Autoria de Lu Dias Carvalho
Estou deprimido, sem telefone, sem dinheiro para o aluguel, sem dinheiro para a manutenção dos filhos, para as dívidas. Dinheiro! Estou atormentado pelas lembranças vividas dos assassinatos e dos cadáveres da ira e da dor… Das crianças feridas e que morrem de fome, dos loucos do gatilho leve, com frequência da polícia, dos assassinos e verdugos. (Trecho da carta de despedida de Kevin Carter)
A foto acima, tirada numa aldeia do Sudão em 1993, é do fotógrafo sul-africano Kevin Carter (1960/1994). Depois de ser publicada no The New York Times, a foto acabou ganhando o Prêmio Pulitze por Recurso Fotográfico, o mais cobiçado prêmio do jornalismo, em 1994, sendo reproduzida em várias partes do mundo, representando o rosto da fome na África.
Após a publicação da foto pelo The New York Times, os leitores passaram a entrar em contato com o jornal, querendo saber o que teria acontecido com a criança faminta. O que levou os donos do jornal a emitir um comunicado, dizendo que a criança era capaz de fugir do abutre, mas que nada sabiam sobre seu destino.
Na foto, Carter mostra uma dos milhares de crianças famintas do Sudão, à época, sem forças nem para levantar a cabeça, aparentemente entregue à própria sorte. Tem por companhia apenas um abutre atento, que a acompanha em sua agonia, com o objetivo de se servir de seu corpo como repasto. Carter foi duramente criticado por não ter feito nada. O fotógrafo acabou se culpando, segundo dizem, por não ter ajudado a criança semimorta e teria dito:
– Um homem ajustando suas lentes para tirar o melhor enquadramento de sofrimento dela talvez também seja um predador, outro urubu na cena.
O mais triste é que, um ano após ter tirado esta foto, Kevin Carter, acometido por uma depressão profunda, acabou se suicidando. Carter começou a trabalhar como fotógrafo de esportes de fim de semana em 1983, mas 1984 mudou-se para trabalhar para a Estrela Joanesburgo, empenhado em expor a brutalidade do apartheid.
Segundo informações, os pais de Kong Nyong (nome da criança da foto) foram contatados 18 anos após a foto ser tirada e contaram que seu filho sobreviveu à fome, tendo morrido quatro anos depois, vitimado por uma infecção.
Embora o bebê use no bracinho direito uma pulseira de plástico com a inscrição T3, assinalando a presença da ONU no local, vê-se que suas condições são lastimáveis. A pulseira é também indicativa de que o fotógrafo não abandonou a criança. Segundo João Silva, repórter gráfico sul-africano, ele e Carter estavam viajando acompanhados de autoridades da ONU. Eles ficaram no local apenas 30 minutos, enquanto era feita a distribuição de alimentos, e aproveitaram para tirar fotos. Conta João Silva que era a primeira vez que seu amigo tinha contato real com o drama da fome e ficou bastante chocado. Kevin Carter, que era uma pessoa depressiva e tinha uma vida bem complicada, suicidou-se aos 33 anos.
A foto de Kevin Carter contribuiu para que o planeta voltasse seus olhos para o que acontecia na África e, infelizmente, continua a acontecer.
Reflexões
Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome. (Gandhi)
A Terra provê o suficiente para satisfazer as necessidades de todos os homens, mas não sua ganância. (Gandhi)
Há o suficiente no mundo para todas as necessidades humanas; não há o suficiente para a cobiça humana. (Gandhi)
Fontes de pesquisa:
http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=17330
Wikipédia
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A criança não estava jogada à própria sorte. Ela estava em um campo de refugiados no Sudão. Do grupo de fotojornalistas e amigos de Karter, João Silva e Greg Marinovich, escreveram um livro chamado “The Bang bang clug” (que também tem um filme), onde eles contam a história dos turbulentos acontecimentos da época em alguns países africanos, em particular na África do Sul.
Anderson
Obrigada pelas informações! Volte mais vezes a este espaço.
Abraços,
Lu
Beto
Pesquisando mais sobre o tema, li que a criança estava descansando para continuar se arrastando até o local onde se fazia a distribuição de alimentos, e estavam seus pais.
