Autoria do Prof. Rodolpho Caniato
Um dos propósitos de meu pai era ter seu próprio pomar para o nosso suprimento de frutas, principalmente cítricas. O meio mais rápido e racional para isso seria ir ao Instituto Agronômico de Campinas para comprar as mudas. Meu pai comprou um lote de cerca de vinte mudas. Essas seriam despachadas de trem para a estação de Corrupira.
Nos dias seguintes, além de nosso trabalho regular com as videiras, tivemos a missão de preparar as vinte covas para receber as laranjeiras esperadas. Várias vezes fui á estação de Corrupira para ver se haviam chegado nossas mudas. Finalmente chegaram com toda a complexa embalagem e documentação exigidas. Fomos buscá-las de carroça e logo foram plantadas com cuidados quase religiosos, regadas de muitas esperanças, além da água de todos os dias. Cada dia examinávamos os primeiros sinais dos esperados brotos. Finalmente todas nossas sonhadas laranjeiras começaram a brotar. Acompanhamos com atenção o crescimento de cada novo broto. Isso nos encheu de otimismo e esperanças no sonhado pomar. Todas estavam bem brotadas cresciam sob nossos olhos.
Numa manhã, nós nos deparamos com várias das nossas laranjeiras totalmente “peladas” pela saúva. As tenras folhas iam sendo levadas para um “olheiro” que se abrira da noite para o dia. Além de aplicar o “fole” com fumaça de borracha queimada, aplicamos formicida “Tatu”. Conseguimos deter por algumas semanas o ataque às restantes laranjeiras, mas logo as saúvas irromperam em outro lugar e “pelaram” as que haviam sido poupadas da primeira vez. Mais uma vez acudimos com os poucos e ineficientes meios de que dispúnhamos: “fole” manual para produzir fumaça e formicida “Tatu”. O formicida mata, mas o difícil é atingir a “panela” ou ninho, o lugar central, onde as formigas se alimentam e onde está a “rainha” (içá), mãe de todas as “operárias” e “cortadeiras”. Com nosso “combate” tão pouco eficiente, apesar de trabalhoso, as saúvas cortadeiras voltaram a “pelar” todas as nossas jovens laranjeiras pela terceira vez. Depois de tantas vezes destituídas de todas as folhas, elas não conseguiram “vingar”. Ficaram atrofiadas ou morreram sem conseguir florir e de frutificar. Com nossas laranjeiras morreu nossa esperança de termos nosso pomar. A saúva nos venceu nessa batalha. Na época não existiam ou não eram acessíveis ao pequeno agricultor os meios eficientes para o combate a essa praga. Por isso corria um bordão: “ou a Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com Brasil.”. Nós vivemos essa dura experiência.
Nota: Extraído do livro “Corrupira”, ainda inédito, do autor.
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