Autoria de Lu Dias Carvalho
Dias atrás, certa loja em Belo Horizonte comemorava os seus 50 anos, presenteando seus clientes com a apresentação de cantores. E, para meu desconforto, cheguei ao local no exato momento em que certo Dom Juan iria se apresentar, num palco montado dentro da loja. Poderia ter passado por fora, mas era o último dia para a troca de uma mercadoria, que não caíra bem no manequim do meu robusto presenteado.
O alvoroço era geral e os caixas ficaram fechados por algum tempo. De repente, começou uma histeria generalizada. Os gritos mais pareciam uivos de lobas no cio. Não podia acreditar que, em pleno século XXI, os mitos ainda estivessem em plena ascensão. Os seguranças corriam atordoados, tentando impedir que as sirigaitas mais impetuosas pulassem na jugular do artista intimidado com a proximidade da platéia.
Eis que de repente, não mais que de repente, uma das deslumbradas desmaiou, sem que o público presente lhe desse a menor atenção, entusiasmado que estava com a presença do cantor “breganejo”. Atento, um segurança da loja reapareceu com um copo d’água. Não sei, se foi por maldade ou certeza absoluta do diagnóstico, alguém gritou:
– É chilique! Jogue a água na cabeça dela!
E assim foi feito. A moçoila abriu os olhos, assustada, como se estivesse despertando em Saturno. Sacodiu os cabelos molhados, passou a mão no rosto, olhou para o sujeito de sua paixão platônica e começou a chorar alto. O “breganejo” convidou-a, não sei se por média ou deferência, para ir até ao palco. Ali chegando, a espevitada periguete tombou sobre o coitado e o enlaçou como se ela fora um polvo, em busca dos lábios da assustada vítima.
O microfone do cantor caiu pelo chão, enquanto três seguranças tentavam segurar a predadora. As macacas de auditório, presentes, faziam um grande alarido, desejando estar no lugar da doidivanas. Esperei que toda aquela turma fosse desmaiar, para gozar da mesma primazia. Não posso negar que me divertia muito com os acontecimentos.
O coitado do cantor, talvez por medo e desespero, teve que sair correndo para o banheiro, com a mão na braguilha, enquanto o bando corria atrás, desvairadamente. Foi então que uma voz masculina, talvez por ciúme ou deboche, gritou:
– Pega ladrão!
Confesso que tive pena do pobre cantor enjaulado dentro do banheiro, enquanto lá fora os organizadores pediam calma às desvairadas periguetes. Por maior que fosse o cachê, ninguém merecia tamanho vexame. E, para arrematar, a mesma voz masculina ouvida antes gritou:
– Quem vai sacudir o bilau do moço?
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