Arquivo do Autor: Lu Dias Carvalho

Chardin – MOÇA DESCASCANDO NABOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

O francês Jean-Baptiste-Siméon Chardin (1699-1799) é tido como um dos mais importantes pintores de naturezas-mortas da arte europeia, sendo suas obras muito estudadas pelos artistas do gênero posteriores a ele. As suas naturezas-mortas, assim como sua pintura de gênero, são elementos importantes da arte francesa. Seu estilo era próprio, simples e elegante. Continua a ser um dos grandes mestres do século 18 e um dos melhores pintores de cotidiano de todos os tempos.

A composição intitulada Moça Descascando Nabos e também conhecida como A Criada é uma obra do artista. Uma jovem mulher encontra-se na cozinha, sentada sobre uma cadeira de madeira torneada. Ela tanto pode ser a dona da casa como uma criada. Cumpre a obrigação diária de descascar vegetais. Usa uma saia vermelha longa, um casaco de frio e um xale. Ao colo traz um avental esbranquiçado e na cabeça uma touca da mesma cor. Na mão direita segura uma faca e na esquerda um nabo, ambos descansando em seu colo.

No chão da cozinha, à  esquerda da jovem, veem-se uma abóbora, duas batatas e quatro nabos. Numa vasilha de barro com água, à sua frente, ela joga os vegetais descascados. Num cepo, usado para cortar alimentos duros, está fincada uma machadinha, podendo ser visto uma mancha de sangue. Encostado nele está uma frigideira e, logo atrás, um caldeirão.

O ambiente é rústico e descuidado, sem nenhum tipo de ostentação, com uma parede escura ao fundo e o chão de cor parecida, destacando ainda mais a moça em sua vida doméstica. Ela se mostra pensativa ou cansada, com o olhar fugidio, aparentando não levar uma vida fácil, sem contudo demonstrar alegria ou tristeza. Os tons da pintura são combinados e abrandados, sendo a personagem mais clara, porém cheia de matizes.

Ficha técnica
Ano: c. 1740
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 46 x 37 cm
Localização: Pinacoteca de Munique, Alemanha

 Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

APOLO DE PIOMBINO

Autoria de Lu Dias Carvalho

                                              

A estatueta denominada Apolo de Piombino ou o Menino de Piombino, feita de bronze, foi retirada do mar, na costa de Piombino, na Itália, em 1832, sendo vendida, dois anos depois, ao Museu do Louvre. É possível que seja uma representação do deus Apolo, pois sua mão esquerda parece segurar um arco, enquanto a direita, aberta, parece oferecer um frasco. Trata-se de uma obra rara da estatuária grega que mostra como esse povo evoluía ao buscar representar o corpo humano da maneira mais natural possível, embora a estátua ainda apresente frontalidade, certa simetria e partes justapostas, ou seja, feitas separadamente e depois unidas para formar a peça, o que acabou por apresentar alguns erros anatômicos, como na união dos braços, torso e pernas.

O Apolo em questão é apresentado frontalmente, de pé, nu, com os braços levantados e com a perna esquerda diante da direita. O nu masculino era, à época, a expressão principal do ideal grego de nobreza de caráter. A obra traz os olhos, que antes foram representados por meio de pasta colorida ou pedras semipreciosas, ocos. Suas sobrancelhas, lábios e mamilos são feitos no cobre vermelho. Debaixo de seu pé direito, uma inscrição em prata mostra que a obra foi um ex-voto à deusa Atena. As obras antigas, feitas em bronze, praticamente inexistem, pois foram vítimas do desmanche para a obtenção dessa preciosa liga.

Ainda não se sabe qual é a datação correta desta obra. Alguns estudiosos de arte consideram-na uma criação arcaica da segunda metade do século V a.C.. Outros a veem como pertencente ao final do período helenístico.

Ficha técnica
Ano: Primeira metade do séc. V a.C.
Altura: 125 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
http://www.louvre.fr/oeuvre-notices/apollon-de-piombino

Historiando Chico Buarque – MINHA HISTÓRIA

Autoria de Lu Dias Carvalho

minhis

Minha história é esse nome que ainda hoje carrego comigo/ Quando vou em bar, viro a mesa, berro, bebo e brigo. (Versão de Chico Buarque)

Não há uma só alma neste lugar que não conheça minha história, mas os turistas que aqui chegam, estranham o meu nome. Quando em meu velho barco, eu os atravesso para a outra ilha, não demoram a perguntar-me o porquê de assim ser chamado. Enquanto os conduzo na lenta travessia, conto um sem conta de vezes a minha chegada ao mundo. É como se eu nascesse a cada vez que a historio. Minha mãe partiu, quando ainda me encontrava nos panos, mas minha avó, desde que eu era um tiquinho de gente, narrava minha sina, como se fora uma encantada lenda e eu um ser divino.

