SABIÁ

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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,O III FIC (Festival Internacional da Canção) promovido pela TV Globo, em 1968, acontecia em meio à revolta geral dos jovens contra a voracidade do sistema capitalista. No Brasil, o inimigo mais voraz era a ditadura militar. Em todo o mundo surgiam líderes estudantis como Vladimir Pereira, Luís Travessos, José Dirceu e José Arantes, no Brasil; e Daniel Cohn-Bendit, na França. A Passeata dos Cem Mil, contando com a participação de Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Milton Nascimento, foi realizada com estrondoso sucesso. Apesar de tudo isso, um grupo tentava organizar o III FIC, procurando selecionar 24 músicas entre as 1.008 inscritas, na fase paulista.

Nas duas fases paulistas foram selecionadas 12 músicas. Dessas, foram classificadas seis para as vagas atribuídas a S. Paulo, que concorreriam à grande finalista nacional.

Nesta primeira fase, o que chamou a atenção foi o modo esdrúxulo com que Caetano Veloso apresentou-se, num exotismo para lá de louco. Ao reapresentar sua música É Proibido Proibir, classificada, recebeu vaias e tomates. Nem era possível ouvi-lo.

A novidade da segunda fase foi a desclassificação de Questão de Ordem, de Gilberto Gil, mostrando que plateia e júri não viam com bons olhos o tropicalismo, apresentado pelos gurus da Tropicália (Gil e Caetano).

Havia também uma preocupação com a música de Geraldo Vandré, Caminhando, em razão da ditadura militar. Imaginava a organização do Festival que ela não iria longe, mas não era o que parecia, pois seu refrão logo se tornou cantado pela plateia (Vem, vamos embora/que esperar não é saber/quem sabe faz a hora/não espera acontecer).

No final da fase paulista, quando seriam escolhidas as seis finalistas para o festival nacional, o clima pegou fogo. Os Mutantes foram os primeiros a serem vaiados. Ao cantar Caminhando, Vandré viu a plateia atritar-se, os grupos brigando entre si, sendo necessária a intervenção policial. Por sua vez, os estudantes mais politizados criticavam a postura de Caetano e Gil, que não se opunham à ditadura, e ainda apareciam como se estivessem participando de um folguedo, sem nenhuma postura política, ao contrário de Geraldo Vandré (mas o futuro traria outra mensagem).

Quando Caetano Veloso foi apresentar É Proibido Proibir, além de sua vestimenta bizarra, rebolava e imitava o ato sexual, provocando a plateia, onde muitos lhe viraram as costas. Em vez de cantar, ele passou a fazer um discurso inflamado, criticando a juventude, mas ninguém conseguia ouvir nada. E vieram ovos, tomates, bananas, papel… e até um pedaço de madeira voou e atingiu Gil, abraçado a Caetano, no palco.

As seis classificadas paulistas para o festival nacional foram:
• Caminhando – Geraldo Vandré
• Oxalá – Teo de Barros
• América, América – Cesar Roldão Vieira
• Dança da Rosa – Chico Maranhão
• Canção do Amor Amado – Sérgio Ricardo
• É Proibido Proibir – Caetano Veloso

A final seria no Maracanãzinho. Dentre as canções cariocas que iam fazer parte da final, Salmo, Andança, Sabiá, Maré Morta, Meu Sonho Antigo e Dia de Vitória, eram as mais faladas pela imprensa. Caetano resolveu não participar. Os artistas estrangeiros estavam temerosos de participar do FIC, com medo de vaias, mesmo assim grandes nomes internacionais vieram ao país.

A primeira eliminatória nacional apresentou 23 canções. Saíram bem cotadas: Dia da Vitória (Marcos Valle), Andança (Danilo Caimmi, Edmundo Souto e Paulinho Tapajós), Na Boca da Noite (Toquinho e Paulo Vanzolini) e Caminhante Noturno (Os Mutantes).

Na segunda eliminatória nacional, Cynara e Cybele apresentaram Sabiá (Tom Jobim e Chico Buarque), sendo muito aplaudida. Caminhando (Geraldo Vandré) foi tão aplaudida, que Vandré ficou muito emocionado, chegando a passar mal fora do palco. Rainha do Sobrado (Eduardo Sousa Neto) foi também muito aplaudida, assim como Sonho (Egberto Gismonti) e América, América (Cesar Roldão Vieira).

A direção do Festival recebeu um comunicado, vindo dos mandantes da ditadura, que as canções Caminhando e América, América não poderiam ganhar o festival. Mas os notificados resolveram deixar as coisas acontecerem.

Na finalíssima, a plateia cantou junto a letra de Caminhando (ou Para Não Dizer Que Não Falei de Flores), Andança (Paulinho Tapajós) e Sabiá (Tom Jobim). E assim ficou a classificação final:

1ª Sabiá (Tom Jobim/ Chico Buarque)
2ª Caminhando (Vandré)
3ª Andança (Danilo Caimmi, Edmundo Souto e Paulinho Tapajós)
4ª Pascalha (Quarteto 004)
5ª Dia de Vitória (Marcos Valle)
6ª Caminhante Noturno (Os Mutantes)

A maior parte do público contestou o resultado numa grande vaia, não aceitando Caminhando em segundo lugar. Era impossível ouvir Cynara e Cybele cantando Sabiá, após seu anúncio como finalista. (Vejam o vídeo abaixo). Conheçam agora sua letra e ouçam a belíssima canção:

Sabiá
Autores: música de Tom Jobim e letra de Chico Buarque
Intérpretes: Cynara e Cybele

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra
De uma palmeira que já não há
Colher a flor que já não dá
E algum amor talvez
Possa espantar as noites
Que eu não queria
E anunciar o dia

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Que fiz tantos planos
De me enganar
Como fiz enganos
De me encontrar
Como fiz estradas
De me perder
Fiz de tudo e nada
De te esquecer

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
E é pra ficar
Sei que o amor existe
Eu não sou mais triste
E que a nova vida
Já vai chegar
E que a solidão
Vai se acabar

https://www.youtube.com/watch?v=Zhxcu55PRHI/

Fontes de pesquisa
A era dos festivais/ Zuza Homem de Mello
Uma noite em 67/ Renato Terra e Ricardo Calil
Chico Buarque/ Wagner Homem

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