Autoria de Lu Dias Carvalho
O pintor espanhol Diego da Silva Velázquez (1599–1660) encontra-se no rol dos maiores pintores da história da arte. Seus pais, Juan Rodríquez da Silva e Jerónima Velázquez, ambos de Sevilha, faziam parte da pequena nobreza e gozavam de pequeno prestígio social e político. Ao descobrirem o talento do primogênito da família para o desenho, tudo fizeram para encaminhá-lo em sua vocação. Aos dez anos de idade o menino foi estudar com o pintor Francisco Herrera, o Velho, mas ali ficou poucos meses, pois não se agradou do jeito do mestre. A seguir, ele foi estudar com o renomado pintor Francisco Pacheco de erudição humanista e em cujo ateliê reunia-se o grosso da intelectualidade, o que muito contribui para a sua formação.
A composição intitulada O Deus Marte — e também Marte Descansando — é uma obra do artista que nela mostra a sua maestria como retratista de temas imaginários. Velázquez retrata Marte — o deus romano da guerra e guardião da agricultura — em tamanho real, com grande realismo, mas não se sabe se o artista usou um modelo vivo. O mito é mostrado como um homem de meia idade, cuja pele já mostra dobras na barriga. Ele se encontra em sua cama desarrumada, de frente para o observador, com a mão direita segurando o queixo. Seu corpo está bem centrado na composição. A ponta do elmo ocupa o centro da parte superior da tela. A pintura segue a ordem iconográfica da esquerda para a direita — ritmo de Velazquez.
A figura escultural de Marte sentada em seu leito desarrumado é retratada em escala humana e em atitude de repouso sobre um fundo escuro. Traz o corpo nu, exceto pela tanga azul e pelo manto vermelho que lhe cobrem os quadris — ambos feitos com os lençóis da cama. É possível perceber que a tanga cobria originalmente um espaço maior da perna esquerda e seguia o contorno da direita. Um grande bigode adorna seu rosto, contribuindo para realçar ainda mais a sua melancolia. Na cabeça ele traz seu capacete, cuja viseira abaixada faz sombra em seu rosto. Segura com certa relutância na mão direita, escondida sob o manto vermelho, um cajado apoiado no chão. A seus pés estão o escudo, a espada e o resto da armadura, aparentemente ali jogados. Tais atributos bélicos são responsáveis por sua identificação
Alguns críticos de arte veem na situação embaraçosa e intrigante do mito uma relação com Vênus — deusa do amor —, sua amante, cuja traição foi descoberta por Vulcano, seu marido. Marte estaria tentando compreender o fim intempestivo de seu relacionamento. Esta pintura trata-se de uma representação satírica do deus.
Obs.: Muito se tem falado sobre a relação desta pintura com duas esplêndidas esculturas, muito familiares aos artistas no século XVII: Ludovisi Ares (uma cópia romana de um original grego) e Il pensieroso (O pensador) — uma das esculturas de Michelangelo. A pintura de Velázquez, no entanto, revela um desejo claro de representar carne viva com sangue correndo em suas veias, ao invés de imitar pedra esculpida. O pintor construiu sua figura fundamentalmente com base na cor e não na linha, com pinceladas livres e generosas produzindo contornos maravilhosamente difusos. (Museu del Prado)
Ficha técnica
Ano: c. 1640
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 167 x 97 cm
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha
Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições
https://www.museodelprado.es/en/the-collection/art-work/mars/ec55aa06-b32e-481
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A propósito, a leitura da autora do texto foi de um nível de detalhismo ímpar. Passei uma quantidade de tempo de medida de alvorada a crepúsculo, olhando para esse quadro, mesmo assim não notei as dobras na barriga (mostrando talvez algum desleixo físico) e o desarrumar da cama (podendo também ser lido como indisciplina);
Notei os olhos muito abertos (notório em quem sofre um grande trauma) até mesmo amedrontados, porém podemos notar a potência do seus antebraços (“fariam o fisiculturista Ramon “Dino” identificar neste quadro o seu narciso como em o espelho mágico de Harry Potter); a potência de suas panturrilhas matariam de inveja jogadores de alta performance como o campeão do mundo Roberto Carlos; o escudo brilhante mostrando o zelo do deus das guerras com seus artefatos belicosos, o capacete sendo usado mesmo em um momento sereno, mostrando prontidão a toda hora como é esperado de um soldado, sim temos aqui ao meu ver um deus das batalhas em uma forma fragilizada, mas fraco, com certeza não.
PS: Há uma arte em formato (anime / HQ) muito semelhante da deusa Atena. (Artista desconhecido)
Minha leitura pode não representar a litura da autora tampouco do artista mas creio que errônea não está.
Amigo
Agradeço a sua presença e comentário, ajudando a abrir mais leques para a compreensão desse primoroso quadro. A arte é aberta, portanto, possibilita-nos ver coisas diversas. Leituras diferentes só enriquecem o olhar sobre a obra. Parabéns!
Abraços,
Lu
Alguém conhece algum site confiável no Brasil para comprar replicas, mesmo aquelas impressas de quadros?
Amigo
Eu gosto muito da Santhatela.com.br
Abraços,
Lu
O que dizer de Velásquez? Um dos mais estudados pintores pela psicanálise. Objeto da atenção especial de Sigmund Freud (As Meninas). Pintor admirado pelo gênio Dalí. Merecidamente. Além de dominar perfeitamente sua técnica, pintando próximo à perfeição, faz com que o observador atento reflita, o que eleva o valor da sua pintura. Neste quadro especificamente Velásquez se vale de toda sua maestria.
Alvimar
Vejo que você tem grande predileção pelos pintores espanhóis. Velásquez realmente foi um dos grandes mestres da pintura. Admiro muito o seu trabalho. A sua pintura “As Meninas”, análise presente neste espaço, é uma riqueza fenomenal.
Abraços,
Lu