Minha mãe era uma formosa morena jambo de cabelos da cor das asas da graúna e pele cheirando a alecrim. Atraía os olhares de todos por onde passava, mas não ligava, talvez, ciente de sua formosura, esperasse alguém que a quisesse de verdade. Mas um dia chegou bem tarde em casa. Havia conhecido um estrangeiro, enquanto voltava da escola. E todo dia “Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar/ Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar/ Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente/ E minha mãe se entregou a esse homem perdidamente”, a ponto de esquecer-se de seus livros e sonhos.

Contudo, contou-me minha avó que “Ele assim como veio partiu não se sabe pra onde/ E deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe/ Esperando, parada, pregada no porto/ Com seu único velho vestido cada dia mais curto”, pois eu crescia em seu pequenino ventre, como uma semente na terra abandonada. Parecia até que fora ali deixada como paga pelos prazeres, que ela ao homem ofertara ingênua e seguidamente.

Minha avó dizia que minha pobre mãe foi aos poucos perdendo o juízo e “Quando enfim eu nasci, minha mãe embrulhou-me num manto/ Me vestiu como se eu fosse uma espécie de santo/ Mas por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher/ Me ninava cantando cantigas de cabaré”, e eu, na minha santa inocência, dormia a sono solto, como um verdadeiro anjo, embora fosse a lembrança machucada e doída daquela frágil mulher.

Ela andou comigo em seus braços, para cima e para baixo, mas sempre de olho no mar e “Minha mãe não tardou a alertar toda a vizinhança/ A mostrar que ali estava bem mais que uma simples criança/ E não sei bem se foi por ironia ou se por amor/ Resolveu me chamar com o nome de Nosso Senhor”. E assim passei a ser chamado por todos aqueles que me conheciam. Até hoje assim o sou. Apenas meu nome muda quando me encontro com “Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz”, pois eles “Me conhecem só pelo  meu nome de Menino Jesus”.

Portanto, amigos, “Minha história é esse nome que ainda carrego comigo.”.

Obs.: Clique nos links abaixo para ouvir a música com:

Nota: Esta canção é dos italianos Lucio Dalla e Paola Pallotino. Ao adaptá-la para o português, Chico quis colocar o título de “Menino Jesus”, mas a censura implicou e o artista mudou então para “Minha História”.

 Nota: Mulher com duas Crianças, obra de Paul Gauguin

Gauguin – FATATA TE MITI

Autoria de Lu Dias Carvalho

Sua arte estava no limiar da Art Nouveau (Marchiori)

Minhas ocupações eram muito simples: sonhar acordado, banho, banheiro, especialmente. (Gauguin)

Não há exagero na arte. E eu até acredito que há salvação somente em extremos. (Gauguin)

A composição intitulada Fatata Te Miti (À Beira do Mar) é uma obra do pintor francês do pós-impressionismo Eugène-Henri-Paul Gauguin, pioneiro do simbolismo. Foi feita na ilha do Taiti, pertencente à França, durante sua primeira viagem ao lugar. Ele viveu ali durante muitos anos, passando por momentos dramáticos e também apaixonantes. Dentre as obras-primas produzidas no local, chamadas de “arte selvagem”, encontra-se esta com título na língua nativa da ilha. Trata-se de uma cena de gênero taitiana. E, como outros de seus trabalhos, esta pintura ilustra as tendências do artista para a arte decorativa.

A cena retratada por Gauguin mostra duas mulheres taitianas, nuas, vistas de costas. Uma delas está pulando na água do mar, enquanto a outra se encontra retirando seu pareô. Mais adiante, em segundo plano, aparece a figura de um pescador que traz na mão direita uma lança. Não há qualquer constrangimento entre as mulheres e o homem.

Para retratar o ambiente tropical, o artista usa cores fortes e alegres, a fim de aludir aos prazeres sensuais. Ele usa, por exemplo, o rosa púrpura para as areias, em primeiro plano, e amarelo e alaranjado para as flores. Para dar mais luminosidade à pintura, Gauguin sobrepôs uma fina camada de cera transparente na sua superfície.

Ficha técnica
Ano: 1892
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 140,5 x 129 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
http://www.wga.hu/html_m/g/gauguin/04/tahiti23.html

Rousseau – A SELVA EQUATORIAL

Autoria de Lu Dias Carvalho

A composição A Selva Equatorial, também conhecida como Paisagem Exótica II, é uma obra do pintor francês Henri Rousseau, que traz como tema a selva. O artista criou um total de vinte e seis telas com temas relativos a florestas exóticas. É  interessante notar que, de um quadro para outro, a sua criatividade foi ficando cada vez mais aguçada. Este é um dos últimos trabalhos do pintor inspirados em tal temática.

Em sua pintura, Rousseau apresenta uma selva exótica, repleta de densa folhagem, cheia de bichos sempre à espreita de suas caças. Não é possível identificá-los, pois são produtos da imaginação criativa do pintor que, durante toda sua vida na cidade de Paris, conservou a ingenuidade de sua criação. Chama a atenção a sua maravilhosa assinatura na base inferior, à direita desta composição.

