse após 3 meses. Porém me aconselhou a procurar um otorrino para verificar o zumbido. Não seria o caso dela aumentar a dose do remédio? Vejo relato de pessoas com menos tempo de uso e que já não sentem mais nada, fico com medo do remédio não ser o ideal para mim. Estou no final do período menstrual e o incômodo na cabeça, vertigens e sonolência foram mais frequentes, seria esse o motivo?
Desculpe por tantas inseguranças, mas é tudo novo pra mim. Sempre fui amante da vida, uma pessoa alegre, pra cima, nunca me imaginei passando por isso. Só queria voltar a ser como era antes. Meu maior desejo hoje é acordar e pensar que foi apenas uma fase de aprendizado e crescimento, e passou.
Abraços
Thaline
Se a melhora foi considerável, sua psiquiatra está correta em manter o mesmo medicamento. Certos organismos levam mais tempo para se livrarem de todos os transtornos adversos. O zumbido na cabeça tem sido relato por muitos comentaristas. Ainda assim vá ao otorrinolaringologista para que ele a examine. Não encontrando nada, pode ser que esteja ligado aos transtornos adversos do medicamento, assim como os demais citados por você. E se tais transtornos continuarem a incomodá-la muito, não espere os 90 dias para retornar à sua médica. Poderá até mesmo consultar um segundo profissional para ver a sua posição, pois ninguém merece ficar sofrendo sem necessidade.
Amiguinha, nada há para que peça desculpas. Este cantinho é para isso mesmo. Essa fase é mesmo muito ruim e traz muita insegurança. Fique tranquila, você voltará a ser a pessoa alegre de antes, pois é para isso que existem os antidepressivos, ou seja, eles têm por finalidade melhorar a nossa qualidade de vida. E tudo acaba sendo mesmo um aprendizado. Aguardo novas notícias suas.
Abraços,
Lu
Lu
Eu tenho crises de pânico e ansiedade, tomo fluoxetina e zetron para controlar a compulsão por doces que eu obtive por conta das medicações. Eu já tenho um baby e quero muito ter outro, mas meu marido tem um certo preconceito por eu ter SP e querer engravidar tomando remédio. Ele tem medo de eu ter depressão, ou voltar a ter as crises… Lembrando que tomo remédio há mais de 1 ano para as crises de pânico, não tenho mais elas. Às vezes me dá medo de ter ainda e sinto um aperto na garganta, mas nada que fixe no meu pensamento.. Logo passa e não tenho nenhum sintoma a mais que isso.. Queria uma segunda opinião.
Beijos
Luciana
Seja bem-vinda a este cantinho. Sinta-se em família.
Amiguinha, quando a mulher quer engravidar, ela precisa repassar isso a seu psiquiatra para que ele lhe receite um antidepressivo que não interfira na vida do feto. Portanto, isso não é motivo de preocupação. As crises de pânico, quando tratadas, desaparecem. Eu não as tenho há mais de cinco anos. Procure evitar pensar nelas. O importante é viver com otimismo um dia de cada vez, para impedir que se fixe em pensamentos de doença. O exercício físico também é muito importante (caminhada, pilates, etc.). Não se esqueça de que terá de conversar com seu psiquiatra sobre seu desejo de ter um segundo filho. Continue nos trazendo notícias.
Abraços,
Lu