Autoria de Lu Dias Carvalho
A Granja dos Animais não vivia bons tempos com a chegada da seca. A terra estava impossível de ser trabalhada. Intensificaram-se as reuniões no celeiro. Mais uma vez os porcos arvoraram-se na sua capacidade intelectual para resolverem os problemas inerentes à política agrícola da granja, com o assentimento dos outros bichos, pois, na terra de cego quem tem um olho só é rei, sem falar nos omissos, cuja filosofia é “tanto faz como tanto fez”.
As coisas teriam andando a contento, se a rivalidade entre os dois maiorais, Bola de Neve e Napoleão, não tivesse chegado a um patamar insuportável. Estavam naquele pé em que dois bicudos não se beijam. Porém, não se pode negar que Napoleão era o mais invejoso, despeitado e belicoso. Qualquer animal que tivesse um mínimo de perspicácia compreenderia que as coisas não terminariam bem entre os dois. Assim como acontece com os homens, o poder era disputado a unhas e dentes. A princípio, a disputa era encoberta por certa névoa, até se tornar clara para quem quisesse tomar partido. E foi isso que aconteceu. Alguns bichos ficaram ao lado de Bola de Neve, enquanto outros bandearam para o lado de Napoleão. O primeiro obtinha a maioria de aliados através de seus discursos, e o segundo, nos conluios.
Assim como os homens, os dois outrora amigos porcos, em tempo de vacas magras, quando eram escravizados pela tirania de Jones, comiam no mesmo coxo e dividiam os mesmos ideais, mas, a partir do momento em que as coisas começaram a prosperar na granja, o poder subiu-lhes à cabeça, de modo que o lugar começou a ficar pequeno para os dois narizes de tomada elétrica. E eu fico cá pensando na semelhança desta história com a dos partidos políticos criados pelos homens. A princípio, seus criadores dizem-se imbuídos dessa e daquela filosofia, tudo para o bem do povo e coisa e tal. Depois, passam a saltitar entre um partido e outro, à cata daquele que possa lhe trazer maior ganho pessoal e destaque. E o povo? Fica a ver navios! Foi para a Cucuia.
O fato é que Bola de Neve pensou em construir um moinho de vento para gerar eletricidade para a Granja dos Animais. Já com todo o planejamento pronto, a princípio, só encontrou desinteresse por parte de Napoleão que manipulou para angariar adeptos, e, consequentemente, a granja foi dividida em duas facções. Havia também o problema com a defesa da granja. Napoleão achava que os animais deveriam usar armas de fogo, enquanto Bola de Neve defendia que deveriam enviar mais pombos para propagar a Revolução entre os bichos de outras granjas, de modo a fazê-los se rebelar e, assim fortalecidos, não haveria necessidade de armamentos.
O dia D foi aquele em que Bola de Neve apresentou os planos do moinho de vento, sendo rebatido por Napoleão que, ao perceber que todos iriam concordar com seu inimigo, fez entrar no local seus guarda-costas. E quem eram eles? Nada mais, nada menos do que aqueles cãezinhos que ele prometera cuidar, lá no início da história. O fato é que os animais pularam sobre Bola de Neve que teve que fugir às pressas em direção à estrada. Os homens também são assim, quando lhes falta a capacidade de vencer com argumentos, democraticamente, partem para a violência.
A partir da fuga de Bola de Neve, Napoleão assumiu o comando da granja. Os bichos, amedrontados, tinham medo até de abrir o bico ou balançar o rabo. Garganta ficou ainda mais falante e atrevido. Encarregou-se de desmerecer todos os feitos de Bola de Neve, pois rei posto é rei morto tanto lá como cá. Disse até que a ideia da construção do moinho era de seu novo chefe, tendo sido roubada pelo escorraçado. Agora, levaria avante o seu plano, sem a presença do pernicioso, mau-caráter e antigo amigo. O que poderia acontecer daí para a frente?
(*) Imagem copiada de apanaceiaessencial.blogspot.com
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