O artista que foi escarnecido, ridicularizado e servido de motivo de chacota no século XIX, passou a causar um grande sentimento de admiração na vanguarda artística, no início do século XX.

Ficha técnica
Ano: 1909
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 68 x 91,5 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

O GRANDE “PIÃO” TERRESTRE (IV)

Autoria do Prof. Rodolpho Caniato  A Eclíptica

Você certamente sabe que uma bicicleta se equilibra mais facilmente em movimento que parada. Isso porque uma roda em rotação tende a manter a direção de seu eixo. É sabido também que se você atirar um disco, deve fazê-lo rodar: rodando ele tende a manter o plano em que está girando, independentemente de seu deslocamento. Isso tem a ver com as mesmas causas que fazem um pião manter-se de pé enquanto estiver rodando. Parado, ele cai. O pião, enquanto estiver rodando, vai fazer também aquele “bamboleio” característico de seu eixo.

Vale a pena voltar a um experimento clássico para entender a precessão.  Imagine uma roda de bicicleta com apenas um pedaço de eixo saliente para cada lado, de tal maneira que você possa segurar com cada uma de suas mãos cada uma das extremidades do eixo, mantendo a roda entre seus braços. Se a roda não estiver girando, você poderá deslocá-la em qualquer direção assim como mudar a direção do eixo. Imagine agora que a roda é posta a girar. Você poderá ir para frente, para trás, para cima e para baixo, sem que nada tenha mudado por conta da rotação da roda. Você também pode mudar a direção do eixo: “torcer” o eixo para qualquer outra direção. Enquanto você segura a roda pelas duas extremidades do eixo, peça a alguém que faça a roda girar com a maior velocidade possível. Repita os movimentos para frente, para trás, para cima e para baixo. Tudo será como quando a roda estava parada.

Agora, atenção! Com a roda ainda girando, tente mudar a direção do eixo… você agora vai notar que algo muito “diferente” acontece… o eixo “resistirá” e “reagirá” de forma diferente daquela de quando a roda estava parada.  Repita o experimento e notará que quando você o torce o eixo, ele “quer fazer” um “bamboleio”. É esse mesmo efeito que se aplica sobre a Terra, ou melhor, sobre o “pneu” de seu inchaço equatorial. Sem esse “inchaço” o eixo de nosso “pião” terrestre não ficaria sujeito a torção para “bambolear”.

A maior parte dessa torção é devida à maior força de atração exercida sobre a Terra que é a atração do Sol. Em menor escala, a da Lua também contribui para esse efeito. Se a Terra fosse perfeitamente esférica todas essas forças, mesmo existindo da mesma maneira, com a mesma intensidade, não teriam como fazer “torcer” o eixo da Terra. Assim seu eixo continuaria sempre na mesma direção. É o maior diâmetro equatorial da Terra, o seu “inchaço” equatorial, a condição que faz aparecer o torque que  produz o “bamboleio” de seu eixo . A parte mais importante desse “bamboleio” ou precessão é a  mudança lenta na direção do eixo  de nosso “pião” terrestre.  É essa lenta mudança na direção do eixo da Terra que, levando consigo seu equador, produz o deslocamento do encontro deste, equador, com o plano da órbita terrestre, a eclíptica.

Agora então, você pode entender que o eixo do inchaço da Terra, assim como o eixo da roda de bicicleta, sujeito ao torque (de torcer), faz um “bamboleio”, como e eixo de um pião. Fazendo esse “bamboleio” a Terra leva seu equador e, por isso, faz mudar o encontro deste com o plano da eclíptica. Você pode visualizar esse movimento espetando qualquer bolinha por uma agulha de tricô.  A agulha serve para materializar o eixo de sua “Terra”. Segurando as extremidades da agulha você pode reproduzir a “bamboleio” do eixo fazendo cada uma das extremidades descreva uma circunferência.

Hoje sabemos que a mudança de direção do eixo é um pouco maior (50´´/ano) que a encontrada por Hyparco (46´´/ano).  Isso significa que uma única volta desse “bamboleio” leva cerca de 26.000 anos para se completar. Mesmo passados os cerca de 2200 anos depois de Hyparco, o eixo de nosso “pião” terrestre mudou sua direção em menos de 1/12 da volta.  É esse deslocamento que fez o ponto equinocial recuar sobre a eclíptica, passando da constelação de Áries para Peixes, quase na constelação de Aquário. Voltando à sua agulha de tricô, você pode reproduzir esse efeito, rodando cada uma das extremidades de agulha. Assim você estará materializando o cone imaginário descrito pelo eixo, também imaginário, enquanto gira. O que quer dizer que o ponto vernal ou equinócio se moveu pouco menos que a amplitude de um “signo”, 1/12 da volta em pouco mais de 2.000 anos.