Autoria de Lu Dias Carvalho
Quem nunca recebeu um presente ou comprou algo que, em vez de dar alegria, só traz desconforto? Aposto que o meu leitor já está se lembrando de alguma coisa que o incomodou bastante. A melhor maneira de remediar a situação é desfazer-se do objeto. Se algo nos traz estorvo cada vez que o vemos, o bom mesmo é tirá-lo de nossa frente. Sempre haverá alguém que o receberá com a maior alegria, uma vez que gosto não se discute, não é mesmo?
Um dos elefantes brancos que já tive foi um multiprocessador que sequer consegui usar uma meia dúzia de vezes. A propaganda era efusiva: o eletrodoméstico só faltava falar e fazer todos os serviços da cozinha. Só não dizia quão trabalhosa era a tarefa de lidar com as suas inúmeras partes e também como era grande a perda de fibras e o pouco aproveitamento dos alimentos. Cansada de ver aquele elefante branco ocupando lugar na minha minúscula cozinha, eu me desfiz dele com a maior satisfação. Quem o recebeu não se incomodou com o trabalho, usando-o bastante.
É muito interessante saber como nasceu a expressão “elefante branco”. Alguém poderá estar indagando: como é que um bichinho, ou melhor, bichão, tão fofo pode cair na língua do povo? E caiu mesmo, meu amado leitor. Nada neste mundo de meu Deus está imune à maldade humana. Mas deixemos de chorumelas, lenga-lenga e cantilena e vamos aos fatos.
Conta-se que no Antigo Sião, atual Tailândia, caso o soberano se indispusesse com um dos seus súditos, ofertava-lhe um animal sagrado, que não era outro senão o belo elefante branco. É fato que se tratava de um valioso presente, irrecusável, mas extremamente complicado. E quem era doido de rejeitar um presente dado pelo rei?
A pobre vítima – não o elefante branco, mas aquela que o recebia – ficando mais do que estupefata, era obrigada a cuidar e a pagar todas as despesas do portentoso animal, sem jamais passá-lo a outrem. E, como desgraça pouca é bobagem, o “bichinho” tinha que permanecer ricamente enfeitado para agradar o rei. O presenteado não podia nem piar, pois, se o fizesse, ganhava outro animal, penando ao dobro para dar conta do presente. Quando a raiva real era muito grande e o rei queria dobrar o castigo para punir o desafeto, presenteava-o com animais gêmeos, como se o vassalo fosse o homem mais abençoado do reino. Isso que era um rei mui amigo e generoso!
A expressão elefante branco caiu na língua do povo, sendo também muito usada para se referir a obras públicas sem utilidade ou que ficam inacabadas, depois que muito dinheiro do povo foi gasto. É fato que o animal não tem culpa alguma na história. Biologicamente falando, o elefante branco é uma espécie de elefante albino, que existe na Ásia e possui um grande valor simbólico entre os tailandeses.
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Pode haver, como presente, um elefante branco. No momento, sem pensar, sentimos muito prazer, como se fôssemos premiados, com muita sorte e até achamos que isto tudo foi um ato de amor. E em tema de amor, o que vale mesmo é a linguagem do coração, que não raciocina, apenas sente. E sentir o amor, muitas vezes, é um privilégio. No entanto, quando chega a conta, a razão retorna e o amor desmorona. É o que me contou um saudoso amigo, que namorava e pensava em casar-se com uma linda moça.
Ela, infelizmente, não lhe dissera que era filha de um homem riquíssimo e estava acostumada a uma vida inconcebível para ele. Ela usava carros de luxo, perfumes sofisticados, Poivre da Caron, e Les Larmes Sacrees de Thebes da Baccaratroupas de marca luxuosa, era Porsche aqui, Gucci e Louis Vuitton, gastava muito com supérfluos, adorava jantares em restaurantes caríssimos – frequentava, quando viajava ao exterior, Sublimotion, Kitcho Arashiyama Honten, Ultraviolet,Restaurant Le Meurice, e no Brasil só falava em Fasano e Varanda e assistir shows, entre eles, Barry Manilow, Elton John, Luis Miguel, etc.
Por seu lavo, ele, era classe média. Disse-me, posteriormente, que ela ia a estes locais escondido, durante o namoro, e era o pai dela quem bancava tudo. Seu pai já lhe avisara que, se casasse com pobre, que se virasse. Ele tinha dinheiro para ir, talvez durante todo o mês a um bom restaurante e passear em Poços de Caldas uma vez ao ano. Roupa poderia comprar, mas dentro de um padrão normal. Teria condições de manter uma vida boa, porém modesta para os níveis dela. E deixou isso muito claro para ela. O casamento, imediatamente, c´est fini! Pensei comigo que era sorte dele, pois, quando a esmola é demais, o santo desconfia. Ele escapou, com certeza de um elefante branco.
Edward
Fiquei impressionada com o seu conhecimento sobre o mundo luxuoso! Muitos desses eu jamais ouvi falar. Você anda vendo tevê em demasia, menino. Estava curiosa para chegar ao fim e ver o que havia acontecido com o seu amigo. Realmente foi muita sorte sair de um despenhadeiro desses. Veja a fábula do rato da cidade e do rato da roça.
Abraços,
Lu
LuDias
Realmente, não conheço esse mundo de luxo. Pesquisei, conhecia por nome alguns e lasquei na história que contei. A historia é real, aconteceu, só que em condições mais compatíveis com a riqueza do pai da moça, de muito menor tamanho do que descrevi. Ele escapou e casou-se com uma esposa maravilhosa que nunca foi um elefante branco, mas que lhe trouxe a maior riqueza que poderia ter encontrado: o amor! Lembrei-me para exemplificar o que penso ser a riqueza, com a poesia de Castro Alves:
AS DUAS FLORES
CASTRO ALVES
São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez no mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu…
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar…
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Unidas… Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!
