Autoria de Carl Edward Sagan
A maior grandeza do HOMEM está em ser capaz de entender e admitir sua pequenez e insignificância diante da magnitude do UNIVERSO. (Prof. Rodolpho Caniato)
Deste ponto de vista, nossa obsessão com nacionalismo não aparece em evidência. Nós somos muito pequenos. Na escala dos mundos, humanos são irrelevantes, uma fina película de vida num obscuro e solitário torrão de rocha e metal. (Carl E. Sagan)
Talvez, não haja melhor demonstração das tolices e vaidades humanas que essa imagem distante do nosso pequeno mundo. Ela enfatiza nossa responsabilidade de tratarmos melhor uns aos outros, e de preservar e estimar o único lar que nós conhecemos: o pálido ponto azul. (Carl E. Sagan)
A espaçonave estava bem longe de casa. Eu pensei que seria uma boa ideia, logo depois de Saturno, fazê-la dar uma última olhada em direção de casa.
De Saturno, a Terra apareceria muito pequena para a Voyager apanhar qualquer detalhe, nosso planeta seria apenas um ponto de luz, um “pixel” solitário, dificilmente distinguível de muitos outros pontos de luz que a Voyager avistaria: planetas vizinhos e sóis distantes, mas justamente por causa dessa imprecisão de nosso mundo assim revelado, valeria a pena ter tal fotografia. Já havia sido bem entendido por cientistas e filósofos da antiguidade clássica que a Terra era um mero ponto de luz em um vasto cosmos circundante, mas ninguém jamais a tinha visto assim. Aqui estava nossa primeira chance e talvez a nossa última nas próximas décadas.
Então, aqui está um mosaico quadriculado estendido em cima dos planetas e um fundo pontilhado de estrelas distantes. Por causa do reflexo da luz do sol na espaçonave, a Terra parece estar apoiada em um raio de sol, como se houvesse alguma importância especial para este pequeno mundo, mas é apenas um acidente de geometria e ótica. Não há nenhum sinal de humanos nessa foto. Nem nossas modificações da superfície da Terra, nem nossas máquinas, nem nós mesmos. Desse ponto de vista, nossa obsessão com nacionalismo não aparece em evidência. Nós somos muito pequenos. Na escala dos mundos, humanos são irrelevantes, uma fina película de vida num obscuro e solitário torrão de rocha e metal.
Considere novamente esse ponto. É aqui. É nosso lar. Somos nós. Nele, todos que você ama, todos que você conhece, todos de quem você já ouviu falar, todo ser humano que já existiu, viveram suas vidas. A totalidade de nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e saqueador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e plebeu, cada casal apaixonado, cada mãe e pai, crianças esperançosas, inventores e exploradores, cada educador, cada político corrupto, cada “superstar”, cada “líder supremo”, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu ali, em um grão de poeira suspenso em um raio de sol.
A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pense nas infindáveis crueldades infringidas pelos habitantes de um canto desse pixel, nos quase imperceptíveis habitantes de outro canto, o quão frequentemente seus mal-entendidos, o quanto sua ânsia por se matarem, e o quão fervorosamente eles se odeiam. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, em sua gloria e triunfo pudessem se tornar os mestres momentâneos de uma fração de um ponto. Nossas atitudes, nossa imaginaria importância, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no Universo, é desafiada por esse pálido ponto de luz.
Nosso planeta é um espécime solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda essa vastidão, não há nenhum indício que ajuda possa vir de outro lugar para nos salvar de nós mesmos. A Terra é o único mundo conhecido até agora que sustenta vida. Não há lugar nenhum, pelo menos no futuro próximo, no qual nossa espécie possa migrar. Visitar, talvez, se estabelecer, ainda não. Goste ou não, por enquanto, a Terra é onde estamos estabelecidos.
Foi dito que a astronomia é uma experiência que traz humildade e constrói o caráter. Talvez, não haja melhor demonstração das tolices e vaidades humanas que essa imagem distante do nosso pequeno mundo. Ela enfatiza nossa responsabilidade de tratarmos melhor uns aos outros, e de preservar e estimar o único lar que nós conhecemos: o pálido ponto azul.
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Ah,Lu!