Estava muito próxima ao avião.
Li, também, que o fotógrafo enxotou o bicho logo após a foto.
E que em volta dela havia inúmeras cenas iguais.
Ele fotografou muitas delas, mas esta foi a escolhida pelo jornal.
Seus colegas eximem-no de qualquer culpa.
Quanto à fome na América Latina, penso que não pode se comparada ao que acontece na África.
Sempre achei que o continente africano é muito esquecido,.
A mesma opinião tem um amigo missionário que já trabalhou em várias partes do mundo.
Abraços,
Lu
Lu,
A situação exposta na foto não é nova, infelizmente. Em 1973, os jornais e revistas estampavam cenas dantescas de crianças morrendo de inanição e pela violência de milicias na Etiópia. Na época, jovem egresso da Universidade fiquei indignado como a maioria das pessoas que ainda acreditavam que tal situação mudaria no futuro. Duzentas e cinqüenta mil pessoas morreram de fome na Etiopia. O imperador Hailé Selassié, temendo desestimular o turismo, não recorre à ajuda internacional. Em 1974, em meio ao caos econômico e a acusações de corrupção, o ditador de plantão na época é derrubado e sucedido três anos mais tarde por um militar. Outro problema muito grave é a guerra e os conflitos étnicos constantes na região. O ocidente não enviava ajuda com receio que a mesma seja usada na compra de munição e armas pelo governo, o que agravaria ainda mais o problema.
Em pleno Século XXI, vemos com tristeza que nada mudou.
Assim o abutre da foto assume várias formas: corrupção, interesses comerciais, lutas políticas sectárias, crescimento da população sem o aumento de bens e serviços, a sombra de séculos de colonialismo na Africa. Quaisquer semelhanças com as regiões mais carentes dos países da América Latina passada e atual, não é mera coincidência.
Entretanto, é chocante a declaração dos responsáveis do New York Times de que não sabiam o destino da criança da foto!
Quanto ao fotógrafo, ficará para sempre marcado pela decisão equivocada que tomou: permaneceu como um abutre e mercenário com a máquina na mão e não tê-la largado para socorrido imediatamente a criança!
Abraços,
Beto
Lu Dias
Nós somos responsáveis por essas atrocidades……
Abração
Mário
E como somos!
Abraços,
Lu
LuDias
You are the best! I was moved!
Isto eu diria se fosse um americano. Mas você é realmente demais. E o texto comove. A foto nos leva a ficar até angustiado. Li este texto, que nos mostrou um mundo horroroso, humanamente horroroso.
Parece que me deparo com a inexistência total da solidariedade . Seu texto nos leva a refletir e muito sobre o pós modernismo desta humanidade infeliz, voltada a uma existência liquida de que conceitua Zygmunt Bauman. Hoje parece que é um salve-se quem puder, no consumismo desenfreado e no sepultamento do amor.
Parabéns!
Ed
Está foto é muito comovente, assim como são todas aquelas que mostram a fome na África, ou em qualquer lugar do mundo.
Não dá para acreditar que nossos irmãos possam viver tão miseravelmente.
África – a mãe de todos nós.
Kevin Carter já era depressivo, tendo vivido uma fase horrível de seu país, vendo acontecer muitas atrocidades.
Sua sensibilidade não permitiu aguentar ver tanto sofrimento.
Fiz um poema sobre esta foto.
Depois irei postá-lo.
Abraços,
Lu
Que bom se essa cena ao menos tivesse valido para acabar com a fome e a miséria… infelizmente não!
Infelizmente o fotógrafo não suportou tanta dor e nada conseguiu fazer, nem por si mesmo.
Felizemnte podemos ter sempre esperanças que há muito por fazer, e há humanos ainda, que precisam ter forças e equilíbrio para fazer e mudar.
Jovi
É verdade!
Existe ainda uma longa caminhada pela frente.
O continente africano está devastado pela fome, pelas brigas tribais, pelo conservadorismo religioso, pela tirania das políticas direcionadas à natureza…
Kevin Coster mostrou ao mundo a cara da fome na África.
Mas ela ainda continua lá…
É preciso que ainda haja esperança, é verdade.
Abraços,
Lu