Eles se casaram e felizes, viveram na verde rama do amor!
Edward
Ainda bem que seu amigo se safou da carga que iria carregar. A poesia postada por você é maravilhosa e retrata o amor verdadeiro.
Abraços,
Lu
Lu,
Nos dias atuais o maior elefante branco que conheço mora no Palácio da Alvorada. Cruz credo!
Adevaldo
Penso que ainda não chega a ser um elefante branco, pois não carrega nenhum valor consigo.
Abraços,
Lu
LuDias
Com Johnny Weissmuller – o Tarzan dos tempos de minha infância – esse rei não tirava farofa nenhuma. Ele daria seu grito, até hoje lembro-me do esgoelar do Tarzan – chamaria toda a manada e invadiria o palácio do rei.
Na verdade, Lu, temos muitos elefantes brancos em nossa vida e não somos poderosos como o Tarzan do Tio Sam. Temos que enfrentá-los com bastante reflexão, sem medo (a não ser de alturas, nesta estou fora).
Há muitos amigos meus que já se foram. Não mais estão neste mundo. Este é o elefante branco mais terrível, pois dele ninguém escapa. Eu poderia, agora, com uma vida aproximando-se da média da vida no país, começar a ficar com medo. Mas não, aprendi com meu saudoso pai. Fico com o carpe diem e o futuro a Deus pertence. Viver intensamente e não pensar é a melhor receita para enfrentar esse último elefante branco de nossa vida. Para meu pai, a vida é como a morte. Entramos nela e depois saímos. Vamos viver intensamente.
Ed
O interessante é que os elefantes brancos são albinos. Imagine o quanto esses bichinhos devem sofrer sob sol esturricante da África.
Você está certo, quando diz:
“Na verdade, Lu, temos muitos elefantes brancos em nossa vida e não somos poderosos como o Tarzan do Tio Sam. Temos que enfrentá-los com bastante reflexão, sem medo (a não ser de alturas, nesta estou fora). ”
Abraços,
Lu
Lu
É incrível o número de frases depreciativas para com os animais. Sugiro fazer um texto com uma abordagem mais ampla sobre o tema que é vasto:- sua víbora, sua anta, cascavel, seu rato e por aí vai.
Messias
É verdade! Mas a maioria delas nasceu em tempos idos, quando a humanidade não tinha os conhecimentos que possui hoje. Podemos ver isso nos provérbios que estou postando aqui no blogue.
Abraços,
Lu
Lu,
eu também costumo passar o que para mim não é útil.
Aninha
Parto da ideia de que aquilo que não uso pode ser necessário a outrem. Este é o lema que deve estar presente em nossa vida.
Beijos,
Lu
Momo
Saramago sempre nos leva à reflexão em sua escrita. Sua morte foi uma grande perda para a Língua Portuguesa. Seu conto é muito interessante.
Sempre fui uma pessoa que se incomoda em guardar aquilo que não usa. E, como venho de uma família pobre, sempre repassei para os outros aquilo que não iria usar.
Ao me tornar adepta do Feng Shui (ver textos no Índice Geral), acabei me tornando ainda mais radical neste meu comportamento. Sempre que desaparece algo em minha casa, logo se ouve: – Aposto que a Lu doou.
Outro fato que me fez mudar muito foi a morte de minha mãe. Depois que a perdi, vi que tudo na vida é muito passageiro e que é inútil ajuntarmos coisas em demasia, já que perdemos até quem amamos tanto.
Amiga, estou muito feliz com a sua presença no blog. Será sempre um grande prazer recebê-la. Volte sempre que puder.
Beijo no coração,
Lu
Sinto-me bem vinda. Obrigada!
Sou eu quem agradece.
Abraços,
Lu
Lu Dias
É muito triste quando ganhamos um presente que não gostamos. Como nos desfazer sem constranger a pessoa que nos presenteou. Pior é a pessoa que nos presenteou ficar chateada, quando sabe que não gostamos, não deveria, mas é constrangimento generalizado. Infelizmente somos egoístas e queremos que os outros tenham o mesmo sentimento.
Abração
Mário Mendonça
Mário
Quando vamos dar um presente, muitas vezes pensamos mais no nosso gosto do que no da pessoa que vai ser presenteada.Eu sou uma pessoa que tem muito pouco apego às coisas, por isso, desfaço das coisas com muita facilidade. Quando sou presenteada com algo de que não gostei, fico com o presente um tempo, depois repasso para outrem. Não suporto ver uma coisa sem uso, quando poderia beneficiar outrem.
Grande abraço,
Lu
Caros,
Veio à memória “A viagem do Elefante”, conto de Saramago. Não porque conta sobre um elefante que viaja, nem porque o elefante foi um presente dado ao rei de Portugal ou porque o rei organiza a viagem exatamente para se livrar do presente… Por tudo isso, mas principalmente porque Saramago esmiuça a alma humana ao longo da narrativa que aborda as questões que o texto de LuDias propõe para refletirmos.
Sou apegada a presentes de bons amigos, mesmo se eles não me satisfazem nada ou por completo. Acho que porque tento sentir alguma conexão possível com o presente, então dou um tempo e reavalio depois. Cheguei a guardar por anos, livros que a princípio não faziam parte de meus desejos de leitura e tive boas surpresas. Outros fui forçada a me decidir pela troca do livro, pois as livrarias dão-nos pouco tempo para isso.
Grande Abraço,
Momo