Há tanta riqueza no texto de Carl E. Sagan que o silêncio -verbal ou o não comentar por escrito- foi a sacudida que fez-me, qual o defunto, cobrir-me em flores e permanecer estática. Considere-se, que uma pincelada num comentário me faria ficar ainda mais na interrogação do que faço, também,para contribuir? Nada! Por motivos tão banais e por vezes tão profundos, furto-me a levar o tapa na cara, admitindo, minha arrogância ainda é forte! Mas lendo o texto, apreciando cada frase, voltei a atenção para mim própria e aí, amiga,o que percebi é que sou a personificação da fuga frente ao que assusta pela beleza. Sou a personificação do que contempla, sempre e sempre a distância entre o que devo valorizar e não só contemplar.
Confesso, sem vergonha alguma, fiquei sem ação. Veio aquela vontade de dizer tudo, desmanchar-me em comentários que ficam contidos e esperam, desesperadamente, que eu os liberte. Não consegui! Houve o bloqueio, o backout, a dormência que acompanha quadros que nem sempre conseguimos explicar ou controlar.
Carl E.Sagan deu ao século XX o que via não como estudo ou sua necessidade, mas nos mostrava, sob o ponto de vista dele, que qualquer direção que tomássemos frente ao infinito,nos deixaria sem respostas, ou as tendo como verdades, ainda assim, seríamos presas da nossa ignorância. Uma citação dele que julgo esplêndida: “O que é mais assustador? A ideia de extraterrestres em mundos estranhos ou a ideia de que, em todo este imenso universo, nós estamos sozinhos?”Instigador!
Não sei se estamos sozinhos, mas vejo nas estrelas as irmãs que permanecem sempre nos apontando a direção. Nosso “pálido ponto azul” explorado, servindo como cenário para guerras raciais, sendo o tapete para corridas malucas onde o homem tropeça em seus próprios passos e sendo o braço que tenta nos alentar, o deslocamos para um profundo posto de menos valia! Mas é a Terra, o Aqui em que Vivemos! E vivendo, fazemos os estragos!
Beijão, amiga! Amei o texto.
Miss Celi
Este texto de Carl E. Sagan realmente nos toca no fundo na alma. É belíssimo! Sendo impossível manter-se impassível diante do mesmo. Também fiquei extremamente tocada. E emocionada fiquei com seu comentário, pois, como sempre, deixa presente sua profunda sensibilidade.
Abraços,
Lu
Beijos,
Lu
Lu
O vídeo apresentado foi uma verdadeira maravilha! A Terra é um ponto minúsculo e infinitesimal na imensidão do universo! Seremos os únicos seres vivos e inteligentes nesta imensidão do espaço? Meu professor de Física, uma matéria importantíssima, mas desprezada nas escolas brasileiras, falava nos anos 50 que “o universo é infinito mas limitado dentro de uma bolha. Esta teoria está sendo confirmada agora no século 21 por cientistas famosos!
A resposta da natureza aos crimes cometidos contra ela são patentes no momento atual como o ressurgimento da malária em nosso país devido ao desastre ecológico em Mariana, com a morte dos peixes e sapos no rio Doce, permitindo a proliferação dos mosquitos transmissores da doença.
Magela
Também vi o vídeo que é realmente uma maravilha. Optei pelo texto porque, ao possibilitar uma leitura mais lenta, leva a uma compreensão mais elaborada. Seu professor tinha toda a razão, já nos anos 50. Penso eu que, se tivéssemos maior conhecimento sobre o Universo, seríamos bem mais compassivos e tolerantes, certos de que nada somos nessa imensidão do “nada”.
Abraços,
Lu
Lu
Um texto que demonstra a realidade do ser humano ante a dimensão do Universo e nos faz pensar nessa grandeza com a beleza da luta pela existência, sob o poder de uma Força Maior, que tudo comanda, numa marcha eterna. Excelente artigo de Carl Edward Sagan!
Abraços,
Paulo Valença.
Paulo
Apesar da arrogância humana, nós não somos nadica de nada. O artigo é um tapa em nossa cara. Todos nós precisamos trabalhar mais a nossa humildade e o cuidado com o planeta Terra.
Agradeço a sua presença,
Lu